Português

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Não há vagas" - Ferreira Gullar

Fernando Gullar,
Prémio Camões 2010

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabem no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores
está fechado:
"não há vagas"

Só cabem no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

                    Antologia Poética, Rio de Janeiro, 1977

          Singela homenagem às medidas apresentadas, ontem, pelo Primeiro-Ministro de Portugal.

Valor do adjetivo

          Os adjetivos podem apresenter diferentes valores, em razão da relação que mantêm com o nome a que se referem:

1. Valor restritivo

          Neste caso, o adjetivo surge sempre à direita do nome que modifica, especificando a referência deste: A Joana Santos é uma mulher bela.
          Por outro lado, o adjetivo restritivo pode ser parafraseado por uma oração relativa restritiva: A Joana Santos é uma mulher que é bela.


2. Valor não restritivo

          O adjetivo não restritivo ocorre antes do nome que modifica e apresenta qualidades que não lhe são intrínsecas: A Joana Santos é uma extraordinária atriz. Neste caso, o adjetivo não pode ser parafraseado por uma oração relativa restritiva.


3. Posição do adjetivo

          Como foi referido, o adjetivo pode surgir depois (valor restritivo) ou antes (valor não restritivo) do nome que determina. Ora, a posição ocupada pelo adjetivo relativamente ao nome implica diferentes significados que o primeiro assume.
  • O meu tio é um homem pobre. -> o adjetivo significa que o homem não possui riqueza, não tem dinheiro...
  • O meu tio é um pobre homem. -> o mesmo adjetivo significa, agora, que o homem é digno de dó, de pena, é alguém muito infeliz.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Valor do adjetivo (G 2011 - 1)


Valor do adjetivo: restritivo e não restritivo


1. Observe as frases apresentadas.

a) Dá-me o livro vermelho do Pedro.
b) Adquirir produtos locais ajuda a economia figueirense.
c) Papámos um delicioso jantar naquele restaurante agradável de Escalhão.
d) Ofereceram-me um livro sobre culinária portuguesa contemporânea.
e) O doce vinho que o Hugo diz ter comprado na adega de Figueira é de assinalável qualidade.

1.1. Coloque os adjetivos no respetivo lugar da grelha, de acordo com a sua posição.

Posição pré-nominal
Posição pós-nominal





2. Altere a posição dos adjetivos sublinhados em cada uma das frases seguintes.

a) Aquela tempestade tropical é assustadora.
b) O leão é um animal selvagem.
c) A Maria traz um casaco branco.

2.1. Explicite a conclusão a que chegou após a transformação operada.

3. Observe a posição dos adjetivos sublinhados em cada par de frases.

a) (1) O professor fez uma longa comunicação.
(2) O professor fez uma comunicação longa.

b) (1) A Daniela possui uma pequena fortuna em bonecas.
(2) A Daniela possui uma fortuna pequena em bonecas.

3.1. Indique a frase da alínea a) em que o adjetivo tem um valor subjetivo, isto é, exprime uma avaliação do locutor.

3.2. Indique a frase da alínea b) em que o adjetivo é usado em sentido conotativo.

4. Altere a posição do adjetivo sublinhado em cada uma das expressões nominais seguintes e explique as diferenças de sentido daí resultantes.

a) O Rafa, hoje, tem uma cara .
b) Maria, já esqueceu aquele amor antigo?
c) A Cátia possui em casa um quadro verdadeiro.
d) A Ana, no sábado, trajava um belíssimo vestido de lá fina.
e) Quem não gosta de um alimento doce?

5. Substitua as orações relativas restritivas das frases fornecidas por um sintagma adjetival.

a) A história daquela rapariga da «Casa dos Segredos» é uma história que comove.
b) No Inverno, na sala do 11.º, quando falha o aquecimento, sente-se um frio que gela.
c) O barulho que os alunos fazem é uma situação que não podemos admitir.
d) O Conselho Executivo era o órgão que dirigia, antigamente, a escola.

6. Explique a diferença de sentido entre as seguintes frases:

a) O Marco tropeçou numa boa rapariga.
b) O Marco tropeçou numa rapariga boa.

c) A jovem simpática abraçou o Zeca.
d) A jovem, simpática, abraçou o Zeca.

7. Atente nas frases dadas.

a) O «deficit» orçamental é um drama europeu.
b) A Catarina comprou uma carteira cinzenta que encontrou na primeira loja em que entrou.
c) A primeira edição da maratona lisboeta foi disputada ontem.
d) O António comprou uma pistola baratíssima.
e) O meu avô materno ofereceu-me o meu primeiro escudo.

