Raskólnikov é um jovem de 24 anos, natural de Petersburgo, pobre e endividado, por isso revoltado contra o «mundo» que planeia um crime contra uma velha agiota (símbolo na obra do capitalismo) para se libertar do seu modo de vida miserável, mas demonstra também hesitação e alguma repulsa por pensar em recorrer ao crime.
A personagem Marmeládov representa o baixo estatuto dos funcionários públicos: miserável, alcoólico, desprezado pela sociedade, oprimido em casa, procurando, através de um expressão verbal recheada de floreados, o respeito público. Humilha-se ao pedir empréstimos; a filha é prostituta; vende até as roupas da mulher para sustentar a bebedeira; vive numa casa gelada, por isso, no último inverno, a consorte adoeceu e começou a cuspir sangue. Atualmente, esta trabalha de manhã à noite, não obstante a sua educação esmerada, a cultura e a proveniência de boas famílias. Vendo-se viúva e desprezada pela própria família, casou pela segunda vez por necessidade absoluta. Marmeládov, também viúvo, não conseguiu agradar à segunda mulher, foi despedido, errou por várias cidades até assentar ali. Foi nesta cidade que a filha do primeiro casamento se viu na necessidade de se prostituir... e o pai bêbedo. Marmeládov dirigiu-se então a sua excelência Ivan Afanássievitch, que lhe deu emprego. Em consequência, a vida da sua família transformou-se, até que há cinco noites ele retirou todo o dinheiro do baú, saiu de casa e caiu novamente na bebida.
De volta aos seus problemas, Raskólnikov fica a saber que a senhoria quer dar parte de si à polícia por não pagar a renda. Entretanto recebe uma carta da mãe que aborda diversos assuntos familiares: (1) os maus tratos e as humilhações sofridas por Dúnia, sua irmã, em casa do sr. Svidrigáilov, porque se havia apaixonado por ela e usa a grosseria e o desprezo para mitigar o seu desvario amoroso; a mulher descobre o interesse amoroso dele, mas interpreta a situação ao contrário, como se fosse Dúnetchka a tentar seduzir o patrão, fazendo recair sobre ela todo o odioso da questão e o desprezo da cidade; o problema resolve-se quando Svidrigáilov relata à esposa toda a verdade, relato esse sustentado pelos criados, e a honra é devolvida à família de Raskólnikov; (2) Dúnetchka recebeu um pedido de casamento de Piotr Petróvitch Lújin, conselheiro áulico e parente afastado de Marfa Petrovna, mulher de Svidrigáilov; trata-se de um homem abastado mas muito mais velho (45 anos), bondoso e bem apessoado, direto e um pouco brusco; não será um casamento de amor intenso; Dúnia projeta já que o irmão se torne sócio do futuro marido num escritório de advocacia que este pretende abrir em Petersburgo (até porque Raskólnikov poderá regressar à universidade para retomar o curso de Direito entretanto abandonado); (3) Pulkhéria Raskólnikova, a mãe, poderá, agora que o crédito lhe foi novamente franqueado, enviar algum dinheiro ao filho.
Raskólnikov não aceita o casamento e faz uma longa digressão sobre as razões que terão levado a irmã a tomar uma atitude tão 'decisiva' na vida que é incongruente com a sua forma de ser e de viver, para concluir que se trata de um sacrifício pessoal em prol de uma melhor existência para a mãe e o irmão.
A propósito do encontro com uma miúda de 15 / 16 anos bêbeda, acabada de "enganar" (pela primeira vez), reflete sobre a vida degradante que levam as prostitutas: a primeira "asneira", a descoberta por parte da família, a expulsão de casa, as ruas, os chulos e as casas de prostituição, as doenças venéreas / gravidezes, o fim da vida aos 18 / 19 anos.
