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sábado, 9 de março de 2019

'O Ano da Morte de Ricardo Reis' - Ficha de leitura (capítulos VIII-XIII)

VERSÃO 1

Assinala como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das afirmações.
1. O livro que Reis andava a ler falava de dois jogadores de xadrez.
2. O protagonista foi chamado a comparecer na sede da Polícia Judiciária.
3. A notícia deixou Lídia inquieta.
4. Através do irmão, Miguel, ela estava relativamente informada sobre a repressão política.
5. Regressada de Coimbra, Marcenda marca um encontro com Reis, no Alto de Santa Catarina.
6. A jovem pede a Reis que lhe telefone, a contar como correra a ida à polícia.
7. O polícia que interrogou Ricardo Reis chamava-se Vitor.
8. Reis anuncia a Lídia que vai arranjar uma casa e pergunta-lhe se ela irá encontrar-se com ele, nos seus dias de folga.
9. Soube-se nessa altura que as tropas de Hitler tinham ocupado a Renânia.
10. Da janela da nova casa, Ricardo Reis avista a estátua de Camões e o rio Tejo.
11. Fernando Pessoa foi o primeiro a bater à sua porta.
12. No dia seguinte, é Lídia quem o visita e, ao sair, informa-o sobre o regresso de Marcenda.
13. Diariamente, o ardina passou a atirar o jornal à janela da casa de Reis, no segundo andar.
14. Marcenda também vai a casa de Ricardo Reis e é beijada pela primeira vez.
15. As vizinhas andavam muito intrigadas com aquelas visitantes femininas.
16. Reis começa a trabalhar, num consultório de onde via a estátua do Adamastor.
17. O médico costumava oferecer o jornal a dois velhos, que diariamente ocupavam um banco de jardim, junto à casa onde morava.
18. Chega uma carta de Marcenda, na qual ela fala da intenção do pai de a levar a Fátima, como última esperança de se curar.
19. Continua, entretanto, a relação com Lídia, que chega a dormir uma noite em casa de Ricardo Reis.
        20. Marcenda, por seu turno, não volta a visitá-lo.


VERSÃO 2

Assinala como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das afirmações.
1. Uma intoxicação alimentar impediu o protagonista de sair do quarto durante dois dias.
2. Já recuperado, foi surpreendido por uma contrafé, entregue por Lídia.
3. O documento provocou desconfiança nos empregados e nos hóspedes do hotel.
4. Pelo irmão, marinheiro do Afonso de Albuquerque, Lídia estava a par da repressão política no país.
5. Por iniciativa da jovem, Reis e Marcenda encontram-se no Terreiro do Paço.
6. Depois de Marcenda, quem apareceu foi Fernando Pessoa.
7. O homem que interrogou Ricardo Reis não é identificado pelo narrador.
8. Na sequência do interrogatório policial, Reis decide deixar o hotel.
9. No jornal, lê o anúncio de uma casa para alugar no Alto de Santa Catarina.
10. Em plena mudança para a nova casa, o protagonista cruza-se com uma delegação da Juventude Hitleriana, de visita a Portugal.
11. A profunda solidão da primeira noite fora do hotel foi amenizada pela visita de Fernando Pessoa.
12. No dia seguinte, vem Lídia, para cuidar da casa.
13. Os jornais noticiaram o início da rodagem do filme «Revolução de Maio».
14. Como combinado, Marcenda vai a casa de Ricardo Reis.
15. Ele diz-lhe «Vou beijá-la».
16. O texto refere o jornal do multimilionário americano Rockefeller, que, impresso só para ele, trazia apenas notícias boas.
17. Ricardo Reis retoma a sua atividade de médico reumatologista.
18. Uma carta de Marcenda fá-lo lembrar as cartas de amor que já tinha escrito.
19. Nos restaurantes, Ricardo Reis tinha o estranho hábito de pedir dois talheres.
        20. É no seu consultório que Reis pede a Marcenda que case com ele.


As autoras do Novo Plural 12
Elisa Costa Pinto 
Paula Fonseca 
Vera Saraiva Baptista



. Soluções.

Análise do soneto "O céu, a terra, o vento sossegado"

                Este poema faz parte de uma série de sete sonetos dedicados à morte de Dinamene, escrava asiática que Camões amou e que morreu num naufrágio.


Assunto: o pescador perdeu a amada e, chorando, pede às ondas o seu regresso.


Tema: a saudade da amada; o sofrimento por amor.


