Português: Análise dos capítulos VII a IX de Madame Bovary

sábado, 29 de outubro de 2022

Análise dos capítulos VII a IX de Madame Bovary


             A narrativa é contada totalmente pela perspetiva de Emma, o que permite ao narrador começar a desenvolver o conflito básico inerente à sua situação: ela é incapaz de aceitar o mundo como ele é, mas não pode mudá-lo para ser como deseja que seja. Agora que está casada com um idiota da classe média, não aceita o seu destino, por isso mergulha na fantasia, enquanto a pressão da sua constante revolta contra a realidade a deixa inquieta, mal-humorada e, eventualmente, fisicamente doente.
            A representação do baile por parte de Flaubert e os eventos que se seguem mostram o contraste irónico entre a experiência de Emma e a realidade. Flaubert apresenta, em simultâneo, a realidade externa de como Emma olha para o baile e a realidade psicológica de como o evento lhe parece. Ela está tão feliz que não percebe que ninguém no baile lhe presta atenção, e a sua dança insignificante com o visconde torna-se, na sua imaginação, um tremendo momento romântico. Na verdade, esta personagem continua a ignorar o amor bem-intencionado do seu marido bem-humorado, mas insípido, em favor das suas lembranças do baile passadas várias semanas depois de todos já o terem esquecido. Quando Charles decide mudar-se para Yonville na tentativa de salvar a saúde de Emma, esta, enquanto faz as malas, atira a sua coroa de noite para o lume. Este gesto simboliza a sua rejeição ao casamento e ao mundo complacente da classe média que, na opinião dela, a aprisionou.
Os olhos preconceituosos da personagem intensificam a atenção realista de Flaubert aos detalhes, nomeadamente os detalhes da estupidez de Charles são muito ampliados. Por exemplo, o narrador descreve cada barulho que faz quando come. Flaubert também dedica vários parágrafos a uma descrição da rotina diária extremamente aborrecida de Emma. O seu tédio torna-se um dos temas do romance e um meio de desenvolver a personagem. O foco do autor no tédio marca outro dos momentos em que o romance evolui do Romantismo.
A relação de Emma com as suas raízes agrícolas também é explorada nesta seção. Flaubert coloca uma lembrança do passado no meio da fantasia noturna de Emma, para mostrar que ela nunca poderá, realmente, fugir às suas origens. No baile, permite-se esquecer que não é um membro privilegiado do mundo da classe alta que está a «visitar», mas, quando um criado parte o vidro de uma janela, ela vê os camponeses do lado de forma, o que lhe traz à memória a vida simples no campo da sua juventude.

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