Português

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Modernismo

     Numa perspetiva de largo alcance, pode dizer-se que o Modernismo se estende desde finais do século XIX (cerca de 1890, segundo alguns autores) até depois da Segunda Guerra Mundial, mesmo até ao final dos anos 50, quando vão aflorando teorias e práticas culturais classificadas como pós-modernistas; numa perspetiva mais restrita, o Modernismo estende-se das vésperas da Primeira Guerra Mundial até à Segunda Guerra Mundial, sendo que os anos 20 e 30 são o seu tempo mais fecundo. Em Portugal, o aparecimento e a maturação do Modernismo relacionam-se com a relevância cultural assumida por algumas revistas e naturalmente pelos autores que nelas colaboraram; os marcos decisivos da afirmação modernista são constituídos, em 1915, pelos dois números da revista Orpheu (um terceiro, já em provas, acabou por não vir a público). A par desta, outras revistas servem de lugar de manifestação literária e doutrinária do Modernismo português: Centauro e Exílio (1916), Contemporânea (1922-1926) e Athena (1924-1925); entre 1927 e 1940 publica-se a revista Presença, que não só faz ecoar o legado cultural da chamada Geração de Orpheu como, segundo alguns autores, pode ser considerada o órgão cultural de um segundo Modernismo português.
     Se é problemático estabelecer as balizas cronológicas que ficaram sugeridas, [...] um outro aspeto problemático da caraterização genérica do Modernismo tem que ver com a confluência, nesse tempo histórico-cultural, de múltiplos movimentos de uma forma ou de outra envolvidos na dinâmica modernista. Deparamos aqui com uma importante componente da herança finissecular que se prolonga no Modernismo; com efeito, se no final do século XIX se multiplicam os "ismos" - uma multiplicação que é evidência de grande efervescência cultural e, simultaneamente, de uma certa crise ideológica -, no tempo do Modernismo essa tendência chega a assumir contornos de paroxismo ou então de provocação deliberada. O Ultraísmo, o Criacionismo, o Imagismo, o Vorticismo, o Construtivismo, o Expressionismo, o Cubismo e ainda (no contexto do Modernismo português), o Sensacionismo, o Interseccionismo, um incipiente Paulismo, o Neopaganismo e o Futurismo [...] são alguns desses "ismos". Deles ficou, nalguns casos, testemunho notório da vocação inovadora e experimental do Modernismo [...].
     A complexa e diversificada produção cultural que, nos inícios do século XX, se projeta sobre o Modernismo, condicionando indiretamente as suas linguagens artísticas e os seus temas dominantes, envolve outros componentes, nalguns casos de recorte ideológico. Não pode ignorar-se, no contexto dessa produção cultural, a relevância da psicanálise freudiana e da psicologia de William James; se a primeira vem permitir o acesso a instâncias profundas da psique humana, a segunda estabelece e difunde o conceito de corrente de consciência, assim se favorecendo a tematização literária de universos psicológicos extremamente complexos, instáveis e evanescentes, tematização que, no caso específico do romance, permite falar numa verdadeira revolução romanesca.
     Ela verifica-se, contudo, porque, do ponto de vista ideológico, o Modernismo incorpora e potencia valores que estimulam a reinterpretação da pessoa feita personagem, tendo em atenção um estádio civilizacional exteriormente pujante e eufórico, mas atravessado, no seu interior, por tensões e excessos de muito problemática harmonização. Noutros termos, dir-se-á que o tempo histórico-civilizacional do Modernismo é o de uma época de acentuada industrialização e de intenso desenvolvimento das comunicações que anulam distâncias, tudo congraçado num conceito quase obsessivo, traduzido na palavra mágica que na época se impõe: a modernização, semanticamente relacionada com o termoconceito Modernismo.
     Que essa modernização - pela sua desmesura e pela sua desumana intensidade - suscita dúvidas e ansiedades, sabemo-lo, pela via das representações poéticas, pelo menos desde Baudelaire e, entre nós, desde Guilherme de Azevedo, Cesário e Gomes Leal; ou então, nos termos de uma ironia de sabor tipicamente finissecular, desde que Jacinto, n'A Cidade e as Serras, se cansa das maravilhas da Civilização e se refugia nas Serras [...].
     Diretamente correlacionadas com este tempo de convulsões sociais, de conflitos armados, de regimes políticos autoritários, [...] os temas dominantes do Modernismo aprofundam os sentidos nucleares que o constituem. A euforia do moderno é, naturalmente, um desses temas, um moderno que é o de realidades civilizacionais trepidamente novas e pujantes, celebradas à maneira de Walt Whitman; em muitos casos, contudo, essa euforia desliza rapidamente para o tédio, situado, conforme ficou referido, no estádio final de uma evolução que chega a desembocar na dissolução do sujeito ("Não sou nada. / Nunca serei nada", dizem os versos de abertura da "Tabacaria") e no suicídio [...]; o que vem a ser o desenlace patético de um esforço de autoconhecimento, desenvolvido (muitas vezes de uma forma obscura, interiorizada e desligada do social) pelo homem e pela personagem do Modernismo. De um modo geral, o que estes sentidos temáticos denunciam é uma aguda crise do sujeito, projetada em tópicos como a máscara ("Quando quis tirar a máscara, / Estava pegada à cara", diz Campos na "Tabacaria"), o retrato, o espelho [...] e a procura labiríntica do outro, em si mesmo.


