Português

segunda-feira, 14 de março de 2022

Análise da cena 7 da Farsa de Inês Pereira

             Após a saída de Pero Marques, Inês Pereira considera-o um covarde (note-se a comparação depreciativa com um judeu: “mais covarde que um judeu”; de facto, na época e nas peças de Gil Vicente, os judeus são muito mal considerados), dado que, encontrando-se sozinho com ela, preferiu ir-se embora em vez de a cortejar e seduzir.
            Qualquer outro homem teria agido de forma bem diferente, a coberto da «solidão» do encontro e da escuridão: “Se fora outro homem agora, / e me topara a tal hora / estando comigo às escuras, / dixera-me mil doçuras, [hipérbole] / ainda que mais nam fora.”
 

Análise da cena da Alcoviteira da Farsa de Inês Pereira

  Visita de Lianor Vaz
 
1. Caracterização de Lianor
 
▪ É uma alcoviteira / casamenteira: arranja casamentos.
 
▪ Apresenta-se como amiga e confidente de Inês Pereira.
 
▪ Na questão da apresentação de Pero Marques a Inês, mostra-se uma mulher persuasiva, sensata, experiente e prática.
 
▪ Entra em cena aflita, agitada e desorientada, «benzendo-se» e mostrando assim a sua aflição e esconjurando as más influências do clérigo que a tinha atacado.
 
▪ Foi atacada/assediada por um clérigo.
 
 
2. Episódio de Lianor Vaz
 
2.1. Resumo
 
            Lianor Vaz relata que, no caminho para a casa de Inês, um clérigo a atacou, sob o pretexto de saber se ela “era macho ou fêmea”.
            A Mãe confessa que...

Ver a restante análise aqui: [cena da Alcoviteira]

terça-feira, 1 de março de 2022

Análise da cena 1 da Farsa de Inês Pereira

  Cantiga entoada por Inês

 
            Na cantiga que abre o monólogo inicial [de uma das duas versões da peça que chegaram até nós], Inês questiona-se sobre o que acontecerá quando não se vê a pessoa amada, se, vendo-a, só se sofre e morre de amor. Deste modo, ela exprime o sofrimento de amor associado à morte de amor, traços característicos da ...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Análise da cena 2 da Farsa de Inês Pereira

 
Continuação do quadro de costumes: apresentação de um regime matriarcal, representado por uma mãe de bom senso a quem cabe a educação da filha (a mãe tenta convencer Inês, utilizando, muitas vezes, ditados populares), com os maridos ausentes nas “partes d’além”.
 
 
Caracterização da Mãe
 
• Quando regressa a casa da missa, é irónica: demonstra que conhece bem a filha e que, portanto, já sabia que Inês, sendo preguiçosa, durante a sua ausência não estaria a trabalhar (vv. 37 a 40). Considera-a...

Continuação do post: [cena 2].
 

Análise da cena 1 da Farsa de Inês Pereira

Cantiga entoada por Inês
 
            Na cantiga que abre o monólogo inicial [de uma das duas versões da peça que chegaram até nós], Inês questiona-se sobre o que acontecerá quando não se vê a pessoa amada, se, vendo-a, só se sofre e morre de amor. Deste modo, ela exprime o sofrimento de amor associado à morte de amor, traços característicos da poesia trovadoresca, nomeadamente das cantigas de amor.
            Tendo em conta o estado de espírito que patenteia ao longo da primeira cena, a cantiga – cuja temática é o sentimento amoroso – indicia que Inês está pronta e desejosa de ter uma relação amorosa, o que, considerando o tom queixoso do seu monólogo, lhe parece impossível naquele momento.


Caracterização de Inês Pereira

• Inês canta e finge que trabalha num bordado, mas logo começa a reclamar do tédio que essa tarefa lhe causa e da vida que leva, sempre fechada em casa. Está cansada das tarefas domésticas; é preguiçosa – detesta a costura (vv. 3-4).

• Mostra-se aborrecida com a vida que leva (“enfadamento”), enraivecida, furiosa e revoltada por ter de realizar tarefas de que não gosta (“Renego deste lavrar” – v. 1; “e que raiva” – v. 6).

