O espaço psicológico refere-se à memória dos dias felizes vividos pelo Gato e pela Andorinha e dos espaços em que conviveram. De facto, o felino vive uma experiência que abre caminho para a recordação de uma paixão romântica e idealizada, mas também muito sofrida, experiência essa que o muda e faz crescer.
sábado, 8 de julho de 2023
Espaço social em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Espaço físico de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
A ação decorre num parque onde os animais vivem e que, com a chegada da primavera, se torna extremamente belo.
Dentro
do parque, o narrador foca a sua atenção noutros microespaços, como, por
exemplo, debaixo das árvores, o local destinado aos bichos que não voam nem
trepam e por onde o gato passeia. Os ramos das árvores são o lugar onde as aves
pisam e fazem os seus ninhos. Além disso, é a partir dos ramos das árvores que
a Andorinha observa o Gato. O esconderijo da Cascavel é um lugar longínquo,
onde vive apenas a Cobra Cascavel, a encruzilhada do fim do mundo, e para onde
ele se dirige no final da história, depois do casamento da Andorinha e do
Rouxinol.
Tempo do discurso em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Tempo psicológico de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
. “Curto foi o tempo do
verão para o Gato e a Andorinha.”
Tempo da história em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Na
obra, o tempo da história abrange cerca de um ano da vida dos protagonistas e é
narrado de acordo com as estações do ano, que dão título a alguns dos capítulos
da história e que estão em consonância com os sentimentos das personagens
principais.
Na
primavera, o Gato e a Andorinha conhecem-se e, com a continuação da estação,
interessam-se um pelo outro. No final, encontram-se todos os dias. No verão, o
Gato e a Andorinha agem como namorados e o felino sente ciúmes por ela sair com
o Rouxinol. No outono, o Gato parece mais sociável, sofre e escreve poemas
apaixonados e nostálgicos, mas a Andorinha afasta-se e revela que vai casar com
o Rouxinol. No inverno, ressalta a tristeza e a dor resultantes da separação: a
ave casa com o Rouxinol e o Gato compreende que o “sonho de amor” acabou.
Em
síntese:
Primavera
. O Gato Malhado vivia isolado, pois era mau para os outros
animais do parque. . A Andorinha, curiosa e interessada, queria saber mais do
gato, por isso passou a observá-lo. . No primeiro dia da primavera, todos fugiram do Gato menos a
Andorinha. . Apesar da má relação entre gatos e andorinhas, o Gato e a
Andorinha decidiram ser amigos. . O Gato e a Andorinha encontravam-se e passeavam todos os
dias, situação que se prolonga até à primavera findar. |
Verão
. O Gato e a Andorinha passeavam e conversavam. . O Gato tinha ciúmes do Rouxinol e ficava triste quando a
Andorinha saía com ele. . O Gato declarou-se à Andorinha: “Se eu não fosse gato, te
pediria para casares comigo.” |
Outono
. O Gato tinha mudado. . Os animais já não tinham medo dele. . O Gato escreveu um soneto à Andorinha. . Os dois passeavam, mas em silêncio. . No final do dia, o Gato ofereceu o soneto à Andorinha. . No dia seguinte, a Andorinha não apareceu e enviou uma carta
definitiva pelo pombo-correio. . Ambos se sentiam tristes. |
Inverno
. No início do inverno, a Andorinha casa com o Rouxinol. . O Gato perde toda a esperança. . O Gato vai ao encontro da morte, a Andorinha apercebe-se e
chora. |
Caracterização do Galo Don Juan de Rhode Island
O Galo
é um animal polígamo, “maometano” e orgulhoso. É o juiz do casamento civil da
Andorinha e do Rouxinol.
Como o próprio nome indicia, possui um harém de galinhas, pelo que na sua vida não há lugar para o amor monógamo. É verdade que possui uma galinha preferida, Carijó, porém tudo parece relacionar-se mais com a satisfação da pulsão do galo e uma forma de ostentação da sua virilidade, conquistando frangas cada vez mais novas. Os habitantes do parque não estranham nem condenam a poligamia do bicho, por um lado, porque é habitual um galo possuir mais do que uma fêmea e, por outro, dado que ele é maometano.
Caracterização do Pombo-Correio
O Pombo-Correio fazia longas viagens, para levar e distribuir a correspondência pelo parque. Era olhado de forma trocista e como um tolo pelos outros animais, porque a Pomba-Correio o traía com o Papagaio.