REIS, Carlos, 2008, O Conhecimento da Literatura - Introdução aos Estudos Literários

"Orpheu"

     Revista lançada em 1915, cujos dois únicos números publicados, em abril e julho, marcam o início o modernismo em Portugal. Com direção, no n.º 1, de Fernando Pessoa e do brasileiro Ronald de Carvalho, e, no n.º 2, de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, o escândalo provocado pela publicação de Orpheu deveu-se, entre outros motivos, à apresentação de práticas de escrita e correntes artísticas vanguardistas (paulismo, intersecionismo, simultaneísmo, futurismo, sensacionismo), embora surjam na revista ainda compaginadas com leituras e práticas simbolistas e decadentistas.
     O n.º 1 foi preenchido com a seguinte colaboração: Luís de Montalvor, "Introdução"; Mário de Sá-Carneiro, "Para os Indícios de Oiro" (poemas); Ronald de Carvalho, "Poemas"; Fernando Pessoa, "O Marinheiro" (drama estático); Alfredo Pedro Guisado, "Treze Sonetos"; José de Almada-Negreiros, "Frizos" (prosas); Côrtes-Rodrigues, "Poemas", e Álvaro de Campos, "Opiário" e "Ode Triunfal".
     O número dois recebeu os seguintes autores: Ângelo Lima, "Poemas Inéditos"; Mário de Sá-Carneiro, "Poemas sem Suporte"; Eduardo Guimarães, "Poemas"; Raul Leal, "Atelier" (novela vertígica); Violante de Cisneiros, "Poemas"; Álvaro de Campos, "Ode Martítima"; Luís de Montalvor, "Narciso" (poema); Fernando Pessoa, "Chuva Oblíqua" (poemas intersecionistas); Santa-Rita Pintor, "Quatro Hors de texte duplos".
     Para o projetado número três - cuja publicação esteve prevista para 1916 mas que, por razões financeiras, não foi posto à venda - Orpheu contaria com os seguintes textos: Mário de Sá-Carneiro, "Poemas de Paris"; Albino de Meneses, "Após o Rapto"; Fernando Pessoa, "Gládio" e "Além-Deus" (poemas); Augusto Ferreira Gomes, "Por Esse Crepúsculo a Morte de um Fauno..."; José de Almada-Negreiros, "A Cena do Ódio"; D. Tomás de Almeida, "Olhos"; C. Pacheco, "Para Além doutro Oceano", e Castelo de Morais, "Névoa". Mais tarde, deste número do Orpheu, chegaram ainda a ser publicados poemas de Fernando Pessoa, assim como algumas notas em Inglês. A revista Orpheu foi considerada por Pessoa "a soma e a síntese de todos os movimentos literários modernos".

