Português: O Realismo na literatura brasileira

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

O Realismo na literatura brasileira

    Em Portugal, a ideologia subjacente é marcada pelo:
    => Irreligiosismo: agrada-lhes uma religião sem dogmas, de cunho panteísta. Assumem atitudes marcadamente anticlericais.
    => Inconformismo com a tradição: acreditam que a consciência humana não mais se importará com os entraves que lhe opunha outrora a sociedade absolutista, burguesa e feudal.
    => Supremacia da verdade física: as verdades metafísicas e morais são relegadas para o mundo das conjeturas.
    => Novas teorias filosóficas: a Geração de 70 estuda com avidez:
            - o idealismo de Hegel;
            - o socialismo de Proudhon;
            - o positivismo de Comte, etc.

    A estética literária tem as seguintes características:
    => Conteúdo ideológico profundo: a literatura devia inspirar-se nas correntes filosóficas e sociológicas modernas para exprimir a real problemática do homem da época.
    => Impassibilidade na análise do real: reage contra o idealismo e as atitudes emocionais enfáticas e hiperbólicas dos românticos e advoga a análise, síntese e exposição da realidade, com neutralidade de coração. Não dará nomes belos ao que é imoral e baixo, nem encobrirá as reais consequências do crime.
    => Crítica social e de costumes: olhavam o passado como estéril. Os realistas descobrem e atacam a imoralidade e os maus costumes. Esforçam-se por relacionar as causas (biológicas, sociais) do comportamento das personagens do romance com o tipo desse mesmo comportamento.
    => Técnica narrativa e descritiva perfeita: descrevem e narram de maneira que a obra literária não seja mais que um puro reflexo da realidade. Os escritores usam:
            - expressão simples
            - tom desafetado

    No caso do Brasil, no período do Romantismo, com José de Alencar e M. A. de Almeida, tínhamos a ficção: o romance fisiológico e de costumes. Esta narração dos costumes marcou o início do século XIX, porém, as coisas modificam-se e começa a notar-se a penetração de falsos valores.
    No Romantismo, havia um grande nível de idealização e com o Realismo esses véus idealizantes retomam tudo o que estava mal: na sociedade, na família, a nível político, económico e social.
    Para explicar o que estava mal, procuram causas: naturais (raça e clima) e sociais (meio e educação). O objetivo do Realismo era descobrir a verdade, através das causas que explicam um certo comportamento. Vão analisar os comportamentos, tentando descobrir as causas.
    Bosi (pg. 188) refere algumas afirmações de realistas franceses que mostram uma certa poética do Realismo:
  1. Flaubert: "Esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma linha reta geométrica: nenhum lirismo, nada de reflexões, ausente a personalidade do autor."
  2. Jules e Edmond Concourt: "Hoje, quando o romance cresce e se amplia, quando começa a ser a grande forma séria, apaixonada, vida, do estudo literário e da pesquisa social, quando ele se torna pela análise e pela sondagem psicológica a história moral e contemporânea; hoje, quando o romance impôs a si mesmo os estudos e os deveres da ciência, ele pode reivindicar-lhes as liberdades e a franqueza."
    Estas afirmações são importantes para se observar como se entendia o Realismo na Europa.
    Tópicos principais destas citações:
        - conhecimento objetivo;
        - função do romance realista: este, mais que forma literária, é também histórica de costumes e análise social. Assim, as duas linhas de pensamento realista são:
                - procura da verdade;
                - análise de costumes.
    Muitos destes princípios vão ser mais desenvolvidos pelo movimento posterior: o Naturalismo, escola que se segue ao Realismo e leva certos aspetos ao exagero. Uma obra pertencente ao Realismo é O Cortiço, de Aluísio de Azevedo.

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