& “Não sei quantas almas tenho”
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Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
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Selecione
a opção que completa de modo correta cada afirmação / pergunta.
1.
O verso 1 traduz
a)
a dúvida do sujeito lírico acerca da sua alma.
b)
a estranheza do sujeito poético relativamente ao seu número de almas.
c)
a dúvida e a indefinição do sujeito lírico relativamente à sua identidade.
2.
O verso 2 remete para
a)
a constante fragmentação e a divisão do sujeito poético.
b)
a mudança que se opera momentaneamente no sujeito poético.
c) a criação dos heterónimos, em consequência da
tendência do sujeito poético para a despersonalização.
3. O verso 3 é uma “consequência” dos dois
anteriores. A alternância presente / passado e o uso do advérbio
“continuamente”
a) expressam a oposição entre a vida passada e
presente do sujeito poético.
b) exprimem a continuação do estado de espírito do
passado no presente, com projeção para o futuro.
c) estão ao serviço da expressão da sensação de
estranheza do sujeito poético relativamente a si mesmo, consequência da
constante mudança.
4.
O verso 4 remete para
a) a tendência para a autoanálise, para a reflexão
por parte do sujeito poético e para a incapacidade de se encontrar.
b) a incapacidade de o sujeito poético definir um
rumo para a sua vida.
c) as consequências do facto de se considerar um
estranho no próprio corpo.
5.
O recurso ao vocábulo «Nunca» (v. 4)
significa que
a) , apesar da autoanálise, o sujeito poético não
é capaz de se encontrar e pacificar.
b) , apesar da autoanálise, o sujeito poético não
consegue atingir um momento que seja de conhecimento integral.
c) é um estratagema para despistar a angústia que
o sujeito poético sente pela tendência para a despersonalização.
6.
O verso 5 significa que
a) o sujeito poético sente não ter vida, mas só
alma, dado que a sua vida é (foi) toda racionalizada («sente na alma, mas não no
corpo»).
b) a multiplicidade de «eus» conduz o sujeito
poético à ausência de ser, limitando a sua existência.
c) o sujeito poético deseja a morte,
transformar-se em alma / espírito, pois só assim pode alcançar a calma que a
instabilidade da vida lhe nega.
7.
«Quem tem alma não tem calma» (v. 6) quer dizer que
a) quem apenas é capaz de sentir e não racionaliza
antes de agir vive em permanente instabilidade.
b) o espírito do sujeito poético é incapaz de
encontrar a paz e o sossego em qualquer circunstância.
c) a instabilidade domina a vida do sujeito
poético, dado que, porque é constituído apenas por alma, vive na ânsia de se
encontrar, daí não ter calma, sossego.
8.
Os dois versos que encerram a primeira estrofe assentam
a) no pressuposto de que os sentido enganam e
limitam a perceção do ser humano acerca do significado da vida.
b) na antítese viver / pensar, isto é, entre os
que vivem a vida sem a pensar e os que a pensam.
c) na ideia de que a vida deve ser pensada e só
posteriormente vivida de acordo com os ditames da razão.
9.
Os versos 9 e 10 confirmam
a) a despersonalização do sujeito poético, que se
transforma noutras figuras.
b) a divisão do sujeito poético entre ver e ser,
isto é, sentir e pensar.
c) que Pessoa era, de facto, um lunático.
10.
Os versos 11 e 12 acentuam o traço do sujeito poético identificado na pergunta
anterior, pois
a) “eles” constituem um sinal das suas “visões” e
loucura.
b) “eles” sonham e desejam independentemente de si
mesmo.
c) “eles” constituem o sinal da sua divisão entre
o sentir e o pensar.
11.
As metáforas dos versos 13 e 14 sugerem o papel do sujeito poético:
a) observador de paisagens.
b) observador da realidade circundante, ao jeito
de Cesário Verde.
c) espetador de si mesmo.
12.
A tripla adjetivação do verso 15 sintetiza os traços da personalidade do
sujeito poético:
a) múltiplo e fragmentado (“_____”), volúvel e
inconstante, causa e agente de outras personalidades (“_____”), e, por isso ou
apesar disso, solitário (“_____”).
b) múltiplo e fragmentado (“_____”), causador da
sua própria instabilidade (“_____”) e agente da solidão das diferentes
personalidades (“_____”).
c) com diversas atitudes face à vida (“_____”), em
permanente mobilidade e errância (“_____”) e, por isso, solitário (“_____”).
13.
O verso 16 traduz
a) a incapacidade de o sujeito poético sentir.
b) a constante inadaptação do sujeito poético.
c) nenhuma das hipóteses anteriores-
14.
O adjetivo «alheio» (v. 17) exprime
a) o sentimento de estranheza e de
autodesconhecimento face a si próprio.
b) o modo distraído como o sujeito poético lê.
c) a atitude intelectual do sujeito poético.
15.
A metáfora da vida como um livro (vv. 17-18) sugere
a) a despersonalização do sujeito poético, que se
distancia para se ver.
b) a cultura livresca do sujeito poético, que se
apresenta como um escritor da própria vida.
c) o ensimesmamento do sujeito poético, perdido na
leitura metafórica do seu percurso de vida.
16.
Na última estrofe, o sujeito poético apresenta-se como
a) um ser material e corpóreo em permanente mutação.
b) um ser semelhante aos demais que procura a
unidade na diversidade.
c) um livro com várias páginas escritas pelos
diversos «eus» do «eu».
17.
Dada a sua despersonalização e tendência para a mudança contínua, o eu lírico
a) é incapaz de prever o futuro e o passado.
b) esquece o passado e é incapaz de prever o
futuro.
c) sente a angústia do presente pelas diversas
páginas do livro que é a sua vida.
18.
O sujeito poético não sabe verdadeiramente quem é ou quem foi que
a) causou a permanente volubilidade que
caracteriza a sua existência.
b) o conduziu àquele estado de confusão e à
sensação de estranheza face a si mesmo.
c) sentiu o que supõe que sente, pois vê-se como
um palco no qual atuam diferentes atores, os seus outros «eus».
19.
O verbo final traduz a ideia de que
a) o Deus do catolicismo é, afinal, o responsável
pelo drama vivido pelo sujeito poético, ideia que contraria a noção de que é
incapaz de sentir.
b) a harmonia que o sujeito poético tanto procura,
em razão da sua fragmentação, reside numa figura transcendente, omnisciente e
omnipresente.
c) o eu lírico se sente impotente para encontrar
uma resposta satisfatória para os seu drama através da inteligência racional.
20.
Transcreva os versos que «justificam» as ideias seguintes:
a) Fragmentação do eu:
«_____________________________________________________
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b) A estranheza e o desconhecimento face a si
próprio: ____________________________
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c) Despersonalização:
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___________________________________________________________________________
d) Inadaptação constante:
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