Português: Vertentes da poesia de Bocage

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Vertentes da poesia de Bocage

    Na obra lírica de Bocage, são manifestas duas vertentes nucleares. A primeira, luminosa, etérea, em que o poeta setubalense se extasia na evocação da beleza da(s) sua(s) mulher(es) amada(s) (Marília, Anália, Anarda...), expressando, em simultâneo, a sua vida amorosa inconstante e tempestuosa:
“Eu louco, eu cego, eu mísero, eu perdido
De ti só trago cheia, oh Jónia, a mente;
Do mais e de mim ando esquecido.”
    A segunda vertente é depressiva, dolorosa, nocturna e pessimista; nela, Bocage manifesta todo o seu sofrimento, face à falta de correspondência amorosa, à indiferença, à traição, à ingratidão da(s) amada(s).
    Estes contrastes são frequentes na poesia de Bocage, plena de contrários, consequência do seu temperamento arrebatado e emotivamente descontrolado.
    A segunda vertente é dominante na sua poesia (o sofrimento, a dor, as “trevas”, a angústia), facto que o leva a desejar a morte, encarada, frequentemente, como solução para esse sofrimento: “... Refúgio me promete a amiga Morte...”. Afinal, o destino persegue-o desde a hora do seu nascimento, um destino inexorável e irreversível, contra o qual o poeta nada pode, e, como se isso não bastasse, o ciúme arruina-o, acentuando-lhe o estado depressivo e sofredor: “... Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante”.

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