Em baixo, apresentam-se as ligações que dão acesso às instruções de realização, cotações e critérios gerais de classificação das provas de exame nacional do ano letivo de 2021-2022.
quinta-feira, 9 de junho de 2022
quarta-feira, 8 de junho de 2022
segunda-feira, 6 de junho de 2022
sábado, 4 de junho de 2022
A ação de O Delfim
Antes de mais, convém distinguir entre ação e intriga. A primeira pode ser considerada como a sucessão de factos e acontecimentos em que as personagens participam, enquanto a segunda consiste na organização dos elementos narrativos, de modo a criar um enredo que se desenvolve segundo uma relação de causa-efeito.
Feita a distinção, poderemos
considerar que a intriga de O Delfim é uma história de adultério e de
morte: o adultério de Maria das Mercês e Domingos e a morte de ambos. Esta
história, porém, não é o motivo da narrativa. Note-se, por outro lado, que a
versão oficial dos acontecimentos é conhecida somente pelo Regedor e pelo Padre
Novo e nunca é divulgada, pois há a tendência para considerar o oficial como
sinónimo de verdadeiro, e não é a verdade o que Cardoso Pires pretende
esclarecer com a sua obra.
Explicação do título de O Delfim
O nome «delfim» pode significar várias coisas:
• animal da família dos golfinhos;
• filho varão;
• senhor feudal da França; Luís XV;
• peça do jogo de xadrez: bispo.
Para compreendermos o seu
significado, temos também de prestar atenção às palavras do próprio narrador da
obra, que nos diz o seguinte: “Depois, se quisesse escrever, passaria apenas o
dedo na capa encarquilhada do livro que o acompanha (ou numa tábua de relíquia,
ou numa pedra) e sulcaria o pó com esta palavra: Delfim. Seria uma dedicatória.
Um epitáfio, também. Seis letras que, de qualquer maneira, não teriam mais do
que a justa e exata duração que a poeira consentisse até as cobrir de novo.”
A partir do excerto, podemos
concluir que o título da obra é «pó que ao pó há de voltar”, é dedicatória e
epitáfio que se resume a seis letras.
quarta-feira, 1 de junho de 2022
Quando surgiram as línguas?
A resposta é óbvia: não sabemos. Certamente, não foi algo imediato, antes um processo gradual que levou milhares ou milhões de anos. O que sabemos é que todos os animais comunicam entre si, incluindo os irracionais, embora as formas de comunicação humanas sejam especiais. Por exemplo, os seres humanos comunicam quando choram ou coram, isto é, sem soltar um som que seja.
As
línguas humanas têm características muito específicas: não estão inscritas nos
genes, são extremamente flexíveis, adaptam-se facilmente a novas realidades (todos
os dias surgem novas palavras para designar algo novo que surge), permitem
falar do passado e do futuro (note-se como podemo-nos referir ao futuro sem
usar o respetivo tempo verbal; é possível fazê-lo – e fazemo-lo – usando o
presente: “Volto amanhã.” = “Voltarei amanhã.”), despertam e interferem com a
imaginação. Por outro lado, as línguas humanas fazem uso da chamada dupla
articulação, ou seja, um conjunto limitado de sons conjuga-se para criar
unidades com significado.
No
seu sítio Certas Palavras (www.certaspalavras.pt),
o professor Marco Neves, perante a total falta de dados que nos permitam saber
como surgiu a linguagem humana, imagina uma história explicativa do processo.
De
acordo com essa explicação, a linguagem teria tido origem em sons que o Homem usava
em certas situações de forma instintiva ou na imitação de animais e que, a
partir de certo momento, conseguiu desligar o símbolo do seu significado. E
prossegue nos seguintes termos: “Imaginemos um grupo de seres humanos, na
savana, a caçar. Um deles vê, à frente, uma gazela. Habitualmente, usam um som
dito em surdina, para que todos reparem. Com o tempo, encontram vários sons
para diferentes animais. Estamos perante sinais, que vão sendo aprendidos pelas
novas gerações. Estes sinais, a certa altura, começam a ser usados noutros
contextos, para «conversar» sobre os animais. Nascem as palavras. Um som poderia
representar um tigre, mas também pode ter passado a significar um animal,
usando-se outro som (ou uma conjugação de sons) para representar o tigre em si.
Alguém, à noite, refere vários tigres, usando, provavelmente, uma duplicação
dos sons usados para se referirem àquele animal.
