Português

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril, dia da Liberdade?

          "A liberdade de expressão define-se hoje como o direito de comprar o jornal e de ligar a televisão. Curioso uso das palavras, porque este não é o direito de nos exprimirmos, mas de lermos ou vermos o que outros exprimem. Os jornalistas debitam as suas sentenças, entrevistam, seleccionam e cortam as declarações dos entrevistados, e de vez em quando alguns figurões são convidados para espaços de «opinião...".
                                                                                                                João Bernardo

25 de Abril e mentiras - «Gavetas», Pedro Mexia

Não deves abrir as gavetas fechadas
por alguma razão as trancaram,
e teres descoberto agora a chave
é um acaso que podes ignorar.
Dentro das gavetas sabes o que encontras:
mentiras. Muitas mentiras de papel,
fotografias, objectos.
Dentro das gavetas está a imperfeição
do mundo, a inalterável imperfeição,
a mágoa com que repetidamente te desiludes.
As gavetas foram sendo preenchidas
por gente tão fraca como tu
e foram fechadas por alguém mais sábio do que tu.
Há um mês ou um século, não importa.

                                                Pedro Mexia, Menos por Menos

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Retratos da crise

Três camas e só uma ocupada

A barraca e a antena da tv-cabo

É a Semana Santa


          Ainda estou vivo... mas o coração já não aguenta muitas destas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

"Sara", Starship (1985)

Adivinhação


Ah, boa literatura!

Sedução na Noite, Sherrilyn Kenyon

PERGUNTAS  DE  INTERPRETAÇÃO:

1. Quantas vezes gemeu Tabitha?

2. Quantas vezes rosnou Tibério?

 3. Qual o nome técnico da posição sexual de Valério e Tabitha?

4. Quem é que não conseguia pensar?

5. Que casal usa a estúpida expressão “ter relações” no meio de um diálogo?

6. O que estava a arder?

7. Que fenómenos se passam no fundo da garganta?
 
Roubado à Livreira Anarquista

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Desfaz a mala", Fernando Pessoa

Desfaz a mala feita para a partida!
Chegaste a ousar a mala? Que importa?
Desesperas ante a ida
Pois tudo a ti te iguala.

Sempre serás o sonho de ti mesmo.
Vives tentando ser,
Papel rasgado de um intento, a esmo
Atirado ao descrer.

                                                         Como as correias cingem
                                                         Tudo o que vais levar!
                                                         Mas é só a mala e não a ida [?]
                                                         Que há-de sempre ficar!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Matilde de Melo

          Matilde de Melo, Sousa Falcão e Frei Diogo de Melo constituem o grupo de amigos do general, que age em nome do amor, da amizade e da caridade cristã, respectivamente.


1. Origens:
  • Seia;
  • ambiente humilde, pobre ("... uma terra tão pobre e tão pequena..." - p. 91) e religioso ("Ensinaram-me, de pequena, a amar a Deus sobre todas as coisas." - p. 91);
    a

2. Retrato físico:
  • vestida de negro (sinal de luto pela prisão do general);
  • desgrenhada (este aspecto revela o sofrimento, o desespero, o estado de alucinação causados pela prisão do general).

3. Retrato moral:
  • grande sentido de justiça e lealdade;
  • grande nobreza de carácter;
  • digna e simples, apesar do desprezo com que é tratada por ser a amante do general.

4. Retrato social:
  • pobre ("sentada numa cadeira tosca" - pág. 83).

5. Retrato psicológico:
  • desesperada e em estado de choque / alucinação após a prisão do general ("Parecia um animal ferido a ganir à beira duma estrada..." - pág. 82).

6. Matilde -> General:
  • apaixonada ("Dei-lhe tudo o que tinha..."; "Sou a mulher do general Gomes Freire d'Andrade." - pág. 92);
  • carinhosa, ternurenta ("Ele dava-me a mão, eu dava-lhe a minha..."; "Passa a mão pelo uniforme com ternura" - pág. 85);
  • sensível;
  • sonhadora, recorda com saudade os tempos pobres, mas felizes, vividos por ambos ("Falávamos das batalhas em que ele andou... Relembrávamos o nosso hotel de Paris... os passeios que dávamos ao longo do Sena... os dias felizes que passámos juntos..." - pág. 85).