Fonte: Infopédia

Sobre o aparecimento da revista "Orpheu"

Sobre o aparecimento da revista Orpheu

     Quando falamos sobre a revista Orpheu temos de, julgo eu, dar primeiro que tudo voz àqueles que a fizeram e a sonharam. Por isso perante a pergunta "o que foi a revista Orpheu?" responderemos em primeira linha com partes da introdução de Luiz de Montalvor ao número n.º 1 da mesma: "O que é propriamente revista em sua essencia de vida e quotidiano, deixa-o de ser ORPHEU, para melhor se engalanar do seu titulo e propôr-se. E propondo-se, vincula o direito de em primeiro lugar se desassemelhar de outros meios, maneiras de formas de realisar arte, tendo por notavel nosso volume de Beleza não ser incaracteristico ou fragmentado, como literarias que são essas duas formas de fazer revista ou jornal. (...) Nossa pretenção é formar, em grupo ou ideia, um numero escolhido de revelações em pensamento ou arte, que sobre este principio aristocratico tenham em ORPHEU o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermo-nos."
     Projecto portanto aparentemente pessoal, de poder ser uma montra para o "sentir" e o "conhecer" dos seus autores. Mas também algo em "dessemelhança"; ou seja representativo de uma rutpura com o status quo literário.
     É nas palavras do próprio Pessoa que podemos revelar o processo da génese desta invulgar revista, que revolucionou a literatura Portuguesa no início do século XX: "- O que quer Orpheu? - Criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço. (...) a verdadeira arte moderna tem de ser desnacionalizada - acumular dentro de si todas as partes do mundo. (...) feita esta fusão espontaneamente, resultará uma arte-todas-as-artes, uma inspiração espontaneamente complexa".
     Mas como apareceu a revista?
     Pessoa responde, com um longo texto que só viu a luz do dia em 1968, pelas mãos do Pessoano Francois Castex e que resumimos de seguida:
     - A ideia da revista foi originalmente de Luis de Montalvor, em princípios de 1915, quando regressou do Brasil. Em Fevereiro, no café Montanha, reunido com Pessoa e Sá-Carneiro, ele lançou a ideia de uma revista trimestral. - O título "Orpheu" veio também de Luis de Montalvor (Orpheu é uma figura mitica que vai ao mundos dos mortos socorrer a sua mulher, sem nunca poder olhar para trás). - A ideia avançou inicialmente pelo entusiasmo dos 3 e das possibilidades económicas de Sá-Carneiro (que recorreu ao pai). - Estaria latente em todos a vontade de "reagir em Leonino contra o ambiente", nas palavras do próprio Pessoa. - Ficaram como directores Luís de Montalvor e um outro poeta brasileiro, Ronald de Carvalho, mas a direcção era realmente compartilhada com Pessoa e Sá-Carneiro, bem como com Alfredo Guisado. - A tríade contactou então Alfredo Guisado e Cortes-Rodrigues para obter originais, bem como Almada Negreiros. Depois Pessoa trabalhou no poema "Opiário", para o incluir também. Aqui Pessoa revela que "Opiário" foi escrito depois da "Ode Triunfal", embora tenha "fingido" a prioridade posteriormente. - Como editor foi o nome de António Ferro - estritamente uma ilegalidade, mas que muito divertiu Pessoa e Sá-Carneiro (que desconhecia que Ferro era ainda menor quando colocou o nome daquele na revista). Outra "mentira" foi a designação da empresa editora: Orpheu ltda. Na realidade não tinha sido constituída nenhuma empresa por quotas Orpheu, e a designação ficou por insistência de Sá-Carneiro, perante as reservas de Pessoa. - Pessoa parece passar a imagem da revista ter uma base de "blague", de brincadeira levada a sério. É bom pensar neste ponto: na realidade era preciso uma coragem de brincalhão para inovar assim, corajosamente, sem pensar nas consequências. - Pessoa não considerava a revista futurista. Futurista - diz ele - nessa altura, do n.º 1, era apenas Santa-Rita Pintor. - Pessoa recusa o epíteto de mestre na revista. Ele diz que tanto ele quanto Sá-Carneiro eram "individualistas absolutos". - A intenção da revista era provavelmente dar voz a uma geração, mas não uma voz clara e inequívoca: aliás é bem claro pelas palavras de Pessoa que tanto ele como Sá-Carneiro tinham uma certa noção de que não iriam ser compreendidos, e por isso insistiam mesmo numa certa opacidade das suas intenções.
     Claro que "Orpheu" acabou por ser decisiva, mesmo só com dois números, precisamente porque não foi entendida. O seu testemunho ficou duradouro. Nas palavras de Pessoa em Novembro de 1935: "Orpheu acabou. Orpheu continua". E o que continuou foi esse rompimento com o passado, romântico e simbolista. "Os de Orpheu" eram o retrato de uma geração nova que se afirmava e que, à boa maneira das novas gerações, recusava com prazer a herança dos seus pais.
     Mas quiçá aparecida noutra altura não tivesse o mesmo peso. A verdade é que em 1915 Pessoa está precisamente no ponto decisivo da sua vida - o dia triunfal tinha acontecido no ano anterior e a sua enorme energia criativa começava a dirigir-se para os seus novos heterónimos. Haveria Orpheu sem Campos? Talvez, mas é porventura Campos o motor da modernidade da revista e do subsequente escândalo que a mesma causou. E depois da ruptura, pouco mais haveria a fazer do que deixar a "fenda" alargar-se a todos os espectros sociais, começando nas artes. Como fenómeno explpsivo, bem se compreende que Orpheu não tenha tido a necessidade de ter mais do que apenas dois números (mesmo com um terceiro planeado mas nunca publicado).
Estava aberto o horizonte para uma nova literatura, uma nova maneira de pensar e agir. Os loucos haviam ocupado o manicómio.