Enquanto estudante universitário, Raskólnikov isolava-se de todos, não participava em nada (conversas, divertimentos, convívios), estudava muito, pelo que era respeitado mas não amado pelos colegas. A sua pobreza tornava-o orgulhoso, fechado e desdenhoso. O único amigo que possuía era Razumíkhin, um rapaz bastante alegre, sociável, bondoso, um pouco simplório, mas assaz inteligente. Era pobre (vivia à custa de pequenos trabalhos) e valentão, capaz das atitudes mais contraditórias; nenhuma contrariedade o desanimava.
Raskólnikov prepara-se para cometer o seu crime e recorda.-se da coincidência de, na altura em que começara a pensar nele, ter ouvido, numa taverna, uma conversa entre dois homens, que consideravam a morte da velha usurária um ato de justiça social. O seu caráter introspetivo leva-o a considerar uma espécie de analogia: figuras como Júlio César e Napoleão Bonaparte foram responsáveis por milhares de mortos, porém a História registou-os como grandes heróis e conquistadores, absolvendo-os dos seus atos. Por que razão ele não o poderia ser também ao eliminar a velha agiota? Assassinando-a, não estaria a fazer um bem à humanidade?
Como ardil para entrar em casa da velha, Raskólnikov embrulha muito bem um pedaço de madeira e uma chapa de ferro e cose uma alça de pano dentro do sobretudo muito largo para o machado ser transportado sem levantar suspeitas. No meio de grande nervosismo, assassina a velha e está a vasculhar as coisas dela em busca das riquezas, quando ouve um grito ténue. É Lisaveta, a irmã, da morta, que acabara de entrar e que ele também assassina à machadada. Pouco depois dá-se a chegada de um cliente de nome Koch e de um jovem estudante para juiz de instrução, que acabam por desconfiar que algo de suspeito aconteceu porque a porta não está fechada à chave, mas apenas com a tranca, e nenhuma das duas irmãs vem atender. Os dois descem à procura do guarda e Raskólnikov aproveita para fugir, mas, enquanto desce, apercebe-se que os outros vêm a subir de regresso. No último momento, encontra um apartamento em obras, vazio, e nele se esconde até os outros passarem em direção ao cenário do crime. Chegado a sua casa, repõe o machado no sítio e sobe para o seu quarto. Vestígios de sangue permanecem, no entanto, nos fios das suas calças e nas suas meias.
Cheio de febre e em pânico, Raskólnikov é chamado à esquadra de polícia, mas afinal "só" por causa de uma dívida à sua senhoria. Na esquadra ainda, ouve casualmente uma conversa, através da qual fica sabedor de que as autoridades não possuem pistas sobre o assassino da usurária. Com efeito, tratou-se do crime perfeito. Apesar disso, continua a pensar que a polícia suspeita de si, por isso livra-se dos objetos roubados à velha, escondendo-os num buraco junto a um portão de um prédio. Por outro lado, além do medo de ser preso, ressaltará o sentimento de culpa que o irá assolar e que nenhum livro o ensinou a superar. Matar milhares de seres humanos em nome da humanidade talvez seja mais fácil de superar do que aniquilar um só.
De seguida, vagueando ao caso, vai ter a casa do amigo de universidade Razumíkhin, que lhe oferece parceria numas traduções que anda a fazer, mas recusa a oferta, bem como o dinheiro correspondente ao pagamento da tarefa. De noite, acometido de febre, sonha que o ajudante de polícia que o recebeu de dia espanca a sua senhoria, Depois desmaia.
Dias depois, quando desperta da febre, tem ao seu dispor 35 rublos que a mãe lhe enviou e que, de início, rejeita. Fica a saber, por intermédio do amigo, que um trolha é agora o suspeito do assassínio da usurária. Obcecado pelo crime que cometeu, hesita em ir à polícia denunciar-se como autor do crime. A obsessão é tamanha que chega a deslocar-se novamente à casa da vítima. É o desejo de ser punido a despertar na sua psique. Entretanto a irmã e a mãe vêm à cidade e aí permanecem., enquanto Raskólnikov prossegue o seu percurso errático, chegando a despertar suspeitas.
