terça-feira, 17 de junho de 2025
terça-feira, 11 de março de 2025
Análise do poema "Vita mutatur", de Ruy Belo
Este poema, da autoria de Ruy Belo, está incluído na secção “Tempo” do seu primeiro livro, AGRE, r tem como tema a mudança. O título, em latim, significa “vida mudada” e remete exatamente para a questão da mudança, neste caso, duas: uma que já aconteceu e que se relaciona com a problemática da separação e outra que está a começar a acontecer e que designa o começo de uma vida dedicada à escrita da poesia.
O sujeito poético dirige-se a um «tu», a um interlocutor indeterminada (“Caíste”), que designa também, por implicação, uma versão passada / infantil do «eu». Ora, esse «tu» caiu na “orla” do sujeito, isto é, adquiriu uma posição horizontal, posição de morto. O nome “orla” significa limite ou fronteira, o limiar entre o «eu e o «tu», enquanto o verbo «cair» indica uma aproximação involuntária de alguém. Essa queda ou morto do «outro» equivale à morte do sujeito nele (“nunca até hoje eu morrera tanto em alguém”), o que implica uma identificação entre o «eu» e o «tu», estando assim em causa, nessa morte, a morte ou perda de uma versão passada do sujeito. Além disso, ela é associada, através de uma comparação com “a nespereira do quintal”: a queda da figura humana é mais intensa e impactante do que a da árvore.
O “paul de malmequeres” cria uma imagem de um pântano ou charco cheio dessas flores, um espaço onde os ralos faziam ecoar seus sons na noite, como uma espécie de mantra natural que reforça a passagem do tempo. A ideia de repetição indicia uma espécie de perpetuação do canto, da melancolia ou da saudade. No paul, figuravam também os «abibes», aves migratórias que carregam consigo o tempo e as mudanças das estações, representando ciclos de renovação e retorno. Mesmo com a passagem do tempo, há algo que permanece e que se repete ou renova ciclicamente, ao contrário do que sucede com o sujeito poético., que sofreu a mudança. Os malmequeres são flores frequentemente associadas ao destino e ao amor (recorde-se o famoso jogo de arrancar pétalas – “bem-me-quer, mal-me-quer”), o que pode apontar para a noção de um amor que persiste, mesmo no contexto da dor e da ausência. A natureza não acompanha a secura do luto, pois permanece fértil.
Observe-se que a primeira mudança antes referida está dependente da morte graduada presente no verso inicial do poema. De facto, no seu prefácio à segunda edição de AGRE, Ruy Belo afirma que, apesar de sempre ter vivido em crise, estava a atravessar uma crise profunda quando escreveu os poemas que constituem a obra. Neste contexto, o «agora» a que se refere o verso 17 equivale à fase da crise profunda, que, por sua vez, se relaciona com a decisão de entrega total à arte poética. De acordo com as palavras do próprio Ruy Belo, essa crise tem como tema limite “o da solidão no meio da cidade: o do homem que não dispõe de «ombro para o seu ombro», que tem o «destino da onda anónima morta na praia» (…) que «vai só», que «não tem ninguém».” A crise, de acordo com o próprio poeta, relaciona-se, portanto, com o distanciamento ou a queda de um “amigo”, e que se torna ausente para o sujeito. O «tu» será, por conseguinte, o “ombro para o seu ombro” de que não se dispõe.
O período em que estava mais vivo no interlocutor relaciona-se com o período da infância do sujeito poético. De facto, a sua morte ou queda representa a perda de algo que se teve na infância, como se depreende dos seguintes versos: “O mesmo céu que tu me desdobraste sobre a infância / acaba de depor na tua fronte / o peso excessivo de uma estrela”). A partir desse instante, o céu, que ele desdobrava sobre a infância do sujeito, foi-se tornando cada vez mais distante, adquirindo no presente o peso de um passado inacessível (“excessivo peso de uma estrela”). A queda (agora mais definitiva) de um ser provocou uma descontinuidade temporal.
A partida do amigo faz com que a história recomece, ou que o sujeito poético se separe de uma versão passada de si próprio (quando era um só com “amigo”). Deste modo, estamos perante um cenário em que o «eu» se esqueceu de um passado (que, por isso, deixa de ter uma função identitária), ou, se quisermos, estamos na presença de um «eu» passado que morreu. Deste modo, o passado torna-se inacessível, passa a ser um “outro mundo”, como afirma no poema “As velas da memória”. São estas ideias que encontramos nos versos seguintes: “Com a tua partida a minha história começa / a escrever-se para além da curva / onde à tarde rompia a camioneta das cinco: / nenhum outro veículo vinha / tão cheio de longe e de tempo”.
Estes versos abrem a porta para a segunda mudança. De facto, a partida do «tu» parece originar ou, pelo menos, servir de base à segunda mudança na vida do sujeito poético. Ora, esses versos têm uma dupla função: por um lado, apontam para a descontinuidade temporal que faz do passado uma outra vida; por outro, remetem para a inauguração de uma nova vida: “(…) a minha história começa / a escrever-se (…)”.
