quinta-feira, 30 de setembro de 2021
terça-feira, 28 de setembro de 2021
Análise da cantiga "Levantou-s'a velida"
- localização espacial: alto mar/rio;
- localização temporal: a madrugada;
- sujeito poético: a donzela;
- ação: lavar camisas.
▪ Personagens: a donzela e o amigo
(simbolizado pelo vento).
▪ Espaço: o rio.
▪ Tempo: a madrugada – presente.
▪ Ação: a ida da donzela ao rio para
lavar camisas.
Apresentação da Ilíada
▪ Data de escrita: cerca de 750 a 650 a.C.
▪ Género: poema épico.
▪ Narrador: omnisciente, na terceira pessoa.
▪ Língua original: grego antigo.
Homero e os primórdios da Antiguidade Clássica
Homero viveu numa época de profundas transformações na história da Grécia, tendo em conta que o poeta terá vivido algures entre 725 e 625 a.C., o que significa que coincidiu com o início do chamado período arcaico, o período da Antiguidade Clássica, cujo princípio foi associado ao séc. XIII a.C., em paralelo com o desenvolvimento das cidades-estado gregas, com a expansão das rotas comerciais gregas e com o surgimento do alfabeto grego simplificado. Isto significa que o bardo grego viveu e compôs as suas obras numa época em que a civilização grega antiga estava a começar.
Os historiadores dividem a história
da Grécia pré-clássica em dois períodos: a Idade do Bronze e a Idade do Ferro,
marcando as principais transformações culturais e tecnológicas, relacionadas
com as mudanças ocorridas em decorrência dos metais usados pelas sociedades.
Deste modo, a expressão «Idade do Bronze» designa uma época em que o bronze era
o principal metal a ser usado, e os povos que povoaram a Grécia nesses tempos
eram conhecidas como micénicos. A civilização micénica entrou em decadência por
alturas do ano 1200 a.C., deixando para a eternidade os primeiros escritos
gregos, que foram compostos num script conhecido como Linear B, que nos
permite concluir que já no século XV a.C. os Micénicos se serviam de um
silabário para fazer os seus registos, silabário esse que deriva do Linear A,
ainda não decifrado, que usavam os Minoicos. Precisamente porque a língua
empregada no Linear B era já grego, foi possível concluir que os Micénicos eram
gregos. No entanto, este complicado processo de escrita (do Linear B já se
encontraram mais de 1000 tabuinhas), que usa um sinal diferente para cada
sílaba (e não de um para cada som, como o alfabeto) desapareceu por completo
(como única reminiscência, embora duvidosa, poderá apontar-se um passo do Canto
VI da Ilíada, na história de Belerofonte, quando o rei Proitos, para se
vingar daquele jovem, injustamente caluniado, o manda a seu sogro, rei da
Lícia, com umas tabuinhas em que estavam traçados sinais ominosos, que deviam
provocar a sua morte – se esses sinais eram convencionais ou constituíam já um
processo de escrita, não se consegue determinar pelo contexto. O verso 163 do
referido canto refere que o capitão de um navio usada no comércio marítimo
«lembra a carga», expressão que pode significar que fixa a sua importância ou
que a anota por escrito. Este último costume era uma prática corrente entre os
Micénicos.) da memória dos homens com a invasão dórica, em 1100 a.C., sendo
resgatado, milhares de anos depois, pelos arqueólogos.
A recuperação do colapso da
civilização micénica e a sua reorganização conduziram os Gregos à Idade do
Ferro, quando este metal substitutivo do bronze como principal material
industrial. Apesar dos avanços metalúrgicos, este novo período constituiu um
obscurecimento. Por exemplo, enquanto na Idade do Bronze floresceram dois
sistemas de escrita distintos, a do Ferro foi predominantemente analfabeta. Por
outro lado, a arte da representação, que se tinha desenvolvido na era anterior,
cessou. Por último, se os acontecimentos retratados nos Poemas Homéricos
tiveram lugar na Idade do Bronze, a do Ferro foi caracterizada relativamente
por poucos eventos de importância histórica.
Por seu turno, a Antiguidade
Clássica (isto é, o período Arcaico) que se seguiu representou uma fase de
renovação e florescimento cultural, constituindo as obras atribuídas a Homero
parte importante do início desse período. De facto, os Poemas Homéricos iniciam
a Antiguidade Clássica ao olharem para a Idade de Bronze em busca de
inspiração. O poeta, à semelhança de outros seus contemporâneos, obteve
material para os seus textos na Idade do Bronze, um período em que se imaginava
que os heróis eram maiores, mais fortes e mais «divinos» do que qualquer outro
indivíduo na época. Porém, ao socorrer-se desses eventos históricos, Homero não
se limitou a narrar históricas fantásticas de deuses e guerreiros semelhantes a
divindades, antes ajudou a moldar o universo moral da cultura grega presente e
futura. Dito de outra forma, o uso da história por Homero, embora ficcional,
ajudou a criar a civilização e a cultura gregas que moldaram a Antiguidade
Clássica.