7.1. Sublinhe os adjetivos presentes em cada frase.

7.2. Tendo em conta a classe dos adjetivos, classifique cada um deles, explicitando a sua posição dentro do grupo nominal.

8. Observe os pares de frases.

a) O falso professor foi preso.
a’) Aquele indivíduo é um professor falso.

b) O meu avô era um homem rico.
b’) Que rico homem!

c) O exercício de Matemática era simples.
c’) Tu não és capaz de resolver um simples exercício de Português?

8.1. Identifique e classifique os adjetivos presentes nas frases.

8.2. Observe a posição do adjetivo em cada par de frases e tire conclusões quanto ao seu significado.

8.3. Identifique as frases em que o adjetivo possui um valor restritivo.

8.4. Tendo em conta a posição do adjetivo qualificativo observada em 8.1. e 8.2., que conclusão podemos retirar?

Os cortes na (des)Educação

          O ministro Nuno Crato considera que o currículo do 3.º ciclo contém disciplinas a mais. Assim sendo, prepara-se para as reduzir. Como?

          1.º) Extinguindo a segunda disciplina estrangeira obrigatória, mantendo apenas o Inglês (a primeira);

          2.º) «Cortar» nas aulas de História e Geografia;

          3.º) Reduzir o número de aulas dos alunos;

          4.º) A VERDADEIRA RAZÃO: diminuir, drasticamente, o número de professores do sistema educativo português.

          Ver notícia aqui.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Reclamação - «Cartoon» (Correção)


          Findo o prazo estabelecido para a realização do trabalho em torno desta imagem e lidas as respostas dadas, pode concluir-se que, no que diz respeito a descrição, quase todos «viram» o essencial.

          No entanto, relativamente à intencionalidade crítica... zero. De facto, apenas uma alma iluminada conseguiu associar a figura central (a do homem de punho no ar e ar agressivo que incentiva os manifestantes ao protesto) à do ponto das representações teatrais, mas... foi só. Faltou concluir que ela representa a instrumentalização da massa que protesta, agindo na sombra e sob pretextos desconhecidos.

"Analfabeto Político", de Bertold Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Desde a Montanha", Tomas Tranströmer

Tomas Tranströmer
Prémio Nobel da Literatura 2011

                    Estou na montanha e vejo a enseada.
                    Os barcos descansam sobre a superfície do verão.
                    "Somos sonâmbulos. Luas vagabundas."
                    Isso dizem as velas brancas.

                    "Deslizamos por uma casa adormecida.
                    Abrimos as portas lentamente.
                    Assomamo-nos à liberdade."
                    Isso dizem as velas brancas.

                    Um dia vi navegar os desejos do mundo.
                    Todos, no mesmo rumo - uma só frota.
                    "Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém."
                    Isso dizem as velas brancas.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Reclamação - "Cartoon"


1. Descreva, sumariamente, a imagem.

2. Comente a sua intencionalidade crítica.

Steve Jobs - R.I.P.


1955 - 2011

          Steve Jobs, criador da Apple e do estúdio de animação Pixar e «pai» de produtos como o Mcintosh, o iPad e o iPhone, faleceu ontem, 5 de outubro, após uma longa luta contra um cancro no pâncreas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

República, essa grande porca


          Comemoram-se (???) hoje os 101 anos da implantação da República em Portugal.

          Para celebrar a data, deixam-se aqui três opiniões de três figuras que viveram e participaram no processo.

          Porfírio Rodrigues, um dos responsáveis militares pelo 5 de outubro, em declarações a Joaquim Madureira, autor da obra Na formosa estrivaria (1912): «Se eu soubesse que a República que tinha idealizado era a porca que me saiu, não me tinha sacrificado.»

          Afonso Costa, em 1914: «O Partido Republicano Português tem a obrigação de defender o povo, mesmo contra a vontade do próprio povo.»

          Brito Camachopolítico, escritor, jornalista (fundador do jornal republicano A Luta) e chefe do Partido Unionista, aliado de Afonso Costa e do Partido Democrático: «As moscas mudam, mas a merda é a mesma.»

domingo, 2 de outubro de 2011

Fernando Pessoa

Sol nulo dos dias vãos,
Cheios de lida e de calma,
Aquece ao menos as mãos
A quem não entras na alma!

Que ao menos a mão, roçando
A mão que por ela passe,
Com externo calor brando
O frio de alma disfarce!

Senhor, já que a dor é nossa
E a fraqueza que ela tem,
Dá-nos ao menos a força
De a não mostrar a ninguém.

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