7. Matilde -> Governadores
  • ousada e resoluta;
  • determinada e decidida;
  • combativa e corajosa;
  • revoltada;
  • inconformada perante a falsidade, a opressão, a deslealdade, a injustiça e a intolerância;
  • escarnece e desmascara a hipocrisia dos governadores;
  • mantém um discurso agressivo, crítico e sarcástico em certas falas com os governadores;
  • faz uso de um tom arrogante e desafiador, de desprezo;
  • porém, em gesto de desespero, humilha-se por momentos para salvar o general.


8. Matilde -> após a prisão do general
  • inundada pela dor, pelo rancor, pela raiva, pela angústia e pelo desespero;
  • vive uma crise de valores: mostra-se disposta a ceder perante o poder instituído em troca da vida do general e chega a questionar os valores que nortearam a vida do general ("Quem é mais feliz: o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos?" - p. 83); "Se o meu filho fosse vivo (...) Havia de lhe ensinar a mentir, a cuidar mais do fato que da consciência e da bolsa do que da alma. (...) Havia de morre de velhice e de gordura, com a consciência tranquila e o peito a abarrotar de medalhas!" - p. 84);
  • tudo faz para o salvar:
                    » humilha-se perante Beresford;
                    » ajoelha-se perante principal Sousa e implora-lhe que salve o seu amado;
  • ousada e resoluta;
  • determinada e decidida;
  • revoltada;
  • combativa e corajosa.


9. Matilde -> no momento da morte do general
  • vive um estado de alucinação, loucura e delírio -> denúncia do absurdo a que a intolerância e a violência conduzem o ser humano;
  • acaba por transformar a tragédia (morte do general) num momento de esperança e apelo à modificação da situação.

          Em suma:

  1. Matilde é uma mulher lúcida e corajosa, de carácter forte perante a vilania, vibrante nas palavras de paixão. Recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e o materialismo.
  2. Amante, esposa e companheira de todas as horas, não suporta a separação do homem que ama, acabando por se revelar uma espécie de alterego de Gomes Freire. Quer isto dizer que é impossível dissociar o clamor de revolta de Matilde do general, e uma vez que ele não pode provar a sua inocência, será ela a tentar fazê-lo, invectivando os seus três principais adversários, pois não crê que a acusação se mantenha nem que a condenação venha a ocorrer quando os acusadores constatarem, em consciência e com justiça, que a acusação é falsa: "Serei, então, a voz da sua consciência. Ninguém consegue viver sem ouvir a voz da consciência, António." (p. 88).
  3. Existe, porém, outra Matilde: a mulher. Neste caso, é o símbolo do Feminino, revelado durante os diálogos que mantém, onde se assume como o arquétipo da mulher que ama e sofre porque ama. O seu discurso revela o seu sofrimento íntimo, bem como o de todos aqueles que, vendo-se separados do ser que os completa, se sentem despojados da unidade que simbolizam: "(...) Amante dum traidor... e assim acabamos a vida... Tu, que deste aos homens tudo o que tinhas e viveste de mãos abertas, acabas enforcado com o rótulo de traidor. E eu... que nasci tua mulher, morro tua (...) amante! Nem me recebem, meu amor. (...) Chegamos ao fim da vida - matam-nos e nem nos consideram dignos de uma explicação. Tratam-nos assim, como se nunca tivéssemos existido..." (p. 120).
  4. O seu discurso funciona como uma resposta ao discurso oficial, apoiado nos textos bíblicos, ainda que estes surjam com uma interpretação duvidosa: "(...) Senhor, se te lembras da cruz, permite que o meu homem morra de cabeça levantada! Não vos peço nada para mim. Mais: troco a minha vida pela dele! Fazei-me sofrer, matai-me torcida de dores e abandonada de todos, mas a ele, dai-lhe uma morte que o não mate de vergonha!" (pp. 97-98).

terça-feira, 5 de abril de 2011

"Pastelaria", Mário Cesariny

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
— ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria e, lá fora — ah, lá fora! — rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.
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