A influência de Homero
A Grécia clássica encarava os Poemas Homéricos como relatos históricos de acontecimentos vividos por heróis que serviam como paradigma de honra e cuja influência perdurou para além do Império Romano.
Os estudiosos gregos começaram a
escrever sobre Homero a partir do final do século VI a.C. e a sua influência
sobreviveu pelos séculos seguintes. Por exemplo, o poeta latino Virgílio, mais
de 500 anos depois, na sua Eneida, emulou a métrica do poeta grego, os
símiles épicos, a estrutura da ação e muitos outros elementos característicos
do género épico. Mais de um milénio depois, o poeta latino Dante inclui
personagens de ambos os Poemas Homéricos na sua Divina Comédia.
As obras de Homero não são, contudo,
os únicos textos épicos antigos de tradição oral. Por exemplo, o poeta indiano
Vyasa é o autor provável de Mahabharata, surgido cerca de 400 a.C., e
Valmiki, também de origem hindu, produziu Ramanaya, por volta do ano 500
a.C. Ambas as produções contêm tropos heroicos e metáforas de guerra
semelhantes.
Técnica poética da Ilíada
A estrutura dos poemas épicos de Homero provém da longa tradição da poesia oral, não significando isto, porém, que o poema tenha sido memorizado palavra por palavra. Em vez disso, os poetas improvisavam a partir de uma estrutura narrativa básica, fazendo uso de fórmulas que podiam ser combinadas de várias formas e de modo criativo. Estas repetições permitiam aos ouvintes o rápido reconhecimento dos elementos dos textos, compreendendo melhor a história.
Por outro lado, os poemas eram
compostos geralmente em versos hexâmetros, sendo cada verso dividido em seis
secções, também chamadas “pés”. Cada pé podia ser constituído por uma sílaba
longa seguida por duas curtas (dáctilo), ou por duas longas (espondeu).
A guerra de Troia
Durante séculos, muitos estudiosos acreditavam que a Guerra de Troia e os seus intervenientes eram uma criação da imaginação grega. No entanto, no final do século XIX, um arqueólogo chamado Heinrich Schliemann declarou que tinha descoberto os vestígios de Troia. As ruínas que ele descobriu situam-se a algumas dezenas de quilómetros da costa do mar Egeu, no noroeste da Turquia, um local que se encaixa nas descrições geográficas que Homero fez da cidade de Troia na Ilíada. Das várias camadas encontradas no local, uma delas, correspondendo aproximadamente ao ponto na história em que teria ocorrido a queda de Troia, mostra evidências de incêndio e destruição consistentes com a descrição da Ilíada. Embora a maioria dos estudiosos aceite a cidade descoberta por Schliemann com o local da antiga cidade de Troia, muitos outros mantêm-se céticos sobre se a guerra de Troia que serve de pano de fundo ao poema épico de Homero realmente aconteceu. No entanto, muitos estudiosos admitem a existência de algum fundo de verdade na história contada na Ilíada.
Acredita-se que a Guerra de Troia
terá tido lugar no século XIII a.C. O interesse por ela na época de Homero,
cerca de 400 anos depois. As cidades-estado gregas eram muito independentes e
estavam perpetuamente em guerra umas com as outras, no entanto o poeta descreve
o exército aqueu como originário de mais de 150 locais diferentes de toda a
Grécia continental e do Peloponeso. Certas evidências arqueológicas encontradas
na antiga cidade que se acredita ser Troia apoiam a sua destruição na guerra
por volta de 1250 a.C.
Crê-se que a cidade de Troia se
localizaria no noroeste da Ásia Menor, perto da foz do Helesponto, atualmente
Dardanelos, na atual Turquia, o que fazia com que os troianos vivessem
separados da Grécia pelo Mar Egeu. No entanto, a cultura grega disseminou-se
por grande parte do oeste da Ásia Menor na época de Homero, que os descreve
como adoradores dos mesmos deuses e vivendo de acordo com os mesmos valores dos
gregos contra os quais lutavam.
A origem da Guerra de Troia radica
no rapto de Helena por parte do príncipe troiano Páris, contudo os estudiosos
especulam que o conflito teria mais a ver com uma disputa sobre rotas
comerciais e a localização estratégia da cidade no Helesponto.
