Na obra lírica de Bocage, são
manifestas duas
vertentes nucleares. A primeira, luminosa, etérea, em
que o poeta setubalense se extasia na evocação da beleza da(s) sua(s) mulher(es)
amada(s) (Marília, Anália, Anarda...), expressando, em simultâneo, a sua vida
amorosa inconstante e tempestuosa:
“Eu
louco, eu cego, eu mísero, eu perdido
De ti só trago cheia, oh Jónia, a mente;
Do mais e de mim ando esquecido.”
A segunda vertente é depressiva,
dolorosa, nocturna e pessimista; nela, Bocage manifesta todo o seu sofrimento,
face à falta de correspondência amorosa, à indiferença, à traição, à ingratidão
da(s) amada(s).
Estes contrastes são
frequentes na poesia de Bocage, plena de contrários, consequência do seu
temperamento arrebatado e emotivamente descontrolado.
A segunda vertente é dominante na
sua poesia (o sofrimento, a dor, as “trevas”, a angústia), facto que o leva a
desejar a morte, encarada, frequentemente, como solução para esse sofrimento: “...
Refúgio me promete a amiga Morte...”. Afinal, o destino persegue-o desde a
hora do seu nascimento, um destino inexorável e irreversível, contra o qual o
poeta nada pode, e, como se isso não bastasse, o ciúme arruina-o,
acentuando-lhe o estado depressivo e sofredor: “... Em sanguíneo carácter
foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante”.
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