Estrutura interna

1.ª parte (2 quadras): descrição do espaço físico e caracterização da figura humana.

- Cenário / espaço físico – ambiente marinho e noturno – natureza romântica:
. paisagem marinha noturna – uma praia (“As ondas, que se estendem pela areia…” – v. 2);
. atmosfera de tranquilidade, calma, sossego, de quietude e de silêncio (“O céu, a terra, o vento sossegado…”; “os peixes, que no mar o sono enfreia…”; “O noturno silêncio repousado…” – vv. 1, 3 e 4);
. elementos: o céu, o vento, a terra, o vento, o mar (as ondas, os peixes) (enumeração);
. natureza que antecipa o Romantismo: marinha e noturna;
. a perturbação do silêncio pelo choro de Aónio, chamando pela sua amada.

- Tempo: a noite (“noturno silêncio”).

- Personagem:
. nome: Aónio;
. profissão: pescador;
. situação física: deitado;
. situação psicológica: chora, porque a amada morreu;
. ação que pratica: nomeia a amada (“a minha ninfa”) e, seguidamente, solicita à Natureza, representada pelas ondas, que lha devolva (pois morreu prematuramente: “tão cedo / me fizestes à morte estar sujeita”) – identificação entre a Natureza e a morte;
. estado de espírito:
- está dominado por um sentimento de profunda tristeza devido à morte da amada;
- imerso num estado de desalento, patente na atitude de abandono em que se encontra (“deitado / onde co vento a água se meneia” – vv. 5-6),
- exprime o seu desespero chorando, clamando pelo “nome amado” (v. 7) e suplicando às “Ondas” (v. 9) a graça do retorno à vida da sua “Ninfa” (v. 10).

- Recursos expressivos:
. a construção repetitiva das frases e o seu caráter suspenso e incompleto sugerem um estado de espírito dominado pelas emoções;
. os adjetivos “sossegado” e “repousado” e as formas verbais “se estendem” e “enfreia” sugerem a calma e a harmonia da Natureza.;
. a forma verbal “chorando”, no gerúndio, traduz a continuidade do sofrimento do pescador;
. a enumeração dos elementos da natureza;
. ritmo arrastado;
. emprego de vocábulos como “sossegado”, “sono”, “silêncio”, “repousado”, “se estendem”, sugerindo a calma, o sossego e a solidão que caracterizam o espaço;
. a suspensão dos verbos através das reticências prolonga a sugestão da calma e de imensidão espacial.

2.ª parte (2 tercetos): interpelação do pescador à Natureza e a reação desta.

1.º momento (1.º terceto): o pescador interpela as ondas do mar, tornando-as suas confidentes.
. a relação entre o pescador e as ondas é sublinhada pela:
- apóstrofe inicial: “Ondas”;
- forma verbal no imperativo: “tornai-me”;
- repetição do pronome pessoal de primeira pessoa “me”, ao qual se associa o determinante possessivo também de primeira pessoa “minha”, reveladores de um discurso egocêntrico e emotivo.

2.º momento (2.º terceto): a indiferença cruel da Natureza:

. a retoma dos elementos descritivos da 1.ª parte do soneto: o mar, o arvoredo, o vento;

. a Natureza, inicialmente calma e sossegada, perturbada momentaneamente pelo choro e pelo apelo de Aónio, regressa ao estado de silêncio (“Ninguém lhe fala. / O mar, de longe, bate; / move-se brandamente o arvoredo… / Leva-lhe o vento a voz […]” (há como que um círculo de silêncio que envolve a dor de Aónio);

. a Natureza não se comove com a dor do pescador, permanece indiferente e impassível (atente-se no emprego do pronome indefinido “ninguém”, da locução adverbial “de longe”, do advérbio de modo “brandamente” e da aliteração em /v/ no último verso) assumindo uma posição cruel, semelhante à da Morte, que lhe roubou a mulher amada. Deste modo, a Natureza e a Morte coincidem e assemelham-se, pois ambas são cruéis para Aónio;

. notar o papel diferente desempenhado pela Natureza neste soneto (indiferença) e, por exemplo, no soneto “Aquela triste e leda madrugada”;

. a aliteração em “v”:
- confere uma tonalidade musical harmoniosa;
- cria um efeito que sugere o som do vento;
- marca o ritmo sincopado do verso;
- acentua a importância da relação simbólica entre voz e vento;
- acentua a indiferença cruel da Natureza e a extrema solidão do pescador: sugere o perpassar do vento que, indiferente, leva a súplica do pescador.


