Português

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O impacto do aumento do n.º de alunos por turma no aproveitamento escolar

     O ministro Nuno Crato aumentou o número de alunos por turma em todos os ciclos do ensino obrigatório, desprezando todos aqueles que criticaram a medida, argumentando que tal iria prejudicar a aprendizagem e o sucesso educativo.
     Usou mesmo um tom displicente ao afirmar que não havia estudos que comprovassem a relação entre o aumento do n.º de alunos por turma e a diminuição do sucesso. Pois bem, há pelo menos um estudo do Ministério da Educação francês, datado de 2006, que comprova o que quem está no terreno tem afirmado até à exaustão: a partir de um momento, cada aluno a mais numa turma diminui o sucesso escolar dos aprendizes.


     Aqui fica o link para o estudo em questão: Les Dossiers - Enseignement scolaire.

domingo, 9 de setembro de 2012

Conformismo / Protesto


          Acho uma moral ruim
          trazer o vulgo enganado:
          mandarem fazer assim
          e eles fazerem assado.

          Sou um dos membros malditos
          dessa falsa sociedade
          que, baseada nos mitos,
          pode roubar à vontade.

          Esses por quem não te interessas
          produzem quanto consomes:
          vivem das tuas promessas
          ganhando o pão que tu comes.

          Não me deem mais desgostos
          porque sei raciocinar...
          Só os burros estão dispostos
          a sofrer sem protestar!

          Esta mascarada enorme
          com que o mundo nos aldraba,
          dura enquanto o povo dorme,
          quando ele acordar, acaba.

                                              António Aleixo

O tuíte de Pedro Passos Coelho

A realidade portuguesa


Burro Justino


     David Justino é um professor universitário e ex-ministro da Educação no XV Governo Constitucional. Durante o exercício do cargo, a população do Poceirão batizou-o de «Burro Justino», uma forma de protesto pela demora do Ministério de Educação da altura em construir uma escola na zona.
     Cansadas de esperar, as populações de Poceirão e Marateca levaram um equídeo, em 6 de novembro de 2004, até à porta da Assembleia da República. O animal participou noutros momentos de protesto, por vezes de mochila às costas, e, ironicamente, foi intentada a sua candidatura ao Parlamento Europeu.
     Ainda que pelos motivos acima sumariamente explicitados, aquelas populações tinham toda a razão no nome de batismo que escolheram para o ex-ministro. De facto, repare-se como o dito, colaborador assíduo no blogue 4T - Quarta República, cometeu mais um dos erros de português pelos quais é conhecido, ao trocar o verbo «ver(-se)» pelo verbo «vir(-se)»: "Sem menosprezar a incompreensão de milhares de professores que se vêm ao fim de muitos anos de exercício de actividade docente...".
     Ainda bem que o aturado exercício da docência tem efeitos tão... agradáveis.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Como me curei de uma deficiência

     «Entre nós, os Jogos Paralímpicos de Londres acontecem sob o mando do pudor, até poucas fotografias se veem. Ora, se um recorde desportivo é sempre admirável, que imagem mais forte pode haver que esse conseguimento alcançado por alguém que tem tudo para não conseguir?
     Em 2004, nos JO de Atenas, durante uma corrida de apresentação de paralímpicos, um atleta virou a sua cadeira de rodas em frente da bancada de jornalistas. A cadeira por terra e as pernas deficientes viradas ao céu pareceram-nos demasiado patéticas, desviámos o olhar e nem coragem tivemos de nos encarar uns aos outros. Mas alguém endireitou a cadeira e o atleta continuou a corrida com naturalidade.
     Agora, a cobertura entusiástica dos bons jornais ingleses nos Jogos Paralímpicos de Londres tem-me curado da piedade despropositada. Também Oscar Pistorius, o sul-africano das pernas em lâmina, me ajudou. Há um mês, ele foi o primeiro atleta deficiente a correr nuns Jogos Olímpicos e até chegou às finais de 4x400m. No domingo, nos Jogos Paralímpicos, ele foi vencido nos 200m classe T44 (amputados das pernas, com próteses) pelo brasileiro Alan Fonteles. Só a derrota de Pistorius é uma lição de normalidade: aquele que é uma vedeta entre olímpicos, perde com paralímpico... Depois, houve a reação do sul-africano: acusou, sem razão, o brasileiro de ter corrido com próteses ilegais...
     Pronto, é oficial: os deficientes são normais. Até têm o mau perder dos outros.»