A questão da autoria dos Poemas Homéricos
A questão homérica designa o problema da autoria dos Poemas Homéricos.
Se os gregos antigos acreditavam
piamente na existência de Homero (a mais antiga referência ao poeta foi
encontrada num fragmento de Calino, do século VII a.C., que o dá como autor de
uma Tebaida), no entanto, já na época alexandrina houve quem afirmasse
que a Ilíada tinha um autor e a Odisseia outro.
As dificuldades de estabelecimento
da autoria das obras são muitas. A primeira tem a ver com a linguagem, onde há
formas de diversas épocas e elementos de quatro dialetos diferentes (iónico,
eólico, arcado-cipriota e ático). Outra questão prende-se com a arqueologia,
não havendo concordância entre estratos linguísticos e estratos arqueológicos.
Um exemplo disto tema ver com o elmo de presas de javali, ornamento dos
guerreiros micénicos, que aparece no Canto X da Ilíada, mais conhecido
como Doloneia, que linguisticamente é dos mais recentes.
A data da composição dos textos
oferece igualmente grandes dificuldades, visto que os poemas decorrem na época
micénica, com heróis micénicos e ignoram a invasão dórica (a única referência
aos Dórios é a da Odisseia, num passo bastante suspeito; em relação aos
heróis, nomes como Aias, Akhilleus, Glaukos, Hektor, eram frequentes entre os
Micénicos). Daqui o ter-se-lhes atribuído, inicialmente, uma data muito
recuada, ideia que tem vindo a ser modificada graças a investigações recentes.
Relativamente à questão literária, o
estudioso norte-americano Milman Parry, partindo da observação direta dos processos
de composição de bardos da antiga Jugoslávia, concluiu que os Poemas Homéricos
assentavam numa técnica de improvisação oral, que explicaria as repetições e
pequenas incongruências da narrativa: as obras repetem frequentemente epítetos
e até versos inteiros, porque eram obra de improvisação oral, que necessitam de
ter pontos de apoio, frases armazenadas, que deem tempo de pensar no verso
seguinte, enquanto se vai cantando o anterior. Assim, por exemplo, quando o
poeta quer dizer que o dia nasceu, tem já preparado um verso como este: [p. 52]
[«Quando surgiu a Aurora de dedos róseos, filha da manhã»]. Se quiser
introduzir em discurso direto a resposta de um herói, pode dizer o seguinte:
[p. 52 – 2.ª] [«Em resposta disse-lhe o poderoso Agamémnon»]. Se o interlocutor
for Aquiles, basta substituir o segundo hemistíquio: [p. 53] [«Em resposta
disse-lhe Aquiles de pés velozes»]. Ou pode conservar este segundo hemistíquio
e variar o primeiro: [p. 53 – 2.ª] [«Franzindo o sobrolho, disse-lhe Aquiles de
pés velozes»].
Por outro lado, os nomes dos heróis
com os seus atributos ocupam metade do verso (do começo até à cesura, ou desta
até ao fim) ou mesmo um inteiro, como é o caso deste: [p. 53 – 3.ª] [«o herói
Atrida, Agamémnon de vasto poder»]. Estes epítetos ajudam a caracterizar o
herói e a destacar uma qualidade sua, que naquele momento tem relevância
especial. Por exemplo, o verso 12 do Canto I da Ilíada acabado de
transcrever, evoca o poder do Rei de Micenas, na ocasião em que vai deixar
explodir a sua cólera sobre a assembleia. Os epítetos de Aquiles acentuam a sua
superioridade física. E assim sucessivamente.
Outro aspeto prende-se com a
historicidade da Ilíada. O estudioso alemão Schliemann fez uma série de
escavações na colina de Hissarlik (na atual Turquia) e encontrou sete cidades
sobrepostas, a que Dörpfeld, seu adjunto, acrescentou duas. Inicialmente, supôs
que a mais antiga seria a homérica, mas acabaram por se inclinar mais para a
Troia VI, onde encontraram restos de cerâmica idênticos aos de Micenas e
Tirinto.
O investigador Blegen demonstrou que
Troia VI era uma cidade rica, que sucumbiu após um terramoto, seguindo-se-lhe,
sem solução de continuidade nem de cultura, Troia VIIa, que termina num
violento incêndio. A Troia VIII apresenta solução de cultura, enquanto a IX é
muito tardia. A queda de Troia VIIa teria ocorrido depois dos meados do século
XIII, talvez cerca de 1230 a.C., o que distaria poucos decénios da data
tradicional da guerra de Troia (1184, segundo Eratóstenes).