Fonte: Um Fernando Pessoa.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A cigarra e a formiga, Miguel Macedo e Alexandre O'Neill

     Miguel Macedo, atual ministro do governo português, aludiu à fábula da cigarra e da formiga nos seguintes termos: "É nestes tempos difíceis que é preciso ter esta pedagogia: nós não podemos ser um país de muitas cigarras e poucas formigas.".

     Esquecendo o significado metafórico que o ministro lhe quis emprestar em termos de atualidade, esta referência constitui sobretudo uma boa oportunidade para recordar o poema de Alexandre O'Neill (visto que a fábula é por demais conhecida):

Minuciosa formiga

Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga
leva a sua palhinha
asinha, asinha.

Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.

Assim devera eu ser
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.

Assim devera eu ser
se não fora
não querer.

«Perda» ou «perca»?

     Estas palavras são parónimas e é comum usá-las indevidamente.
  • Perda: nome que significa «privação de alguém ou de alguma coisa que se possuía»:
                    - Houve perda de liquidez na SAD do Benfica.
                    - O Benfica tem acumulado perdas financeiras.
                    - Sou uma vítima da perda de cabelo.
                    - A Miquelina ficou destroçada com a morte do pai.
  • Perca: flexão do verbo «perder»:
                    - Tu queres que eu perca a paciência?
                    - Não perca a esperança, D. Esperança.

     Deste modo, uma frase como "A Casa dos Segredos é uma perca de tempo" é incorreta. A frase correta é "A Casa dos Segredos é uma perda de tempo".

domingo, 23 de setembro de 2012

Concordância do verbo «SER»

     O verbo copulativo ser apresenta uma concordância especial. Regra geral, respeita o princípio que rege a concordância: concorda com o sujeito em número:
  • O Rui comeu os rebuçados.
     No entanto, há casos em que o verbo «ser» concorda com o predicativo do sujeito. Vejamos as situações em que tal acontece.

     Casos especiais de concordância do verbo SER:

1.º) Quando o verbo vem acompanhado dos advérbios «muito», «pouco», «bastante», «suficiente», etc., significando quantidade, distância, peso, etc., conjuga-se no singular:
  • Dez euros é muito para este par de meias.
  • Cem metros de terrenos é suficiente para construir o galinheiro.
  • Oitenta quilos é um exagero. Estou muito gordo.
  • Trezentos mil euros é um preço exagerado.
  • Duas horas de estudo é suficiente para fazer o teste.
  • Dois dias é pouco tempo para estudar tanta matéria.
  • Cinco quilos de carne é suficiente?
  • Vinte quilos é demasiado para uma criança carregar.
     A concordância no singular, nalguns dos exemplos apresentados, soa estranha, mas acontece normalmente com as expressões que denotam «excesso», «suficiência» ou «insuficiência». O sujeito, embora no plural, conserva a ideia coletiva e o verbo no singular sintoniza-se com essa ideia.

