segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Trabalho - Leitura de imagem
1. Ir ao sítio www.artgalleryabc.com/next90.html.
.
2. Selecionar um dos 100 quadros aí disponibilizados.
.
3. Escrever um texto de apreciação crítica, de acordo com a seguinte estrutura:
- Introdução:
. apresentação da imagem (imagem, autor - dados sobre o autor, data do
quadro, nome, história do quadro - se houver -, curiosidades (se houver),
local onde está exposto, etc.).
- Desenvolvimento:
. descrição do quadro;
. apreciação crítica (simbolismo / significado dos elementos do quadro,
cores, texturas, explicação do título, etc.).
- Conclusão:
. síntese da apreciação;
. apelo / conselho à apreciação do quadro por parte do leitor (2 / 3
razões).
.
4. Indicar a bibliografia consultado, incluindo sítios da Internet.
.
5. Data de entrega: até às mini-férias de Carnaval.
.
6. Extensão - limite máximo: 500 palavras.
.
7. Apresentação oral do trabalho realizado: a partir das mini-férias de Carnaval (incluir esquema da presentação - em suporte papel, power point, vídeo, etc.).
.
P.S. O quadro / a pintura selecionado(a) para análise pode ser outro(a) que não um(a) do(a)s constantes no sítio indicado.
.
2. Selecionar um dos 100 quadros aí disponibilizados.
.
3. Escrever um texto de apreciação crítica, de acordo com a seguinte estrutura:
- Introdução:
. apresentação da imagem (imagem, autor - dados sobre o autor, data do
quadro, nome, história do quadro - se houver -, curiosidades (se houver),
local onde está exposto, etc.).
- Desenvolvimento:
. descrição do quadro;
. apreciação crítica (simbolismo / significado dos elementos do quadro,
cores, texturas, explicação do título, etc.).
- Conclusão:
. síntese da apreciação;
. apelo / conselho à apreciação do quadro por parte do leitor (2 / 3
razões).
.
4. Indicar a bibliografia consultado, incluindo sítios da Internet.
.
5. Data de entrega: até às mini-férias de Carnaval.
.
6. Extensão - limite máximo: 500 palavras.
.
7. Apresentação oral do trabalho realizado: a partir das mini-férias de Carnaval (incluir esquema da presentação - em suporte papel, power point, vídeo, etc.).
.
P.S. O quadro / a pintura selecionado(a) para análise pode ser outro(a) que não um(a) do(a)s constantes no sítio indicado.
domingo, 20 de janeiro de 2013
Génese de 'Os Lusíadas'
Publicada em 1572, numa altura em que o império português
mostrava já sinais claros de crise e ruína próxima, a obra canta a Glória do
povo português (“o peito ilustre
lusitano”), com incidência no seu período de maior fulgor – a época dos
Descobrimentos, representada pela viagem de Vasco da Gama de 1498 – descoberta
do caminho marítimo para a Índia.
Sendo a epopeia considerada a expressão mais alta da
literatura, a necessidade do surgimento de uma epopeia portuguesa que
glorificasse a gesta heroica do povo lusitano vinha a ser sentida e reclamada
desde há muito. A partir do século XV, tinham começado a surgir alguns poemas
de conteúdo histórico, mas sem relevância literária. No século XVI, autores
como Garcia de Resende, no prólogo do Cancioneiro
Geral, João de Barros, Diogo de Teive, Angelo Poliziano e, sobretudo,
António Ferreira. Começaram a alertar para a necessidade de se cultivar o
género épico, estimulando outros poetas à criação da epopeia portuguesa.
E Portugal tinha, de facto, todas as condições para a
criação de um grande poema épico. Com efeito, as andanças pelo mundo, as
descobertas e o heroísmo dos navegantes lusos eram comparáveis às viagens
marítimas descritas na Odisseia e na Eneida. Por outro lado, a empresa dos
Descobrimentos, para além do interesse nacional, revestia-se de carácter
universal. Além disso, o orgulho nacional estimulava a celebração dos feitos
portugueses e à corte interessava a apresentação da política de expansão
ultramarina como forma de dilatação da fé cristã, na tentativa de contrariar a
ideia de que a verdadeira motivação dessa política fosse meramente comercial.