• Rejeita a vida que leva (“Renego deste lavrar” – v. 3).

• Revela-se compadecida, compassiva, piedosa em relação a si própria (“Coitada, assi hei de estar” – v. 10).

• Mostra-se determinada a encontrar maneira de se ver livre das suas tarefas e da vida que leva (“hei de buscar maneira / dalgum outro aviamento” – vv. 10-11).

• Sente-se prisioneira em casa da Mãe (“Coitada assi hei d’estar / encerrada nesta casa.” – vv. 12-13) e sem horizontes.

• Queixa-se de que nunca se diverte (“Todas folgam e eu não / todas vem e todas vão / onde querem senão eu” – vv. 25-27) e inveja as outras moças da sua idade, que são livres de sair de casa e de se divertir.

• Sente que a sua vida é vazia (“Esta vida é mais que morta” – v. 30).

• Em suma, Inês queixa-se pelo facto de:
- ter de desempenhar tarefas domésticas;
- estar sempre fechada em casa;
- não se divertir;
- não ter liberdade.


Linguagem

Comparações:

- “assim hei d’estar encerrada nesta casa / como panela sem asa / que está sempre num lugar” (vv. 12-15): a comparação estabelece-se entre a casa, considerada uma prisão, e uma panela sem asa, ou seja, a um objeto a que falta um elemento, a asa, para ter utilidade. Deste modo, Inês mostra que não está satisfeita com a vida que leva, considerando-a inútil.

- “Sam eu coruja ou corujo, / ou sam algum caramujo”: a comparação com animais notívagos e dependentes de outros seres, presos ou que vivem dentro de um casulo, como entende ser o seu caso (dependente da Mãe), privada das saídas de casa durante o dia e vivendo sob a alçada da progenitora, indiciam o seu estado emocional.

Enumeração: “Oh Jesu que enfadamento, / e que raiva, e que tormento, / que cegueira, e que canseira” (vv. 7-9) – traduz a indignação que sente pela vida a que está sujeita e de que não gosta.

Interrogações retóricas – destacam a insatisfação e a revolta de Inês relativamente à vida que tem:

- questiona a inutilidade da sua vida: “Coitada, assi hei de estar / encerrada nesta casa / como panela sem asa, / que sempre está num lugar?” (vv. 10-13);

- lamenta-se por considerar a sua vida um desperdício: “E assi hão de ser logrados, / dous dias amargurados, / que eu possa durar viva?” (vv. 14-16);

- questiona-se sobre a sua condição: “Hii! E que pecado é o meu, / ou que dor de coração?” (vv. 26-27);

- enfatiza o seu lamento, o seu desespero e a sua revolta por estar fechada em casa: “Sam eu coruja ou corujo, / ou sam algum caramujo / que não sai senão à porta” (vv. 29-31).
Anáfora (vv. 25-26).

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Texto dramático: finalidade, características e estrutura

 1. Finalidade
 
            O texto dramático tradicionalmente não tem narrador e o desenvolvimento da ação processa-se através das falas ou réplicas das personagens, predominando o discurso direto.
            O texto dramático tem como finalidade a representação, momento em que se torna verdadeiramente completo.


2. Intervenientes
 
Atores: representam o papel das várias personagens, emprestando-lhes voz e corpo.
Encenador: é o responsável por todos os aspetos respeitantes à representação teatral (atribuir os papéis aos atores, dirigir os ensaios, etc.).
Cenógrafo: trata dos cenários.
Figurinista: desenha os figurinos, isto é, o guarda-roupa usado pelas personagens.
Sonoplasta: é o responsável pelos efeitos sonoros durante a representação.
Luminotécnico: assegura os efeitos luminosos necessários ao espetáculo.


3. Características / Categorias
 
            O texto dramático pode estar escrito em prosa (Frei Luís de Sousa) ou em verso (Farsa de Inês Pereira). Em qualquer dos casos, apresenta características específicas.
 





            As indicações cénicas ou didascálias compreendem um conjunto de informações que contribuem decisivamente para que a leitura e/ou representação da peça seja o mais semelhante possível ao modo como o dramaturgo a idealizou.
 

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