Português

sábado, 30 de abril de 2011

Brecht sobre os políticos

          Bertolt Brecht (1898-1956), um dos autores que influenciou a escrita de Felizmente há Luar!, disse um dia o seguinte sobre o analfabetismo e os políticos:

          "Não há pior analfabeto que o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. O analfabeto político é tão burro que se orgulha de o ser e, de peito feito, diz que detesta a política. Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância política é que nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, desonesto, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Toada Coimbrã: "E Alegre se fez Triste"


          Vídeo da Toada Coimbrã do presente mês de Abril, na Serenata Monumental de Viseu 2011, interpretando o célebre poema de Manuel Alegre.

          Continua a ser impressionante o barulho geral que quase abafa a voz de Rui Lucas e o som das violas e guitarra, uma tendência que se tem vindo a acentuar nos últimos (largos) anos, mesmo em Coimbra, a sede da tradição académica por excelência, embora o sentimento seja completamente diferente da maioria das academias lusitanas.

Desafio matemático

          Coloque os três meninos de modo a que configurem um número de três algarismos divisível por 7.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Espaço social de 'Felizmente há luar!'

1. Lisboa:
  • é o macro-espaço, o centro e símbolo de Portugal;
  • é a capital do reino, onde está instalado o governo e onde se inicia a revolta popular, que só posteriormente se alarga ao resto do país (pp. 55 e 64);
  • espaço de contrastes que permite o confronto claro entre o Poder e o povo;
  • cidade do descontentamento e das fogueiras (lembrando os autos-de-fé);
  • espaço de opressão, delação, injustiça, denúncia, ausência de liberdade, violência...

     1.1. Rua:
  • de acordo com Brecht, a rua é o espaço propício a revelar o «gesto social», isto é, a revelar o homem nas suas relações sociais, o diálogo constante entre os vários grupos sociais;
  • por isso, o cenário não apresenta uma rua específica, definida, mas somente os objectos que indiciam a miséria popular;
  • desempenha diferentes funções: por um lado, acentua as vivências do povo explorado e pedinte; por outro, estabelece a ligação para o espaço do poder, das grandes decisões;
  • é o espelho do quotidiano do povo oprimido;
  • é o palco da vida dos pobres, dos pedintes, dos doentes, dos injustiçados, dos que lutam ingloriamente pela justiça e pela liberdade, em suma, do povo andrajoso, miserável, uma multidão de aleijados e doentes;
  • é o símbolo da miséria, da opressão, da injustiça...;
  • está associada à impotência popular perante o decurso dos acontecimentos, nomeadamente a prisão de Gomes Freire (início do acto II).

     1.2. Baixa:
  • sede da Regência (espaço interior);
  • em termos de cenário, as didascálias apenas referem as três cadeiras pesadas e ricas e com aparência de tronos (p. 47), que simbolizam as três faces do poder (D. Miguel -> poder civil; Beresford -> poder militar; Principal Sousa -> poder religioso), bem como a opulência e a riqueza dos governadores, em contraste com a miséria do povo;
  • a indumentária que envergam traduz a riqueza, o luxo, a ostentação e a vaidade dos poderosos;
  • o criado de libré e as suas atitudes / palavras traduzem a sua dependência relativamente ao patrão e a absorção das regras das camadas mais elevadas da sociedade (daí o distanciamento e o desprezo com que ele se dirige a Matilde).

     1.3. Rato:
  • casa de Gomes Freire e de Matilde;
  • a cadeira tosca onde Matilde se senta (o único elemento do cenário referido), contrastante com as três cadeiras dos três governadores, reflecte a falta de recursos económicos do casal e a sua dependência socioeconómica.

     1.4. Loja maçónica da Rua de S. Bento e o botequim do Marrare: locais que assumem dimensão política revolucionária.


     1.5. Sé: simboliza a miséria popular, pois é o lugar onde o povo pede esmola: "Na Páscoa, à porta da Sé, fiz o bastante para comer durante três dias..." (p. 100).


     1.6. Tejo: local onde Manuel faz a "descarga das barcaças".


     1.7. S. Julião da Barra (espaço referenciado oito vezes entre as páginas 126 e 129):
  • a prisão de Gomes Freire;
  • as condições desumanas e indignas em que se encontra preso o General.