Estrutura narrativa do poema

- Espaço físico: ambiente marinho noturno.

- Tempo: noite.

- Personagem: o pescador Aónio.

- Ação:
. o apelo de Aónio à Natureza;
. a reação indiferente da Natureza.

- Narrador: voz que, irmanando da dor da personagem, descreve o drama do pescador e que comenta a indiferença da Natureza (“Ninguém lhe fala”) perante a morte da amada.


Reação da Natureza ao apelo do pescador

                A Natureza fica indiferente relativamente ao pescador Aónio, pois não responde à sua súplica.
                Assim, à completa ausência de resposta, segue-se a indiferença do mar (“de longe bate” – v. 12), o movimento brando do “arvoredo” (v. 13) e do “vento” (v. 13) que, soprando, torna inaudível a “voz” (v. 14) da figura central.


Associação da Natureza à Morte

                A Natureza associa-se à Morte, porque é a causa da morte prematura da amada na foz do rio Mecom e porque se mostra indiferente ao sofrimento, à dor humana (“Ninguém lhe fala; o mar de longe bate”).


Conceito de amor

                O conceito de amor representado neste soneto é característico do Renascimento, pois trata-se do amor que causa dor e sofrimento. Além disso, estamos na presença de uma entidade superior, uma força cruel, que mata, que mortifica, mas que continuamente é desejado e vivido. É também algo de inefável, que não pode ser definido em termos lógicos, o que o situa para além do entendimento humano.


Marcas clássicas / renascentistas:
- as referências mitológicas (Amor, ninfas);
- o uso do soneto;
- o uso do verso decassilábico;
- a natureza calma e sossegada.


Traços da cantiga de amigo (ex. Ondas do mar de Vigo):
- a saudade
- a natureza enquanto confidente do sujeito poético
- a natureza personificada
- a interpelação das ondas do mar pelo pescador
- a expressão do amor associado ao quotidiano rural ou do mar (“Ondas do mar de Vigo”)


. Antecipação do Romantismo:
- natureza noturna e marinha, que se afasta do típico “locus amoenus” clássico (local aprazível, diurno, cristalino e verdejante) e que antecipa a Natureza romântica;
- a identificação da Natureza com a Morte.


quinta-feira, 7 de março de 2019

Sintaxe do verbo "aperceber-se"

     "Aperceber-se" significa "dar-se conta de", "notar", "tomar consciência de", "aperceber-se de uma situação ou de um facto".

     Neste sentido, o verbo é seguido de um complemento introduzido pela preposição de, quer se trate de um complemento nominal ou oracional (= oração).
  • A Joaquina e o Eusébio não se aperceberam da subida da maré.
  • O Viriato só se apercebeu de que tinha sido roubado quando quis pagar o jantar.
  • Apercebi-me de que o Benfica derrotou o Porto.
  • A Miquelina foi à praia e não se apercebeu da passagem do tempo.
  • Sérgio Conceição ficou furioso quando se apercebeu de que iria ser derrotado.
  • O Ministro da Educação reconheceu: "Apercebi-me de que estava errado.".

As regras do cérebro

     As regras do cérebro (Brain rules) é uma obra da autoria de John Medina, na qual propõe 12 regras que nos ajudam a compreender a forma como o nosso cérebro funciona e como o podemos usar de forma o mais eficiente possível.

     Essas regras são as seguintes:



     O artigo original pode ser encontrado aqui [brain rules].

quarta-feira, 6 de março de 2019

'Frei Luís de Sousa', a peça dos dois reis

«A peça de Almeida Garrett, conhecida por Frei Luís de Sousa, é uma peça que contém 3 atos, e os atos estão divididos em cenas. Esta peça trata-se da morte de dois reis, um deles é casado, dá-se a morte dos reis, D. Madalena que era casada com um dos reis mais tarde volta a casar-se com Manuel de Sousa Coutinho, e têm uma filha chamada Maria.»
     E é isto...

Educação bulímica


Mito: na escola, memoriza-se, vomita-se e esquece-se.

Realidade: para desenvolver operações cognitivas de complexidade superior, é imprescindível a memorização de dados, factos e informações que permitam ao aluno confrontar e compreender novos conteúdos e resolver problemas criativamente.

     Roubado daqui: [javier].