Em suma, todos tinham consciência clara do caráter épico
da história nacional e de que a empresa requeria alguém de génio invulgar. E
esse génio será Camões, que responderá ao apelo e realizará a empresa: dotar o
mundo moderno com uma réplica dos poemas épicos antigos; conferir aos feitos
dos portugueses uma categoria nacional; enobrecer a língua com a realização
nela do género literário considerado máximo. O seu génio fá-lo-á adotando com
originalidade a estrutura clássica da epopeia a narração da viagem de Vasco da
Gama, à volta da qual se inseriu a História de Portugal. Note-se que alguns dos
feitos extraordinários dos portugueses ocorreram durante a juventude do
escritor, o qual também andou pela Índia (a partir de 1553) e deambulou pelo
Oriente durante muitos anos.
Observemos agora o contexto
de produção. A obra demorou, aproximadamente, vinte anos a ser elaborada.
Esse espaço de tempo coincidiu com o momento posterior ao auge da expansão, a
saber:
. após a fase das descobertas
da Índia, do Extremo Oriente e da conquista de Malaca;
. após
a fase da consolidação do Império, que ocorre no tempo dos dois primeiros
vice-reis da Índia – D. Francisco de Almeida (1505-1509) e Afonso de
Albuquerque (1509-1515).
Em meados do século XVI, ocorre uma série de
acontecimentos nefastos para Portugal:
. o
abandono de algumas praças do Norte de África que exigiam um enorme esforço
financeiro (Sanfim e Azamor em 1541; Arzila em 1549; Alcácer Quibir em 1550) –
conservam-se apenas Ceuta, Tânger e Mazagão;
. o
ponto anterior enfatiza as dificuldades sentidas pelo reino português para
manter um império vasto e disseminado, possuindo o reino um diminuto número de
habitantes;
. a
morte, em 1554, do princípio D. João, herdeiro da coroa e filho único
sobrevivente dos dez que D. João III tivera;
. o
nascimento de D. Sebastião, em 1554, em quem são concentradas todas as
esperanças da sobrevivência da dinastia;
. a
morte, em 1555, do infante D. Luís, irmão do rei, figura culta e estimada que
era vista como solução para a sucessão ao trono, morte essa que agravou o
sentimento de insegurança nacional quanto ao futuro da independência nacional;
. a
morte do rei D. João III em 1557, que deu origem à regência da sua viúva, dada
a tenra idade de D. Sebastião;
. a
sobreposição da exploração nacional e dos interesses económicos ao espírito de
serviço e de dedicação à pátria.
Jornalismo de treta
Assim se faz a História...
Repare-se nestas notícias, tal como figuram, neste preciso momento, nos media. Apesar dos pormenores que 'enriquecem' a primeira versão (informação da Autoridade Nacional da Proteção Civil), o mais provável é que a correcta seja a de baixo - e, no entanto, é a outra que continua a ser divulgada.
(c) Sorumbático
Epopeias
Época
|
Data
|
Epopeia
|
Autor
|
|
Antiguidade
|
Civilização
grega
|
VIII
a.C.
|
Odisseia
|
Homero
(?)
|
VII
(?) a.C.
|
Ilíada
|
Homero
(?)
|
||
Civilização
romana
|
I
a.C.
|
Eneida
|
Virgílio
|
|
Idade
Média
|
XI
(?)
|
Cantar de Mio Cid
|
(?)
|
|
XI
(?)
|
Chanson de Roland
|
(?)
|
||
XIV
|
Divina Comédia
|
Dante
Alighieri
|
||
Renascimento
|
XVI
|
Orlando Enamorado
|
Mateo
Boiardo
|
|
XVI
|
Orlando Furioso
|
Ludovico
Ariosto
|
||
XVI
|
Jerusalém Libertada
|
Torquato
Tasso
|
||
XVI
(1572)
|
Os Lusíadas
|
Luís
de Camões
|
||
XVI
|
The Faerie Queen
|
Edmund
Spenser
|
||
Pós-Renascimento
|
XVII
|
Paraíso Perdido
|
John
Milton
|
Definição de epopeia
- Definição: do grego epos, palavra que significava canto ou narrativa, o texto épico diz respeito à narração, em verso ou em prosa, em estilo elevado / grandioso, de feitos heróicos passados. Desde a Antiguidade, o texto épico recebe o nome de epopeia quando constitui uma narrativa, em forma de verso, que retrata as façanhas de um povo com interesse nacional e projeção universal.
