Hamlet
centra-se no ponto de vista do jovem príncipe que dá nome à peça e que faz com
que, enquanto protagonista, tenha muito mais falas do que qualquer outra
personagem, as quais revelam os seus pensamentos, sentimentos e reflexões sobre
questões como o sentido da vida, a morte, o amor, a religião, entre outras.
Apesar
das suas inúmeras falhas enquanto ser humano – como a indecisão, a crueldade, a
misoginia ou a imprudência –, ele é uma personagem fascinante para o público,
pois este tem acesso ao seu interior e compreende as suas motivações ao longo
da peça. Além disso, o príncipe dinamarquês continua até ao fim a questionar-se
e às suas ações.
O
ponto de vista da peça é tão semelhante ao do próprio protagonista que por
vezes se torna quase impossível ter a certeza se algo está a suceder realmente
na peça ou se o príncipe apenas pensa que está a acontecer. É o que sucede com
as aparições do fantasma. Embora Marcelo, Horácio e Bernardo avistem o
espectro, apenas Hamlet o ouve falar e, quando se dá o terceiro aparecimento,
somente ele o consegue ver. Esta sucessão de dados permite questionar se a fala
do fantasma não passa de uma alucinação.
Não
obstante tudo isto, há vários mistérios sobre o príncipe que nunca encontram
solução. Por exemplo, nunca se sabe o quanto enlouquece ou simplesmente finge,
tal como jamais se conclui o que o deixa tão infeliz: a morte do pai, o
casamento da mãe com o cunhado, o fracasso em se tornar rei, a incapacidade de
se vingar. De igual modo, o espectador nunca conhece os reais sentimentos por
Ofélia. Tudo isto parece sugerir que a intenção de Shakespeare é mostrar que a
essência da natureza humana é incognoscível.