De acordo com a terceira estrofe, a queda do «tu» é representada por meio da perda de um «poder» que está relacionado com a unificação de um rosto / identidade: “Não mais o teu olhar te defende”; “já a tua presença não reúne / as linhas divididas desse rosto / que essas humildes coisas tinham.” Esse «poder» é também da versão passada do sujeito poético, quando estava mais vivo no «outro», isto é, quando dispunha de um “ombro para o seu ombro”. Sem ele, fica circunscrito à condição física e à identidade civil: “Tens finalmente aquele metro e oitenta / a que te circunscreviam civilmente”.
As pálpebras descidas remetem para o fechar dos olhos, para a queda, para a morte, e deixam-no sem defesa, sem poder. O uso do advérbio «agora» sugere um contraste definitivo com um outro tempo, um passado. O olhar, frequentemente associado à identidade, à comunicação e à defesa simbólica do mundo, já não protege o sujeito, o que sugere vulnerabilidade. A queda, a morte, deixa o «eu» totalmente exposto aos olhares alheios, sem qualquer resguarda. Além disso, reduzido à materialidade do corpo, perde o mistério que o caracterizava. A vida, antes complexa e prenhe de nuances, reduziu-se agora a algo simples e inalterável. Por outro lado, a partida foi sinónimo de desarranjo e desordem. A imagem das gavetas abertas e da secretária desordenada sugerem que a pessoa partiu de forma repentina, sem tempo para arrumar os seus pertences. As gavetas abertas simbolizam segredos, objetos, memórias que continha, revelados.
A presença do «outro» dava sentido e unidade às coisas, incluindo o próprio rosto, que agora parece fragmentado. A sombra, que representa a extensão do corpo no espaço sob o efeito da luz, já não está lá para envolver os pequenos segredos da vida quotidiana. A expressão “humildes coisas” indicia um quotidiano simples, talvez um espaço doméstico, onde tudo girava em torno do «tu». A sua partida é assinalada pela ausência da sua sombra: se esta acompanha o corpo, o físico, e já não está presente, quer dizer que o «tu» está ausente. No quotidiano, havia pequenas intimidades e histórias (“domésticos e ínfimos segredos”) que lhe pertenciam. Com a sua ausência, eles tornam-se irrelevantes ou são dissipados.
Com a partida e consequente ausência do «outro», fica reduzido à sua condição física e à identidade civil: “Tens finalmente aquele metro e oitenta / a que te circunscreviam civilmente”. O «eu», antes repleta de complexidade e experiências, fica reduzido a um dado físico e civil. É a única dimensão que lhe resta.
A derradeira estrofe do poema aponta para o futuro, propondo uma nova forma de vida, na e pela poesia, que resulta do aumento da morte do «amigo». Assim sendo, a poesia constitui um modo de lidar com a separação. No entanto, a estrofe apresenta um dado curioso: levar mais longe a vida do «amigo» perdido (e, por implicação, do próprio sujeito poético sucede estendendo a sua morte pela terra: “Levarei mais longe a tua vida e cobrirei / da tua morte um pouco mais de terra”. A separação do «eu» em relação a algo perdido aparece muitas vezes associada à mudança da posição vertical para a horizontal, ou seja, a figura do «tu» que se perdeu deixa de estar de pé e dispersa-se pelas coisas. A poesia de Ruy Belo constitui uma forma de procurar o «amigo» em lugares diversos através da poesia.
No entanto, a solução proposta não vai no sentido de recuperar o que se perdeu ou reverter a situação, mas precisamente no sentido de aumentar a separação. Deste modo, podemos concluir que a solução que a poesia possibilita para o problema da separação está na própria separação, isto é, a doença cura-se pela própria doença.
Em suma, a solução tem a ver com uma ficção de morte ou com a invenção de uma forma de vida além da morte. A poesia constitui uma vida depois de uma morte. Assim sendo, pode aplicar-se, neste contexto, o aproveitamento do lema bíblico por parte do poeta: “Vita mutatur non tollitur”, isto é, vida mudada, não acabada.
Por outro lado, é visível uma cisão entre o sujeito e um “objeto perdido” / ”amigo” (e, por implicação, o mundo), que parte de uma fissão interior. Com efeito, a poesia de Ruy Belo é uma incessante reflexão sobre o tempo e a morte “e a certa identidade do sujeito que em vão procura o lugar originário onde encontraria o ser na sua totalidade”. Por outro lado, dado que o que se perdeu faz parte de um passado inacessível, o sujeito poético caracteriza-se por uma condição tardia que faz com que não se consiga situar em relação ao passado (isto é, encontrar a casa, habitação, estabilidade, etc.).
domingo, 29 de dezembro de 2024
Biografia de Alexandre O'Neill
O apelido O’Neill, de origem irlandesa (o primeiro rei católico da
Irlanda – 410 d.C. – chamava-se Eogan Vi Niall), foi herdado da avó paterna,
Maria da Conceição, havendo registo da sua presença em Portugal desde 1736, ano
em que Shane O’Neill, um refugiado, chega ao nosso país e se instala na Quinta
da Arealva, em Cacilhas.