Deste modo, é lícito concluir que a Ilíada
funde a opulência da Troia VI com a destruição da Troia VIIa. Com aquela
tinha-se iniciado uma civilização diferente da anterior, introduzindo o cavalo
(note-se que os troianos constituem o único povo que Homero caracteriza como
«domadores de cavalos»), por exemplo, civilização essa que seria continuada
pela VIIa.
A decifração de textos hititas e
dados arqueológicos vieram comprovar estas hipóteses. Por exemplo, os textos
hititas contêm referências ao ataque dos Ahhiyawa, posteriormente identificados
com os Aqueus, a Millawanda, provavelmente Mileto, a Wilusa e Tarwisa, que
seriam, respetivamente, Ílion e Troia (note-se que a Ilíada não
apresenta uma distinção entre Troia e Ílion, supondo o estudioso alemão Bergen
que a primeira designaria primitivamente a região e a segunda a cidade). Este
acontecimento teria tido lugar no século XIII a.C., coincidindo com a época do
grande poderio de Micenas e anterior à queda de Pilos.
Estas teses não são, todavia,
unânimes. Assim, há estudiosos que destacam a reconstituição diferente que se
fez nos últimos tempos da geografia política do império hitita e a sua
cronologia. Outros contrariam a identificação dos Ahhiyawa com os Aqueus,
afirmando inclusive que nem sequer pertenceriam à zona micénica, mas antes à
Trácia; além disso, o seu tempo não seria o século XIII a.C., mas os começos do
império hitita. Por outro lado, a vinda dos Povos do Mar, mencionada em textos
egípcios, não teria constituído um movimento simultâneo, no qual se inscreveria
a guerra de Troia, mas uma sucessão de destruições que teriam ocorrido ao longo
de vários anos. O próprio fundamento de alguns epítetos de Troia e dos troianos
é igualmente negado, em detrimento da tese que os considera como simples
remodelação tardia, à semelhança do que sucedeu com os epítetos dos Aqueus.
A presença de elementos micénicos
nos Poemas Homéricos não é igualmente consensual. Assim, durante muito tempo
considerou-se serem micénicos as personagens e os seus epítetos, a riqueza de
Micenas, a escassez do ferro, a noção de que ´'αναξ (soberano) é mais do que Βασιλεúς
(rei), o fausto dos funerais de Pátroclo
(embora ele seja cremado, e não inumado, como era tradição micénica), a
arquitetura dos palácios, nomeadamente a presença do mégaron e objetos como o
elmo de presas de javali, a taça de Nestor, a espada cravejada de prata de
Heitor, a técnica de incrustações e o escudo de Ájax. Todavia, alguns achados
arqueológicos dos finais do século XX põem em dúvida esta noção. Por exemplo,
foi encontrado na Heron de Lefkandi, situado na costa ocidental da Eubeia,
um túmulo que continha as cinzas de um guerreiro, envoltas num manto, e, perto
delas, o esqueleto da sua consorte, adornada com joias de ouro, e os cavalos –
o que evidencia a coexistência do ritual da inumação com o da cremação e a
riqueza do possuidor. Relativamente à arquitetura, as escavações de Zagora, há
autores que defendem que os traços gerais dos palácios da Odisseia são,
ao contrário do esperado, da Idade do Ferro, embora certos pormenores, como a
existência de corredores e de canalizações, sejam micénicas.
Nenhuma destas interpretações,
porém, é decisiva ou inquestionável. O aparecimento lado a lado de práticas e
objetos que se supunham pertencer a períodos distintos, como testemunham os
achados de Lefkandi; a presença de escudos em 8 a par com os redondos, em
pinturas de vasos; o modo como Hefestos trabalhou o escudo de Aquiles,
forjando-o como se fosse de ferro, numa época do proto-geométrico ou
geométrico, mas fazendo-lhe incrustações de ouro, prata e bronze, à maneira
micénica, devem pôr-nos de sobreaviso sobre a interpretação histórica de uma
obra que é essencialmente literária. No entanto, as teses que procuram explicar
a presença de figuras ou objetos que são muitos séculos anteriores aos Poemas
Homéricos não são muito convincentes. Micenas deixou de ser muito rica, e só a
tradição oral contínua podia preservar essa memória, bem como os nomes de
muitas cidades menores incluídas no Catálogo das Naus do Canto II da Ilíada.
quinta-feira, 23 de setembro de 2021
Oceânia ou Oceania?
A forma correta é a primeira: Oceânia.
Estamos na presença de uma palavra esdrúxula, daí que seja acentuada na antepenúltima sílaba, de acordo com a regra da acentuação que estipula que todas as palavras esdrúxulas são acentuadas obrigatoriamente.
Por outro lado, o acento usado é o circunflexo, visto que a vogal tónica (o a) é semifechada.