domingo, 1 de dezembro de 2019
sábado, 30 de novembro de 2019
Análise da Cena IV do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Caracterização das personagens (a partir das cenas III e IV)
a. Maria:
. sebastianista fervorosa e nacionalista, crê que D.
Sebastião está vivo e vai regressar;
. é uma espécie de porta-voz da sabedoria popular: “Voz
do povo, voz de Deus”;
. lê muito (novelas de cavalaria e romances
populares);
. manifesta interesse por temas impróprios para a sua
idade: romances populares sobre D. Sebastião e a batalha de Alcácer Quibir;
. sofre ao observar o sofrimento da mãe, que não
compreende;
. é bondosa, carinhosa e terna com a mãe;
. muito precoce, possui uma imaginação e curiosidade
pouco próprias da sua idade: “Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar
nessas coisas que são tão pouco para a tua idade”;
. pensa muito (“passo noites inteiras em claro a
lidar nisto”; “a pensar em tudo”): Maria passa as noites em claro, a rever as
suas atitudes e as dos pais, para tentar descobrir as razões da sua preocupação,
por considerar que há algo que não lhe é revelado;
. tem sonhos estranhos, em cuja interpretação revela
poderes de profecia: lê nos olhos e nas estrelas;
. é muito intuitiva;
. é alegre, mas sente-se subitamente invadida por
grande tristeza (“uma tristeza muito grande que eu tenho”): essa tristeza está
relacionada com a constante preocupação dos pais com ela; o seu poder intuitivo
e de observação permitem-lhe perceber a preocupação dos pais com a sua saúde e
crenças; quando pergunta à mãe por que razão o pai não tinha permanecido na
Ordem de Malta e deixara o hábito, parece expressar o desejo de que o pai nunca
o tivesse feito, o que corresponderia à sua inexistência; ela compreende que há
algo que lhe escondem;
. é visionária e muito sensível: “não quero sonhar,
que me faz ver coisas lindas às vezes, mas tão extraordinárias e confusas…”;
. possui um conhecimento íntimo de si própria que
escapa aos familiares: “O que eu sou… só eu o sei, minha mãe… E não sei, não:
não sei nada, senão que o que devia ser não sou…”;
. é corajosa, de personalidade forte, destemida e
idealista, dotado de caráter varonil, revelado no desejo de ter um irmão e de
resistência aos governadores: “um galhardo e valente mancebo capaz de comandar
os terços de meu pai”; “Tomara eu ver seja o que for que se pareça com uma batalha!”;
. insurge-se contra as injustiças sociais: “Coitado
do povo!”; “… onde a miséria fosse mais e o perigo maior, para atender com
remédios e amparo aos necessitados (cena V);
. Frei Jorge chama-lhe Teodora, nome que
significa sábia (cena V);
. é idealista e patriota, manifestando toda a sua
vontade de resistir aos governadores: “Fechamos-lhes as portas. Metemos a nossa
gente dentro e defendemo-nos.” (cena VI);
. fica entusiasmada com a notícia trazida pelo pai,
dando largas à sua imaginação, ao seu idealismo e ao seu patriotismo;
. sofre de tuberculose, a doença dos românticos –
sintomas:
- a febre
- as mãos a queimar
- as rosetas nas
facetas
-
a audição a grandes distâncias (cena VI)
modelo da heroína romântica:
. ideais de liberdade
. exaltação de valores de feição popular
. crença na independência nacional
. atração pelo mistério
. intuição
. doença da época (tuberculose)
. linguagem:
NOTAS:
|
1.ª) A doença de Maria favorece ao longo da obra a sua
extraordinária fantasia e a morte no final.
2.ª) Maria tem duas atitudes contrastantes: uma de
crítica, outra de afeto para com sua mãe. A alteração deve-se à observação do
aspeto doloroso da sua mãe.
b. D.
Madalena:
. sofre (chora) com as palavras de Maria;
. evidencia uma grande tensão psicológica, agravada
pela menção inconsciente de Maria a aspetos que a aterrorizam;
. manifesta grande preocupação perante a precocidade
da filha.
c. Telmo Pais:
. tem uma presença silenciosa, mas identifica-se com
os ideais de Maria;
. contribui para o clima de opressão;
. aparenta resignação e convencimento;
. manifesta preocupação com a debilidade de Maria.
● Características
da tragédia
▪ Agón de D. Madalena:
- com Maria: para
esta, há um enigma que nem a mãe, nem o pai, nem mesmo Telmo se prontificam a
decifrar; são segredos e mistérios intuitivamente pressentidos que não consegue
desvendar:
. a razão por que nem a mãe nem o pai, apesar do seu
patriotismo (“… que ele não é por D. Filipe, não é, não?”) acreditavam no
regresso de D. Sebastião;
. a razão por que, quando em tal se falava, o pai
mudava de semblante, e a mãe se afligia e até chorava;
- com D. João de
Portugal, nas reações de aflição, sublinhadas pelas lágrimas, sempre que Maria
se refere à crença popular da sobrevivência e possível regresso de D. Sebastião
– cena III.
▪ Agón
de Maria:
- com D. Madalena:
. a propósito da sobrevivência e do regresso de D.