A escolha do apelido O’Neill como “nome de guerra relacionar-se-á
possivelmente com a demarcação de qualquer «modo funcionário de viver»”, bem
simbolizado pelo clã O’Neill na Irlanda: durante quase mil anos e cerca de trinta
gerações, segundo as crónicas, não houve um O’Neill que morresse de morte
natural. Por sua vez, o apelido Bulhões aponta para figuras importantes, como,
por exemplo, Santo António de Lisboa.
·
1926-1937 – Mora
em Lisboa com a família, constituída pelos pais e pela irmã, Maria Amélia, mais
velha do que o futuro poeta, no 4.º Esq. do número 19 da Rua da Alegria, uma
época que o próprio retratou da seguinte forma: “Era um chato, uma tristeza,
era filho de gente que não me deixava sair à rua. Era um miúdo fechado, um
bocado triste e passava muito tempo à janela. […] Não foi uma infância feliz
nem infeliz. Foi um tempo cinzento, sem relevos.”
Mais felizes foram os períodos de férias de verão em Amarante, terra
natal da mãe, entre os seis e os dezasseis anos, onde conheceu e conviveu com
diversas pessoas, nomeadamente o tio-avô José Vahia, em cuja companhia faz
longos passeios que lhe dão a conhecer a região do Douro e a poesia de Guerra
Junqueiro e que estão refletidos no seu poema “Autocrítica”.
·
1932 – Começa
a frequentar a Escola Primária, situada na Rua de S. José dos Carpinteiros.
·
1933 –
Ingressa no Colégio Português de Educação Feminina, uma instituição de ensino
particular, na qual conclui a instrução primária e inicia o curso dos liceus.
·
1935 –
Conhece Teixeira de Pascoaes no Café Central de Amarante.
·
1936 –
Contacta pela primeira vez com a poesia dimensionista de António Pedro através
da revista “Revolução”, a que tem acesso por meio da sua professora, Virgínia
Lima.
Inicia-se a Guerra Civil espanhola, que seguirá com grande atenção.
Inscreve-se, obrigado, na Mocidade Portuguesa.
·
1937 – Ainda em
Amarante, conhece Alexandre Pinheiro Torres, que se tornará desde aí seu
companheiro de aventuras, e Bento de Jesus Caraça, que se encontrava também na
localidade na época e a quem pediu um autógrafo.
·
1938 – Muda-se
com a família para a Rua Arnaldo Gama, no Bairro Social do Cego, mudança essa
que o leva a mudar de escola e a frequentar o Colégio Valsassina, na Avenida
António Augusto de Aguiar, por força da lei da separação dos sexos nas escolas.
Contacta com a poesia de Mário de Sá-Carneiro, bem como com a poesia
neorrealista, graças às conversas pós-aulas que mantém com o seu professor
Avelino Cunhal, “a quem horroriza o entusiasmo” de O’Neill por uma poesia que
considerava “doentia e malsã” (a de Sá-Carneiro).
·
1939 – Reprova
a Matemática no 3. Ano de liceu. Após frequentar aulas particulares, repete o
exame e obtém anota de 19 valores.
Começa a ler (por exemplo, Júlio Verne, autor comum aos jovens da sua
idade, bem como outros escritores que os da sua idade não liam) e a escrever.
O triunfo de Franco na Guerra Civil espanhola, a ascensão dos regimes
fascistas e nacionalistas (Mussolini, Hitler e Salazar) e o início da Segunda
Guerra Mundial agudizam a sua visão angustiada da História e da vida.
·
1941 – Ainda no
Colégio Valssassina, conhece o professor António Dias Miguel, que o inicia na leitura
dos autores do Novo Cancioneiro.
Obtém todos os prémios de um concurso literário organizado pela direção
do colégio.
·
192 – Conhece,
pela mão de Ribeiro Couto, Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões, Almada
Negreiros, António Dacosta e António de Navarro, membros, entre outros, do
chamado “Grupo dos Jantares dos Dias 13”, que têm lugar na Esplanada do Rato, e
para os quais Alexandre O’Neill passou a ser convidado. Deles resultará um
convite, formulado por Ribeiro Couto, no sentido de colaborar na revista “Litoral”,
dirigida pelo escritor Carlos Queiroz.
Escreve poemas com sabor ao heterónimo pessoano Ricardo Reis e a um certo
imaginário próximo do Neorrealismo, povoados por figuras como fadas, gnomos, etc.,
e tendo como interlocutora uma Lídia, que, de facto, nos leva de imediato até
Reis.
·
1943 – Publica
os primeiros versos num jornal de Amarante, o “Flor do Tâmega”.
·
1944 –
Concluído o liceu, reprova no exame médico para admissão ao Serviço Militar, devido
à asma e à miopia.