A chegada de Svidrigáilov, marido da defunta Marfa Petrovna e suspeito de vários atos criminosos, entre os quais pedofilia e a morte da própria mulher, vem perturbar-lhe mais a existência. Em simultâneo, a irmã recebe 3000 rublos da herança de M. Petrovna e termina o noivado com Lujín por causa de um ódio mútuo.
Raskólnikov confia a família a Razumíkhin e dirige-se à polícia, onde encontra um juiz de instrução - Porfiri - que o confunde por completo ao explicar-lhe um método de investigação "psicológico" que se aplica a si mesmo e ao seu comportamento na perfeição, mas afirmando sempre que não se lhe aplica. Uma surpresa reservada a Raskólnikov - o confronto com o homem que, no dia anterior, o tinha perseguido e chamado assassino - acaba por cair por terra quando irrompe pela sala Nikolai, um dos pintores, que se apresenta como o autor do crime.
Os acontecimentos sofrem uma reviravolta quando o protagonista conhece Sónia, uma prostituta miserável que acaba por representar a fé ortodoxa e a possibilidade de uma redenção. De facto, ele, um niilista, é confrontado com a leitura de uma passagem do Evangelho de São João, precisamente a que refere a ressurreição de Lázaro. E, de facto, a partir desse momento, o herói parece ressurgir do mundo da solidão, da culpa, da introspeção, do niilismo.
Entrementes Lujín arma uma cilada a Sónia durante o "banquete" organizado após o funeral do pai, simulando um furto de 100 rublos, procurando despoletar um conflito entre Raskólnikov e a sua família e que ele, Lujín, recuperasse as boas graças da mãe e da irmã daquele. No entanto, acaba por ser desmascarado por Lebeziátnikov e pelo próprio Raskólnikov. Posteriormente, este revela a Sónia ser o assassino de Lisaveta e da velha agiota e ela aconselha-o a confessar.
A mãe de Sónia, Katerina Ivánovna, em desespero, vai pelas ruas com os filhos mais novos, como "cantores" ambulantes, para obter o dinheiro que lhe falta e que todos lhe negam até que cai, expelindo golfadas de sangue pela boca, e morre, vitimada pela tísica. Svidrigáilov, que entretanto escutou, no quarto contíguo, a confissão do assassinato, trata de colocar os filhos mais novos de K. Ivánovna numa instituição de crianças órfãs, oferecendo-lhes também uma determinada quantia de dinheiro para que tenham o futuro assegurado.
Raskólnikov recebe a visita do juiz de instrução, Porfíri Petróvitch, que o vem acusar direta e inequivocamente do crime, revelando não acreditar na confissão do pintor, que o terá feito por crença religiosa. Aconselha-o a confessar e assim terá atenuantes quando lhe for aplicada uma pena, contudo ele recusa e vai falar com Svidrigáilov. Este, mais tarde, recebe Dúnia após lhe ter escrito uma carta onde dava a entender que o irmão tinha assassinado a velha agiota e a irmã. Agora, confirma este facto e o modo como ficou a conhecê-lo e propõe-lhe um relacionamento em troca da salvação de Raskólnikov. Ela recusa e ele ameaça violá-la, mas Dúnia saca de um revólver e chega a efetuar um disparo, ferindo na fronte de raspão. Tenta mais duas vezes, mas arma mal o revólver e este não dispara, perante um Svidrigáilov que prefere morrer face à recusa da jovem. Dúnia acaba por atirar a arma ao chão; o homem abraça-a, mas ela, a tremer, diz-lhe não e ele dá-lhe a chave do quarto.
