Português: Contexto (época da acção - 1817)

sábado, 7 de maio de 2011

Contexto (época da acção - 1817)

          Na esteira de Brecht, Sttau Monteiro construiu uma peça a partir de um acontecimento do início do século XIX para, dessa forma, denunciar a situação de ditadura e opressão que se vivia no tempo da escrita da peça (1961). Dito de outra forma, o autor não tenciona prestar uma homenagem aos acontecimentos e às figuras que os protagonizaram em 1817, mas intervir criticamente nos domínios político, social e religioso do princípio dos anos sessenta do século XX. Assim, o século XIX constitui uma metáfora do século XX.


  • A acção da peça decorre no ano de 1817, um período conturbado da nossa História, que precede uma das grandes viragens do país: a Revolução Liberal.
  • Nas vésperas dessa revolução, a situação de Portugal era de crise em todos os sectores.
  • Crise política:
- as recentes invasões francesas tinham deixado o país num estado deplorável;
- a família real e a corte fugiram para o Brasil por causa das invasões francesas;
- esta atitude real suscitou no povo uma sensação de cobardia e de abandono por parte do rei;
- a sede da Monarquia e a capital do Império foram também transferidas para o Brasil;
- as riquezas do estado eram igualmente canalizadas para o Brasil;
- a administração do reino foi entregue a uma tríade: D. Sousa Coutinho, D. Miguel Pereira Forjaz e o oficial inglês William Beresford;
- o auxílio inglês para reorganizar e comandar o exército português (na resistência aos franceses) - Beresford é o símbolo do domínio britânico
 em Portugal, detentor dos poderes equivalentes aos de um vice-rei - transformou-se no domínio do aparelho militar, no controlo da regência, domínio esse facilitado pela ausência do rei no Brasil;
- a dependência inglesa agravou igualmente as situações de desigualdade social no país;
- o clima de desconfiança que se fazia sentir estimulava as ideias de conspiração e a procura de um líder;
- lentamente, os ideais de liberdade e de igualdade foram ganhando mais adeptos;
- na tentativa de controlar a situação, ocorreu uma tomada sucessiva de medidas cada vez mais opressoras dos maus fracos e indefesos.
  • Crise económica:
- as invasões francesas e o auxílio militar inglês arruinaram ó país;
- a agricultura (de subsistência), o comércio e a indústria eram muito débeis;
- a presença da corte no Brasil exigia o afluxo, proveniente de Portugal, de grandes somas de dinheiro em forma de rendas e de contribuições;
- há escassez generalizada de géneros alimentares e miséria popular generalizada.
  • Crise ideológica:
- há uma hostilidade crescente aos ingleses, representantes de uma nova ocupação (à ocupação francesa sucedera a ocupação inglesa);
- difundem-se as ideias políticas revolucionárias que contestam a ausência do rei, a presença inglesa e a monarquia, considerada um regime absoluto repressivo.
  • Conspiração de 1817:
- em 1817, várias pessoas foram presas sob a acusação de conspirarem contra a vinda de Beresford e contra a Regência;
- a revolta foi abafada à nascença: várias pessoas foram presas, como se disse, e julgadas sumariamente;
- a sentença foi dura: foram executadas doze pessoas, dentre as quais Gomes Freire de Andrade, um homem tido pelo povo como um herói social, simpatizante da maçonaria e das novas ideias;
- no entanto, esta execução, em vez de suprimir definitivamente futuras revoltas, apenas serviu para as estimular, visto que os opositores ao regime se convenceram da tirania dos governadores e da impossibilidade de conseguir quaisquer mudanças no status quo por meios pacíficos.
  • Assim, em 24 de Agosto de 1820, ocorreu a Revolução Liberal, com origem no Porto, que tinha como objectivo alcançar a regência do Reino e convocar as cortes para adoptar uma constituição. No entanto, só um segundo levantamento, datado de 15 de Setembro, expulsou os regentes e constituiu um governo interino (chefiado por Freire de Andrade, parente do general-mártir de 1817). Esta revolução conduziu posteriormente, em 1822, à elaboração da primeira Cosntituição portuguesa.
  • Em 1823, deu-se a Vila-Francada, uma sublevação de D. Miguel.
  • Em Abril de 1824, ocorreu um movimkento militar, desencadeado pelo infante D. Miguel, visando a salvação do Reino dos possíveis perigos do liberalismo. É a Abrilada. Porém, D. João VI, sob pressão diplomática, desautorizou D. Miguel, retirando-lhe o comando do exército.
  • Em 1826, faleceu D. João VI, sucedendo-lhe seu filho D. Pedro IV, o Libertador, que promulgou a Carta Constitucional.
  • Em 1828, D. Pedro IV, imperador do Brasil, abdicou do trono de Portugal a favor de sua filha D. Maria da Glória (de sete anos de idade). D. Miguel, irmão de D. Pedro, regressou do exílio para assumir a Regência. Jurou a Carta Constitucional, mas, não concordando com uma política liberal, convocou cortes e assumiu o poder absoluto.
  • Em 1829, D. Pedro regressou do Brasil e juntou-se à força dos liberais na Ilha Terceira (Açores).
  • Em 1832, o exército liberal de D. Pedro IV partiu da Ilha Terceira rumo ao continente e desembarcou na praia do Mindelo, para daí cercar o Porto (Almeida Garrett e Alexandre Herculano integravam este exército).
  • Em 1834, deu-se o triunfo dos liberais. Após as vitórias de Almoster (18/02/1834) e Asseiceira (16/05/1834), a Convenção de Évora Monte (26 de Maio de 1834) pôs fim à guerra civil. Em consequência, D. Miguel partiu para o estrangeiro e inciou-se o reinado de D. Maria II (1834-1853).

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