domingo, 5 de setembro de 2021
sexta-feira, 3 de setembro de 2021
Antes de o ou antes do?
Por regra, as preposições a, de, em e por contraem-se quando estão seguidas dos determinantes artigos definidos o, a, os, as.
No entanto, quando na frase está presente uma forma verbal no modo infinitivo, a referida contração não ocorre, visto que o determinante artigo faz parte do sujeito da oração infinitiva.
"Alugar" e "arrendar"
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Análise de "Serenata sintética", de Cassiano Ricardo
Análise de "Poética", de Cassiano Ricardo
Uma ilha cercada de palavras por todos os lados.
Um homem que trabalha o poema com o suor de se rosto.
Um homem que tem fome como qualquer outro homem.
O tema do poema é o universo
poético, mais concretamente a poesia e o poeta, como indicia o título do texto.
De facto, este indica o assunto da composição, funcionando como uma espécie de
verbete do qual o poema (as estrofes) representa as definições.
Ambas as estrofes possuem uma
estrutura semelhante: pergunta seguida de resposta. A primeira procura esclarecer
o que é a poesia: “uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Uma ilha é
uma porção de terra cercada por todos os lados de água. Na realidade, esta
definição é incorreta, visto que essa extensão de terra é uma porção emersa de
uma montanha submersa. Se fosse mesmo cercada por todos os lados, teria água
acima e abaixo da extensão de terra, o que não é verdade. Seja como for, a
definição apresentada de poesia enfatiza a importância da palavra: qualquer uma
pode ser dotada de poeticidade.
A segunda interrogação destina-se a
saber o que é um poeta. Este é definido como um homem comum, que trabalha e tem
necessidades (fome) como qualquer outro homem. Por outro lado, o poeta é um ser
que vive do seu suor, do seu trabalho esforçado, e que precisa de se alimentar
como qualquer outra pessoa. Ora, estas aproximações roubam um pouco o
romantismo associado ao ofício de poeta, que necessita, como qualquer outro
indivíduo, de possuir rendimentos para (sobre)viver.
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Túmulo de Camões
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
Resumo do Canto XVIII da Ilíada
Aquiles pressente a morte de Pátroclo mesmo antes da chegada do mensageiro de Menelau. Ao tomar conhecimento de que os seus receios eram verdadeiros, Aquiles fica desesperado: chora, puxa os cabelos, bate com os punhos no chão, cobre o rosto de terra e grita, enraivecido, de tal maneira que Tétis o escuta e vem com as suas irmãs ninfas aquáticas do oceano ver o que tanto perturba o filho. Aquiles relata-lhe a desgraça que o atingiu e afirmará que se irá vingar de Heitor, não obstante o facto de ter consciência de que, ao fazê-lo, ao optar pela vida de guerreiro, estará a sentenciar a sua morte. Tétis lamenta que o filho tenha de morrer logo depois de Heitor e diz-lhe que não combata até ela voltar. A deusa do oceano pedirá a Hefesto que lhe faça uma nova armadura, já que a sua é usada agora pelo comandante dos Troianos.
Enquanto isso, as tropas de Troia
continuam a querer apossar-se do corpo de Pátroclo, mas Íris, a mando de Hera,
diz a Aquiles que ele deve aparecer no campo de batalha, visto que só a sua
presença atemorizará os inimigos e fá-los-á desistir do corpo de Pátroclo.
Então, Aquiles sai da sua tenda e solta um grito tão forte que, de facto, causa
a fuga dos Troianos. O corpo de Pátroclo é trazido para o acampamento aqueu e
os eus companheiros choram-no, enquanto Aquiles jura que o seu amigo não será
sepultado até que Heitor caia às suas mãos, embora ordene que as suas feridas
sejam limpas para o preparar para o enterro.
No acampamento troiano, Podidama,
temendo as consequências do retorno de Aquiles, aconselha que as tropas
regressam à cidade nessa noite, em vez de permanecerem acampados na planície.
Todavia, Heitor considera esse gesto num ato cobarde, responde, orgulhosamente,
que nunca fugirá de Aquiles e insiste em repetir o ataque do dia anterior. O
seu plano é acolhido favoravelmente pelos seus companheiros, destituídos do seu
juízo por Atenas.
Enquanto isso, Tétis dirige-se à morada
de Hefesto e pede-lhe que faça uma nova armadura para Aquiles. Grato por ela o
ter auxiliado no passado, o deus do fogo forja uma armadura, um capacete,
grevas e um escudo extraordinários com imagens de constelações, pastagens,
crianças dançando, cidades humanas em relevo, paz e guerra, vida e morte.