Sofre novo desgosto quando conclui, após terminar o primeiro ano do curso
de Pilotagem da Escola Náutica de Lisboa (a admissão requeria apenas que os
candidatos soubessem nadar), que jamais poderá ser piloto por causa da miopia, no
momento em que tenta obter, na Capitania do Porto de Lisboa, uma cédula para
navegar como praticante de piloto.
Volta, posteriormente, ao liceu para frequentar, como aluno externo, o Curso
Complementar de Letras.
·
1945 – Conhece
Mário Cesariny de Vasconcelos no café A Cubana, dando início a uma
relação de amizade e cumplicidade intelectual, cimentada pelo envolvimento de
ambos nas atividades do MUD Juvenil e pela renitência face ao Neorrealismo.
Publica os poemas “Explosão”, “Nocturno”, “Cavalos” e “Estátua Equestre”
na revista “Litoral”.
·
1946 – Agravam-se
conflitos no seio da sua família: a relação com o pai nunca fora pacífica e a
mãe tinha sempre tentado afastar O’Neill da literatura, rasgando todos os
versos que encontrava, pois sonhava para o filho uma carreira na advocacia. Em
consequência dessas desavenças sai de casa e vai viver para casa do tio António
Vahia de Castro, na Avenida Visconde de Valmor.
Começa a trabalhar na Caixa de Previdência dos Profissionais do Comércio,
na secção de Arquivo e Expedição de Correspondência, como escriturário de
terceira classe, ganhando 600 escudos (o equivalente a três euros) por mês. Aí
permanecerá durante seis anos.
·
1947 – Troca correspondência
com Mário Cesariny, que vive então em Paris, revelando o seu entusiasmo pelas
atividades diversificadas a que se dedica: desenho, escrita, estudos (por
exemplo, da obra de Freud), escultura, etc.
Participa, juntamente com outras figuras, como António Pedro,
José-Augusto França, Cândido Costa Pinto, entre outros, em outubro, na primeira
reunião do futuro Grupo Surrealista de Lisboa, que se formará antes do final
deste ano, e que será constituído pelo próprio O’Neill, por Mário Cesariny,
António Pedro, José-Augusto França, Moniz Pereira, Fernando de Azevedo, António
Domingues e Vespeira. Cândido Costa Pinto fora afastado entretanto, acusado de
assumir compromissos estranhos aos do grupo, nomeadamente com a galeria de
exposições do SNI.
A adesão ao Surrealismo leva-o a colecionar objetos estranhos, em casa
dos pais, como ossos, que levam a mãe ao desespero e que o «forçam» a arrendar
um «atelier» numas águas-furtadas de um prédio antigo, na Avenida Liberdade,
juntamente com António Domingos e Mário Cesariny. Esta iniciativa vem
substituir outra, que nunca concretizará, de alugar uma casa em conjunto com
José Cardoso Pires e / ou João Moniz Pereira. É nesse «atelier» que os
locatários ensaiarão experiências de colagens, poemas, esculturas e pinturas.
·
1948 – Cria, nessas
águas-furtadas, A Ampola Miraculosa, uma história, em poucas páginas,
construída em torno de gravuras de antigos manuais de Física.
O Grupo Surrealista de Lisboa torna pública, através do “Diário de Lisboa”,
a sua oposição ao aproveitamento e apropriação oficiais da figura de Gomes
Leal, aquando da celebração do centenário do seu nascimento. Anos depois, O’Neill,
juntamente com Francisco de Cunha Leão, organizará uma antologia poética de
Gomes Leal.
Ainda neste ano, dá-se uma cisão no Grupo Surrealista de Lisboa, motivada
por divergências estético-ideológicas e protagonizada por Mário Cesariny,
António Maria Lisboa, Pedro Oom e Henrique Risques Pereira.
·
1949 – Em janeiro,
num sótão do n.º 25 da Rua da Trindade, abre ao público a primeira exposição do
Grupo Surrealista de Lisboa, onde expõem os seus trabalhos Alexandre O’Neill,
António Pedro, José-Augusto França, entre outros. A exposição é encerrada pela
polícia devido ao seu cariz subversivo. A capa do catálogo ostenta a cruz azul
do lápis da censura: o texto dessa capa, de facto, assinado por José-Augusto
França, apoia a candidatura do general Norton de Matos contra Óscar Carmona e
nele é possível ler frases como “É absolutamente indispensável votar contra o
Fascismo.”, por isso é cortado com uma enorme cruz.
·
1950 – A 12
de janeiro tem lugar a Conferência de Nora Mitrani, intitulada “La Raison
Ardente”, uma francesa de 29 anos ligada ao movimento surrealista de André
Breton que chegara a Lisboa em finais do ano anterior. Alexandre O’Neill traduz
a conferência para português, para ser publicada nos Cadernos Surrealistas, e
apaixona-se loucamente pela conferencista.
Quando Nora Mitrani parte de regresso, os dois combinam que o poeta irá
encontrar-se com ela a Paris, no entanto, entretanto, a PIDE confisca-lhe o
passaporte, que apenas reaverá anos mais tarde.
