Docente: Dr. Henrique Almeida
Ano: 1989/1990
A obra literária é o retrato do mundo circundante e, por isso, temos que nos debruçar sobre os condicionalismos económicos e sociais em que uma obra surge. O texto não surge afastado da época emque é produzido. Terá que se fazer uma inserção do texto na sua época. Os nossos pontos de referência cultural provêm da Europa, nomeadamente de França, Inglaterra e Alemanha. Daí procurarmos efetuar um levantamento cultural e social dos aspetos provenientes da Europa.
O texto permite uma apreciação em dois pólos de estudo: reete para conceções da vida e sociedade de uma época; mas é passível de uma análise do texto inserido no policódigo literário.
O século XVII aparentemente tinha sido um século inculto, porque não houve grades manifestações com caráter perdurável. Mas em vez de inculto, é mais correto o termo estéril, na medida em que a sua cultura surgiu desgarrada dos problemas reais da vida. Não é um século de grandes inovações.
Não obstante, escreveu-se, pensou-se e construiu-se muito. No entanto, devido ao afastamento da vida real, cultura desta época parece ter-se encaminhado para subterfúgios de estilo e racionalismo da história e da arte e de uma ligação marcada à época medieval, uma época de verdades feitas e aceites sem comprovções.Não havia a preocupação de inovação e enraizamento dos valores culturais.
Mas o século XVII constitui um pólo importante. Para provar que não foi um século inculto, podemos falar em correntes ou combinações de ideias de Galileu, Spinoza, etc. Podemos, assim, falar no espírito racionalista de Descartes, no geometrismo indutivo de Spinoza, no empirismo dos filósofos ingleses como Lockee no experimentalismo de Bacon e no fisicismo de Newton. São correntes que marcam este século.
O denominador comum a estas correntes é uma confiança total, sem restrições, na razão e no espírito crítico, de modo a combater as verdades tradicionais estabelecidas, as quais surgem aos olhos dos novos pensadores como fruto de superstições e crendices, como não tendo comprovação possível. Essas «verdades» eram recebidas como divinas. Nesta época, inicia-se um período de campanha crítica contra os valores do passado. Pope afirmou: "A natureza e suas leis estavam escondidas nas treveas: «faça-se Newton, disse Deus, e tudo brilhou»."
Nesta altura, a Europa medieval tinha sofrido um abalo não só com o Renascimento, mas também com toda a sua renovação de ideias.
Aos poucos criavam-se as bases para se alicerçarem as invações que estavam para chegar com o século XVIII. A linha do empirismo e do heliocentrismo do século XVIII foi sendo criada com os contributos do século XVII, apesar deneste não terem acontecido grandes inovações.
É, em 1715, que surge o Iluminismo,ainda no tempo de Luís XIV, altura em que era evidente a transformação europeia, que foi designada por Paul Hazard como "a crise da consciência europeia", porque se dá uma rutura de mentalidades.
A segunda vaga do Iluminismo corresponde ao movimento do Enciclopedismo. Já no século XVII tinha surgido uma obra de antecipação à obra Encyclopédie, escritaentre 1751 e 1755 por Diderot e d'Alembert e composta por 35 volumes. Esta enciclopédia foi vista como referente a um abalo sísmico em grau elevado em relação às verdades tradicionalmente aceites. Agora é verdadeiro aquilo que é verificável, raciona, captado pelos entisos e experimentável. Daqui se depreende que novas apetências começam a surgir no público, atinentes às ciências exatas e naturais. É uma época que traz consigo uma forte movimentação de apologia da razão e do progresso. Segundo este novo critério da razão, as pessoas acreditam no que é comprovável.
Entramos nos alvores do Século das Luzes, que traz consigo um esforço de renovação cultural, que passa por uma corrente política: o despotismo iluminado,que tem em vista uma eficiência total e se vai subordinar à conceção do progresso humano. Usa-se a noção do Iluminismo que advém da luz, esclarecimento.
O homem é visto não como uma criatura degradada pelo pecado original, submetido a leis divinas; ele domina a natureza pelas suas leis e conhecimentos exatos. Daí a importância do papel da máquina,que seconexa a progresso técnico e científico com poderes ilimitados. Só o homem pode dominar o mundo, porque domina a razão. Devem ser abolidos os hábitros tradicionais e das desigualdades humanas. A razão passa a ser detentora do fiel da ciência. A ciência passa a ser divulgada segundo critérios tradicionais. Daí a designação de Século das Luzes. Entende-se que as superstições conduziam a injustiças humanas e estariam na base do sofrimento humano. Agora dominam os princípios da razão.
Foi a confiança no poder da ciência que se chamou Iluminismo.
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