     1.8. Serra de Santo António: local de onde se avista S. Julião da Barra.


     1.9. Campo de Sant'Ana (pp. 131 e 137): local das execuções dos presos.


          A articulação entre o espaço físico / geográfico e o espaço social é conseguida através do recurso a objectos-símbolo e através da postura e do comportamento de personagens que identificam os dois grupos sociais em confronto na peça, isto é, o grupo do Poder e o grupo do povo. Este antagonismo fica claro no seguinte quadro:

Quadro adaptado da Colecção Resumos, da Porto Editora.

Espaço físico

          A primeira grande nota que se pode retirar da análise do espaço físico de Felizmente há Luar! é a de que esta categoria dramática não assume relevo na peça, visto que a atenção do dramaturgo está concentrada, essencialmente, no espaço social, este sim dotado de grande significado e importância. De facto, por influência de Brecht e do teatro medieval, as escassas referências ao espaço físico justificam-se pela noção que se pretende transmitir, segundo a qual a acção pode decorrer em qualquer lugar e «sempre que o 'ontem' impossibilite o despertar do 'amanhã'». Não obstante, constata-se que a acção da peça se dispersa por vários locais - interiores e exteriores -, embora todos estejam interligados pela(s) referência(s) ao general Gomes Freire de Andrade, sendo que o espaço dominante é o da cidade de Lisboa.

          Assim, no primeiro acto, são referidos diversos espaços: as ruas de Lisboa (pp. 17-18), onde se encontram os populares; o local onde D. Miguel recebe o delator Vicente; o palácio dos governadores do Reino, situado no Rossio; a casa de Gomes Freire, para os lados do Rato; e os espaços frequentados pelos revolucionários / conspiradores: um café no Cais do Sodré, o botequim do Marrare e uma loja maçónica, situada na rua de S. Bento.

          No acto II, os espaços referenciados são bastantes mais: as ruas de Lisboa, onde os populares comentam a prisão recente de Gomes Freire; a casa de Matilde de Melo; o local onde Beresford a recebe; à porta da casa de D. Miguel Forjaz, onde o criado de libré a informa que o governador a não vai receber; o local (provavelmente sagrado) onde Matilde dialoga com Principal Sousa; o alto da Serra de Santo António, onde Matilde e Sousa Falcão observam as fogueiras que queimam os revolucionários; a masmorra de S. Julião da Barra, local onde se encontra o general; o Campo de Santana, para onde são transportados os presos; a aldeia onde nasceu Matilde, em Seia; Paris, onde o casal viveu; os campos da Europa, onde o general combateu; e a porta da , onde os populares mendigavam.

          Pelo atrás exposto, não é difícil concluir que o espaço é muito pobre em recursos cénicos, o que faz com que, por isso, ganhe grande valor simbólico, reforçando assim o carácter épico da peça.

          Por outro lado, a mudança de espaço físico é sugerida por outras técnicas que não as «tradicionais», nomeadamente pelo recurso aos jogos de luz / sombra, que possibilitam a criação de um ambiente quer de desalento, quer de sonho, e pelo recurso a alguns objectos: um caixote, uma saca, uma cruz, três cadeiras opulentas, uma cadeira tosca e uma velha cómoda.

          Por último, note-se que Lisboa é um espaço de contrastes que permite o confronto entre o poder e o povo, assumindo, deste modo, um valor preferencial de espaço social pelas dicotomias que contém.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril, dia da Liberdade?

          "A liberdade de expressão define-se hoje como o direito de comprar o jornal e de ligar a televisão. Curioso uso das palavras, porque este não é o direito de nos exprimirmos, mas de lermos ou vermos o que outros exprimem. Os jornalistas debitam as suas sentenças, entrevistam, seleccionam e cortam as declarações dos entrevistados, e de vez em quando alguns figurões são convidados para espaços de «opinião...".
                                                                                                                João Bernardo

25 de Abril e mentiras - «Gavetas», Pedro Mexia

Não deves abrir as gavetas fechadas
por alguma razão as trancaram,
e teres descoberto agora a chave
é um acaso que podes ignorar.
Dentro das gavetas sabes o que encontras:
mentiras. Muitas mentiras de papel,
fotografias, objectos.
Dentro das gavetas está a imperfeição
do mundo, a inalterável imperfeição,
a mágoa com que repetidamente te desiludes.
As gavetas foram sendo preenchidas
por gente tão fraca como tu
e foram fechadas por alguém mais sábio do que tu.
Há um mês ou um século, não importa.

                                                Pedro Mexia, Menos por Menos

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Retratos da crise

Três camas e só uma ocupada

A barraca e a antena da tv-cabo

É a Semana Santa


          Ainda estou vivo... mas o coração já não aguenta muitas destas.
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