- Interesse nacional: em Os Lusíadas, encontramos a sublimação dos heróis nacionais que culmina na deificação e imortalização ("Ilha dos Amores"), com o objetivo de incentivar a geração do seu tempo no sentido de restaurar uma velha grandeza decadente. Ao longo da obra, perpassam as características da alma nacional: a fidelidade (em Egas Moniz),o heroísmo guerreiro (em Nuno Álvares Pereira), o espírito de aventura (no Magriço), a tenacidade e a persistência (em Vasco da Gama e seus companheiros...).
- Projeção universal: ela encontra-se na revelação ao mundo da grandeza de um povo que "deu novos mundos ao mundo", ao ligar continentes, cristianizar partes do mundo, abrir novas vias comerciais, etc.
sábado, 19 de janeiro de 2013
Classicismo
O
Classicismo é uma estética que
estabelece um rigoroso sistema de regras próprias dos vários géneros
literários: o épico (representado entre nós pel' Os Lusíadas); o lírico (com as suas formas fixas, como o soneto e o
seu verso decassílabo, a canção, a écloga, a elegia, a epístola, o epigrama, a
ode, a sextilha, o epitalâmico e o ditirambo); dramático, representado pela
tragédia e pela comédia.
As
suas principais características são as seguintes:
. Exaltação do Homem
(antropocentrismo), em contraste com o teocentrismo medieval.
. A verdadeira Arte tem por
base a imitação, ou seja, deve haver a imitação da Natureza pela Arte, sendo a
paisagem sempre amena ("locus amoenus"), idealizada, convencional e
artificial, excluindo o insólito ou acidental, a fim de poder refletir o intemporal,
o eterno, o essencial.
. Predomínio da razão sobre
o sentimento, evitando-se os voos da imaginação e os caprichos da fantasia.
. Imitação dos autores gregos
e latinos, adotando temas, usando a mitologia, criando formas poéticas e
introduzindo géneros literários.
. Valorização da Arte como
expressão de cultura, estudo e bom gosto.
. Sujeição a regras rígidas
de conteúdo e forma.
. Justa proporção, equilíbrio
e comedimento, de tal forma que as personagens se comportassem de harmonia com
a sua condição social, se omitissem expressões e vocábulos grosseiros, não se
tratassem assuntos escabrosos, se proscrevessem cenas violentas e cruéis.
Humanismo
O
Humanismo parte do estudo da cultura
antiga e, com base nela, valoriza tudo o que é humano e exalta os valores do
Homem como centro do Universo (antropocentrismo). O Homem é a "medida de
todas as coisas", ou seja, passa a ser encarado como o pólo central, o
valor máximo. O Renascimento representou uma viragem decisiva em relação às
conceções medievais, que podemos sintetizar opondo a conceção antropocêntrica
(o Homem no centro das preocupações) à conceção teocêntrica da Idade Média (Deus
é o centro de universo).
Reagindo
ao período da Idade Média, os humanistas voltam-se para a Antiguidade clássica
greco-latina, centrando a sua atenção no Homem (antropocentrismo), em
substituição do teocentrismo tradicional.
De
facto, a ação dos humanistas, nome que designa os intelectuais deste período,
correspondeu a um desejo de abandono dos padrões medievais e à instauração de
uma mundividência nova.
O
homem medieval tinha uma visão pessimista da existência, encarando-a como uma
penosa passagem que encarava o encontro com Deus após a morte como a realização
única. Já o homem renascentista acredita em si mesmo e na sua realização
terrena, dado que se realiza na sua obra. Seguindo a máxima de Protágoras, os
humanistas defendiam que “o Homem é a medida de todas as coisa”.
Deste
modo, as qualidades mais valorizadas no ser humano deixam de ser apenas a
religiosidade, o heroísmo e a honra cavaleiresca, para passarem a ser a inteligência,
o saber e o mérito, veículos para a realização de obras para a posteridade.