Sebastião (cena III) – D. Madalena não acredita, nem lhe convém acreditar nem
uma coisa nem outra. Maria acredita firmemente;
. desconfia que a mãe oculta alguma coisa muito
importante; por isso, está sempre atenta, a observar os sobressaltos, a
ansiedade da mãe a seu respeito; por isso, lê nas palavras, nas ações e nos
gestos da mãe (e do pai), à procura de indícios, de respostas para a sua
curiosidade (cena IV);
. não pode cumprir as esperanças nela depositadas
(cena IV);
. por isso, desejaria ter um irmão (cena IV);
- com Manuel de
Sousa:
. duvida do patriotismo do pai (cena III), por causa das
atitudes que ele toma, ao ouvir falar de D. Sebastião: “Ó minha mãe, pois ele
não é por D. Filipe, não é, não?”;
. a hipótese não tem fundamento.
NOTA:
|
Este conflito de Maria com os pais, pois ambos não
aceitam ouvir falar do regresso de D. Sebastião, tem razões óbvias: se o
monarca não morreu, também não terá morrido D. João de Portugal; o segundo
casamento de D. Madalena seria nulo.
- com D. João de
Portugal (antes da mudança de palácio – cena IV):
. pressente intuitivamente que alguém, fazendo
sofrer a mãe, também não a deixa ser feliz;
. por isso, procura uma resposta, com os meios ao seu
dispor: “… leio… nas estrelas do céu também, e sei cousas…”; “… não quero
sonhar, que me faz ver coisas… lindas às vezes, mas tão extraordinárias e
confusas”.
NOTA:
|
É da essência do drama provocar situações e sentimentos
incompatíveis no interior das personagens:
. Maria não consegue explicar a perturbação dos pais;
. D. Madalena não pode revelar a causa das suas
preocupações, o que se passa no foro da sua consciência.
▪ D. Madalena
parece caída nas garras de um destino inexorável: a última fala de Maria da cena IV lança
nela a dúvida se teria valido a pena ter casado uma segunda vez.
▪ A constatação de
algo misterioso que paira sobre a ação e as personagens.
▪ Presságios:
. as flores murchas e os sonhos deixam antever a
tragédia com que encerra a obra: a morte progressiva de Maria (ela colheu
papoilas para pôr debaixo do travesseiro, por estas estarem associadas ao sono
e ao sonho, acreditando que, assim, terá uma noite descansada; no entanto, as
flores, que representam, entre outras coisas, a beleza efémera, murcharam
rapidamente, indiciando a proximidade da morte;
. a contemplação do retrato do pai remete para a
intuição do malogro do casamento dos pais.
● Características
românticas
▪ O sebastianismo de Telmo e Maria.
▪ O nacionalismo e
patriotismo de Maria, visível na resistência aos governadores castelhanos.
▪ Linguagem:
exclamações, interrogações, reticências, frases curtas, adequação ao íntimo e
ao estado de espírito das personagens, etc.
▪ Caracterização de
Maria:
. o modelo da mulher-anjo;
. os ideais de liberdade;
. exaltação de valores de feição popular;
. atração pelo mistério;
. intuição;
. tuberculose, a doença dos românticos.
▪ Crenças: agouros,
superstições, sonhos, visões de Madalena, Telmo e Maria (cenas II e IV).
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quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Análise da Cena III do Ato I de Frei Luís de Sousa
Diálogo Madalena – Maria
● Tema: o possível regresso de D. Sebastião.
● Perspetiva
e reação das personagens sobre e ao tema
Maria, como personagem sebastianista, acredita piamente que
D. Sebastião está vivo e vai regressar num “dia de névoa muito cerrada” e fundamenta
a sua posição em argumentos como a fé e a crença do povo que, segundo ela, terá
toda a razão de ser.
Curiosa e intuitiva, questiona por que razão o pai,
sendo tão patriota, não gosta de ouvir falar no regresso do rei, que iria
retirar do trono português o rei espanhol, e chega a alvitrar a possibilidade
de ser pró-castelhanos, não obstante toda a sua postura patriótica, por ele
revelada através de palavras e ações.
Note-se como, nesta cena, as palavras e atitudes de
Maria revelam todo o seu extraordinário poder de observação e de análise de
comportamentos.
Telmo Pais crê profundamente no regresso de D. Sebastião,
mantendo viva igualmente viva a esperança no retorno do seu amo, D. João de
Portugal.
Por seu turno, D.
Madalena procura demover a filha e
afastá-la dessas ideias, fazendo uso, inicialmente, de argumentos racionais: (a)
os relatos dos tios Frei Jorge e Lopo de Sousa, homens cultos, sobre o que aconteceu
na batalha e (b) a desvalorização das crenças populares, que apresenta como
quimeras (ilusões).
Quando verifica que a sua argumentação não resulta, aflige-se
a chora. As reações dos pais devem-se ao facto de a sobrevivência e o regresso
de D. Sebastião e D. João de Portugal, cuja morte nunca fora confirmada,
implicariam a nulidade do seu casamento e a ilegitimidade de Maria. Deste modo,
as constantes referências ao assunto adensam os seus receios e terrores.
