Matilde de Melo, Sousa Falcão e Frei Diogo de Melo constituem o grupo de amigos do general, que age em nome do amor, da amizade e da caridade cristã, respectivamente.
1. Origens:
- Seia;
- ambiente humilde, pobre ("... uma terra tão pobre e tão pequena..." - p. 91) e religioso ("Ensinaram-me, de pequena, a amar a Deus sobre todas as coisas." - p. 91);
a
2. Retrato físico:
- vestida de negro (sinal de luto pela prisão do general);
- desgrenhada (este aspecto revela o sofrimento, o desespero, o estado de alucinação causados pela prisão do general).
3. Retrato moral:
- grande sentido de justiça e lealdade;
- grande nobreza de carácter;
- digna e simples, apesar do desprezo com que é tratada por ser a amante do general.
4. Retrato social:
- pobre ("sentada numa cadeira tosca" - pág. 83).
5. Retrato psicológico:
- desesperada e em estado de choque / alucinação após a prisão do general ("Parecia um animal ferido a ganir à beira duma estrada..." - pág. 82).
6. Matilde -> General:
- apaixonada ("Dei-lhe tudo o que tinha..."; "Sou a mulher do general Gomes Freire d'Andrade." - pág. 92);
- carinhosa, ternurenta ("Ele dava-me a mão, eu dava-lhe a minha..."; "Passa a mão pelo uniforme com ternura" - pág. 85);
- sensível;
- sonhadora, recorda com saudade os tempos pobres, mas felizes, vividos por ambos ("Falávamos das batalhas em que ele andou... Relembrávamos o nosso hotel de Paris... os passeios que dávamos ao longo do Sena... os dias felizes que passámos juntos..." - pág. 85).
7. Matilde -> Governadores
- ousada e resoluta;
- determinada e decidida;
- combativa e corajosa;
- revoltada;
- inconformada perante a falsidade, a opressão, a deslealdade, a injustiça e a intolerância;
- escarnece e desmascara a hipocrisia dos governadores;
- mantém um discurso agressivo, crítico e sarcástico em certas falas com os governadores;
- faz uso de um tom arrogante e desafiador, de desprezo;
- porém, em gesto de desespero, humilha-se por momentos para salvar o general.
8. Matilde -> após a prisão do general
- inundada pela dor, pelo rancor, pela raiva, pela angústia e pelo desespero;
- vive uma crise de valores: mostra-se disposta a ceder perante o poder instituído em troca da vida do general e chega a questionar os valores que nortearam a vida do general ("Quem é mais feliz: o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos?" - p. 83); "Se o meu filho fosse vivo (...) Havia de lhe ensinar a mentir, a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa do que da alma. (...) Havia de morre de velhice e de gordura, com a consciência tranquila e o peito a abarrotar de medalhas!" - p. 84);
- tudo faz para o salvar:
» ajoelha-se perante principal Sousa e implora-lhe que salve o seu amado;
- ousada e resoluta;
- determinada e decidida;
- revoltada;
- combativa e corajosa.
9. Matilde -> no momento da morte do general
- vive um estado de alucinação, loucura e delírio -> denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência conduzem o ser humano;
- acaba por transformar a tragédia (morte do general) num momento de esperança e apelo à modificação da situação.
Em suma:
- Matilde é uma mulher lúcida e corajosa, de carácter forte perante a vilania, vibrante nas palavras de paixão. Recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e o materialismo.
- Amante, esposa e companheira de todas as horas, não suporta a separação do homem que ama, acabando por se revelar uma espécie de alterego de Gomes Freire. Quer isto dizer que é impossível dissociar o clamor de revolta de Matilde do general, e uma vez que ele não pode provar a sua inocência, será ela a tentar fazê-lo, invectivando os seus três principais adversários, pois não crê que a acusação se mantenha nem que a condenação venha a ocorrer quando os acusadores constatarem, em consciência e com justiça, que a acusação é falsa: "Serei, então, a voz da sua consciência. Ninguém consegue viver sem ouvir a voz da consciência, António." (p. 88).
- Existe, porém, outra Matilde: a mulher. Neste caso, é o símbolo do Feminino, revelado durante os diálogos que mantém, onde se assume como o arquétipo da mulher que ama e sofre porque ama. O seu discurso revela o seu sofrimento íntimo, bem como o de todos aqueles que, vendo-se separados do ser que os completa, se sentem despojados da unidade que simbolizam: "(...) Amante dum traidor... e assim acabamos a vida... Tu, que deste aos homens tudo o que tinhas e viveste de mãos abertas, acabas enforcado com o rótulo de traidor. E eu... que nasci tua mulher, morro tua (...) amante! Nem me recebem, meu amor. (...) Chegamos ao fim da vida - matam-nos e nem nos consideram dignos de uma explicação. Tratam-nos assim, como se nunca tivéssemos existido..." (p. 120).
- O seu discurso funciona como uma resposta ao discurso oficial, apoiado nos textos bíblicos, ainda que estes surjam com uma interpretação duvidosa: "(...) Senhor, se te lembras da cruz, permite que o meu homem morra de cabeça levantada! Não vos peço nada para mim. Mais: troco a minha vida pela dele! Fazei-me sofrer, matai-me torcida de dores e abandonada de todos, mas a ele, dai-lhe uma morte que o não mate de vergonha!" (pp. 97-98).