Com
o tempo, ganham-se hábitos de ordenação desses símbolos sonoros – seria possível
dizer «gazela» «caçar» «eu», mas nunca «eu» «caçar» «gazela». Nasce a gramática.
A língua é criada a partir de necessidades práticas, ganha características
gramaticais particulares, que mais não são do que a cristalização de hábitos
linguísticos adquiridos sem grande lógica, e conhecer essas características
(essa gramática) torna-se essencial para viver na comunidade que usa essa
língua. Quem falava para caçar também era capaz de falar para impressionar a
vizinha – e se não fizesse, teria menos hipóteses de ter filhos com a vizinha.
As
línguas são sistemas simbólicos muito complexas, com base em sons ou gestos.
Com esses símbolos, comunicamos e criamos pensamentos na cabeça dos outros
(obrigamo-los a pensar em tigres). Trabalhamos a pensar em conjunto, nem que
seja para saber como caçar o tigre – ou atacar a tribo do lado. Quanto mais o
cérebro aumentava, mais capacidade tínhamos para manipular símbolos.”
[…]
Imaginemos,
por exemplo, um conjunto de arbustos que precisam de ter exposição ao sol para
sobreviver. Ora, se um arbusto em particular sofre uma mutação no seu ADN que o
torna ligeiramente mais alto e com mais folhas no topo, vai conseguir receber
mais luz do sol e, ao mesmo tempo, vai impedir que os arbustos do lado recebam
tanta luz. Vai viver mais e reproduzir-se mais. Em breve, […], os genes deste
arbusto vão começar a espalhar-se mais do que os arbustos um pouco mais baixos.
Os arbustos mais baixos passam a ter uma desvantagem que não existia antes. Os
arbustos com mutações que os tornam mais altos ganham. O gene que leva a uma
maior altura começa a ser preponderante – e assim surgem as árvores. Todos os
arbustos viviam felizes e contentes antes desta guerra. Não há uma vantagem
inerente à maior altura: a única vantagem é conseguir ganhar aos arbustos do
lado.”
No
caso do ser humano, o uso do símbolo permitia o ganha de vantagens
relativamente a quem não o domina, pois permite perceber melhor os outros,
ganhar mais poder, ser bem-visto, seduzir.
A
linguagem não é essencial para a sobrevivência do ser humano, como o prova o
facto de a humanidade ter vivido e evoluído ao longo de milhares de anos sem
ter uma linguagem como a entendemos hoje. Assim sendo, qual terá sido a razão
que fez com que se tornasse tão preponderante? O professor Marco Neves
responde: “Há duas grandes correntes. Alguns linguistas sublinham que a
linguagem é uma ferramenta cultural, inventada ao longo da nossa História. No
fundo, o uso da linguagem será como a roda: uma vez inventada, tornou-se tão
útil que ninguém a dispensa. Mas não nascemos – segundo esta perspetiva – com algum
tipo de mecanismo linguístico impresso no cérebro. Outros linguistas sublinham
o caráter biológico da linguagem: temos aparelhos fonadores e cérebros
adaptados ao uso da linguagem – as nossas gargantas seriam diferentes se não
fosse a necessidade de falar.” Assim sendo, é lícito concluir que a linguagem humana
é um facto cultural e biológico.
Para
se adaptar à nova necessidade que era a linguagem, tudo no ser humano evoluiu: o
corpo em geral, o cérebro, o aparelho fonador, a boca, a garganta. Aprender a
falar é algo natural ao ser humano, como é caminhar, ao contrário do que sucede
com outras competências, como, por exemplo, a leitura ou a escrita. Por
exemplo, uma criança de 3 ou 4 anos não necessita que os adultos a ensinem a
falar; basta a convivência diária para que ela aquira e desenvolva essa
competência. Porém, o mesmo não sucede com a leitura. Se dermos a essa mesma
criança um livro, não conseguirá lê-lo sozinha, sem ajuda, sem quem a ensine.
Embora
não existam certezas, é possível que, há cerca de 40 000 anos, os seres humanos
já falassem línguas com características semelhantes às que hoje possuímos. No
entanto, há indícios que sugerem que a linguagem humana já existia na era do Homo
erectus, que surgiu há 2 000 000 de anos, conseguiu controlar e usar o
fogo, se expandiu por um território vastíssimo e navegou até ilhas tão
afastadas no mar que tal empresa implicou um grau acentuado de organização e
comunicação, bem como o uso de embarcações com algum alcance e robustez. Em
2004, descobriram-se na Ilha das Flores, na Indonésia, ferramentas que datam de
há 800 000 anos. Daniel Everett, na sua obra How Language Began,
sustenta que o Homo erectus já falaria um tipo de língua simbólica algo
parecida com a nossa. Dado que a ilha já na época distava muito de terra
continental, certamente foi necessário construir barcos que levassem seres
humanos até lá, sendo difícil imaginar que tudo teria sido feito sem o uso da
fala.
terça-feira, 31 de maio de 2022
Como surgiram as línguas?