Através delas, o artista liberta-se da “lei da morte”, tornando-se imortal. Em
simultâneo, imortaliza os seus mecenas, ou os heróis e os seus feitos da sua
pátria.
A
confiança nas capacidades humanas e a busca do saber e da cultura implicavam a
valorização da razão e da experiência. Ao espiritualismo medieval, o homem
renascentista prefere o racionalismo, à crença em verdades impostas, prefere a
certificação da verdade através da experimentação. Assim sendo, o saber resulta
do estudo conjugado com a experiência, configurando este dado as bases do
conhecimento científico.
Neste
contexto, os Descobrimentos portugueses desempenham um papel central no
Renascimento por causa de:
. descoberta de novas terras e povos
desconhecidos;
. descoberta de nova fauna e flora;
. inovações tecnológicas
exigidas pelas viagens marítimas (ex.: o astrolábio);
. conhecimento dos ventos
e das correntes marítimas;
. surgimento e adaptação
de embarcações;
. desenvolvimento da
cartografia;
. etc.
Fontes:
. Manual Plural 12;
. A. J. Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
Renascimento
O
Renascimento pode definir-se como a "adoção das formas artísticas
greco-latinas e a assimilação do espírito que as anima". O
Renascimento é, portanto, uma aceitação e não uma ressurreição das formas
greco-latinas, pois a ressurreição supõe a morte e as formas greco-latinas nunca
morreram.
Nos
finais do século XV e princípios do século XVI, a literatura portuguesa começou
a registar algumas ténues influências da literatura italiana, nomeadamente ao
nível da poesia produzida em contexto palaciano, nas cortes de D. João II e
depois, mais acentuadamente, de D. Manuel. Esses poemas, da autoria de muitos
nobres para quem a arte de versejar era um atributo muito importante, eram
portadores, com assinalável frequência, de uma atitude amorosa e poética que
revelava a influência do poeta italiano Petrarca, o precursor do Renascimento.
Em
1516, Garcia de Resende publicou a compilação desses poemas palacianos numa
obra intitulada Cancioneiro Geral,
dedicada ao príncipe e futuro rei de Portugal D. João III, afirmando no Prólogo
que o objetivo do seu trabalho era contrariar a natural tendência de os
portugueses não registarem, para o futuro, as suas obras. Publicado no ano de
inauguração do Mosteiro dos Jerónimos e no período de florescimento do teatro
de Gil Vicente, o Cancioneiro revela
a valorização já renascentista que a cultura começara a merecer.
Em
1521, Sá de Miranda, um dos poetas presentes no Cancioneiro de Resende, empreende uma demorada viagem a Itália,
durante a qual contactou com a cultura e a arte da Renascença. Cinco anos mais
tarde, de regresso a Portugal, trouxe consigo o gosto pelo novo estilo – o dolce
stil nuovo – e introduziu na nossa literatura, entre outras composições
poéticas, o soneto, com os seus versos decassilábicos.
Por
outro lado, a literatura renascentista redescobrira os clássicos e a Poética de Aristóteles, uma obra que
regulamenta e hierarquiza os géneros literários, considerando a epopeia e a
tragédia os géneros mais nobres. Não é, pois, de estranhar que a o desejo de
elaboração de uma epopeia se tenha disseminado, vindo a ser concretizado por
Luís de Camões, e António Ferreira tenha escrito a tragédia Castro, inspirada nos amores trágicos de
D. Pedro I e D. Inês de Castro.
Manual Plural 12
A Contra-Reforma e a união com a Espanha
Cerca
de 1550 ocorreram alguns acontecimentos decisivos, que coincidem com a crise
geral então vivida. Em 1547, é definitivamente estabelecida a Inquisição em Portugal,
após esforços que datavam de 1531. Naquele mesmo, ano sai o primeiro rol de
livros proibidos, sucessivamente acrescentado em 1551, 1561, 1564, 1581, 1624.
Em 1550, o grupo de professores trazido a Portugal por André de Gouveia (já
falecido em 1548) é posto à margem após um processo movido por inimigos do Colégio.