Ainda neste ano realiza-se, na livraria A Bibliófila, a segunda exposição
do Grupo Surrealista Dissidente, na qual O’Neill expõe, extracatálogo, não
obstante fazer parte do grupo original.
·
1951 – Em novembro,
é editado, em Cadernos de Poesia (fascículo 11), o seu primeiro livro de
poemas: Tempo de Fantasmas. Num texto intitulado “Pequeno Aviso do Autor
ao Leitor”, uma espécie de prefácio, o escritor demarca-se do Surrealismo e
passa-lhe mesmo um atestado de menoridade.
Aproxima-se temporariamente do Partido Comunista Português, um namoro que
começara em 1948 com a entrada para o MUD Juvenil, porém o poeta nunca seria um
homem de grandes convicções partidárias.
Em dezembro, o Grupo Surrealista Dissidente reage à posição de O’Neill
com o texto “Do capítulo da Probidade”, que o ataca, bem como o Grupo
Surrealista de Lisboa, José-Augusto França e Jorge de Sena.
·
1952 – É posto
sob “vigilância especial” na Caixa de Previdência, onde trabalha, depois
transferido de secção e, por fim, demitido compulsivamente da Função Pública
por se ter recusado a usar gravata pela morte do marechal Óscar Carmona.
·
1953 – Em março,
torna-se funcionário da secção de Sinistros Automóveis, na Companhia de Seguros
Metrópole.
Colabora em diversos jornais e revistas: “Litoral”, “Mundo Literário”, “Seara
Nova”, “Diário de Lisboa”, “Cadernos de Poesia”, “Vértice”, “Journal des Poètes”
e “Unicórnio” (1951), revista dirigida por José-Augusto França onde foi
publicado o poema “Um Adeus Português” e, em 1956, “Meditação na Pastelaria”.
É preso pela PIDE no aeroporto de Lisboa por ter ido esperar Maria Lamas,
escritora, jornalista e ativista política, que regressava de reuniões do
Conselho Mundial da Paz, ocorridas em Bucareste, na Roménia, e encarcerado
durante 40 dias. Nesse período de tempo, é visitado semanalmente pela irmã, à
revelia dos pais. É posto em liberdade graças às influências movidas pela mãe,
contra a vontade do próprio filho.
·
1954 – A 13
de março pede a demissão da companhia de seguros onde trabalhava desde março do
ano anterior, alegando um estado de saúde frágil e a necessidade de repouso
absoluto.
Em 1 de agosto, começa a trabalhar como escriturário para a divisão
agro-química da Sandoz.
·
1957 – Em 27
de dezembro, casa com Noémia Delgado e vai morar para a Rua do Jasmim,
quebrando, a partir daqui, o ciclo de idas e voltas de casa dos pais.
·
1958 –
Publica No Reino da Dinamarca, na coleção “Poesia e Verdade”, da
Guimarães Editores.
No fim de junho, abandona o emprego de escriturário da Sandoz.
·
1959 – A partir
de julho, trabalha como encarregado da Biblioteca Itinerante n.º 17 da
Gulbenkian, com ponto de irradiação em Lisboa.
Branquinho da Fonseca, diretor do Serviço de Bibliotecas Itinerantes da
Gulbenkian, à falta de técnicos, «recruta» os encarregados entre os jovens poetas
da época, como Herberto Hélder e António José Forte, além do próprio O’Neill.
Inicia a sua atividade como redator de publicidade, onde permanecerá até
ao fim da vida, trabalhando sucessivamente em quase todas as maiores empresas
do ramo: Telecine Moro, Publicis, Ciesa NCK e McCann Erickson. Nos anos 80,
trabalhará com dois amigos na Publinter (Rui de Brito) e na Lápis (com Arnaldo
Aboim). Ficam famosos diversos slogans da sua autoria, nomeadamente um,
o mais conhecido e que acabou por se converter em provérbio: “Há mar e mar, há
ir e voltar”.
A 23 de dezembro, nasce o seu primeiro filho: Alexandre Delgado O’Neill.
·
1960 – É publicado
Abandono Vigiado, na coleção “Poesia e Verdade”, da Guimarães Editores.
Em maio, abandona o emprego na biblioteca itinerante e volta para a
Sandoz.
·
1961 – Nora Mitrani
suicida-se em Paris aos 40 anos. Ela e O’Neill nunca se voltaram a ver.
O poeta colabora com Ilse Losa na tradução da obra Teatro I, da
autoria de Bertolt Brecht, para a editora Portugália.
Em finais de setembro, abandona em definitivo a Sandoz.
·
1962 – Na coleção
Círculo de Leitores, da editora Moraes, é publicada a obra Poemas com
Endereço.
Publicam-se também duas antologias poéticas de sua autoria, uma de
Teixeira de Pascoaes (em parceria com Francisco da Cunha Leão), a outra de Carl
Sandburg.