2.º) Quando o sujeito ou o predicativo do sujeito é um pronome pessoal, o verbo concorda com o pronome:
  • Ela é linda!
  • Nós somos feios.
  • Eu sou o presidente da junta.
  • Tu és um palerma.
  • A esperança somos nós.
  • Vocês são atrevidos.
  • O Brasil, senhores, sois vós.

3.º) Quando o sujeito é o pronome interrogativo «que»  ou «quem», o verbo concorda com o predicativo:
  • Quem são aqueles homens?
  • Que são dois anos na vida de uma tartaruga?
  • Que são palavras homónimas?
  • Quem foram os responsáveis por este atentado?
  • Que seriam aqueles pontos brilhantes no céu?

4.º) Com expressões numéricas que indicam período de tempo, hora ou distância, o verbo concorda com  a expressão numérica (predicativo) e torna-se impessoal (= sem sujeito):
  • É uma hora e meia.
  • São cinco horas.
  • São três e um quarto.
  • É um minuto para as seis.
  • De casa à escola, são doze minutos certos.
  • Já são dez para as quinze.
  • Eram perto de dez horas.
     No caso de locução verbal, é o verbo auxiliar que concorda com o predicativo:
  • Devem ser dez horas.

5.º) Relativamente às datas, a concordância opera-se do seguinte modo.

          a) Quando a palavra «dia» está expressa, o verbo fica no singular:
  • Hoje é dia 23 de setembro.
          b) Quando a palavra «dia» não está expressa, a concordância é facultativa:
  • Hoje é 23 de setembro.
  • Hoje são 23 de setembro. 

6.º) Quando o sujeito é um dos pronomes «isto», «isso», «aquilo», «o (que)», «tudo», o verbo concorda com o predicativo:
  • Isso são flores.
  • Isso são lembranças de viagens.
  • Aquilo é uma miséria.
  • O que fica na memória são as coisas marcantes.
  • Os bastidores é o que me toca.
     Nota: O verbo «ser» fica no singular quando o predicativo é formado por dois
                elementos no singular:
  • Tudo o mais é tristeza e amargura.

7.º) Quando o sujeito é «nome de coisa ou objeto (no singular)» e o predicativo do sujeito um «nome no plural», o verbo concorda, preferencialmente, com o predicativo:
  • A vida [coisa] não são rosas.
  • A cama [coisa] do meu avô eram umas palhas.
  • O seu segredo [coisa] são essas pernas deslumbrantes.
  • Divertimento é coisa que não falta aqui.
  • Dois metros de tecido é suficiente para fazer a toalha.
Nota: Se o sujeito ou o predicativo forem um nome próprio, o nome de uma pessoa 
           ou uma pessoa, o verbo concorda com a pessoa:
  • Ricardo era só problemas.
  • O homem é cinzas.
  • O teu orgulho são os teus cães.
  • Aquele aluno é o encanto dos professores.

8.º) Quando o sujeito ou o predicativo se encontra no singular e outro (sujeito ou predicativo) no plural, o verbo conjuga-se no plural:
  • Os filhos são o meu tesouro.

9.º) Quando o verbo representa definição ou identidade, pode ser conjugado no singular:
  • Pátria é nosso rios e mares, nossos animais, nossa gente.