Em 1555, o rei entrega este colégio, rebatizado como Colégio das Artes, à Companhia
de Jesus, que domina os Estudos Menores (hoje diríamos secundários) em Lisboa e Évora, e que no mesmo ano funda uma universidade
sua nesta última cidade. A partir de 1557, ano da morte de D. João III, a
principal personagem do reino é o cardeal-infante D. Henrique,
inquisidor-geral, que alterna a regência com a rainha-viúva. Em 1564, as
decisões do Concílio de Trento são promulgadas em Portugal sem restrições, caso
único entre os reinos da Europa Ocidental. Desde cerca de 1550, foram silenciados
mesmo os mais estrénuos erasmistas, como André de Resende, Damião de Góis e
Diogo de Teive, e por 1580 está extinta a geração dos letrados e gramáticos antiescolásticos que tinham
campeado por altura das grandes reformas escolares do início do reinado de D.
João III.
Entre
os autores proibidos ou amputados pela Censura contam-se Gil Vicente, Bernardim
Ribeiro, Sá de Miranda, João de Barros, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Jorge de
Montemor, António Ferreira. Nenhum livro podia sair, na segunda metade do
século XVI, sem três licenças: a do Santo Ofício, a do Ordinário eclesiástico
na diocese respetiva e a do Paço. O relator do Santo Ofício examinava o livro
em manuscrito e obrigava o autor a alterá-lo, amputá-lo ou acrescentá-lo, antes
de lhe conceder a fórmula «nada contém contra a nossa Santa Fé e bons
costumes». E, assim, desde a segunda metade do século XVI até à reforma
pombalina da censura, não podemos afirmar que conhecemos o texto original de
uma obra impressa, mas somente um texto ao qual os censores anuíram. A
impressão, a venda, a herança e a entrada de livros vindos do estrangeiro
estavam sujeitas a apertada vigilância, incluindo inspeções domiciliárias,
declarações periódicas obrigatórias e as mais graves penalidades, com
recompensa de denúncias secretas à custa dos bens confiscados.
Aos
efeitos da Contra-Reforma vieram juntar-se, a partir de 1581, os da união com
Espanha. Do primeiro resultou murcharem as promessas do Humanismo. O segundo
teve como consequência o desaparecimento da corte de Lisboa, o foco literário
mais estimulante do País. Os homens de letras e artistas, que até então viviam
sobretudo da munificência régia, procuraram a proteção da corte de Madrid, ou
acolheram-se ao mecenato das maiores casas senhoriais, como as dos condes de
Vila Real e dos duques de Bragança. Outros viveram à sombra das ordens
religiosas a que pertenciam, tratando uma temática predominantemente devota. O
teatro, o grande género das cortes monárquicas do século XVII, decaiu após as
criações de Gil Vicente e António Ferreira. Na lírica e na épica, os padrões
renascentistas mal se renovaram. Na prosa, o primeiro plano da cena é ocupado
pelos cronistas das diversas ordens religiosas, quer se ocupem da história do
Reino, quer da dos conventos e santos respetivos. Tirante os discípulos dos
quinhentistas refugiados em várias «cortes na aldeia», o clero reforça a
posição predominante na produção literária.
A
Universidade de Coimbra é dominada pelos Jesuítas, embora as outras principais
ordens religiosas tenham acesso às suas cátedras. Durante o século XVII atinge
o seu apogeu a «escola conimbricense», que é uma tentativa para adaptar a
Escolástica e o Aristóteles dos Escolásticos à problemática mais recente. A
universidade jesuíta de Évora é outro foco importante de Teologia escolástica.
O
ensino universitário jesuíta, de início razoavelmente actualizado e eficiente,
decai à medida que se aproxima e avança o século XVII, convertendo-se os
tratados universitários em manuais, e estes em postilas sem autoria responsável, equivalente às sebentas no nosso tempo.