·
1963 – Organiza
uma antologia de poemas escolhidos do poeta brasileiro João Cabral de Melo
Neto, que é publicada na Portugália, na coleção “Poetas de Hoje”.
Traduz as letras das canções de O Círculo de Giz Caucasiano, para
o volume Teatro II, de Bertolt Brecht, prosseguindo assim a colaboração
com Ilse Losa.
·
1965 – A Ulisseia
edita Feira Cabisbaixa.
·
1966 – É editada,
pela Einaudi, de Turim, uma tradução de poemas seus intitulada Portogallo
Mio Remorso, da responsabilidade de Joyce Lussu, um reflexo do interesse
que O’Neill sempre teve pela cultura, história e língua italianas.
·
1968 – É publicado
O Poeta Apresenta o Poeta, uma antologia da poesia de Vinicius de Moraes
organizada por O’Neill. O poeta brasileiro vem a Lisboa e os dois tornam-se
amigos.
·
1969 – É publicada
a segunda edição de No Reino da Dinamarca.
·
1970 – É editada
a coletânea de textos As Andorinhas não têm Restaurante, que reúne textos
em prosa editados nos livros de poesia e crónicas que publicava periodicamente
em jornais, nos “Cadernos de Literatura” da D. Quixote.
·
1971 – A 15
de janeiro, divorcia-se de Noémia Delgado e, a 4 de agosto, casa com Teresa
Patrício Gouveia. O novo casal vai morar na Rua da Escola Politécnica, n.º 48-2.º,
onde Alexandre O’Neill viverá até ao final da vida.
O segundo matrimónio coincide com um período de maior desafogo económico
e com uma fase de estadas numa casa da família, em Azeitão, muito apreciada
pelo poeta.
·
1973 – Prepara,
com Jorge Listopad, o programa “Museu Aberto” para a RTP.
·
1974 –
Colabora com o realizador Artur Ramos (com quem já havia colaborado nos anos
60, no filme Pássaro de Asas Cortadas) na produção da peça Schweik na
II Guerra Mundial, da autoria de Bertolt Brecht, para a Companhia de Teatro
da Rtp.
·
1975 – Em novembro,
sai o primeiro número da publicação “Critério – Revista Mensal de Cultura”,
dirigida por João Palma-Ferreira e O’Neill, como diretor-adjunto, defensora da
democracia de tipo socialista. Entre os colaboradores contam-se figuras
relevantes como Miguel Torga, Vergílio Ferreira, António José Saraiva, Álvaro
Manuel Machado, António Tabucchi e Vitorino Magalhães Godinho. Em simultâneo, O’Neill
torna-se simpatizante do Partido Socialista, dando início a uma relação
pontuada por vários solavancos, exemplificada por slogans eleitorais
como o seguinte: “Ele não merece, mas vota no PS”.
·
1976 –
Abandona, juntamente com Palma-Ferreira, a direção da revista “Critério”, de
que ainda sairão dois números sob uma direção interina.
Em maio, nasce Afonso, o seu segundo filho.
Traduz A Mandrágora, da autoria de Nicolau Maquiavel.
É internado, durante algum tempo, no Hospital de Santa Maria, na
sequência de um episódio grave do foro cardíaco.
·
1977 – Organiza,
para a Dom Quixote, Casa Branca Nau Preta / Felicidade na Austrália, uma
coletânea que abarca poemas de trinta poetas portugueses contemporâneos, desde “Orpheu”
até 1975, que, contudo, jamais foi publicada.
Edita outra antologia, intitulada Poesia Portuguesa Contemporânea,
na qual colabora na seleção e notas.
A 17 de dezembro, participa no “Encontro de Poetas” que marca o início de
diversas iniciativas culturais promovidas pela Casa de Mateus, nas quais participam
também Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner, Pedro Tamen, Alberto Pimenta,
Vasco da Graça Moura, entre outros.
·
1978 – Em colaboração
com Mendes de Carvalho, escreve a peça Jesus Cristo em Lisboa, uma
tragicomédia em duas partes inspirada na obra homónima de Raul Brandão e Teixeira
de Pascoaes.
Colabora com o programa Perfil, produzido pela Interfilme para a
RTP, diário e com a duração de 5 a 8 minutos, cujo objetivo era dar a conhecer
o perfil de escritores ou artistas.
Em agosto, juntamente com Álvaro Guerra, Jorge Listopad e Raul Solnado,
integra uma embaixada portuguesa ao Festival Internacional de Poesia, na então
Jugoslávia.
·
1979 – Edita A
Saca de Orelhas e colabora no projeto teatral de Ricardo Pais, Ninguém,
uma adaptação de Frei Luís de Sousa feita por Maria Velho da Costa.
Durante o inverno viaja por Itália, ficando alojado em casa de Antonio
Tabucchi, seu amigo e admirador.
Separa-se de Teresa Patrício Gouveia.
·
1981 – Passa alguns
períodos de tempo em Constância, em casa de Rui de Brito, com quem vinha
colaborando desde 1978.
