Português: Discurso manuscrito do presidente Obama aos estudantes americanos (versão em português)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Discurso manuscrito do presidente Obama aos estudantes americanos (versão em português)


Discurso do Presidente Obama aos Estudantes,
na Abertura do Ano Escolar

            Sei que para muitos de vocês hoje é o primeiro dia de aulas, e para os que entraram para o jardim infantil, para a escola primária ou secundária, é o primeiro dia numa nova escola, por isso é compreensível que estejam um pouco nervosos. Também deve haver alguns alunos mais velhos, contentes por saberem que já só lhes falta um ano. Mas, estejam em que ano estiverem, muitos devem ter pena por as férias de verão terem acabado e já não poderem ficar até mais tarde na cama.

            Também conheço essa sensação. Quando era miúdo, a minha família viveu alguns anos na Indonésia e a minha mãe não tinha dinheiro para me mandar para a escola onde andavam os outros miúdos americanos. Foi por isso que ela decidiu dar-me ela própria umas lições extra, de segunda a sexta-feira, às 4h30m da manhã. A ideia de me levantar àquela hora não me agradava por aí além. Adormeci muitas vezes sentado à mesa da cozinha. Mas quando eu me queixava, a minha mãe respondia-me: “Olha que isto para mim também não é pera doce, meu malandro…”.
            Tenho consciência de que alguns de vocês ainda estão a adaptar-se ao regresso às aulas, mas hoje estou aqui, porque tenho um assunto importante a discutir convosco. Quero falar convosco da vossa educação e daquilo que se espera de vocês neste novo ano escolar.
            Já fiz muitos discursos sobre educação, e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos professores de vos motivarem, de vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da responsabilidade dos vossos pais de vos manterem no bom caminho, de se assegurarem de que vocês fazem os trabalhos de casa e não passam o dia à frente da televisão ou a jogar com a Xbox. Falei da responsabilidade do vosso governo de estabelecer padrões elevados, de apoiar os professores e os diretores das escolas e de melhorar as que não estão a funcionar bem e onde os alunos não têm as oportunidades que merecem.
            No entanto, a verdade é que nem os professores e os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. Se vocês não forem às aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e aos outros adultos e não trabalharem duramente, como terão de fazer se quiserem ser bem sucedidos.
            E hoje é nesse assunto que quero concentrar-me: na responsabilidade de cada um de vocês pela sua própria educação.
            Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona.
            Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores – suficientemente bons para escreverem livros ou artigos para jornais ‑, mas se não fizerem o trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam pessoas inovadoras ou inventores – quem sabe, capazes de criar o próximo iPhone ou um novo medicamento ou vacina ‑, mas se não fizerem o projeto de Ciências podem não vir a percebê-lo. Talvez possam vir a ser presidentes da câmara ou deputados, ou juízes do Supremo Tribunal, mas, se não participarem nos debates dos clubes da vossa escola, podem nunca vir a sabê-lo.
            No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos que não será possível se não estudarem. Querem ser médicos, professores ou polícias? Querem ser enfermeiros, arquitetos, advogados ou militares? Para qualquer dessas carreiras, é preciso ter estudos. Não podem deixar a escola e esperar arranjar um bom emprego. Têm de trabalhar, estudar, aprender para isso.
            E não é só para as vossas vidas e para o vosso futuro que isto é importante. O que vocês fizerem com os vossos estudos vai decidir nada mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que aprenderem na escola, agora, vai decidir se seremos um país à altura dos desafios do futuro.
            Vão precisar dos conhecimentos e das competências que se aprendem e desenvolvem nas Ciências e na Matemática para curar doenças como o cancro e a sida e para desenvolver novas tecnologias energéticas que protejam o ambiente. Vão precisar da penetração e do sentido crítico que se desenvolvem na História e nas Ciências Sociais para que deixe de haver pobres e sem-abrigo, para combater o crime e a discriminação e para tornar o nosso país mais justo e mais livre. Vão precisar da criatividade e do engenho que se desenvolvem em todas as disciplinas para criar novas empresas que criem novos empregos e desenvolvam a economia.
            Precisamos que todos vocês desenvolvam os vossos talentos, competências e capacidades para ajudarem a resolver os nossos problemas mais difíceis. Se não o fizerem, se abandonarem a escola, não é só a vocês mesmos que estão a abandonar, é ao vosso país.