Além
do ensino universitário, os Jesuítas dominam, em geral, com os seus colégios de
Artes, os Estudos Menores, ou preparatórios, em toda a extensão do império da
Casa da Áustria, através de numerosas escolas onde se educam tanto a aristocracia
de sangue como a burguesia. Nesses colégios, entre os quais se destacam o
Colégio das Artes de Coimbra e o de Santo Antão de Lisboa, além de noções de Matemáticas
e Geometria necessárias à construção ou manobra naval, à vida militar, etc.,
ministra-se principalmente uma cultura geral que, embora adoptando as formas da
erudição humanística, era escolástica na sua inspiração mais profunda. A Ratio Studiorum, regulamento pedagógico
de todas as escolas jesuítas (1599), tem em vista desenvolver a expressão oral
e escrita em latim, a capacidade de disputa e de exibição literária em público,
através de sabatinas, concursos de emulação escolar, récitas, representações
teatrais, proscrevendo expressamente todo o magistério ou prática escolar que
favoreça a curiosidade intelectual, o gosto da novidade, o espírito crítico.
Aristóteles, base de todo o ensino, deve ser interpretado segundo os
comentadores consagrados, especialmente S. Tomás.
Diferentemente
do que sucede em Espanha, o papel cultural das outras ordens religiosas é em
Portugal, nesta época, modesto em comparação com o dos Jesuítas. Devem-se no
entanto aos Cistercienses de Alcobaça, aos Dominicanos, aos Franciscanos e a
outros, numerosas hagiografias, histórias monásticas, histórias nacionais, que
constituem o grosso da produção impressa em língua portuguesa no século XVI.
Convém
ter bem presente que sob o governo dos Filipes são, mais do que nunca,
bilingues não só os autores como o público português. Significativo é que o Quijote de Cervantes tenha duas edições
em Lisboa no próprio ano da sua primeira edição; e que a primeira edição do Guzmán de Alfarache, 2.ª parte, de Mateo
Alemán, seja igualmente lisboeta. Esboça-se desta forma uma tendência a dar ao
castelhano, língua geral da Península, preponderância no teatro e nos géneros
de grande circulação, como o romance, ficando o português reduzido à condição
de língua regional. Tendência passageira, resultante da ausência de uma corte
régia em Lisboa, e que pode ter contribuído para a decadência ou falta de
continuidade do romance e do teatro em língua portuguesa.
A. J. Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa (adaptado)
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
O Renascimento em Portugal - Generalidades
Apesar
da dinâmica que se fez sentir na sociedade portuguesa a partir do século XV, do
impacto dos Descobrimentos na mudança das mentalidades e da contratação de
humanistas estrangeiros por parte de monarcas portugueses a partir do reinado
de D. Afonso V, o Renascimento chegou tardiamente ao nosso país. Observe-se,
por exemplo, como a arquitetura nunca se chegou a impor verdadeiramente, em
razão da influência do estilo gótico, que se prolongou até ao reinado de D.
Manuel e esteve na origem do estilo manuelino, uma espécie de modernização
renascentista do gótico. Somente no reinado de D. João III (1521 – 1557) se
constituíram edifícios marcadamente renascentistas, como a Igreja de Nossa
Senhora da Graça em Évora, a Misericórdia de Beja, as sés de Miranda do Douro,
Leiria e Portalegre e um dos claustros do Convento de Cristo em Tomar.
Politicamente,
durante o período de vida de Camões (1524 ? ‑ 1580), reinaram em Portugal D. João
III, D. Sebastião e D. Henrique. Camões assistiu ao fim do ciclo dos
Descobrimentos, que foram anteriormente, simultaneamente, uma das causas e
consequências do espírito renascentista. Contribuindo para a abertura de novos
horizontes ao homem europeu, os Descobrimentos determinaram um conjunto de transformações:
Aproximadamente
doze anos após o nascimento de Camões, surge em Portugal o Tribunal da
Inquisição. Em 1531, regista-se um grande terramoto no reino, ficando
destruídas povoações inteiras. A desproporção entre a escassez de recursos
humanos e a vastidão geográfica das terras descobertas, a sucessão de
naufrágios (o de Sepúlveda foi em 1522), a derrota em Alcácer Quibir em 4
de agosto de 1578 contribuíram fortemente para a queda do nosso império. Em
suma, é lícito concluir que o tempo biográfico de Camões corresponde à trajetória
política portuguesa, que culmina com a perda da independência em 1580.
