sábado, 14 de maio de 2011
Biografia de José Saramago
- 1922 - Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga (Golegã, Ribatejo), no seio de uma família de camponeses. Os seus pais são José de Sousa, jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica.
- 1924 - Muda-se para Lisboa com a família, passando o pai a trabalhar na Polícia de Segurança Pública. Em Dezembro morre o seu irmão Francisco, com quatro anos.
- 1929 - Aquando da sua inscrição na escola primária da Rua Martens Ferrão, descobre-se que um funcionário do Registo Civil da Golegã incluiu como apelido, na sua certidão de nascimento, a alcunha familiar, Saramago, tornando-se, assim, a primeira pessoa da sua família a usá-la como sobrenome.
- 1930 - Muda-se para a escola primária do Largo do Leão. Nesta época, a sua família passa por grandes dificuldades económicas, morando em quartos alugados e em várias ruas de Lisboa. Na capital, frequenta, desde tenra idade, o Animatógrafo, o cinema "Piolho", na Mouraria, cujos filmes alimentam o seu imaginário.
- 1932 - Matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia os estudos secundários, frequentando dois cursos (o liceal e o técnico).
- 1935 - A falta de recursos económicos da família obriga-o a transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até 1940. Durante toda a infância e adolescência, passa longas temporadas na Azinhaga com os avós maternos (Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha), onde e de quem recebe "ensinamentos" que o marcam para sempre.
- 1936 - A mãe oferece-lhe o primeiro livro que possui: A Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg.
- 1938 - A família Sousa passa a viver num andar, no número 15 da Rua Carlos Ribeiro, no Bairro da Penha de França.
- 1940 - Conclui os estudos de Serralharia Mecânica na Escola Industrial de Afonso Domingues. Consegue o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa. À noite, frequenta a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, "lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre", nas palavras do próprio Saramago.
- 1942 - Passa a trabalhar nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa.
- 1943 - Trabalha na Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria de Cerâmica, de onde é afastado em 1949 em consequência do seu apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República.
- 1944 - Casa com a pintora Ilda Reis.
- 1947 - Publica Terra do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado inicialmente A Viúva. Nasce a sua filha Violante. Até 1953 escreve numerosos poemas, contos (alguns dos quais são publicados em revistas e jornais) e faz o esboço de pelo menos quatro romances, dos quais conclui apenas um.
- 1948 - Morre o seu avô, Jerónimo Melrinho.
- 1950 - Começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Previdente, fazendo cálculos de subsídios e de pensões, graças à mediação do seu antigo professor Jorge O'Neill.
- 1953 - Termina Clarabóia, romance inédito, com que encerra uma série de infrutíferas tentativas narrativas: O Mel e o Fel, Os Emparedados e Rua.
- 1955 - A convite de Nataniel Costa, inicia uma colaboração com a editora Estúdios Cor, no sector de produção. O seu nome começa, então, a ser conhecido no campo da literatura e da cultura. Inicia a sua actividade como tradutor, cifrada em mais de sessenta títulos, até meados da década de 80. Na segunda metade da década de 50, traduz cerca de dezasseis livros, entre eles de autores como Colette e Tolstoi.
- 1959 - Abandona a Companhia Previdente e passa a trabalhar, em exclusivo, na editora Estúdios Cor.
- 1964 - Em 13 de Maio, morre o seu pai, no Hospital dos Capuchos, aos sessenta e oito anos de idade.
- 1966 - É editado o seu primeiro livro de poesia, Os Poemas Possíveis. Ao longo desta década, prossegue a sua actividade de tradutor, embora de forma moderada. Traduz, entre outros, autores
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sexta-feira, 13 de maio de 2011
Paratextos de Memorial do Convento
1. CAPA
1.1. Autor: José Saramago, escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998.
1.2. Título: Memorial do Convento
. Memorial: relato de memórias; obra em que se relatam factos memoráveis, que
se pretendem guardar na memória. Remete para um recuo no tempo
e para um resgate de lembranças, documentos, etc., relacionados
com um acontecimento histórico.
. do Convento: Convento de Mafra, edifício português construído no reinado e por
ordem de D. João V entre 1717 e 1744, cujos custos avultados fo-
ram suportados pelas remessas de ouro provenientes do Brasil e
no qual trabalharam milhares de homens. É uma obra da autoria
do arquitecto João Ludovice.
1.3. Género literário: romance.
1.4. Editora: Editorial Caminho.
1.5. Colecção: O Campo da Palavra.
1.6. Horizonte de expectativas: após a observação da capa, pode "concluir-se" que esta-
mos na presença de um hipotético romance histórico,
que decorrerá num espaço e num tempo precisos.
