sexta-feira, 16 de agosto de 2019
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
Papel ou relevo das personagens de A Sibila
. Protagonista/personagem
principal: Quina.
. Personagens
secundárias: as restantes.
Espaço físico de A Sibila
O espaço físico
é relativamente limitado. Centra-se na Quinta da Vessada e zonas limítrofes:
Morouços (residência de Estina após o casamento), Água-Levada (residência da
tia Balbina e palacete de Elisa Aida), Folgozinho (propriedade do tio José),
com algumas incursões ou referências, sempre irónicas, à cidade: casa de João
(pp. 122, 193), residência do tio José e das primas (pp. 46-47).
O ambiente
citadino e a forma de vida da burguesia urbana são detestados por Quina. Na
cidade habitam os "traidores da ruralidade" – os filhos dos
lavradores que tiraram um curso superior e se reconverteram na "raça de
proletários que distinguem por si só uma época" (p. 213) e "viviam
mais ou menos dos expedientes das suas carreiras" (p. 214).
O espaço
privilegiado é, pois, a Quinta da Vessada, localizada numa aldeia entre Douro e
Minho, cenário da vida de Francisco e Maria e, mais tarde, de Quina. E, dentro
da Quinta, é a casa, nos sentidos de habitação e património familiar, que
domina a história. Cada um dos elementos desse ambiente rural e familiar tem um
significado simbólico premeditado. Vejamos como a ação se distribui pelos
vários compartimentos da casa:
Inicialmente,
há uma certa dispersão mas, à medida que a ação se desenvolve, o espaço físico
sofre uma redução/concentração dramática:
De notar a antítese permanente entre
o espaço rural centrado na Quinta da Vessada, garantia da tradição agrária e
familiar, e o espaço urbano para onde emigram os filhos dos abastados
lavradores para estudarem e passarem "a viver mais ou menos dos
expedientes das suas carreiras". Quina privilegia naturalmente o espaço
rural e repudia o espaço urbano, no que parece estar de acordo com o ponto de
vista do narrador omnisciente (a autora).Composição das personagens de A Sibila
. Personagens modeladas:
- Quina;
- Germa.
. Personagens planas:
- Bernardo Sanches;
- Maria da Encarnação;
- Francisco Teixeira;
- Estina;
- Custódio (existe nele,
todavia, algo de personagem modelada: não é apenas o tipo do jovem ocioso e
marginal, manifesta também e inesperadamente uma certa
insensibilidade humana);
- a Condessa de Monteros (Elisa
Aida Fatonni);
- os irmãos de Quina (Abílio,
João e Abel).
Retrato dos irmãos de Quina
Abílio, João e Abel
são vistos pela narradora como o prolongamento do pai. Não é, portanto, de
estranhar que as primeiras referências que lhe são feitas sejam negativas e os
descrevam em oposição a Quina: fracos, como todos os homens, egoístas e
irresponsáveis.
a) -» ABÍLIO:
- loiro;
- muito bonito;
- emigrou para o Brasil com
apenas 13 anos, mas regressou rapidamente, doente, "talvez com uma
broncopneumonia", acabando por morrer.
b) -» JOÃO:
- caçador;
- não gostava de trabalhar;
- não era gastador;
- casou com uma mulher
burguesa, proprietária com pretensões fidalgas, feia e bronca que desagradou
muito a Maria da Encarnação;
- vende a parte dos seus bens a
Quina e parte para a cidade;
- a sua saída do campo equivale
e sair do clã, a renegar a família;
- por outro lado, este ato e a
troca dos bens rurais por dinheiro traduzem o seu aburguesamento;
- a vida na cidade é medíocre e
João arrepende-se do negócio;
- vive numa situação económica
débil;
- torna-se invejoso e ofendido
com Quina, por ver enriquecer a irmã e se reconhecer pobre, sentindo-se
ludibriado;
- "fraco, conciliador e
liberal na fartura";
- carácter sofredor;
- alimenta o seu pessimismo com
leituras românticas;
- não tendo filhos legítimos [a
mulher era, simbolicamente, estéril, uma espécie de castigo da terra (=
fecundidade), traduz o artificialismo e a falta de autenticidade da vida
burguesa citadina], em consonância com as suas leituras "românticas",
teve dois bastardos de uma criada;
- acaba por ser dominado pela
mulher, intelectualmente medíocre, pretensiosa e ridícula, que o torna ainda
mais amorfo e irresponsável.
c) -» ABEL:
- não gostava de trabalhar;
- gastador;
- instável;
- amante do luxo e da aventura;
- gostava de frequentar
ambientes requintados;
- o gosto pela aventura e pelo
luxo, a superficialidade aproximavam-no do pai e, talvez por isso, da simpatia
da mãe;
- volúvel e perdulário como o
pai, abandonava os seus projetos grandiosos e partia para nova aventura (p.