Renascimento - Contexto português
Acentua-se,
após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o processo de concentração
do poder político e económico sob a chefia do rei, iniciado com as campanhas do
Norte de África e a exploração do ouro da Mina. A exploração económica do
ultramar faz-se grandemente em regime de monopólio da Coroa. Apesar dos progressos
da burguesia rural e comercial desde o século XIV, ela não conseguiu evitar que
as novas expansões económicas fossem na maior parte absorvidas como renda
feudal, sob formas variadas (rendas da colonização insular e brasileira, monopólios
dos "resgates" e "tratos" ultramarinos, monopólios de
produção interna sujeita a direitos "banais", e, finalmente,
administração da Coroa a favor duma oligarquia), o que dificultou a acumulação
do capital propriamente dito e seu posterior investimento na agricultura e, em
geral, na produção interna.
Fonte: História da Literatura Portuguesa, A. J. Saraiva e O. Lopes
Esta
espécie de monopólio comercial ultramarino a favor da nobreza palaciana
encontra dificuldades: vícios internos do seu funcionamento, ataques vindos de
Holandeses, Franceses, Ingleses, aliados por vezes no Oriente a populações
locais, que dificultam cada vez mais o domínio militar das estradas e feitorias.
O sistema entra em crise por meados do século XVI. D. João III é obrigado a
evacuar algumas praças marroquinas. Realizam-se tentativas para descobrir novas
minas de ouro ou prata na América e na África, mas volta-se depois ao projecto
da guerra africana, tendo em mira a ocupação do reino de Fez. O desastre de
Alcácer Quibir vem agravar a bancarrota económica com o colapso militar e
político. A união com Castela apareceu finalmente à maior parte da camada
dirigente como uma saída. E, assim, a Coroa portuguesa integra-se, desde 1580,
no sistema de hegemonia espanhola, que se mantém até finais da Guerra dos
Trinta Anos, cerca de meados do século XVII, como uma extensa coligação de
coroas, distintas mas acumuladas sobre a mesma cabeça imperial ou ligadas entre
si pela consanguinidade dos monarcas Habsburgos.
No
entanto, mesmo dentro de Portugal e Espanha, a burguesia mercantil não deixava
de progredir, desafiando o monopólio do Estado e o poder da nobreza. Pouco a
pouco domina a praça de Lisboa e o comércio entre o ultramar e a Europa. Grande
parte destes homens de negócios descende dos judeus convertidos à força em 1496
e efetivamente assimilados. Daqui tiram pretexto os círculos dirigentes para
instituir a Inquisição (1536), em teoria dirigida sobretudo contra a prática
clandestina do judaísmo. Graças ao Santo Ofício, estabeleceu-se a discriminação
contra os «Cristãos-Novos», verdadeiros ou supostos descendentes dos Judeus,
que eram grande parte dos "homens de negócios", e tentou-se impedir o
acesso deles a postos de direção no Estado, na Igreja e até na Universidade; ao
mesmo tempo que, através do fisco inquisitorial, se expropriava uma parte dos
seus bens. Esta perseguição foi contraproducente, pois teve, entre outros
resultados, o de que muitos cristãos-novos emigraram e constituíram uma rede
internacional com núcleos na Holanda, na França, na Inglaterra, no Brasil, no
Peru, na África e na Índia, pelas malhas da qual passava uma grande parte do
comércio mundial. Através destas relações, a burguesia mercantil portuguesa
tende a ganhar um carácter cosmopolita.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Renascimento - Origem
·
O Renascimento é «um movimento cultural que,
articulado com fatores sociais, económicos, políticos e religiosos, criou uma
profunda de dinâmica de mudança na Europa dos séculos XV e XVI». É um movimento
de recuperação da cultura greco-latina, cuja designação se ficou a dever a uma
certa oposição à Idade Média, considerada, erradamente em parte, como uma
«época de trevas» pelos homens do Renascimento. Nas palavras de António José
Saraiva e Óscar Lopes, o Renascimento é o período que caracterizado pela
«adoção das formas artísticas greco-latinas e a assimilação do espírito que as
anima», o que sugere que estamos perante uma aceitação e não uma ressurreição
das formas clássicas, visto que a ressurreição supõe a morte e as formas greco-latinas
nunca morreram. Com efeito, durante a Idade Média leram-se Homero e Virgílio,
comentaram-se as obras de Aristóteles e Platão, estudaram-se as línguas grega e
latina.