No caso
dos pombos, “monógamos por opção”, a ideia da fidelidade a um só parceiro,
apregoada pela Ciência e elogiada na poesia, é desmentida pela relação adúltera
que a pomba mantém com o Reverendo Papagaio, durante as longas viagens do
Pombo-Correio, e da qual nasce o Pombogaio, um pássaro estranho que falava a
língua dos humanos e que, apesar desse aspeto incomum, notado por todos, foi
registado oficialmente como filho do casal de pombos, o que mostra como a
grande preocupação do pombo é cultivar as aparências (de ter uma família unida
e feliz).
Pelo
exposto, o Pombo-Correio representa a ingenuidade e encarna o tipo do marido
enganado, que chega ao ponto de, ao reconhecer oficialmente como seu filho uma
ave que é fruto do adultério da sua esposa com o Reverendo Papagaio, pretende
ignorar a traição da companheira para salvar a aparência de uma família unida e
feliz (culto das aparências).
Caracterização da Pata Petita e do Pato Pernóstico
Os dois animais contribuem para a composição do ambiente no que diz respeito à vida social do parque. Ambos criticam e condenam o namoro do Gato e da Andorinha.
O casal
de patos é interessante por outros motivos. A diferença de cor da plumagem (ele
é preto, a dela é branca) não suscita inquietações ou comentários por parte dos
outros animais do parque, o que pode indiciar a aceitação das diferenças neste
caso, provavelmente porque pertencem à mesma espécie e possuem o mesmo estatuto
social. Existe, contudo, uma nota dissonante: a referência ao facto de o pato
ser monógamo “por força”, dado que a esposa é a única pata do parque. Deste
modo, tendo em conta a inexistência de qualquer referência a sentimentos ou a
harmonia enquanto casal, pode deduzir-se que o casamento de ambos não é produto
de amor mútuo, mas de uma mera convenção social.
Caracterização da Cobra Cascavel
A Cobra Cascavel é o animal mais temível e temido de todos, por isso mora fora do parque, depois de ter sido afugentada pelo Gato.
Caracterização dos pais da Andorinha Sinhá
Os pais da Andorinha amam a sua filha, estão muito preocupados com ela e, por isso, são muito protetores, ralhando com ela quando entendem ser necessário. Se for preciso, dão a vida pelo rebento. Não aprovam o namoro com o Gato, por isso proíbem-na de se encontrar e falar com ele e, no final, convencem-na a casar com o Rouxinol.
Eles
defendem que as relações amorosas devem existir unicamente entre seres da mesma
espécie. Procuram ser bons pais, pelo que, para salvarem a sua filha da má
companhia do Gato, superam qualquer medo e dificuldade, não hesitando em
arriscar a vida. No entanto, além disto, não sabemos se se amam; pelo contrário,
a ausência de gestos de afeto e carinho entre ambos parece sugerir o contrário.
Caracterização da Manhã
A Manhã é uma jovem solteira, bonita e leve, uma funcionária relapsa, um pouco irresponsável e preguiçosa, distraída e sonhadora, que se pela por uma boa história. Ela é a responsável por apagar as estrelas e acender o Sol. Deseja casar com um milionário para não ter de trabalhar e cumprir as regras rígidas de uma funcionária pública.
Caracterização do Vento
O Vento é a personagem que originou a história do Gato e da Andorinha. Trata-se de um velho atrevido, travesso e ousado, alegre, aventureiro e dançarino famoso. Anda por todo o lado e sabe muitas histórias. Uma delas é do amor impossível entre o Gato e a Andorinha, de que tomou conhecimento precisamente através das suas aventuras e decide contá-la à Manhã para a cortejar, por quem tem uma paixão secreta.
Caracterização do Tempo
O Tempo é o mestre de tudo e de todos, o senhor dos galos e dos relógios. É infinito e tem um fraquinho pela Manhã. O facto de gostar de levantar as saias das mulheres e de ser instável, tendo já vivido diversas relações, inviabilizam a relação, que é rejeitada pela Manhã.
Caracterização do Sapo Cururu
O Sapo Cururu é o companheiro do Vento e a figura que conta a história ao narrador. É considerado no parque alguém ilustre e culto, um intelectual e académico (“Doutor em Filosofia, Catedrático de Linguística e Expressão Corporal…”), que denuncia o Gato por plagiar sonetos.