2. CONTRACAPA - Texto
2.1. Fórmula inicial "Era uma vez":
. remete para o mundo da infância, dos contos populares, do maravilhoso;
. destaca a importância da imaginação e do ficcional em cada uma das "histórias"
narradas - isto significa que o romance anunciado na capa não cabe nos limites
do romance histórico tradicional, ou seja, o narrador não se limitará a reconsti-
tuir factos históricos passados;
. assim, no texto vamos encontrar factos verdadeiros e personagens históricas lado
a lado com acontecimentos "trabalhados" pelo narrador e personagens ficcionais;
. remete para um tempo indefinido, conferindo ao texto um carácter atemporal.
2.2. "Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento, em Mafra.":
. Rei: D. João V (1689 - 1750), filho de D. Pedro II e de D. Maria Sofia de Neu-
burg, proclamado rei em 1 de Janeiro de 1707, pai de seis filhos, resultantes
do seu casamento com D. Maria de Áustria.
. Promessa: preocupado com a inexistência de descendentes legítimos (filhos
bastardos eram vários) que assegurassem a sucessão ao trono, D. João
V promete edificar um convento em Mafra se, no prazo de um ano, a
rainha lhe der um herdeiro. A promessa será cumprida após o nasci-
mento da princesa Maria Bárbara.
2.3. "Era uma vez a gente que construiu esse convento.":
. povo anónimo → personagem colectiva, cuja perspectiva de relato dos aconteci-
mentos é privilegiada, ou seja, a perspectiva dos que construí-
ram o convento;
→ é tratado pelo narrador, que o tira do anonimato e o individua-
liza, como o verdadeiro herói da obra.
2.4. "Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.":
. Soldado maneta:
» Baltasar Mateus;
» mutilado de guerra (Guerra da Sucessão Espanhola);
» expulso do exército por ter perdido a mão esquerda.
. Mulher:
» Blimunda;
» possui poderes mágicos: é vidente, tem a capacidade de, em jejum, olhar
para dentro das pessoas e das coisas;
» ajuda na construção da passarola, recolhendo as "vontades" necessárias.
2.5. "Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.":
. Bartolomeu de Gusmão:
» tinha o sonho de voar;
» por isso, construiu a passarola;
» é amigo e protegido de D. João V;
» morre, louco, em Toledo.
2.6. "Era uma vez.": significa que há, no romance, outras histórias para além das sugeri-
das no texto.
2.7. Relação entre a capa e a contracapa: o texto desta precisa o espaço (Mafra) e o
tempo histórico do romance. Em contrapartida, sugere uma nova perspec-
tiva de relato dos acontecimentos: a do povo que construiu o convento.
3. EPÍGRAFES
. Epígrafe do Padre Manuel Velho: remete para uma concepção determinista da His-
tória, isto é, há forças e leis (sociais, políticas...) que ultrapassam e ver-
gam a vontade individual de cada homem.
. Epígrafe de Marguerite Yourcenar: traduz uma concepção da existência de uma rea-
lidade social que não pode ser conhecida com rigor e exactidão.
1.1. Autor: José Saramago, escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998.
1.2. Título: Memorial do Convento
. Memorial: relato de memórias; obra em que se relatam factos memoráveis, que
se pretendem guardar na memória. Remete para um recuo no tempo
e para um resgate de lembranças, documentos, etc., relacionados
com um acontecimento histórico.
. do Convento: Convento de Mafra, edifício português construído no reinado e por
ordem de D. João V entre 1717 e 1744, cujos custos avultados fo-
ram suportados pelas remessas de ouro provenientes do Brasil e
no qual trabalharam milhares de homens. É uma obra da autoria
do arquitecto João Ludovice.
1.3. Género literário: romance.
1.4. Editora: Editorial Caminho.
1.5. Colecção: O Campo da Palavra.
1.6. Horizonte de expectativas: após a observação da capa, pode "concluir-se" que esta-
mos na presença de um hipotético romance histórico,
que decorrerá num espaço e num tempo precisos.
2. CONTRACAPA - Texto
2.1. Fórmula inicial "Era uma vez":
. remete para o mundo da infância, dos contos populares, do maravilhoso;
. destaca a importância da imaginação e do ficcional em cada uma das "histórias"
narradas - isto significa que o romance anunciado na capa não cabe nos limites
do romance histórico tradicional, ou seja, o narrador não se limitará a reconsti-
tuir factos históricos passados;
. assim, no texto vamos encontrar factos verdadeiros e personagens históricas lado
a lado com acontecimentos "trabalhados" pelo narrador e personagens ficcionais;
. remete para um tempo indefinido, conferindo ao texto um carácter atemporal.