Segundo Maria, o seu pai, Manuel de Sousa, perante esta possibilidade, muda de semblante,
fica pensativo e carrancudo, o que mostra que não estará totalmente certo da
morte de D. Sebastião, e leva a filha a, por momentos, duvidar do seu patriotismo.
● Visão
de Maria sobre D. Sebastião
Para Maria, D. Sebastião é um herói por quem nutre
grande admiração e em quem deposita todas as esperanças para resgatar Portugal
das garras do domínio castelhano: “o nosso bravo rei”, “o nosso santo rei D.
Sebastião”, etc.
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Resumo e análise do prólogo de Romeu e Julieta
Resumo
Como prólogo da peça, o Coro
entra. Num soneto de catorze linhas, o Coro descreve duas famílias nobres
(chamadas “casas”) na cidade de Verona. As casas mantêm um "rancor
antigo" (Prólogo.2) uma contra a outra, que continua a ser uma fonte de
conflito violento e sangrento. O Coro afirma que dessas duas casas aparecerão
dois amantes “cruzados de estrelas” (Prólogo.6). Esses amantes vão consertar a disputa
entre as suas famílias, morrendo. A história desses dois amantes e o terrível
conflito entre as suas famílias será o tema desta peça.
Análise
Este discurso de abertura do Coro
serve como uma introdução a Romeu e Julieta. Recebemos informações sobre
o local da peça e algumas informações básicas sobre as suas personagens
principais.
A função óbvia do prólogo
como introdução à Verona de Romeu e Julieta pode obscurecer a sua função
mais profunda e importante. De facto, o prólogo não define apenas o cenário da
peça, mas diz ao público exatamente o que vai acontecer nela. Assim, refere-se
a um casal fatalmente condenado à partida com o uso da palavra "estrela
cruzada", que significa, literalmente, contra as estrelas. Pensa-se que as
estrelas controlam o destino das pessoas. Mas o próprio prólogo cria essa noção
de destino, fornecendo ao público, mesmo antes do início da peça, o
conhecimento de que Romeu e Julieta morrerão. Aquele, portanto, assiste à peça
com a expectativa de que ela cumpra os termos estabelecidos no prólogo. A
estrutura do texto em si é o destino do qual Romeu e Julieta não podem escapar.
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
Resumo de Romeu e Julieta
Nas ruas de Verona, começa outra
briga entre os servos de duas famílias nobres rivais: os Capuleto e os Montecchio.
Benvólio, um Montecchio, tenta parar a refrega, mas envolve-se quando o
preguiçoso Capuleto, Tebaldo, chega ao local. Depois que os cidadãos,
indignados com a violência constante, repeliram as fações em guerra, o príncipe
Della-Scala, o governante de Verona, tenta impedir mais conflitos entre as
famílias, decretando a morte de qualquer indivíduo que perturbe a paz no
futuro.
Romeu, filho de Montecchio,
encontra seu primo Benvólio, que já havia visto Romeu lamentando-se num bosque
de plátanos. Depois de alguma insistência de Benvólio, Romeu confidencia que
está apaixonado por Rosalina, uma mulher que não retribui os seus afetos. Benvólio
aconselha-o a esquecer essa mulher e encontrar outra mais bela, mas o amigo
permanece desanimado.
Enquanto isso, Páris, um parente
do príncipe, procura obter a mão de Julieta em casamento. Seu pai Capuleto,
embora feliz com a partida, pede a Páris que espere dois anos, já que Julieta
ainda não tem catorze. Capuleto envia um criado com uma lista de pessoas para
convidar para um baile de máscaras que ele tradicionalmente realiza. Convida Páris
para a festa, esperando que este conquiste o coração de Julieta.
Romeu e Benvólio, ainda discutindo
Rosalina, encontram o servo Capuleto com a lista de convites. Benvólio sugere
que participem, pois isso permitirá que Romeu compare a sua amada com outras
mulheres bonitas de Verona. Romeu concorda em ir com o amigo à festa, mas
apenas porque Rosalina, cujo nome ele lê na lista, estará lá.
Na casa de Capuleto, a jovem
Julieta conversa com sua mãe, Lady Capuleto, e a sua enfermeira sobre a
possibilidade de se casar com Páris. A jovem ainda não considerou o casamento,
mas concorda em olhar para o pretendente durante o banquete para ver se ela pensa
se poderá apaixonar-se por ele.
O banquete começa. Um Romeu
melancólico segue Benvólio e o seu amigo espirituoso Mercúcio até à casa de Capuleto.
Uma vez lá dentro, Romeu vê Julieta à distância e instantaneamente apaixona-se
por ela e esquece completamente Rosalina. Enquanto Romeu observa Julieta,
extasiado, um jovem Capuleto, Tebaldo, reconhece-o e fica enfurecido por um Montecchio
se esgueirar para um banquete capuleto. Ele prepara-se para atacar, mas Capuleto
impede-o. Romeu fala com Julieta, e os dois experimentam uma atração profunda.
Eles beijam-se, mesmo não sabendo o nome um do outro. Quando ele descobre, pela
enfermeira de Julieta, que ela é filha de Capuleto, o inimigo de sua família,
fica perturbado. Quando Julieta descobre que o jovem que ela acabou de beijar é
filho de Montecchio, fica igualmente perturbada.