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Análise do Canto XVII da Ilíada
O Canto XVI é dominado pela ação de duas personagens inimigas: Heitor e Pátroclo. Num plano secundário, situa-se Aquiles, cujo orgulho ferido o continua a impedir de regressar à batalha e a agir de forma nada humana e patriótica, pois não revela, mais uma vez, qualquer preocupação com o destino dos seus compatriotas e, em última análise, da sua pátria. Já a atitude de Pátroclo é absolutamente diversa: ele chora ao constatar a situação dramática e acusa Aquiles de ser frio e insensível, acusando-o de não ser filho de deuses e humanos, mas do oceano e das rochas, forças que não possuem sentimentos. Neste contexto, Homero cria um momento de ironia trágica relativo ao destino de Pátroclo: Aquiles reza pelo seu sucesso na batalha contra os Troianos e pelo seu regresso são e salvo, mas o poeta lembra ao leitor/ouvinte que o segundo termo da oração não se concretizará. Este passo recorda, de alguma forma, o poema “O menino de sua mãe”, da autoria de Fernando Pessoa, mas especificamente o momento em que a mãe e a criada rezam, lá longe, em casa, pela saúde e bem-estar do jovem, quando, na realidade, já está morto.
Relativamente à figura de Heitor, o
seu tratamento nesta fase da Ilíada parece diferente dos cantos
iniciais. De facto, até aqui ele era o guerreiro mais valente e corajoso do
exército troiano, o líder incontestado, heroico e exemplar, que chega a
censurar fortemente o próprio irmão por se recusar a combater. Porém, chegados
a este ponto, somos confrontados com um Heitor que foge da batalha após a
entrada em combate de Pátroclo abandonando as tropas que comanda, certamente
convencido de que se tratava de Aquiles. O seu companheiro Glauco envergonha-o
aquando da primeira fuga, tarefa que cabe ao próprio tio quando a segunda tem
lugar, embora neste caso saibamos que foi Zeus quem o tornou cobarde
momentaneamente.
O desejo de proteger o corpo de
Sarpédon fá-lo retornar à batalha e enfrentar Pátroclo, mas, até pelo que foi
dito, o percurso dos dois é marcado por um contraste óbvio: à medida que
Pátroclo se glorifica, Heitor vê a sua glória pessoal de crescer. Além dos dois
recuos durante a batalha já descritos, a morte do inimigo às suas mãos nada tem
de heroico ou honroso, visto que Apolo retirou previamente a armadura e as
armas do guerreiro grego, permitindo que um jovem soldado troiano o apunhalasse
pelas costas e só então Heitor entra em cena para dar o golpe final. Em suma,
os deuses fizeram a parte essencial do trabalho de conduzir à morte de
Pátroclo, não Heitor. Neste contexto, o amigo de Aquiles morre em glória, pois,
antes de ser liquidado da forma que conhecemos (foram precisas três figuras
para tal, incluindo um deus, e parte dos ataques foi desferida cobardemente,
pelas costas), elimina vários inimigos e retira-lhes a armadura, algo que, como
já vimos em cantos anteriores, era muito importante na época.
Uma última nota para a relação entre
os deuses e o destino. Tendo em conta os eventos narrados neste canto, é lícito
concluir que o destino não é imutável; pelo contrário, ele pode ser contrariado
e mudado, visto que Zeus, na iminência da morte do seu filho Sarpédon,
considera abrir uma exceção e alterar o destino, poupando a sua vida. No
entanto, nem o próprio pai dos deuses se pode dar a esse luxo sem que existam
consequências. Como Hera o adverte, se Zeus salvar Sarpédon, deixará de ser
respeitado pelos restantes deuses e serão levados a concluir que poderão fazer
o mesmo, o que acarretará problemas imprevisíveis.
Resumo do Canto XVII da Ilíada
Após a sua morte, tem início uma luta feroz em torno do corpo de Pátroclo, com os deuses metendo a colher, como é costume. Um dos que lutam pela armadura é Euforbo, o soldado que atingiu Pátroclo inicialmente pelas costas, mas é morto por Menelau. Heitor, estimulado por Apolo, junta-se à luta, mas acaba por ser afastado por Menelau e Ájax, que veio em seu auxílio, antes que possa remover ou profanar o corpo de Pátroclo. No entanto, não conseguem impedir que o líder dos Troianos se apodere da armadura de Aquiles, que este emprestara ao amigo, que aquele veste de imediato. Glauco censura-o por ter deixado o corpo do inimigo para trás e acrescenta que o poderiam usar como moeda de troca pelo corpo de Sarpédon. Heitor regressa à disputa e promete metade dos despojos da guerra a qualquer soldado que se apossar do cadáver de Pátroclo. Zeus reprova o ato de Heitor relativamente ao corpo do inimigo, contudo, consciente da sua morte iminente, dá-lhe grande poder.