Ferreira Fernandes, in DN (04/09/2012)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"De mais" ou "demais"?

1. Usa-se "de mais" quando se trata:
          a) da preposição «de» seguida do advérbio «mais», funcionando este
               autonomamente, e exprime a noção de quantidade:
                    . Antes de a aula terminar, o professor falou ainda de mais dois temas.
                    . Nenhuma vida é de mais.
          b) de uma locução adverbial que significa muitíssimo, excessivamente,
               demasiado, em demasiaa mais (é o oposto de de menos):
                    . A Bar Rafaeli é linda de mais.
                    . Hoje esteve calor de mais para o meu gosto.
                    . A minha afilhada Eduarda come de mais, por isso está uma bola.

2. Escreve-se "demais" quando significa:
          a) os restantes, os outros (determinante ou pronome demonstrativo):
                    . Só o Pereira enjoou; os demais passageiros não tiveram problemas.
          b) ainda por cima, além disso, de resto, ademais:
                    . O vestido era feito. Demais a mais, custava os olhos da cara.
                    . A docência é uma profissão difícil; demais, é mal remunerada.


     Esta não é, porém, uma posição consensual. Atente-se no que escreve a professora Regina Rocha, no Ciberdúvidas:

     «Demais ou de mais? é uma das dúvidas – e confusões – mais frequentes no português corrente, razão, de resto, de permanentes perguntas de quem consulta o Ciberdúvidas. Vejamos esta dúvida de um leitor do jornal 24 Horas1: «Nenhuma vida é demais» ou «Nenhuma vida é de mais»?
Defendo que deverá escrever-se «Nenhuma vida é de mais». Quando se pretende exprimir a noção de quantidade, deve utilizar-se a locução adverbial de mais. No caso, pretende dizer-se que «não existe nenhuma vida a mais» («de sobra», «além do devido ou necessário»).
Demais, uma só palavra, pode ser um pronome ou um determinante demonstrativo, equivalente a «outros», «outras», «restantes». Exemplos: «Foram visitar a igreja só três excursionistas; os demais ficaram a apanhar sol no jardim.» «Toda a gente já ouviu falar de Miguel Torga, de Fernando Pessoa, de Luís de Camões e dos demais escritores referidos naquele programa de televisão.»
Demais (ou ademais), uma só palavra, também pode ser um advérbio que significa «além disso», «de resto». Exemplos: «O trabalho é muito difícil; demais, é mal pago.» «Não lhe obedeças; demais, essa determinação não está no regulamento.»
Demais, uma só palavra, pode ainda ser um advérbio de modo, que exprime a intensidade e significa «muitíssimo», «excessivamente», «em demasia», «demasiadamente». Emprega-se intensificando formas verbais, advérbios ou adjectivos. Exemplos: «Aquele rapaz dorme demais.» «A jarra é frágil demais; vai partir-se.» «Para aquele pasquim, ele escreve bem demais.»
De mais, duas palavras, é uma locução adverbial (formada pela preposição de e pelo advérbio mais) que exprime a ideia de quantidade. Tem um significado equivalente a «a mais» e aparece ligada a substantivos. É de quantidade que se trata, e não de intensidade. Exemplos: «Comprei discos de mais» (comprei mais discos do que devia); «São de mais os livros que tenho para ler» (são mais livros do que aqueles que tenho tempo ou disposição para ler; são livros a mais); «O chá tem açúcar de mais» (tem mais açúcar do que devia).
Na frase em causa, estamos perante um substantivo (vida), pelo que parece ser a quantidade que está em causa, e não a intensidade.»
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