2.2. "Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento, em Mafra.":
. Rei: D. João V (1689 - 1750), filho de D. Pedro II e de D. Maria Sofia de Neu-
burg, proclamado rei em 1 de Janeiro de 1707, pai de seis filhos, resultantes
do seu casamento com D. Maria de Áustria.
. Promessa: preocupado com a inexistência de descendentes legítimos (filhos
bastardos eram vários) que assegurassem a sucessão ao trono, D. João
V promete edificar um convento em Mafra se, no prazo de um ano, a
rainha lhe der um herdeiro. A promessa será cumprida após o nasci-
mento da princesa Maria Bárbara.
2.3. "Era uma vez a gente que construiu esse convento.":
. povo anónimo → personagem colectiva, cuja perspectiva de relato dos aconteci-
mentos é privilegiada, ou seja, a perspectiva dos que construí-
ram o convento;
→ é tratado pelo narrador, que o tira do anonimato e o individua-
liza, como o verdadeiro herói da obra.
2.4. "Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.":
. Soldado maneta:
» Baltasar Mateus;
» mutilado de guerra (Guerra da Sucessão Espanhola);
» expulso do exército por ter perdido a mão esquerda.
. Mulher:
» Blimunda;
» possui poderes mágicos: é vidente, tem a capacidade de, em jejum, olhar
para dentro das pessoas e das coisas;
» ajuda na construção da passarola, recolhendo as "vontades" necessárias.
2.5. "Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.":
. Bartolomeu de Gusmão:
» tinha o sonho de voar;
» por isso, construiu a passarola;
» é amigo e protegido de D. João V;
» morre, louco, em Toledo.
2.6. "Era uma vez.": significa que há, no romance, outras histórias para além das sugeri-
das no texto.
2.7. Relação entre a capa e a contracapa: o texto desta precisa o espaço (Mafra) e o
tempo histórico do romance. Em contrapartida, sugere uma nova perspec-
tiva de relato dos acontecimentos: a do povo que construiu o convento.
3. EPÍGRAFES
. Epígrafe do Padre Manuel Velho: remete para uma concepção determinista da His-
tória, isto é, há forças e leis (sociais, políticas...) que ultrapassam e ver-
gam a vontade individual de cada homem.
. Epígrafe de Marguerite Yourcenar: traduz uma concepção da existência de uma rea-
lidade social que não pode ser conhecida com rigor e exactidão.
Génese de Memorial do Convento
«Lá pelos finais de 80 ou princípios de 81, estando de passagem por Mafra e contemplando uma vez mais estas arquitecturas, achei-me, sem saber porquê, a dizer: "Um dia, gostava de poder meter isto num romance." Foi assim que o Memorial nasceu.»
Contexto de Memorial do Convento
Contextualização histórico-cultural - Século XVIII
O reinado de D. João V, um dos mais longos da História da monarquia portuguesa, é visto como uma continuação da política absolutista, tendo o monarca concentrado em si todo o poder de decisão e execução. Exemplos disto são a suspensão da convocação de cortes e a dispensa de funções dos Ministérios e dos Conselheiros. Tal política é inteiramente sustentada pelas remessas de ouro do Brasil, que proporcionavam uma situação de desafogo económico e político.
desde muito cedo viu-se envolvido nos problemas internos e políticos da Europa, nomeadamente na Guerra se Sucessão espanhola, o que lhe permitiu aperceber-se das manobras políticas, algumas de bastidores, que decidiam o poder no continente europeu. este rei procurou sempre manter uma posição neutral nesses jogos de poder, tendo, numa primeira fase, no que concerne à política externa, mantido ligações estreitas com a Áustria - como o prova o seu casamento com D. Maria de Áustria - e depois com a Inglaterra.
Em termos íntimos, ficaram registadas as várias ligações extra-matrimoniais do rei, algumas verdadeiramente famosas, como é o caso com a madre Paula, freira do Convento de Odivelas.
Esta é também a época do Iluminismo, que se faz sentir em vários domínios da vida e da cultura nacionais, sobretudo no ensino. Este movimento pretendia uma iluminação ou uma modernização de conceitos, de técnicas e normas com o objectivo de melhorar a sociedade e a vida das pessoas. Daqui advém a crítica a certos princípios e instituições até então tidos como intocáveis, desde a intolerância religiosa ao regime absolutista e à supremacia da fé e da tradição sobre a razão.