Marco Neves, no seu livro História do Português desde o Big Bang (p. 43), dá uma resposta curiosa à pergunta.
Para
tal, recua até ao momento em que se iniciou o processo que originou o
surgimento do ser humano, cerca de 6 000 000 a.C. Assim, um grupo de símios,
talvez à procura de comida na savana africana, ter-se-á dividido em dois, seguindo
cada um rumos diferentes. Com a passagem do tempo, as mutações que ocorrem no
momento da reprodução terão feito com que os dois grupos se tornassem cada vez
mais diferentes. Em determinado momento, em época que desconhecemos, deixaram
de poder reproduzir-se entre si. Deste modo, um dos grupos deu origem a todas
as espécies de seres humanos, enquanto o outro às várias espécies de chimpanzés
e bonobos. O primeiro grupo, nesse período de seis milhões de anos, evolui no
sentido de desenvolver aquilo a que chamamos línguas, passou a
locomover-se em duas patas e abandonou as árvores; já o outro manteve as formas
de comunicação dos símios.
Há
cerca de dois milhões de anos, terá surgido o «Homo erectus», a espécie
que teria traços culturais parecidos com os nossos, que se espalhou desde a
Península Ibérica até à atual Indonésia, que explorou continentes e ilhas tão
distantes da costa que implicavam uma certa organização e condenação coletiva,
ou seja, “Algo que permitiria ensinar e aprender, avisar e dar ordens” (Marco
Neves, in História do Português desde o Big Bang, p. 44), isto é, uma
forma de linguagem. São estes dados que levam alguns autores a defender que foi
o «Homo erectus» que inventou a linguagem.
segunda-feira, 30 de maio de 2022
Resumo do capítulo XI de Amor de Perdição
Domingos Botelho e D. Rita Preciosa tomam conhecimento do crime do filho e de que ele se encontra em casa do juiz de fora. O corregedor instrui o meirinho-geral a cumprir a lei e, perante o espanto da esposa, afirma que não irá proteger assassinos – o seu próprio filho – por causa de ciúmes da filha de um homem que odeia. Todas as tentativas de D. Rita de interceder por Simão caem em saco roto.
O juiz informa Domingos de que,
embora tivesse sugerido ao seu filho que alegasse legítima defesa no caso, ele
continua a assumir o seu ato, sem receio da forca. No cárcere, Simão recebe uma
carta da mãe, na qual esta maldiz o nascimento do filho e lamenta não o poder
ajudar financeiramente. Desta forma, o jovem compreende que o dinheiro que
recebera anteriormente era de João da Cruz e vira as costas à família.
Mais tarde, Mariana visita-o e Simão abraça a jovem em lágrimas. O fidalgo pede à filha do ferrador que lhe leve uma banca, um tinteiro e papel para poder escrever a Teresa, por quem pergunta, sendo informado por Mariana de que tinha ido para o Porto. Ela promete não o desamparar e pede-lhe que a veja, a partir dali, como uma irmã.
domingo, 29 de maio de 2022
ENEM 2020
Aplicação regular
Resumo do capítulo X de Amor de Perdição
Mariana chega ao mosteiro. O padre capelão tenta falar com ela, mas a filha do ferrador ignora-o. Posteriormente, encontra-se com Teresa e entrega-lhe a carta, mas a fidalga comunica-lhe que está impedida de escrever a Simão. Assim sendo, solicita-lhe que o informe de que irá para o convento de Monchique, no Porto, e que, durante a viagem, será acompanhada por seu pai, por Baltasar e pelas suas irmãs, além de alguns criados.
No caminho de regresso, Mariana repete
o recado da fidalga e recorda como é bela, o que a deixa triste. É evidente que
a filha de João da Cruz ama Simão e Teresa é uma «rival». Quando chega a casa,
transmite a mensagem ao jovem, que se enfurece mal ouve o nome de Baltasar. O
ferrador aconselha-o a deixar que Teresa vá para o Porto, mas o filho do
corregedor está determinado a encontrar-se com a amada. Face a essa
determinação, João da Cruz oferece-lhe os seus préstimos.