Quando Mercúcio e Benvólio deixam
a propriedade dos Capuleto, Romeu salta pela parede do pomar para o jardim,
incapaz de deixar Julieta para trás. Do seu esconderijo, vê-a numa janela acima
do pomar e a ouve dizer o nome dele. Ele a chama e eles trocam votos de amor.
Romeu apressa-se em ver o seu
amigo e confessor Frei Lourenço, que, embora chocado com a repentina
reviravolta operada no coração do jovem, concorda em casar os jovens amantes em
segredo, pois vê no amor deles a possibilidade de acabar com a antiga luta
entre Capuleto e Montecchio. No dia seguinte, Romeu e Julieta encontram-se na
cela de Frei Lourenço e são casados. A enfermeira, que conhece o segredo,
adquire uma escada, que Romeu usará para subir à janela de Julieta para a noite
de núpcias.
No dia seguinte, Benvólio e Mercúcio
encontram Tebaldo, primo de Julieta, que, ainda enfurecido por Romeu ter
participado no banquete de Capuleto, desafiou Romeu para um duelo. Romeu
aparece. Agora parente de Tebaldo por casamento, o jovem implora ao Capuleto que
adie o duelo até que ele entenda por que Romeu não quer lutar. Desgostoso com
este pedido de paz, Mercúcio diz que ele lutará contra Tebaldo. Os dois começam
a duelar. Romeu tenta detê-los saltando entre os combatentes. Tebaldo apunhala
Mercúcio por baixo do braço de Romeu e Mercúcio morre. Romeu, furioso, mata Tebaldo
e foge da cena. Logo depois, o príncipe declara-o banido para sempre de Verona
por causa do seu crime. Frei Lourenço faz com que o jovem passe a noite de
núpcias com Julieta antes de partir para Mântua na manhã seguinte.
No seu quarto, Julieta aguarda a
chegada do seu novo marido. A enfermeira entra e, depois de alguma confusão,
diz a Julieta que Romeu matou Tebaldo. Perturbada, de repente vê-se casada com
um homem que matou o seu parente. Mas recupera e percebe que o seu dever
pertence ao seu amor: Romeu.
Este entra no quarto de Julieta nessa
noite e, finalmente, consuma o seu casamento e o seu amor. A manhã chega e os
amantes despedem-se, sem saber quando se verão novamente. Julieta descobre que
seu pai, afetado pelos acontecimentos recentes, agora pretende que ela se case
com Páris em apenas três dias. Sem saber como proceder – incapaz de revelar aos
pais que é casada com Romeu, também não quer se casar com Páris, agora que é a
esposa de outro – Julieta pede conselhos à enfermeira. Esta aconselha-a a
proceder como se Romeu estivesse morto e a casar-se com Páris, que é a melhor
opção de qualquer maneira. Desgostosa com a deslealdade da enfermeira, a jovem
Capuleto desconsidera os seus conselhos e corre para Frei Lourenço. O
franciscano inventa um plano para reunir Julieta com Romeu em Mântua. Na noite
anterior ao casamento com Páris, Julieta deve tomar uma poção que a fará
parecer morta. Depois que ela for deixada para descansar na cripta da família,
o frade e Romeu resgatá-la-ão secretamente, e ela estará livre para morar com o
seu amor, longe da discórdia dos seus pais.
Julieta volta para casa e descobre
que o casamento foi adiado um dia. Nessa noite, bebe a poção e a enfermeira descobre-a,
aparentemente morta, na manhã seguinte. Os Capuletos sofrem e Julieta é
sepultada de acordo com o plano. Mas a mensagem de Frei Lourenço explicando o
plano para Romeu nunca chega a Mântua. O seu portador, frei João, fica
confinado a uma casa em quarentena. Romeu ouve apenas que Julieta está morta.
Ele tem conhecimento apenas da
morte da amada e decide matar-se, ao invés de viver sem ela. Compra um frasco
de veneno de um boticário relutante e depois volta para Verona, para tirar a sua
própria vida no túmulo de Julieta. Do lado de fora da cripta Capuleto, Romeu depara
com Páris, que está espalhando flores no túmulo da jovem. Eles lutam, e Romeu
mata o rival. Depois entra no túmulo, vê o corpo inanimado de Julieta, bebe o
veneno e morre ao seu lado. Nesse momento, Frei Lourenço entra e percebe que
Romeu matou Páris e a si próprio. Ao mesmo tempo, Julieta acorda. Frei Lourenço
ouve a chegada do guarda. Quando Julieta se recusa a sair com ele, foge
sozinho. Julieta vê Romeu e percebe que este se matou com veneno. Ela beija os
lábios envenenados e, quando isso não a mata, enterra a adaga no peito, caindo
morta sobre o corpo do amado.
O guarda chega, seguido de perto
pelo príncipe, pelos Capuletos e por Montecchio. Este declara que Lady Montecchio
morreu de tristeza pelo exílio de Romeu. Vendo o corpo dos seus filhos, Capuleto
e Montecchio concordam em encerrar sua longa disputa e erguer estátuas de ouro
dos seus filhos lado a lado, numa recém-pacífica Verona.