Bicho de sete cabeças


     Um bicho de sete cabeças é uma coisa difícil ou complicada que pode não ter uma resolução simples.

     A expressão provém da mitologia grega, concretamente da lenda da Hidra de Lerna, um monstro de sete cabeças que, ao serem cortadas, renasciam. A morte da Hidra constituiu um dos doze trabalhos de Hércules.
     O seu significado evoluiu, porém, e hoje representa a atitude exagerada de alguém que, diante de uma dificuldade, coloca limites à realização da tarefa, mesmo até por falta de disposição para a enfrentar.

Asploração... faz-me passar


Tapar o sol com uma peneira

                                
     Esta expressão remete para a tentativa de ocultar algo com medidas temporárias, parcialmente eficientes ou ineficientes.

     A peneira é um objeto circular de madeira com o fundo em rede de metal, seda ou crina, por onde passa a farinha ou outra substância moída. Ora, qualquer tentativa de tapar o sol com uma peneira é um ato vão, uma vez que o objeto deixa passar a luz solar.

     É possível que a expressão tenha nascido dessa constatação. Atualmente, significa um esforço inglório e inútil para ocultar uma asneira ou negar uma evidência, pois, regressando à expressão, não é possível impedir o sol de passar pelos orifícios da peneira.

Meter uma lança em África

     Esta expressão idiomática usa-se quando se pratica uma proeza, realiza algo que se afigurava difícil ou se leva a cabo uma empresa difícil.

     A origem da locução leva-nos até a uma das maiores figuras históricas portuguesas, concretamente Nuno Álvares Pereira. Numa ocasião em que estava recolhido no Convento das Carmelitas, já em idade avançada, após 1423, quando lhe chegou a notícia do rompimento da paz entre Portugal e Castela.
     Em resultado, alguém lhe terá lamentado a sua velhice e o facto de, por essa razão, não poder voltar a pegar em armas de novo. O Condestável terá, então, respondido que, se a pátria precisasse dele, ainda meteria a lança não só em Castela, mas também em África.
     A partir daí, a expressão terá sido vulgarizada pelos exploradores lusitanos por causa das extremas dificuldades que enfrentaram quando chegaram a África, nomeadamente a oposição feroz dos nativos locais, cuja resistência causou muitas vítimas entre os exploradores. Frequentemente, foram forçados a recuar face às dificuldades e à iminência de serem dizimados pelo inimigo que mal conheciam e, pior que tudo, pelo terreno que mal conheciam.

A denúncia de roubo mais original da Via Láctea


Calcanhar de Aquiles

     Esta expressão significa ponto fraco ou vulnerável, físico, moral ou intelectual, de alguém.
     A sua origem leva-nos até à mitologia grega e a um dos seus maiores heróis, Aquiles, um semideus (filho da ninfa Tétis e do mortal Peleu) que se destacou na Guerra de Troia e constitui a personagem principal da Ilíada, uma das epopeias atribuídas a Homero.
     Quando Aquiles nasceu, a sua mãe mergulhou o seu corpo no rio Estige para o tornar imortal, tendo-o segurado pelo calcanhar, que ficou fora de água e, assim, vulnerável.
     No final da guerra contra os troianos, Aquiles morreu ao ser atingido nesse calcanhar por uma seta envenenada disparada por Páris, irmão de Heitor e "raptor" da rainha grega Helena, ato que esteve na génese do confronto bélico entre os dois povos, e guiada por Apolo.

sábado, 2 de março de 2019

Qualquer peça, exceto algumas peças


"Soalheiro" e "solarengo"

     Quantas vezes já se ouviu alguém utilizar a expressão "dia solarengo" para se referir a um dia com muito sol?

     Na verdade, "solarengo" é um adjetivo derivado de "solar" (palavra derivada de «solo») + o sufixo -engo e significa "relativo ou pertencente a solar", a moradia de uma família nobre ou importante, de arquitetura requintada.
          . Esta casa solarenga data do século XVI.
     Um nobre que tinha uma casa de família com alguma imponência também possuía terras, solo: o solo pertencia à propriedade, ao solar.

     Por seu turno, o adjetivo "soalheiro" é também derivado por sufixação: «soalhar» + -eiro, e significa "quente", "exposto ao sol", "aquecido ou banhado pelo sol".
          . Que tarde soalheira!

Fonte:
     . Ciberdúvidas - Maria Regina Rocha;
     . Sandra D. Tavares, 500 erros mais comuns de língua portuguesa.
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