O século XVIII é visto pelos «iluminados» como o momento oportuno para a difusão das "luzes" da razão, através do exercício constante do espírito crítico que vem pôr em causa todo um conjunto de ideias e de teorias do passado, principalmente a escolástica e os seus métodos tradicionais de ensino. Os grandes responsáveis por este movimento são os chamados "estrangeirados", um conjunto de portugueses que viveu e viajou pela Europa, como diplomatas ou exilados da Inquisição, tendo aí tomado contacto com as novas ideias iluministas (Alexandre de Gusmão, irmão de Bartolomeu de Gusmão - personagem do Memorial -, Luís António Verney, Ribeiro Sanches, etc). A fundação de academias, como a de História, ajudou à difusão destas ideias.
Em terceiro lugar, a força e o poder da Inquisição em Portugal marcaram decisivamente esta época. O Inquisidor-Geral, em termos de poder, vinha imediatamente a seguir ao Rei, tinha poderes vitalícios e total liberdade de nomear todos os inquisidores seus subordinados. O processo inquisitorial era instaurado com base em testemunhas denunciantes que o acusado desconhecia e, para obter incriminações, recorria-se até a testemunhos anónimos e a qualquer tipo de tortura física e psicológica. As sentenças iam até à morte, pelo garrote ou pelo fogo. O Tribunal do Santo Ofício julgava vários tipos de crime, desde a heresia à feitiçaria, passando ainda pelo crime de mau uso do confessionário e por casos de aberrações sexuais. O maior número de processos,
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Atemporalidade da obra
Justificar-se-á a leitura da peça ainda hoje por parte dos alunos do ensino secundário? Isto é, manterá ela uma actualidade que justifique a sua análise junto do público estudantil?
Algumas vozes consideram que a peça de Sttau Monteiro é muito datada, visto que se cinge a um período da nossa vida marcado pela opressão e pela ausência de liberdade, quando na actualidade se vive um regime de liberdade.
Seja qual a for a resposta que cada um possa encontrar para a(s) pergunta(s), é inegável que a peça veicula um conjunto de ideias e de temas universais e atemporais:
- A luta por ideais como a Liberdade, a Justiça e a Democracia;
- A denúncia da opressão e das injustiças sociais;
- A questão do ser e do parecer no campo da religião;
- Valores como a coragem, a lealdade;
- O verdadeiro patriotismo;
- A condenação da opressão e da delação;
- A amizade;
- O amor: à pátria, à mulher / homem amada/o, à liberdade;
- A condição feminina: a mulher que possui um papel activo na sociedade e no casamento;
- A luta entre a coerência individual (do general) e o calculismo do poder despótico (dos governadores, dos delatores).
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Caravaggio: "Degolação de Baptista"
terça-feira, 10 de maio de 2011
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Carácter apoteótico-trágico
Foi o próprio Sttau Monteiro quem qualificou esta peça como uma apoteose trágica. Partindo desta afirmação, podemos considerar os seguintes aspectos que conferem tragicidade à obra e a aproximam das tragédias clássicas:
- O tom geral da obra.
- O carácter excepcional e nobre das personagens:
- Gomes Freire é um homem corajoso, determinado e defensor intransigente dos ideais de liberdade;
- Matilde é uma mulher de grande nobreza moral que vive um conflito entre os seus sentimentos «humanos» e a progressiva consciencialização do seu dever de verdadeira patriota.
- A unidade e simplicidade de acção: tal como sucedia nas tragédias clássicas, Felizmente há Luar! desenvolve-se em torno de uma acção única: prisão, julgamento e morte do general Gomes Freire de Andrade.
- O carácter apoteótico, quase de homenagem, à figura heróica do general, cuja morte irá manter acesa a chama da esperança do povo português, num final verdadeiramente apologético.
- O despojamento cénico.
- A hybris (o desafio):
domingo, 8 de maio de 2011
sábado, 7 de maio de 2011
Personagens
É possível organizar as personagens em diferentes grupos, de acordo com a didascália inicial:
- principal Sousa, o representante do poder religioso;
- Beresford, o representante do poder militar.
- Andrade Corvo e Morais Sarmento, "dois denunciantes que honraram a classe",
cuja existência história se encontra comprovada.
- Matilde de Melo, "a companheira de todas as horas";
- Sousa Falcão, "o inseparável amigo";
- Frei Diogo de Melo, o confessor e amigo do general.