Traduzido de SparkNotes
Resumo de Romeu e Julieta em vídeo
Os puritanos
Quando a rainha Isabel tornou
obrigatória a participação nos cultos da Igreja Protestante da Inglaterra, os
católicos não foram o único grupo religioso a recusar. Um grupo pequeno, mas
influente, conhecido como puritanos, acreditava que a Igreja da Inglaterra de Isabel
não era protestante o suficiente. Eles desaprovavam muitas coisas na sociedade
elisabetana, e uma das coisas que mais odiavam era o teatro. Por exemplo, consideravam
imoral a convenção de que atores masculinos interpretassem papéis femininos e
não gostavam de todas as formas de entretenimento que distraíam as pessoas de
adorar a Deus. Sem surpresa, os dramaturgos elisabetanos frequentemente
zombavam dos puritanos. A personagem puritana mais famosa de Shakespeare é Malvólio
em Noite de Reis. Shakespeare retrata Malvólio como um
desmancha-prazeres e um hipócrita com ambições de ascensão social. No entanto, o
dramaturgo também mostra simpatia pelo ponto de vista desta personagem. Ao
longo da peça, ela está em conflito com Sir Toby Belch e Sir Andrew Aguecheek,
e Shakespeare retrata-os como bêbados, egoístas e irresponsáveis. Embora
gostemos de os ver, podemos entender por que razão Malvólio quer pôr um fim à
sua diversão.
Os católicos
Durante a vida do avô de
Shakespeare, a maioria das pessoas na Inglaterra era católica, e, no tempo de
vida do dramaturgo, muitas, secretamente, permaneceram leais à Igreja Católica.
É provável que John Shakespeare, pai de William, tenha sido criado como
católico, e há evidências de que ele permaneceu católico mesmo depois que a
rainha Isabel I tornou obrigatória a participação nos serviços protestantes. A
divisão geracional entre pais que continuaram praticando o catolicismo e filhos
que se converteram à fé protestante foi muito profunda. Muitos protestantes acreditavam
que quem morresse católico iria para o inferno. Em Hamlet, que foi
escrito na época em que o pai de Shakespeare morreu, o fantasma do pai de
Hamlet explica que ele está preso no purgatório. Hamlet, que estudou na
Universidade Protestante de Wittenberg, primeiro aceita o que o fantasma diz,
embora o purgatório fosse uma ideia católica na qual os protestantes não
acreditavam. Mais tarde, no entanto, começa a preocupar-se que o fantasma do
seu pai pode ter sido enviado do Inferno pelo diabo.
A crença protestante
O protestantismo mudou a maneira
como os ingleses pensavam sobre si mesmos. A Igreja Católica ensinou que o
caminho para alcançar a salvação era viver uma vida boa. Um crente que obedecia
a todos os ensinamentos da Igreja, fazia confissões regulares, fazia penitência
e fazia doações generosas aos pobres, podia confiar que iria para o Céu. O
fundador do movimento protestante, Martinho Lutero, argumentou que o único
caminho para a salvação era a verdadeira fé em Deus. Ao contrário dos atos de
bom comportamento adotados pelo catolicismo, a verdadeira fé não podia ser
vista de fora. Só poderia ser experimentada por dentro. Isso significava que,
para os protestantes, a única maneira de saber se alguém alcançaria a salvação
era examinando a sua própria fé, para descobrir se era genuína ou não. Por este
motivo, vários protestantes dedicaram muito tempo a examinar as suas próprias
consciências. Alguns mantinham diários, onde anotavam os seus pensamentos para
os examinar mais de perto.
As peças de Shakespeare são
moldadas por esse novo interesse pelo autoexame. Os solilóquios do dramaturgo
mostram as suas personagens discutindo consigo mesmas, questionando os seus
motivos e adivinhando os seus próprios pensamentos. Muitas das personagens mais
famosas de Shakespeare, incluindo Ricardo II, Brutus (Júlio César),
Macbeth, Lady Macbeth, Ricardo III e Iago (Othello), dedicam solilóquios
a examinar as suas consciências em busca de sinais de culpa, fraqueza e má fé.
Hamlet, a personagem-título da peça mais conhecida de Shakespeare, estudou na
Universidade de Wittenberg, o local onde Martinho Lutero lançou o movimento
protestante. Os solilóquios de Hamlet, que estão entre os discursos mais
famosos da história teatral, mostram-no lutando com os seus próprios
pensamentos enquanto tenta responder a questões morais urgentes sobre
assassinato, sexualidade e suicídio. Hamlet é torturado pela insegurança. Ele
pergunta-se repetidamente se realmente acredita no que pensa que acredita.
. SparkNotes.
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
Análise da Cena II do Ato I de Frei Luís de Sousa
● Funcionalidade
da cena: apresenta informações obre
. os antecedentes da ação
. as personagens, seus problemas e estado de espírito
. a situação em que se encontram
. a época em que decorre a ação
● Assunto: apresentação das personagens principais, a qual
resulta de um propósito de D. Madalena: pedir a Telmo que não incuta no
espírito de Maria as suas crenças e agouros sobre uma desgraça iminente a cair
sobre a sua família.