·
1982 – Graças
à ação de Vasco da Graça Moura, é publicada a obra Poesias Completas
1951/1981, que integra um novo livro, de 1981, As Horas já de Números
Vestidas.
·
1983 – Adere,
em conjunto com outras personalidades da vida literária e artística, a um
abaixo-assinado contra a programação da RTP que acusa a empresa estatal de
televisão de chantagem e coação moral.
A 7 de abril, o “Diário Popular” publica uma tomada de posição de O’Neill
contra a proposta do Conselho Federal de Cultura do Brasil de extinção das
cadeiras de Literatura Portuguesa nas Faculdades de Letras brasileiras.
·
1984 – É publicada
a segunda edição das Poesias Completas, que inclui já a produção do
poeta até ao ano de 1983. Sofre um AVC.
·
1985 – É reeditada
Uma Coisa em Forma de Assim.
Em março, interrompe a sua colaboração com o “Jornal de Letras” por motivos
de saúde: é internado no Hospital de Santa Maria durante oito dias para fazer
uma desintoxicação medicamentosa.
· 1986 – A 9 de abril, é acometido de novo episódio cardíaco enquanto trabalha na Publinter e internado na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Santa Cruz, sendo posteriormente transferido para o Hospital Egas Moniz, onde acaba por falecer a 21 de agosto.
Análise da ode "Temo, Lídia, o destino. Nada é certo", de Ricardo Reis
Análise do poema "A flor que és, não a que dás, eu quero"
Análise da ode "A cada qual, como a estatura, é dada", de Ricardo Reis
sábado, 28 de dezembro de 2024
Análise da ode "Seguro assento na coluna firme", de Ricardo Reis
Análise de "Esta tarde a trovoada caiu", de Alberto Caeiro
quinta-feira, 25 de julho de 2024
quarta-feira, 3 de julho de 2024
Análise do poema "Aquela senhora tem um piano", de Alberto Caeiro
Este poema é constituído por dois tercetos de versos brancos ou soltos e métrica irregular.
Na primeira estrofe, o sujeito poético estabelece uma analogia entre o som do piano e o produzido pelo curso das águas dos rios e das árvores, para constatar que o instrumento musical, quando tocado por uma determinada senhora, produz um som agradável, porém bastante inferior ao produzido pelos elementos da Natureza (atente-se na sua personificação, traduzida pelo nome «murmúrio», bem como na metáfora clássica do «correr dos rios»). O som do piano é, de facto, agradável, todavia não é natural, simples e verdadeiro, como o da Natureza. Tudo o que é humano não é natural. Tudo o que é humano não é natural. À semelhança do que sucede com o piano, que imita os sons da natureza nas suas melodias, o pensamento humano imita o natural movimento das coisas. Nesta estrofe e neste poema, o «eu» poético defende novamente a objetividade.
Além disso, há uma oposição entre «Natureza» e pensamento e o piano constitui uma metáfora deste contraste. Dado que a Natureza produz sons mais melodiosos, não é necessário um piano para ouvir belos sons, isto é, não é preciso pensar para viver. Além disso, o piano é um intermediário entre o ser humano e a Natureza. O piano representa um bem cultural, uma construção humana, que se opõe aos bens naturais – o correr dos rios e o murmúrio das árvores. Assim sendo, o «eu» descarta a necessidade do piano, preferindo a fruição dos sons da Natureza. O melhor é ter ouvidos para os escutar.
Caeiro vive de impressões, sobretudo visuais, todavia, neste poema, o foque recai sobre as auditivas. Por outro lado, são frequentes na poesia de Caeiro as comparações que têm como segundo elemento de comparação um elemento da Natureza e que servem para concretizar ideias abstratas.
Em suma, embora os objetos e as criações humanas ofereçam prazer e conforto, eles ficam aquém da complexa e rica experiência oferecida pela Natureza: há um contraste entre o artificial, o construído, e o natural e simples.
A segunda estrofe abre com uma interrogação retórica: “Para que é preciso ter um piano?” (v. 4). De facto, o piano é desnecessário, porque há a Natureza, que ultrapassa tudo o que o ser humano pode construir para a compreender. O essencial é usufruir da Natureza através dos sentidos, neste caso da audição, e amá-la. Não é necessário um instrumento musical – um objeto material musical construído – quando se tem o que é natural, uma forma mais autêntica de existência humana: a beleza e a pureza da Natureza, simples e natural. Amar é aceitar incondicionalmente, ao mesmo tempo que nos oferecemos por inteiro, sem compromisso, mesmo que tenhamos medo de falhar ou de ser magoados.