- Rita, "a mulher de Manuel";
- Os populares, "o pano de fundo permanente".
- As personagens do poder - "Três conscienciosos governadores do Reino":
- principal Sousa, o representante do poder religioso;
- Beresford, o representante do poder militar.
- Os delatores:
- Andrade Corvo e Morais Sarmento, "dois denunciantes que honraram a classe",
cuja existência história se encontra comprovada.
- As personagens do antipoder:
- Matilde de Melo, "a companheira de todas as horas";
- Sousa Falcão, "o inseparável amigo";
- Frei Diogo de Melo, o confessor e amigo do general.
- O povo:
- Rita, "a mulher de Manuel";
- Os populares, "o pano de fundo permanente".
Contexto (época da acção - 1817)
Na esteira de Brecht, Sttau Monteiro construiu uma peça a partir de um acontecimento do início do século XIX para, dessa forma, denunciar a situação de ditadura e opressão que se vivia no tempo da escrita da peça (1961). Dito de outra forma, o autor não tenciona prestar uma homenagem aos acontecimentos e às figuras que os protagonizaram em 1817, mas intervir criticamente nos domínios político, social e religioso do princípio dos anos sessenta do século XX. Assim, o século XIX constitui uma metáfora do século XX.
- A acção da peça decorre no ano de 1817, um período conturbado da nossa História, que precede uma das grandes viragens do país: a Revolução Liberal.
- Nas vésperas dessa revolução, a situação de Portugal era de crise em todos os sectores.
- Crise política:
- as recentes invasões francesas tinham deixado o país num estado deplorável;
- a família real e a corte fugiram para o Brasil por causa das invasões francesas;
- esta atitude real suscitou no povo uma sensação de cobardia e de abandono por parte do rei;
- a sede da Monarquia e a capital do Império foram também transferidas para o Brasil;
- as riquezas do estado eram igualmente canalizadas para o Brasil;
- a administração do reino foi entregue a uma tríade: D. Sousa Coutinho, D. Miguel Pereira Forjaz e o oficial inglês William Beresford;
- o auxílio inglês para reorganizar e comandar o exército português (na resistência aos franceses) - Beresford é o símbolo do domínio britânico
Contexto (tempo da escrita)
- O panorama que se vivia em Portugal em 1961 não era muito diferente do que é descrito em Felizmente há Luar!.
- O regime político instituído sob a direcção de Salazar e que vigorou em Portugal sem interrupção, embora com alterações de forma e conteúdo, desde 1933 até 1974, apresenta alguns aspectos semelhantes aos regimes ditatoriais instituídos por Benito Mussolini na Itália e por Adolf Hitler na Alemanha.
- O Estado Novo distinguiu-se pelo seu carácter autoritário, nacionalista, corporativo, imperialista, profundamente católico e anti-marxista, que recusava a formação de partidos e que impedia a luta de classes.
- Ao longo dos seus quarenta e dois anos de existência, o Estado Novo criou organizações militares para a defesa e propagação dos seus ideais; controlou o ensino e a cultura e colocou a oposição à mercê de poderosos instrumentos de repressão, como a censura e a polícia política.
- Em 1957, foi assinado, em Roma, o tratado fundador da CEE, tendo surgido, em 1959, a EFTA (Associação Europeia do Comércio Livre), factos que estimularam a oposição à política do Estado Novo de Salazar.
- Em 1958, Humberto Delgado concorreu à Presidência da República pela oposição democrática, tendo sido derrotado, provavelmente por fraude eleitoral.
- Em 1959, D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto e feroz opositor do regime salazarista, foi forçado a exilar-se. O número de presos políticos aumentou significativamente até 1960.
- Em 1961, iniciou-se a guerra colonial, assistindo-se à mobilização de milhares de jovens e ao exílio de outros. Em Maio, os sessenta e dois subscritores do Programa para a Democratização (liberais e homens da esquerda socialista e comunista) foram presos pela PIDE.
- Em 1962, ocorreram várias greves estudantis, acompanhadas de forte repressão policial.
- Em 1965, a PIDE assassinou o general Humberto Delgado.
- Em 25 de Abril de 1974, ocorreu uma revolução que derrubou o Estado Novo e pôs fim à ditadura, implantando a democracia e a liberdade, tendo como precedentes:
a) a guerra colonial;
b) o crescente descontentamento popular, pela falta de liberdade, pela opressão, pela miséria, insegurança, delação..., dando origem à formação de grupos clandestinos de oposição ao regime;
c) o descontentamento de determinados círculos militares, nomeadamente «os capitães».
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