Este senhor comemora hoje o seu sexagésimo sexto aniversário.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
domingo, 6 de janeiro de 2013
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Regresso às aulas: 'Precisamos de merda'
"Precisamos de Merda", João de Vasconcelos e Sá Fonte: Ephemerajpp |
Texto lido durante um jantar, por ocasião do Carnaval de 1934, na presença do ministro da Agricultura de então, um sujeito de nome Leovigildo Queimado Franco de Sousa. O autor foi o poeta João de Vasconcelos e Sá, avô do fadista António Pinto Basto.
* * * * * * * * * * * * * * *
Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Agricultura
Exposição
Porque julgamos digna de registo,
a nossa exposição, Sr. Ministro,
erguemos até vós humildemente,
uma toada uníssona e plangente,
em que evitámos o menor deslize,
e em que damos razão da nossa crise.
Exposição
Porque julgamos digna de registo,
a nossa exposição, Sr. Ministro,
erguemos até vós humildemente,
uma toada uníssona e plangente,
em que evitámos o menor deslize,
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor, em vão esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas falta-nos a matéria orgânica precisa,
na terra que é delgada e sempre fraca.
A matéria em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
Se os membros desse ilustre Ministério
querem tomar o nosso caso bem a sério;
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade,
e mijem-nos também, por caridade…
O Senhor Oliveira Salazar,
quando tiver vontade de cagar,
venha até nós, solicito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo, com sossego,
ajeite o cu bem apontado ao rego,
e como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho.
A nação confiou-lhe os seus destinos…
Então comprima, aperte os intestinos.
E ai… se lhe escapar um traque não se importe…
quem sabe se o cheirá-lo não dará sorte…
Quantos porão as suas esperanças
num traque do Ministro das Finanças…
E também, quem vive aflito e sem recursos,
já não distingue os traques, dos discursos…
Não precisa falar, tenha a certeza,
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos nelas.
Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisamos de outra coisa,
adubos de potassa, cal, azote;
tragam-nos merda pura do bispote,
e de todos os penicos portugueses,
durante pelo menos uns seis meses.
Sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente eles nos despejem trampa.
Ah terras alentejanas, terras nuas,
desesperos de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sempre a paixão nostálgica da merda…
Precisamos de merda senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
Ah, merda grossa e fina , merda boa,
das inúteis retretes de Lisboa.
Como é triste saber que todos vós
andais cagando, sem pensar em nós…
Se querem fomentar a agricultura,
mandem vir muita gente com soltura…
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala…
Ah, venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade,
formas normais ou formas esquisitas.
E desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia, à grande bosta,
tudo o que vier a gente gosta.
Precisamos de merda, Senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas falta-nos a matéria orgânica precisa,
na terra que é delgada e sempre fraca.
A matéria em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
Se os membros desse ilustre Ministério
querem tomar o nosso caso bem a sério;
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade,
e mijem-nos também, por caridade…
O Senhor Oliveira Salazar,
quando tiver vontade de cagar,
venha até nós, solicito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo, com sossego,
ajeite o cu bem apontado ao rego,
e como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho.
A nação confiou-lhe os seus destinos…
Então comprima, aperte os intestinos.
E ai… se lhe escapar um traque não se importe…
quem sabe se o cheirá-lo não dará sorte…
Quantos porão as suas esperanças
num traque do Ministro das Finanças…
E também, quem vive aflito e sem recursos,
já não distingue os traques, dos discursos…
Não precisa falar, tenha a certeza,
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos nelas.
Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisamos de outra coisa,
adubos de potassa, cal, azote;
tragam-nos merda pura do bispote,
e de todos os penicos portugueses,
durante pelo menos uns seis meses.
Sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente eles nos despejem trampa.
Ah terras alentejanas, terras nuas,
desesperos de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sempre a paixão nostálgica da merda…
Precisamos de merda senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
Ah, merda grossa e fina , merda boa,
das inúteis retretes de Lisboa.
Como é triste saber que todos vós
andais cagando, sem pensar em nós…
Se querem fomentar a agricultura,
mandem vir muita gente com soltura…
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala…
Ah, venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade,
formas normais ou formas esquisitas.
E desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia, à grande bosta,
tudo o que vier a gente gosta.
Precisamos de merda, Senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
'O fantástico sr. Madureira'
O fantástico sr. MadureiraPublicado ontem
A minha figura do ano, do que ontem acabou e do que hoje começa, é o porteiro da escola dos meus filhos. A tarefa desempenhada pelo fantástico sr. Madureira encerra em si o máximo de eficiência que deve reclamar-se a todos os funcionários e trabalhadores, mas é, simultaneamente, um extraordinário exemplo do mínimo de coerência usado pelo Estado para gerir um dos mais decisivos pilares de um país: o sistema educativo.
Entre turmas do ensino básico e do jardim de infância, a escola do Meiral, em Gaia, tem cerca de 300 alunos. O sr. Madureira sabe, sem exceção, o nome de todos os estudantes e respetivos encarregados de educação. É fácil imaginar a confusão que se instala junto ao portão da escola quando a campainha toca, às 17.30 horas. Pequenos e graúdos aparecem aos magotes, mas nenhum sai da escola sem que o porteiro tenha avistado, do lado de fora, quem os vem buscar. É um trabalho quase insano, mas desempenhado com absoluta eficácia pelo sr. Madureira. Os pais sabem quanto vale este alívio.
O piso do estabelecimento de ensino está pejado de desenhos de jogos tradicionais, todos feitos pelo sr. Madureira, para gosto e gozo das crianças. Este exemplo de dedicação estende-se a todas as tarefas atribuídas ao porteiro.
E aí vem o absurdo: são os pais que têm de quotizar-se para garantir que a escola continua a ter porteiro. Isto, ao mesmo tempo que a Câmara de Vila Nova de Gaia garante livros grátis a todos os alunos, independentemente dos rendimentos auferidos pelos pais. É uma estupidez cuja explicação resulta, pois claro, do caos. Mesmo que quisesse, a Câmara não podia pagar o vencimento do porteiro, porque essa é uma competência do Ministério da Educação. Ora, o Ministério da Educação, apertado nos gastos como está, terá a vida do sr. Madureira (deste e de muitos outros que seguramente estarão espalhados pelas escolas do país) numa das mais baixas escalas de problemas a resolver nos próximos 10 ou 20 anos.
É um vício que me acompanha: para cada reforma anunciada pelo Governo procuro sempre encontrar uma pessoa que nela se encaixe. O resultado raras vezes é animador. A esquizofrenia que rodeia este caso é particularmente reveladora: o Estado que decide à distância será sempre incapaz de resolver problemas como o do sr. Madureira. Que são apenas pequenos na aparência, porque na essência são, afinal, os problemas que verdadeiramente mexem com as nossas vidas, com o nosso quotidiano.
É por isso que o fantástico sr. Madureira, cujas palavras são esmagadas pelo silêncio que as cerca, como diria o Manuel António Pina, é a minha figura do ano. Do que passou, do que hoje começa e dos que aí vêm. Porque, temo, o silêncio há de continuar a ser esmagador.
Bom ano. |
'Obrigado, professores!'
"A International Association for the Evaluation of Educational Achievement realiza, cada quatro anos, dois estudos conceituados internacionalmente: o TIMMS (Trends in International Mathematics and Science Study) e o PIRLS (Progress in International ReadingLiteracy Study). Portugal participou na edição de ambos de 1995, tendo ficado nos últimos lugares do ranking. Ausente dos estudos de 1999, 2003 e 2007, voltou a ser cotado em 2011. Entre 50 países ficou no 15.º lugar a matemática e 19.º em ciências. Entre 45 países, foi 19.º no PIRLS. Em valor absoluto, os resultados são positivamente relevantes. Mas em valor relativo ainda são mais: de 1995 para 2011 foi Portugal o país que mais progrediu em matemática e o segundo que mais avançou no ensino das ciências; se reduzirmos o universo aos países da União Europeia, estamos na 12.ª posição em ciências, sétima em matemática e oitava em leitura; se ponderarmos estes resultados face ao estudo económico e financeiro das famílias e dos estados com que nos comparamos, o seu significado aumenta exponencialmente e deita por terra o discurso dos que odeiam os professores. Há bem pouco, Gaspar, arauto da econometria e vuvuzela dos indicadores internacionais, rotulava de ineficiente o sistema de ensino. O seu amanuense Crato, outrora impante de PIMMS e PIRLS na mão, ficou mudo agora. Relativizo os estudos e discuto os critérios e os objectivos destes estudos. Não os valorizo como eles os valorizam. Mas é por isso que denuncio o silêncio oficial. Porque estes resultados, valham o que valerem, são, inequivocamente, fruto do trabalho dos professores portugueses. Apesar de tudo, quantas vezes apesar das políticas. Obrigado, professores!"