62);
- casou rico e não era muito
exigente com Quina relativamente à quota que esta anualmente lhe devia pagar
pela exploração dos bens;
- mantinha na vida e nos
negócios o espírito do jogo de azar, como seu pai (p. 88);
- materialista e calculista,
dado que Quina não tinha descendentes, duma forma perspicaz e oportunista,
induz Germa a ser agradável à tia e ele próprio age de forma que considera
adequada (p. 123);
- o seu materialismo, o seu
oportunismo e a sua ambição (sinal disso é a caça à herança em que se lança e
procura lançar Germa) contrastam com a forma de ser da filha (p. 142);
- preocupado com a herança,
inquieta-se com a presença de Custódio, a ponto de discutir com a irmã;
- a sua situação familiar e
económica é diferente da de João;
-» em suma, Abel é o mesmo tipo
de galante incorrigível, como o pai, mas mais oportunista (pp. 52, 61-62, 88,
123).
Abreviatura de "versos"
(vvv. 30, 31 e 32)Seguindo o raciocínio do(a) aluno(a), sempre que queremos abreviar as palavras «verso» ou «versos», deveremos adotar a seguinte regra:
- 1 verso: v.
- 2 versos: vv.
- 3 versos: vvv.
- 4 versos: vvvv.
E assim sucessivamente.
Retrato da Condessa de Monteros
CONDESSA de MONTEROS:
* afilhada de Maria da
Encarnação;
* casou aos 14 anos com um tio
rico regressado do Tucumán onde enriquecera como plantador de cana de açúcar e
se fez conde com o título de Fatonni;
* o dinheiro do marido
transforma-a numa fidalga:
- viaja (Itália e
Constantinopla);
- aprende piano;
- veste bem;
- torna-se bonita;
- vive rodeada de grande luxo;
* adaptada ao luxo e
artificialismo da sociedade burguesa, mantém grande simpatia e admiração pelas
coisas e pessoas do campo;
* depois da morte do marido,
leva uma vida muito recatada:
- passa a viver na província;
- passa muito tempo em casa;
- abandona o brilho e o luxo de
outrora;
- torna-se mais humana e
natural;
- gosta de falar com Quina e
recebe-a frequentemente – é ela que lhe dá o nome de sibila;
* demonstra sempre um
desequilíbrio, provavelmente resultante do facto de ser uma pessoa do campo
que, repentina e precocemente, é projetada
para uma vida de aristocrata rica (um dos sinais desse desequilíbrio é o facto
de insistir muito com Quina para que a visite, para ouvir o seu conselho de
sibila, apesar de nunca a considerar sua
igual, marcando sempre as distâncias;
* não volta a casar,
possivelmente para poder manter a sua individualidade e independência;
* a vida da cidade
desagradava-lhe e finaliza a sua vida rodeada de servidores e de gatos, num
isolamento crescente.
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
Retrato de Custódio
CUSTÓDIO:
* filho do escudeiro da
condessa de Monteros e de uma prostituta;
* criado pela condessa, passou,
depois da morte desta, para o cuidado de Quina;
* anormal;
* marginalizado pela sociedade;
* violento (gostava de caçar
rãs);
* selvagem uma espécie de
"bicho do mato";
* na adolescência, torna-se um
marginal e delinquente, integrando o bando do Morte, um bando de assaltantes, e
chega a roubar a própria Quina;
* possuidor de uma animalidade
irracional;
* tende para o isolamento;
* escassa capacidade intelectual;
* manifesta, todavia, alguma
sensibilidade:
. quando o Morte e o seu bando
são julgados, tendo ele permanecido na obscuridade graças aos companheiros de
banditismo, chorou e não comeu durante dois dias;
. o episódio do pombal;
* desempenha uma função
importante relativamente a Quina: desperta a sua ternura e o carinho recalcados
durante grande parte da sua vida.
Retrato de Estina
ESTINA:
* a primeira filha do casamento
era, ao contrário de Quina, bonita;
* teve uma educação cuidada;
* foi poupada à dureza dos
trabalhos agrícolas e domésticos;
* preguiçosa;
* frustrada amorosamente por
não ter casado com o mestre-escola Luís Romão por insuficiência de dote;
* aceita resignada a situação;
* casa, mais tarde e por
conveniência, com Inácio Lucas;
* infeliz conjugalmente, dada a
crueldade e violência do marido, que não ama, manter-se-á, todavia, sempre
fiel;
* extremamente infeliz e
sofredora, por causa das difíceis relações com o marido, da morte dos filhos e
da mãe;
* séria;
* pouco comunicativa;
* tem grandes semelhanças com a
mãe e a irmã;
* conserva o espírito de clã P.
