n Assunto: o
sujeito poético, dirigindo-se à mulher amada, declara-lhe que, se é doce ver a
suave alegria da manhã enfeitada de flores e amenizada pelo deslizar do manso
rio, se é doce ouvir o doce chilrear dos passarinhos entre os aromas dos pomares,
se é doce ver o suave colorido do mar e dos céus, mais doce é poder morrer de
amor na posse da sua amada.
n
Tema: a exaltação da mulher amada.
n
Estrutura interna
▲ 1.ª
parte (vv. 1-11) – Descrição de uma Natureza caracterizada pela doçura, pela
amenidade, pela beleza, pela claridade, pela serenidade, pela alegria, pela
suavidade, pela harmonia – um autêntico paraíso – “locus
amoenus”.
▲ 2.ª parte (vv. 12-14) – A superioridade
da mulher em relação à Natureza.
De facto,
o sujeito poético estabelece uma comparação entre a doçura e a alegria que ele
experimenta ao observar a Natureza (com as características atrás apontadas) e a
doçura que experimenta ao cair nos braços da mulher amada, vencida pelo seu
amor. Mas os dois termos comparados não são iguais, porque se é doce sentir a
Natureza, mais doce é cair nos braços da mulher; ou seja, a mulher é superior à
Natureza em termos de beleza.
A 1.ª parte do texto contém, por
conseguinte, o primeiro termo de comparação e a 2.ª parte contém o segundo.
n
Função da Mulher:
– divina,
ideal, doce, carinhosa (comparada a tudo o que é doce e ameno);
– comparada à
Natureza, é-lhe, porém, superior;
– deve dar
“morte de amor”;
– é causadora
do sofrimento, mas também confidente;
– deve
deixar-se vencer pelos ais, pelo sofrimento do homem que a ama.
n
Imagem da Natureza
A suavidade da
Natureza, a claridade, a alegria, ao nascer do Sol, irradiando também
serenidade e paz, está dentro dos ideais clássicos da “aurea
mediocritas”, isto é, da convicção que os clássicos tinham de que a
suave alegria da natureza lançava na alma um bálsamo especial que suavizava as
agruras da vida, e do “locus amoenus”. Notem-se
as palavras e expressões que conotam suavidade, serenidade, paz: “doce”, “ameno
Estio”, “mole e queixoso deslizar-se o rio”, “inocente desafio”, “esperta os
corações” (no sentido de dar vida, libertar os corações dos pesares da vida.
n
Recursos poético-estilísticos
Para realçar a
suavidade da Natureza temos, em primeiro lugar, a expressividade dos adjectivos:
doce (repetido 4 vezes), ameno, mole e queixoso, inocente,
gentil, querida, brandos. Destes, o adjetivo-chave é doce,
que se repete anaforicamente e em lugar de destaque, no princípio das
estrofes, e no grau comparativo (comparação) de superioridade (“mais
doce é”) para, a partir da grande doçura que há na fruição da Natureza, realçar
a infinita doçura encontrada na posse da mulher amada. Os verbos também
designam acções realizadas suavemente: lambendo, deslizar-se
(notar a expressividade do reflexo), modulando (o próprio gerúndio
exprime a acção a deslizar suavemente). Estas apalavras, apontando no seu significado
para a suavidade, são também suaves como significantes, isto é, no seu próprio
som e na musicalidade que ajudam a construir no verso. Há no poema versos de um
ritmo, de uma suavidade encantadora: “Mole e queixoso deslizar-se o rio”,
“Seus versos modulando e seus ardores”, “Que esperta os corações, floreia os
prados”, “Dar-me em teus brandos olhos desmaiados”.
Por outro lado, o
soneto é bastante rico na expressão de sensações:
– gustativas: doce (4 vezes), lambendo;
– visuais: ver (3 vezes), verdores,
sombrio, anilados, olhos, desmaiados;
– tácteis: ameno, mole, ardores, brandos;
– auditivas: queixoso, ouvirem-se, ais;
– olfactivas: aromas.
Note-se que há signos que não designam apenas uma sensação. Por
exemplo, na expressão “é doce ver”, o adjectivo doce, em rigor, estará
dentro das sensações visuais (agradável aos olhos), mas na expressão “é doce
ouvir”, já o mesmo adjectivo se integra nas sensações auditivas (agradável aos
ouvidos). O adjectivo brandos exprime ao mesmo tempo sensações visuais e
tácteis. E o adjectivo ameno pode referir-se a qualquer sensação.
Ainda na descrição da
Natureza, são de reter a personificações de elementos como o rio e do
Amor; as metáforas (“Ver toucar-se a manhã de etéreas flores...”, “...
lambendo as areias e os verdores...”, “Que esperta os corações, floreia os
prados...”, “... morte de amor...”); a perífrase e a metonímia “Ouvirem-se
os voláteis amadores...” (= passarinhos) e os hipérbatos.
n
Características
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