Santana Castilho, in Público (02/01/2013)
A ação de Nuno Crato em 2012: um balanço
"Quem revisite o anterior discurso do ora ministro da Educação facilmente acreditaria que, uma vez no posto, dele só se poderiam esperar políticas que conduzissem ao crescente interesse dos professores pelo ensino. Mas o engano foi colossal. Tão-só seguiu e ampliou à dimensão do desumano a estratégia de proletarização dos docentes: desinvestiu na sua formação; reduziu-lhes os salários e aumentou-lhes os horários de trabalho; manteve exigências burocráticas que roçam o sadismo; fixou-lhes vários locais de trabalho, obrigando-os a deslocarem-se de uns para outros em períodos não remunerados e a expensas próprias; desafiou os tribunais não cumprindo as sentenças favoráveis aos despedidos; com um volume de despedimentos nunca visto em alguma classe profissional em Portugal (30 mil, segundo os critérios mais generosos), criou um exército de mão-de-obra barata, na reserva, miserável, chantageado e sem horizontes de futuro. Poderá o país aceitar este desperdício de gente formada à custa de muitos milhões? A fome das crianças já não está encapotada. Diminuiu drasticamente o apoio aos alunos deficientes e aos grupos social e culturalmente mais debilitados. Ampliou-se e prossegue o hediondo agrupamento de escolas, contra tudo e contra todos, sobretudo contra os alunos. Quando o resultado deste crime político for visível, daqui a anos, acontecerá aos protagonistas responsáveis o mesmo que aconteceu aos que trouxeram o país às catacumbas em que se encontra: nada."
Santana Castilho, in Público (02/01/2013)
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Bom 2013!
Via Sorumbático |
Assim se percebe o porquê dos números brutais de desempregados em Portugal.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Figuras de 2012: Obama
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Mensagem de Passos Coelho no «facebook»
Amigos,
Este não foi o Natal que merecíamos. Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram. Muitos não conseguiram ter a família toda à mesma mesa. E muitos não puderam dar aos filhos um simples presente.
Já aqui estivemos antes. Já nos sentámos em mesas em que a comida esticava para chegar a todos, já demos aos nossos filhos presentes menores porque não tínhamos como dar outros. Mas a verdade é que para muitos, este foi apenas mais um dia num ano cheio de sacrifícios, e penso muitas vezes neles e no que estão a sofrer.
A eles, e a todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto já nos foi pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com pesar mas com o orgulho de quem sabe que os sacrifícios que fazemos hoje, as difíceis decisões que estamos a tomar, fazemo-lo para que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor.
A Laura e eu desejamos a todos umas Festas Felizes.
Um abraço,
Pedro.
Este não foi o Natal que merecíamos. Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram. Muitos não conseguiram ter a família toda à mesma mesa. E muitos não puderam dar aos filhos um simples presente.
Já aqui estivemos antes. Já nos sentámos em mesas em que a comida esticava para chegar a todos, já demos aos nossos filhos presentes menores porque não tínhamos como dar outros. Mas a verdade é que para muitos, este foi apenas mais um dia num ano cheio de sacrifícios, e penso muitas vezes neles e no que estão a sofrer.
A eles, e a todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto já nos foi pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com pesar mas com o orgulho de quem sabe que os sacrifícios que fazemos hoje, as difíceis decisões que estamos a tomar, fazemo-lo para que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor.
A Laura e eu desejamos a todos umas Festas Felizes.
Um abraço,
Pedro.
Oferecem-se alvíssaras a quem deslindar (muito difícil...) os diversos erros da prosa.
Figuras de 2012: LeBronJames
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Figuras de 2012: Messi
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