De seguidam Svidrigáilov procura Sónia e oferece-lhe dinheiro para ela sobreviver, juntamente com Raskólnikov, caso este seja preso e a mulher o acompanhe. Depois dirige-se a casa da noiva de 16 anos e oferece à família 1500 rublos, pois vai partir para a América por um largo período de tempo. Vagueia então por Petersburgo até pernoitar num autêntico antro, no qual o seu sono é interrompido várias vezes por sonhos estranhos. Posteriormente, sai para a rua e suicida-se com um tiro na cabeça, tendo como testemunha um bêbedo.
Por sua vez, após ter considerado também o suicídio, lançando-se ao rio, Raskólnikov decide entregar-se à justiça, indo despedir-se previamente da mãe e da irmã, continuando, porém, a não considerar o seu gesto um crime, porque se tratou de livrar o mundo de um piolho (um parasita) que explorava centenas de pobres indefesos, comparando o seu ato aos "crimes" cometidos pelos dirigentes das nações, que comemoram com champanhe o derramamento do sangue de milhares de homens. Quando se prepara para confessar o crime a Iliá Petróvitch, este comunica-lhe que Svidrigáilov se suicidou, o que o deixa incrédulo e zonzo e sai sem confessar. No entanto, à saída, encontra Sónia, mortificada. Reentra então e confessa finalmente o seu duplo homicídio.
O Epílogo situa-nos numa prisão siberiana, um ano e meio após o crime e nove meses depois do encarceramento de Raskólnikov. O processo judicial decorreu célere, pois ele confessou tudo e os juízes concluíram que o crime fora cometido em resultado de loucura temporária, pois o criminosos não tirou proveito do posterior roubo, isto é, não matou por interesse material, para roubar. No entanto, Raskólnikov assume que o crime fora praticado pela sua pobreza e desamparo, pelo desejo de assegurar os primeiros passos na carreira. A sentença foi condicionada por diversas atenuantes: o seu estado doentio e desorientado no momento do crime; o assassínio fortuito e não planeado de Lisaveta; a confissão espontânea do ato; o seu passado humano e caridoso, revelado por Razumíkhin; um ato de heroísmo revelado pela mãe da ex-namorada, já falecida. Resultado: oito anos de trabalhos forçados de segundo grau.
A mãe adoece e entra num estado de quase loucura, enquanto Rasumíkhin a leva e a Dúnia para morar numa pequena cidade perto de Petersburgo. Sónia segue-o para a Sibéria.
Dois meses depois da partida, Dúnetchka e Razumíkhin casaram-se, numa cerimónia triste e modesta. Pouco tempo volvido, Pulkhéria Aleksándrovna morre.
Sónia e o casal trocam cartas uma vez por mês, onde aquela relata secamente os factos ocorridos com Raskólnikov e nada sobre o seu estado de espírito ou projetos, apenas o grande abalo sofrido ao conhecer a nova da morte da mãe: ensimesmamento e indiferença relativamente ao presente e ao futuro. Sónia encontra-se regularmente com Raskólnikov, a quem fornece dinheiro para chá por a comida ser intragável, e trabalha como costureira, tendo conseguido que ele fosse protegido pelas autoridades prisionais. Repentinamente, a notícia de que adoeceu, de orgulho ferido, por a sua consciência não ver no crime qualquer erro ou culpa e não ser capaz de qualquer arrependimento. Enquanto os outros presidiários o odeiam, adoram Sónia, que lhes escreve as cartas destinadas aos familiares..
Quando Raskólnikov tem alta da enfermaria, é informado que Sónia adoecera e estava de cama, o que o deixa preocupado e pede a alguém que vá saber dela.
Numa manhã em que vai trabalhar para a margem do rio, surge, repentinamente, Sónia e, subitamente, ele lança-se aos seus pés: ama-a. E é esse amor que os irá resgatar a ambos e fazer encarar os sete anos que faltam cumprir de pena como "
apenas sete anos", sem pressentirem que este princípio de felicidade será confrontado com grandes provas futuras.
Afinal, é o amor que vai salvar estas duas almas infortunadas - um assassino e uma prostituta -, que vai resgatá-las e dar-lhes a oportunidade de uma nova vida.