● Antecedentes
da peça
Datas
|
Acontecimentos
|
▪ Antes de
1578
|
▪
Casamento de D. Madalena com D. João de Portugal.
|
▪ 4 de
agosto de 1578
|
▪ Batalha
de Alcácer Quibir.
▪ Desaparecimento de D. Sebastião e de D. João de
Portugal.
▪ Suposta
viuvez de D. Madalena.
|
▪
1578-1585
|
▪ Diligências de D. Madalena para encontrar D.
João, mas sem sucesso.
|
▪ 1585
|
▪ Casamento de D. Madalena e Manuel de Sousa
Coutinho.
|
▪ 1586
|
▪ Nascimento de Maria.
|
▪ 1589
|
▪ Ano em que decorre a ação da peça.
|
● Caracterização
das personagens
▪ D. Madalena:
. nobre: a designação dona só se dava na época
às senhoras da aristocracia;
. receosa e hesitante no que quer dizer a Telmo;
. critica o ascendente do aio sobre si e, sobretudo,
Maria, pedindo-lhe que não insista nesse ascendente;
. casou muito jovem com D. João de Portugal;
. enviuvou com 17 anos;
. procurou exaustivamente D. João, desaparecido na
batalha de Alcácer Quibir, durante 7 anos;
. terá 38 anos: a batalha de Alcácer Quibir ocorreu
há 21 anos, tinha ela 17; o seu segundo casamento teve lugar 7 anos depois,
teria ela 24; casou pela segunda vez há 14; Maria tem 13;
. vive constantemente atormentada e aterrorizada pelo
passado e pelos agouros de Telmo, que lhe mantém esse passado bem vivo, ou
seja, a dúvida de que D. João não morreu e pode voltar a qualquer momento, o
que destruiria o seu casamento e tornaria Maria uma filha ilegítima, por isso
não consegue ser feliz, já que não se consegue libertar desse medo;
. não amou D. João, mas respeitou-o sempre;
. é profundamente apaixonada por Manuel de Sousa;
. sente-se vítima do destino;
. a contradição entre a felicidade aparente e a
desgraça íntima que revela uma consciência moral atormentada pela imagem sempre
obsessivamente presente de D. João de Portugal e pelo remorso proveniente da consciência
de pecado – de facto, a personagem sente-se culpada por ter casado com Manuel
de Sousa, sem ter a certeza acerca da morte do primeiro marido;
. revela, na última fala da cena, a tendência para o
devaneio, o que já acontecera na primeira cena e está de acordo com a tendência
romântica e a extrema sensibilidade da sua alma.
▪ Telmo
Pais:
. não possui nobreza de sangue, mas está intimamente
ligado à aristocracia pelo modesto título de escudeiro;
. manifesta ideias reformistas ao condenar o uso do
latim na Bíblia (posição dos Protestantes);
. o seu verdadeiro senhor continuar a ser D. João,
primeiro marido de D. Madalena, dado como morto na batalha de Alcácer Quibir (“…
não sei latim como o meu senhor… quero dizer, como o sr. Manuel de Sousa
Coutinho…”);
. possui grande ascendente sobre Maria e D. Madalena;
. é o confidente de D. Madalena, a quem reprova o segundo
casamento;
. nas palavras de D. Madalena, é “… o aio fiel de meu
senhor D. João de Portugal…”, digno “… da confiança, do respeito, do amor e do carinho…”
de todos e “o escudeiro valido, o familiar quase parente, o amigo velho e
provado de teus amos…”;
. era o aio de D. João, a quem queria como “filho”; é-o
também de Maria, a quem “… ao princípio não podia ver”, mas ela acabou por o
cativar: “quero-lhe mais que seu pai” – a sua não aceitação inicial era
originada por ela ser fruto do casamento de Madalena e Manuel de Sousa, que
Telmo via como uma traição a D. João, cuja morte não aceita; porém, com o
passar dos anos, a formosura e bondade de Maria cativaram-no de tal modo que
agora afirma ter-lhe mais amor do que os próprios pais;
. foi “carinho e proteção” e amparo de D. Madalena
quando esta enviuvou;
. atormenta-a com os seus constantes agouros,
presságios e acusações – é a lembrança viva e permanente do «remorso» oculto e
recalcado na consciência de D. Madalena;
. ama profundamente Maria, como se constatará no ato
III, pretendendo ter-lhe mais amor do que os próprios pais;
. não aprova o segundo casamento de D. Madalena e
atormenta-a com insinuações, agouros, profecias (como, por exemplo, a da carta
de D. João de Portugal, escrita na madrugada da batalha de Alcácer Quibir, onde
afirmava: “vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez
neste mundo” – se não voltou, é porque está vivo; além do mais, D. João
nunca deixaria de cumprir a sua palavra;
. atormenta-a também com ciúmes póstumos, por conta
de D. João: é isto que explica as prevenções de Telmo em relação a Manuel de
Sousa e a sua aversão inicial por Maria;
. começa a ser visível a sua divisão entre o amor a
D. João e o amor a Maria (fragmentação que será confirmada na cena V do ato
III): sendo tão amigo dela e pretendendo ter-lhe tanto amor, sustenta uma
crença que, a concretizar-se, significaria a morte da jovem;
. é sebastianista:
- crê que os eu
antigo amo não morreu;
- acredita no
regresso de D. Sebastião e, consequentemente, de D. João;
. funções ou papéis que desempenha:
- coro:
. alimenta o sebastianismo;
. anuncia desgraças próximas;
. profere contínuos agouros;
. comenta a ação dramática, predizendo o seu desfecho
trágico, através dos seus presságios e agouros;
- alimenta a
presença de um passado, um tempo que D. Madalena quereria enterrar mas não
consegue, ou não a deixam;
- confidente de D.