Para concluir, esta composição poética recorda uma passagem do Livro do Desassossego que reza o seguinte: “Quando vim primeiro para Lisboa, havia, no andar lá de cima de onde morávamos, um som de piano tocado em escalas, aprendizagem monótona da menina que nunca vi. Descubro hoje que (…) tenho ainda nas caves da alma (…) as escalas repetidas, tecladas, da menina hoje senhora outra, ou morta e fechada num lugar branco onde verdejam negros os ciprestes. Eu era criança, e hoje não o sou.”. O piano, neste passo, parece constituir uma referência simbólica à mãe de Fernando Pessoa, tendo em conta que O Livro do Desassossego se debruça sobre a sua infância perdida. Ela tocava piano e o poeta recorda essas notas tocadas em sua casa, durante a idade infantil. Dado que recusa a necessidade do piano, denega também a necessidade da memória do piano (da própria mãe a tocá-lo, no que isso teria de reconfortante). Deste modo, os versos “Para que é preciso ter um piano? / É melhor ter ouvidos / E amar a natureza” podem ler-se como um lamento triste em que Pessoa, aparentemente, recusa a memória reconfortante.
terça-feira, 18 de junho de 2024
terça-feira, 9 de abril de 2024
Análise do capítulo I de Memorial do Convento
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Análise do poema "Que noite serena!", de Álvaro de Campos
A análise do poema pode ser encontrada aqui: análise-de-que-noite-serena.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
Análise do poema "Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia", de Ricardo Reis
A
história (ação) narrada no texto
prende-se com factos ocorridos durante a invasão de uma cidade da Pérsia. Tais
factos, apesar da sua brutalidade e sanguinolência, foram incapazes de, por
mais do que um leve e passageiro instante, desviar a atenção de dois jogadores
de xadrez que, indiferentes a tudo o que os rodeava, prosseguiram serenamente o
seu jogo.
O narrador é o próprio...
sábado, 20 de janeiro de 2024
Análise do poema “Presságio” ou “O amor, quando se revela”
O poema “Presságio” foi escrito por Fernando Pessoa em 24 de abril de 1928, já na fase final da sua vida (13 de junho de 1888 – 30 de novembro de 1935).
O tema da composição poética é o amor, mais concretamente a dificuldade em o revelar à pessoa amada (em última análise a impossibilidade de viver um amor correspondido), abordado em cinco quadras de redondilha maior (bem ao gosto popular), com rima cruzada, segundo o esquema rimático ABAB.
Na primeira quadra, o sujeito poético apresenta o mote do texto, isto é, o tema que vai ser desenvolvido, bem como o seu posicionamento face...
Podes encontrar a análise completa do poema aqui: análise-do-poema-presságio.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
Análise do poema "Ao entardecer, debruçado pela janela"
O início da composição apresenta-nos um sujeito poético, debruçado pela janela, a ler O Livro de Cesário Verde. Ora, a leitura é uma atividade solitária por excelência e que exige concentração, introspeção, e Caeiro admitia que lia debruçado na janela, ao entardecer, o momento do dia que parece proporcionar a melancolia: a imagem é a de um poeta solitário – Alberto Caeiro – que lê outro poeta com tendências taciturnas – Cesário Verde.
A seleção da obra para leitura não é casual. De facto, são evidências as similitudes entre a poética de ambos os poetas: a relação com a Natureza, as sensações, o deambulismo, etc. Caeiro lê O Livro de Cesário Verde, porque se identifica com ele. Note-se, por outro lado, a forma intensa e dedicada como Alberto se dedica à leitura, como o mostra o facto de ler até lhe doerem os olhos. O «eu» poético está totalmente focado e entregue à leitura. A identificação do título da obra indicia a sua admiração e respeito por Cesário, mas também a sua identificação com ele: ambos são poetas da Natureza e das sensações e observam o mundo com simplicidade e sem o racionalizar.
Voltando ao verso inicial do poema, este coloca-nos perante o momento (“Ao entardecer”) e o local (a janela) em que se opera a leitura. O «eu» poético está...
A análise completa pode ser encontrada no link seguinte: análise-de-ao-entardecer.
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
Análise do Poema XIV de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro
No que diz respeito à mensagem do poema, o sujeito poético inicia-o afirmando que não se importa com as rimas. O que significa esta afirmação / negação? Em primeiro lugar, significa que ele se assume como um poeta (já o tinha feito, aliás, logo na primeira composição poética de O Guardador de Rebanhos). Em segundo lugar, significa que, nessa qualidade, desvaloriza a importância da rima nos seus textos, na sua poesia. Mas por que razão tal sucederá? A explicação / justificação surge ainda no primeiro verso, estendendo-se ao seguinte. De facto, o «eu» declara que não “Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra”. O que quer isto dizer e qual a relação com o ato de escrever poesia? Fazer rimar duas palavras (isto é, colocar no texto duas – ou mais – palavras que têm um final semelhante – ou seja, que rimam) não é natural, e fundamenta esta ideia através de uma analogia com a Natureza, que também não cria entidades iguais (como, por exemplo, árvores) “uma ao lado da outra”. Tal sucede porquê? O homem pensa quando cria (neste caso, cria / escreve poesia); a Natureza, não, daí que crie de forma simples e natural.
O terceiro verso assenta numa comparação entre o sujeito lírico e a mesma Natureza: “Penso e escrevo como as...
Podes encontrar a conclusão da análise aqui: análise-poemaxiv-o-guardador-de-rebanhos.