Académica - Benfica on-line

AUTEDOR

Roubado ao Sorumbático

Da ignorância política e jornalística

Diz lá qualquer coisa que serve
Por Ferreira Fernandes
     POR ESTES dias demo-nos conta do nascimento de uma (enfim, duas) palavra oficial, rapidamente caída no goto de políticos, jornalistas e comentadores, tão nebulosa como devem ser as palavras oficiais mas, esta, com uma cândida confissão. Era tão sem nada para dizer que nem era uma, mas duas: ora modelação,ora modulação, e dizia-se uma delas ao calha. 
     Uma ou outra foi dita por Passos Coelho quando, os acontecimentos obrigando-o a arrepiar caminho, ele afirmou que poderia mudar a sua proposta da TSU. Mas disse ele "modelação"? Isto é, tornear, ajustar... Ou ele disse "modulação"? Isto é, passar o canto ou a harmonia para um tom diferente... 
     A primeira hipótese é verosímil, própria do jogo de cintura de qualquer político; mas a segunda também é, vinda de Passos Coelho, que não destoa ao cantar "chamava-se Nini/vestia de organdi". 
     O uso da palavra inócua não teria interesse, não fosse sindicalistas e políticos, na esteira do primeiro-ministro, passarem a citá-la como crucial. Tão decisiva que uns diziam "modelação" e outros "modulação"... E os jornalistas faziam-lhes eco, ora modelando, ora modulando. 
     Paulo Pinto, professor da Universidade Católica, propôs no blogueJugular uma palavra nova: "mudlar", a síncope do "e" ou do "u" poupando-nos esta vergonha. Esta. Para as outras, nascidas do mesmo vício, fica a mezinha tradicional. De cada vez que falarmos, pôr esta dúvida: de que estamos a falar quando estamos a falar?
«DN» de 23 set 12

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Dois pesos e duas medidas


Jesus ter mulher dá bandeira queimada?

Por Ferreira Fernandes 
     SOU A FAVOR de certos atentados, como os que, por legítima defensa, poderiam (e deveriam) ser feitos contra o homem que fez o tal filme anti-Islão. De que atentados falo? De um encharcado nas trombas do realizador, cristão copta egípcio que, no bem-bom da Califórnia, acirrou cáfilas de exaltados que se aproveitam do menor pretexto para atacar os cristãos coptas egípcios que, esses, vivem no Egito sem proteção da polícia americana. Encharcado pespegado, não vejo mais que violência possa ser justificada neste caso. Até o canalha desse realizador copta tem direito de fazer uma xaropada sobre a pretensa vida sexual do Maomé. Que isso pode ofender muçulmanos? Pode. Mas parte do mundo aprendeu que podem coexistir o direito a sentir-se ofendido e o direito de dizer (filmar, pintar...) mesmo com o risco de poder ofender outros. Não é má ideia. Não fosse assim, ontem, a minha porteira não se teria sentido só perplexa quando ouviu no telejornal que um milenário papiro copta (estes parecem danados para a ofensa, mas foi só coincidência) revelava que "Jesus tinha mulher." Ela ouviu aquilo, ofendeu-se (acreditou toda a vida na pureza sexual de Jesus) mas limitou-se a abanar a cabeça. Não foi para a rua queimar bandeiras e invadir a primeira embaixada. Se a minha porteira conseguiu fazer uma figura decente, julgo que os clérigos muçulmanos que se engasgam com o tal filme também podiam conter-se. E se não puderem, tratem-se. 
DN de 20 Set 12

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O impacto do aumento do n.º de alunos por turma no aproveitamento escolar

     O ministro Nuno Crato aumentou o número de alunos por turma em todos os ciclos do ensino obrigatório, desprezando todos aqueles que criticaram a medida, argumentando que tal iria prejudicar a aprendizagem e o sucesso educativo.
     Usou mesmo um tom displicente ao afirmar que não havia estudos que comprovassem a relação entre o aumento do n.º de alunos por turma e a diminuição do sucesso. Pois bem, há pelo menos um estudo do Ministério da Educação francês, datado de 2006, que comprova o que quem está no terreno tem afirmado até à exaustão: a partir de um momento, cada aluno a mais numa turma diminui o sucesso escolar dos aprendizes.


     Aqui fica o link para o estudo em questão: Les Dossiers - Enseignement scolaire.

domingo, 9 de setembro de 2012

Conformismo / Protesto


          Acho uma moral ruim
          trazer o vulgo enganado:
          mandarem fazer assim
          e eles fazerem assado.

          Sou um dos membros malditos
          dessa falsa sociedade
          que, baseada nos mitos,
          pode roubar à vontade.

          Esses por quem não te interessas
          produzem quanto consomes:
          vivem das tuas promessas
          ganhando o pão que tu comes.

          Não me deem mais desgostos
          porque sei raciocinar...
          Só os burros estão dispostos
          a sofrer sem protestar!

          Esta mascarada enorme
          com que o mundo nos aldraba,
          dura enquanto o povo dorme,
          quando ele acordar, acaba.

                                              António Aleixo
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