Madalena;
- leva à revelação
dos pensamentos das outras personagens;
. os seus apartes revelam as dúvidas que possui
relativamente à morte de D. João, bem como a sua intenção de salvar Maria de
uma desgraça que considera iminente.
▪ Maria:
. nobre:
- a designação de “dona”;
- o apelido “Noronha”
indicia alta estirpe (“é sangue de Vilhenas e de Sousas”);
. o seu nome evoca o da Virgem Maria: é pura e
angélica (Madalena e Telmo apelidam-ma de anjo) – configura a imagem da mulher-anjo dos românticos, contrastando com D. Madalena;
. tem 13 anos;
. é alta;
. é precoce, tanto física (“Tem treze anos feitos…
está uma senhora…”) como psicologicamente: “… em tantas outras coisas tão
altas, tão fora de sua idade, e muitas de seu sexo também…”; “Maria tem uma
compreensão…”;
. é curiosa (“… aquela criança está sempre a querer
saber, a perguntar”) e perspicaz (“tão perspicaz”);
. é bondosa (“um anjo como aquele… e então que
coração!”);
. dotada de espírito vivo (“uma viveza, um espírito!”);
. é sonhadora;
. possui uma imaginação muito fértil;
. segundo D. Madalena, é dotada de “Formosura e
engenho, dotes admiráveis daquele anjo”.
▪ Manuel
de Sousa Coutinho:
. nobre: “… o retrato daquele gentil cavaleiro de
Malta que ali está” (o ingresso na Ordem de Malta era limitado aos membros da
aristocracia, aos quais se exigia certificado de nobreza);
. o seu nome é bíblico: é um dos nomes do Messias
(Emanuel) e significa “Deus connosco”, significado que se adequado à personagem,
dado(a):
- a
boa fé com que se casou com D. Madalena, viúva;
- a tranquilidade e
a paz de espírito que daí lhe adivinha, revelada
. na resposta aos melindres de Madalena por ter de
regressar ao lar onde vivera com D. João (I, 8);
. na vivência cristã da graça de Deus pela contrição
do coração (II, 3);
. pelo contentamento de viver e conviver com os
frades de S. Domingos como de portas a dentro, quase no início da mesma cena;
. no desapego dos bens materiais, “coisas tão vis e
tão precárias”;
. no desamor pela própria vida (“vida miserável que
um sopro pode apagar” – I, 11);
. nas palavras de Telmo:
- “fidalgo de tanto
primor e de tão boa linhagem, como os que se têm por melhores neste reino em
toda a Espanha”;
- “é um guapo
cavalheiro, honrado fidalgo, bom português”.
▪ D.
João de Portugal:
. nobre: nobreza de sangue que vinha do pai (“aquele
nobre conde de Vimioso”), a designação dom, atribuído apenas a alguns
membros da aristocracia; o nome de família do Conde de Vimioso;
. nas palavras de Telmo: “… espelho de cavalaria e
gentileza, aquela flor dos bons…”;
. o nome de batismo:
- é bíblico: evoca
o nome de um dos apóstolos;
- é também, desde a
época em que decorrem os acontecimentos, o nome de um tipo literário (cf. um
D. Juan).
● Relação
Telmo vs. D. Madalena
Pelo
que é dado ler nesta cena, a relação entre estas duas personagens supera em muito
a tradicional ligação entre um criado e o seu senhor. De facto, o escudeiro
apresenta-se mais como um elemento da família de D. Madalena do que enquanto
mero aio, graças aos longos anos passados ao serviço da família (primeiro de D.
João e depois de Manuel de Sousa). Quando ela enviuvou aos 17 anos, foi o seu
amparo e quase um pai, daí a liberdade de que goza quando lida com D. Madalena.
Esta respeita-o e reconhece-lhe alguma autoridade sobre si, seguindo também os
seus conselhos como se fosse sua filha. De igual forma, ele respeita-a e
aconselha-a, não obstante ter sido contrário ao segundo casamento.
Assim
sendo, é natural que a relação (que se foi estreitando ao longo dos anos) entre
ambos seja de grande respeito, amizade, confiança e abertura, como se comprova
ao longo de todo o diálogo, que é motivado pelo pedido que D. Madalena quer
fazer ao seu velho aio: acabar com as conversas sobre o passado com Maria,
ligadas à ideia de que de D. Sebastião está vivo e, por extensão, D. João,
facto que, a ser verdade, acarretaria consequências trágicas para Maria,
reduzida então à condição de filha ilegítima.