Menelau e Ájax reúnem as suas tropas
e forçam os Troianos a recuar para as muralhas de Troia, incluindo o próprio
Heitor. Eneias, revigorado por Apolo, reorganiza os soldados em fuga e
convence-os a regressar à batalha, mas continuam a não conseguir capturar o
corpo de Pátroclo. O cocheiro de Aquiles, Automedonte, envolve-se na refrega, e
Heitor tenta matá-lo para tentar roubar a carruagem, mas o cocheiro desvia-se
da lança e derruba um soldado troiano no processo. Ele retira ao morto a sua
armadura, crendo que, ao fazer isso, aliviará a dor do espírito de Pátroclo,
não obstante os dois guerreiros caídos em desgraça não serem comparáveis no que
ao seu valor diz respeito.
Atenas, disfarçada de Fénix, dá nova
força a Menelau, enquanto Apolo, igualmente disfarçado, neste caso de troiano,
faz algo semelhante com Heitor. De seguida, Menelau envia Antíloco até Aquiles,
informando-o da morte do amigo e pedindo-lhe ajuda. Zeus continua a interferir
no decurso da guerra em favor de Troia, mas dá tempo aos Gregos para retirarem
o corpo de Pátroclo do campo de batalha.
Análise do Canto XVI da Ilíada
O Canto XVI é dominado pela ação de duas personagens inimigas: Heitor e Pátroclo. Num plano secundário, situa-se Aquiles, cujo orgulho ferido o continua a impedir de regressar à batalha e a agir de forma nada humana e patriótica, pois não revela, mais uma vez, qualquer preocupação com o destino dos seus compatriotas e, em última análise, da sua pátria. Já a atitude de Pátroclo é absolutamente diversa: ele chora ao constatar a situação dramática e acusa Aquiles de ser frio e insensível, acusando-o de não ser filho de deuses e humanos, mas do oceano e das rochas, forças que não possuem sentimentos. Neste contexto, Homero cria um momento de ironia trágica relativo ao destino de Pátroclo: Aquiles reza pelo seu sucesso na batalha contra os Troianos e pelo seu regresso são e salvo, mas o poeta lembra ao leitor/ouvinte que o segundo termo da oração não se concretizará. Este passo recorda, de alguma forma, o poema “O menino de sua mãe”, da autoria de Fernando Pessoa, mas especificamente o momento em que a mãe e a criada rezam, lá longe, em casa, pela saúde e bem-estar do jovem, quando, na realidade, já está morto.
Relativamente à figura de Heitor, o
seu tratamento nesta fase da Ilíada parece diferente dos cantos
iniciais. De facto, até aqui ele era o guerreiro mais valente e corajoso do
exército troiano, o líder incontestado, heroico e exemplar, que chega a
censurar fortemente o próprio irmão por se recusar a combater. Porém, chegados
a este ponto, somos confrontados com um Heitor que foge da batalha após a
entrada em combate de Pátroclo abandonando as tropas que comanda, certamente
convencido de que se tratava de Aquiles. O seu companheiro Glauco envergonha-o
aquando da primeira fuga, tarefa que cabe ao próprio tio quando a segunda tem
lugar, embora neste caso saibamos que foi Zeus quem o tornou cobarde
momentaneamente.
O desejo de proteger o corpo de
Sarpédon fá-lo retornar à batalha e enfrentar Pátroclo, mas, até pelo que foi
dito, o percurso dos dois é marcado por um contraste óbvio: à medida que
Pátroclo se glorifica, Heitor vê a sua glória pessoal de crescer. Além dos dois
recuos durante a batalha já descritos, a morte do inimigo às suas mãos nada tem
de heroico ou honroso, visto que Apolo retirou previamente a armadura e as
armas do guerreiro grego, permitindo que um jovem soldado troiano o apunhalasse
pelas costas e só então Heitor entra em cena para dar o golpe final. Em suma,
os deuses fizeram a parte essencial do trabalho de conduzir à morte de
Pátroclo, não Heitor. Neste contexto, o amigo de Aquiles morre em glória, pois,
antes de ser liquidado da forma que conhecemos (foram precisas três figuras
para tal, incluindo um deus, e parte dos ataques foi desferida cobardemente,
pelas costas), elimina vários inimigos e retira-lhes a armadura, algo que, como
já vimos em cantos anteriores, era muito importante na época.
Uma última nota para a relação entre
os deuses e o destino. Tendo em conta os eventos narrados neste canto, é lícito
concluir que o destino não é imutável; pelo contrário, ele pode ser contrariado
e mudado, visto que Zeus, na iminência da morte do seu filho Sarpédon,
considera abrir uma exceção e alterar o destino, poupando a sua vida. No
entanto, nem o próprio pai dos deuses se pode dar a esse luxo sem que existam
consequências. Como Hera o adverte, se Zeus salvar Sarpédon, deixará de ser
respeitado pelos restantes deuses e serão levados a concluir que poderão fazer
o mesmo, o que acarretará problemas imprevisíveis.