            Eu sei que não é fácil ter bons resultados na escola. Tenho consciência de que muitos têm dificuldades na vossa vida que dificultam a tarefa de se concentrarem nos estudos. Percebo isso, e sei do que estou a falar. O meu pai deixou a nossa família quando eu tinha dois anos e fui criado só pela minha mãe, que teve muitas vezes dificuldades em pagar as contas e nem sempre conseguia dar-nos as coisas que os outros miúdos tinham. Tive muitas vezes pena de não ter um pai na minha vida. Senti-me sozinho e tive a impressão de que não me adaptava e, por isso, nem sempre conseguia concentrar-me nos estudos como devia. E a minha vida podia muito bem ter dado para o torto. Mas tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e consegui ir para a faculdade, estudar Direito e realizar os meus sonhos. A minha mulher, a nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história parecida com a minha. Nem o pai nem a mãe dela estudaram e não eram ricos. No entanto, trabalharam muito, e ela própria trabalhou muito para poder frequentar as melhores escolas do nosso país.
            Alguns de vocês podem não ter tido estas oportunidades. Talvez não haja nas vossas vidas adultos capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro não chega. Pode ser que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a fazer coisas que vocês sabem que não estão bem.
            Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida – o vosso aspeto, o sítio onde nasceram, o dinheiro que têm, os problemas da vossa família – não são desculpa para não fazerem os vossos trabalhos nem para se portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos professores, para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são desculpa para não estudarem.
            A vossa vida atual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês. Aqui, nos Estados Unidos, somos nós que decidimos o nosso destino. Somos nós que fazemos o nosso futuro. […]
            É por isso que hoje me dirijo a cada um de vós, para que estabeleça os seus próprios objetivos para os seus estudos e para que faça tudo o que for preciso para os alcançar. O vosso objetivo pode ser apenas fazer os trabalhos de casa, prestar atenção às aulas ou ler todos os dias algumas páginas de um livro. Também podem decidir participar numa atividade extracurricular, ou fazer trabalho voluntário na vossa comunidade. Talvez decidam defender miúdos que são vítimas de discriminação por serem quem são ou pelo seu aspeto, por acreditarem, como eu acredito, que todas as crianças merecem um ambiente seguro em que possam estudar. […] Mas decidam o que decidirem, gostava que se empenhassem. Que trabalhassem arduamente.
            Eu sei que muitas vezes a televisão dá a impressão de que podemos ser ricos e bem-sucedidos sem termos de trabalhar – que o vosso caminho para o sucesso passa pelo rap, pelo basquetebol ou por serem estrelas de reality shows ‑, mas a verdade é que isso é muito pouco provável. A verdade é que o sucesso é muito difícil. Não vão gostar de todas as disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão ser úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar os vossos objetivos à primeira.
            No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são as que sofreram mais fracassos. O primeiro livro do Harry Potter, de J. K. Rowling, foi rejeitado doze vezes antes de ser publicado. Michael Jordan foi expulso da equipa de basquetebol do liceu, perdeu centenas de jogos e falhou milhares de lançamentos ao longo da sua carreira. No entanto, uma ocasião disse: “Falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E foi por isso que fui bem-sucedido.”
            Estas pessoas alcançaram os seus objetivos porque perceberam que não podemos deixar que os nossos fracassos nos definam – temos de permitir que eles nos ensinem as suas lições. Temos de deixar que nos mostrem o que devemos fazer de maneira diferente quando voltamos a tentar. Não é por nos metermos num sarilho que somos desordeiros. Isso só quer dizer que temos de fazer um esforço maior por nos comportarmos bem. Não é por termos uma má nota que somos estúpidos. Essa nota só quer dizer que temos de estudar mais.
            Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não entramos para a primeira equipa da Universidade a primeira vez que praticamos um desporto. Não acertamos em todas as notas a primeira vez que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática várias vezes até acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes antes de poderem entregá-lo.
            Não tenham medo de fazer perguntas. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem de admitir que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem confiem – um pai, um avô, um professor ou um treinador – e peçam-lhe que vos ajude.
            E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram, nunca desistam de vocês mesmos. Se o fizerem, é do vosso país que estão a desistir. […]
            Por isso, hoje quero perguntar-vos qual é o contributo que pretendem dar. Quais são os problemas que tencionam resolver? Que descobertas pretendem fazer? Quando daqui a 20 ou 50 ou a 100 anos um presidente vier aqui falar, o que vai dizer que vocês fizeram pelo vosso país?
            As vossas famílias, os vossos professores e eu estamos a fazer tudo o que podemos para assegurar que vocês tenham a educação de que precisam para responder a estas perguntas. Estou a trabalhar duramente para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês. Não nos desapontem. Não desapontem as vossas famílias e o vosso país. Façam-nos sentir orgulho em vocês. Tenho a certeza de que são capazes.

12 de setembro de 2009

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