E é
a questão do passado e da forma como este é alimentado em Maria pelo escudeiro
que perturba a relação. Note-se como Madalena sofre e chora quando Telmo afirma
que a jovem deveria ter nascido “em melhor estado”, pois está claramente a
sugerir que ela era merecedora de ter nascido no seio de uma família
constituída por pais casados legitimamente, sem qualquer sombra a pairar sobre
ela, o que não sucede na perspetiva do aio, dado acreditar que D. João ainda
está vivo. A ser assim, a família seria destruída e Maria uma filha ilegítima,
com todas as consequências ao nível da mentalidade e das convenções sociais da época.
Por
isso mesmo, no final da conversa, Telmo reconhece que D. Madalena tem razão: se
continuar a estimular o interesse de Maria pelo passado, com as suas crenças e
agouros, poderá levá-la a descobrir o passado da sua mãe. A ideia de que D.
João de Portugal poderá estar vivo despertaria nela a possibilidade da ilegitimidade
e o receio de tal situação poderia agravar seriamente o seu estado de saúde já
tão debilitado.
● Relação
Telmo vs. Manuel de Sousa
Telmo
manifesta grande respeito e admiração por Manuel de Sousa, cujas qualidades
elenca e elogia, mas não lhe dedica a mesma consideração e estima que nutria
por D. João de Portugal, visto que considera que não é digno de ocupar o lugar
do seu antigo amo.
● Tempo
▪ da
ação: 28 de julho de 1599, fim da
tarde de uma sexta-feira;
▪ narração cronológica dos acontecimentos ocorridos antes do início da
peça:
- casamento de D.
Madalena com D. João de Portugal antes de 1578;
- desaparecimento
deste em África, na batalha de Alcácer Quibir, a 4 de agosto de 1578 – sexta-feira
– D. Madalena tinha 17 anos;
- D. Madalena procurou
D. João durante 7 anos (de 1578 a 1585), não se poupando a esforços;
- casou com Manuel
de Sousa há 14 anos – 1586;
▪ histórico:
- a existência de
peste em Lisboa e
- a discórdia entre
portugueses e castelhanos, de acordo com as palavras de D. Madalena (última
fala da cena), o que nos remete para o domínio filipino;
- as várias
referências à batalha de Alcácer Quibir;
- a alusão de Telmo
à Reforma protestante, quando menciona a tradução da Bíblia para as línguas dos
países onde se implantou.
● Características
da tragédia clássica da cena
▪ A presença do Destino, por quem D. Madalena se sente perseguida/vítima.
▪ Hybris de D. Madalena: nunca amou D. João.
▪ Pathos: os terrores de D. Madalena.
▪ Os agouros e presságios de Telmo.
▪ A presença do coro nos agouros, comentários e prenúncios de desgraças próximas de Telmo.
▪ Agon:
- de D. Madalena:
. interior, de consciência;
. contínuo;
. crescente;
. com Telmo: apesar de, durante os 7 anos de «viuvez»,
lhe ter obedecido como a um pai, D. Madalena não segue o conselho de esperar o
regresso de D. João, anunciado na carta profética, escrita na madrugada da
batalha de Alcácer Quibir;
. com D. João, presente nas conversas com Telmo,
testemunha da «desobediência» de D. Madalena, conversas essas cheias de
reticências, de subentendidos, de duplos sentidos, de alusões, de agouros, de
«futuros», de pressentimentos de desgraças iminentes;
- de Telmo:
. de consciência: começa a ser evidente o conflito de
consciência entre o desejo do regresso de D. João de Portugal e o amor a Maria;
. com D. Madalena:
- desaprova o seu
casamento com Manuel de Sousa, baseado nos dizeres da carta profética de D.
João, escrita na madrugada da batalha;
- e na superstição
(maravilhoso popular) de que, se ele voltasse e aparecesse a D. Madalena, não
se iria embora sem lhe aparecer também (o que não se tinha verificado);
- daí os “ciúmes”,
as alusões, os agouros, os “futuros”;
- o conflito de
Telmo com D. Madalena fica sempre sem solução;
. com Maria:
- a princípio, não
a podia ver, por causa do seu nascimento em berço ilegítimo (“Digna de nascer
em melhor estado”);
- o conflito com
Maria termina, porque ela acabou por o cativar e ele lhe quer como um pai;
. com Manuel de Sousa:
- apesar das
qualidades que lhe reconhece, é, em sua opinião, inferior a D. João de
Portugal;
- por conta deste tem
“ciúmes”
- e uma certa
aversão, por o considerar um intruso.
▪ O caráter ominoso, carregado de mistério e de fatalismo, conferido ao
tempo pela repetição de determinados números (3, 7, 14, 21, 13) e pela sexta-feira:
. D. Madalena procurou D. João durante 7 anos;
. D. Madalena e D. Manuel de Sousa estão casados há
14 anos (2X7);
. a batalha (e o consequente desaparecimento de D.
Sebastião e D. João) ocorreu há 21 anos (3X7);
- 3:
. perfeição;
. 3 fases da existência;
- 7:
. tragédia;
. conclusão de um ciclo:
- 21:
. completa a tríade do 7, indicando o fechar de um
ciclo e o iniciar de outro ainda desconhecido, mais concretamente de três (7: o
ciclo da busca de novas sobre D. João; 14: o tempo de vida em comum de Madalena
e Manuel; 21: o encerrar de todos os ciclos e o início de um novo).
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