Ao anoitecer, Simão escreve uma
carta emocionada à fidalga, afirmando que, quando ela lesse aquela missiva, ele
já estaria morto. Ao perceber que o jovem se prepara para tomar uma atitude
arriscada, Mariana chora e pede-lhe que não saia nessa noite, contudo o filho
do corregedor está decidido a ir. No entanto, a João da Cruz afirma que mudou
de ideias e já não irá ao encontro de Teresa.
Quando Simão se encontra à porta do
convento, chegam as irmãs de Baltasar, dois criados, Tadeu e Baltasar, que
conforta o tio, mas critica, ao mesmo tempo, a educação ministras a Teresa.
Entretanto, Teresa e as irmãs de Baltasar saem do convento; a fidalga avista o
primo, o que a deixa perturbada. Subitamente, Simão caminha na direção da jovem
e dirige-lhe a palavra. Baltasar avança também e os dois trocam palavras
violentas. O fidalgo de Castro Daire lança-se sobre o filho do corregedor, que
saca de uma pistola e lhe coloca uma bala no crânio. De seguida, João da Cruz
insta Simão a fugir, porém este recusa. Quando o meirinho-geral chega e se
apercebe de que se trata do filho de Domingos Botelho, dá-lhe a oportunidade de
fugir, mas Simão entrega-se. Teresa segue para o Porto na companhia dos
criados.
quinta-feira, 26 de maio de 2022
segunda-feira, 23 de maio de 2022
Resumo do capítulo IX de Amor de Perdição
João da Cruz regressa a casa e informa Simão de que tinha estado com a mãe, que lhe tinha enviado algum dinheiro. Grato pelos cuidados do ferrador e de Mariana, o jovem pede-lhe que aceite parte do dinheiro como pagamento da sua alimentação, mas aquele recusa a oferta.
Teresa escreve novamente a Simão e
aconselha-o a regressar a Coimbra, visto que Tadeu sabe onde o jovem se
encontra. No entanto, noutra missiva, aconselha-o a não ir, pois receia que o
seu pai a enclausure num convento mais rigoroso, e assegura-lhe que recusará sempre
professar e que deseja fugir.
Tadeu de Albuquerque avisa a filha
de que a vai transferir para o convento do Porto no dia seguinte. A jovem
escreve a Simão, relatando-lhe a decisão do pai, no entanto é denunciada pela
escrivã. Assim, a mendiga é expulsa do convento e espancada pelo hortelão, que
leva o bilhete de Teresa ao pai.
A mendiga dirige-se a casa de João
da Cruz e relata a Simão o que sucedeu, que fica determinado a ir a Viseu. Contudo,
Mariana diz-lhe que tem uma amiga que poderá entregar uma carta a Teresa. Deste
modo, inquieto, Simão escreve à fidalga, pedindo-lhe que fuja.
Resumo do capítulo VIII de Amor de Perdição
Em sua casa, João da Cruz recomenda a Mariana que cuide de Simão e que o trate como «irmão ou marido», o que faz corar a filha. Quando o jovem sugere ao ferrador que case a filha, ele responde que Mariana tem muitos pretendentes, mas não aceita nenhum.
Simão pede à filha de João da Cruz
que lhe traga papel e lápis. Esta diz-lhe que tem conhecimento da sua relação
com Teresa e do que sucedera aos criados de Baltasar. Além disso, afirma que
conhece a família e que está muito grata a Domingos Botelho por ter livrado o
pai da forca. Por último, revela-lhe que tinha estado presente na fonte aquando
da cena de pancadaria e que tivera um sonho que indiciava que uma desgraça se
iria abater sobre Simão.
João da Cruz entrega a Simão uma missiva
trazida por uma mendiga que o informa de que Teresa se encontra no convento, no
Porto. Esta nova deixa Mariana um pouco feliz. O jovem responde à carta,
pedindo à amada que fuja. Se esta fugisse, ele raptá-la-ia no trajeto. A
finalizar a missiva, reafirma o seu amor pela fidalga e a sua decisão de se
sacrificar por ela.
O ferrador apercebe-se de que Simão
está sem dinheiro e comunica-o à filha, que se prontifica a lhe entregar as
suas economias e congemina um plano para fazer crer que seria D. Rita, a mãe, a
enviar o dinheiro ao filho através de João da Cruz. Simão estranha o gesto da
progenitora, mas aceita o dinheiro. No final do capítulo, o filho de Domingos
Botelho fica consciente de que a Mariana o ama.