81);
* não abandona a casa e o
marido, não obstante a sua brutalidade e a sua crueldade, culpado da morte de
dois filhos, e a opinião da mãe;
* estoica e fria perante a
morte.
Retrato de Francisco Teixeira
FRANCISCO TEIXEIRA:
* marido de Maria da Encarnação,
"o maior conquistador da comarca", é um homem sedutor e egoísta;
* pouco trabalhador;
* boémio e irresponsável;
* leva a casa à ruína em
virtude da vida que tem;
* apesar da sua coragem física
e habilidade no manejo do pau, do seu "muito nervo", é psicologicamente
um fraco: cede facilmente às lágrimas, aos sorrisos e carinhos de Quina (e de
outras mulheres), ao ascendente espiritual de Maria;
* ficará para sempre como o
chefe querido e respeitado da família;
-» representa o tipo do
romântico sedutor, do homem boémio e irresponsável, a quem nunca sobra tempo
para se dedicar ao governo da casa.
A sua morte,
muito chorada por toda a família, ocorreu num momento crítico, em que estava
iminente a perda da casa da Vessada. O facto de ainda ser possível evitar essa
perda grave do património familiar contribuiu para que, apesar de todos os seus
defeitos, Francisco Teixeira ficasse, para sempre, como o chefe querido e
respeitado da família.
O seu
comportamento, fazendo da casa apenas pousada e da esposa apenas a mãe dos seus
filhos legítimos, irá ter efeitos negativos em Quina:
-» a aversão aos homens, como
fonte de ruína económica da família, que leva:
. ao exercício de um poder
matriarcal;
. à vaidade;
. à ânsia de prestígio;
-» a frustração do seu
casamento com Adão por falta de dote.
Retrato de Maria da Encarnação
MARIA da ENCARNAÇÃO:
- originária de uma família de
gente trabalhadora e honesta;
- bela;
- de estatura e temperamento
marcadamente femininos;
- dotada de grande força
interior, esperança;
- generosa;
- boa dona de casa;
- séria e trabalhadora;
- paciente com as loucuras do
marido;
- assume a condução da
administração da casa e o trabalho, face à estroinice do marido;
- fiel, recusa sempre
culpar o marido pela vida de boémia e
pela ruína a que conduz a casa da Vessada;
- autoritária, destina os trabalhos
mais difíceis a Quina, nutrindo uma predileção especial por Estina;
- trata carinhosa e
desveladamente Quina durante a doença desta;
- desaprova o casamento de João
com uma mulher sem personalidade, que "nem é carne nem é peixe";
- com o envelhecimento,
torna-se extremamente ríspida, mas age sempre de acordo com os seus princípios.
Retrato de Bernardo Sanches
Bernardo
opõe-se a Germa, oposição que resulta da diferença de mentalidades, com
formações e contactos diferentes. Em Germa foi decisivo o contacto com a
realidade do campo e as mulheres da Vessada, enquanto Bernardo permanece sempre
o mesmo burguês intelectual. Eis, em síntese, a sua caracterização:
- neto de
Adriana, primo de Germa;
- burguês
intelectual auto-suficiente;
- espírito
fechado;
- narcisista;
- novo-rico;
- snob;
- gabarola;
- loquacidade
oca e balofa, medíocre;
-» representa o tipo do novo burguês
que foge à terra, atraiçoando os ideais rurais.
O facto de
Germa e Bernardo aparecerem em diálogo no início e no fim da obra realça o
contraste entre as duas personagens e chama a atenção para um dos vetores da
crítica do romance: a negação dos valores autênticos, a desumanização burguesa,
os falsos intelectuais. Quer dizer, este diálogo marca o contraste entre uma
aristocracia rural prestes a morrer e a burguesia citadina que traiu os ideais
da tradição rural.
Retrato de Germa
Germa é uma
personagem fundamental da narrativa, cumprindo uma dupla função: narradora
testemunhal, caucionando, pela observação dos factos, grande parte dos
acontecimentos narrados, e detentora temática pela sua complexa relação com
Quina.
Germa cresceu
numa aprendizagem da vida e das coisas, num processo sob a forma de espiral:
recuando no passado, quando regressa ao presente não é a mesma, porque se
transformou num processo de aprendizagem em contacto sobretudo com a tia.
Germa é a
sobrinha e herdeira universal de Quina, sujeito virtual da enunciação
endodiegética. Toda a obra constitui uma evocação nostálgica e compreensiva de
Quina, resultante de uma grande admiração e carinho que se foram desenvolvendo
ao longo do tempo.
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