·
O berço do Renascimento foi a Itália do século
XV, nomeadamente cidades como Florença, Génova e Veneza, não obstante alguns
sinais de mudança se terem começado a sentir no final da Idade Média, em
determinados centros intelectuais europeus.
·
Esta origem explica-se pelo facto de, sobretudo
em Florença, se ter formado uma elite de políticos e intelectuais que,
enriquecida pelo comércio, esteve na génese de um movimento profundo de
renovação cultural.
·
Ainda em Florença, é de destacar o papel da
família Médicis ao longo do século XV, família essa que governou a cidade e se
constituiu como mecenas de inúmeros artistas, o que fomentou o desenvolvimento
das letras e das artes. Durante o século XVI, membros dessa família dominaram o
papado, o que fez com que Roma se tornasse o novo centro de irradiação do
Renascimento.
·
O movimento renascentista acabou por e expandir
por toda a Europa – tendo como base a Itália e a Flandres, outro centro de
comércio e desenvolvimento artísticos ‑, tendo atingido o auge nas primeiras
décadas do século XVI.
·
Por outro lado, durante o período do
Renascimento, a Europa assistiu ao surgimento de cortes luxuosas, de estados
poderosos e de forte centralização do poder. Reis e papas interessaram-se pela
cultura, pelo que se rodearam de artistas, edificaram palácios e igrejas que
ornamentaram com pinturas e esculturas, muitas vezes contendo o retrato do
patrono e / ou de familiares seus.
·
A riqueza, aliada ao desejo de promoção e
notoriedade, possibilitou o investimento na arte por parte de ricos
comerciantes e de altos dignitários da Igreja. Em simultâneo, o mecenato
alastrou a diversas cortes europeias.
·
A difusão do Renascimento pela Europa ficou a
dever-se, em larga medida, às viagens e à troca de correspondência encetadas
pelos artistas e intelectuais da época, favorecendo assim a difusão de ideias.
·
Esse grupo de letrados desenvolveu uma intensa
atividade intelectual distribuída por diferentes áreas:
·
Pedagogia ‑ propunham:
·
a leitura e o comentário dos textos de autores
clássicos para apreensão do seu significado preciso;
·
a introdução de matérias novas, como a História,
no conjunto das disciplinas existentes;
·
a introdução, nos estudos, das obras de autores
científicos da Antiguidade.
·
Sociedade ‑ defendiam:
·
a escolha dos dirigentes segundo o saber e a
capacidade;
·
a condenação da guerra;
·
Literatura:
·
adotaram como modelos os géneros literários, as
formas poéticas, os recursos estilísticos cultivados pelos antigos autores
gregos e romanos;
·
adaptaram as línguas modernas ao estilo antigo.
·
Por outro lado, foram vários os fatores que
contribuíram para a difusão deste novo espírito:
·
O desenvolvimento do comércio, das atividades
industriais e das cidades e, portanto, de uma sociedade mercantil;
·
A descoberta da tipografia, graças a Gutenberg,
que se constituiu como um meio prodigioso para a difusão das ideias e da
informação, associada ao crescimento de um público a quem já não satisfazia a
reprodução manuscrita do livro, com todos os constrangimentos que acarretava;
·
A descoberta do caminho marítimo para a Índia e
para a América;
·
O encontro de civilizações desconhecidas, como a
chinesa, facto que levou à modificação das conceções acerca do planeta, dos
costumes e das crenças;
·
As invenções e aperfeiçoamentos técnicos, como a
artilharia ou os novos processos de navegação ou de exploração das minas.
·
Verifica-se, por isso,
·
o alargamento da curiosidade a vários aspetos do
património cultural antigo (o saber prático ou especulativo, o lucro e a
operosidade mercantil, a inteligência e o corpo humano, a vida terrena);
·
a difusão da cultura clássica pelas novas técnicas
de produção do livro, por meio da edição dos clássicos greco-latinos e das
obras de análise e interpretação dos humanistas.
Bibliografia:
» Manual Plural 12,
» Manual Português +, Areal Editores
» História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar
Lopes;
» História da Literatura
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