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sábado, 8 de julho de 2023

Papel das personagens de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

     As personagens da obra podem distribuir-se por dois grupos, a saber: o das personagens da história de amor (Gato Malhado, Andorinha Sinhá, Rouxinol, Coruja, Reverendo Papagaio, Vaca Mocha, etc.) e o das que não fazem parte dessa história (Manhã, Vento, Tempo...).

    No que diz respeito ao papel ou relevo que elas desempenham:

Personagens principais / Protagonistas: Gato Malhado e Andorinha Sinhá.

Personagens secundárias: Velha Coruja, Manhã, Tempo, Vento, Sapo Cururu, Rouxinol, Reverendo Papagaio, Galo D. Juan de Rhode Island, etc.

terça-feira, 4 de julho de 2023

Análise de Memórias de um Sargento de Milícias

 I. Introdução


II. Contexto


III. Resumo da obra


IV. Resumo por capítulos

    . 1.ª parte

        . Capítulo I

        . Capítulo II

        . Capítulo III

        . Capítulo IV

        . Capítulo V

        . Capítulo VI

        . Capítulo VII

        . Capítulo VIII

        . Capítulo IX

        . Capítulo X

        . Capítulo XI

        . Capítulo XII

        . Capítulo XIII

        . Capítulo XIV

        . Capítulo XV

        . Capítulo XVI

        . Capítulo XVII

        . Capítulo XVIII

        . Capítulo XIX

        . Capítulo XX

        . Capítulo XXI

        . Capítulo XXII

        . Capítulo XXIII

    . 2.ª parte

        . Capítulo I

        . Capítulo II

        . Capítulo III

        . Capítulo IV

        . Capítulo V

        . Capítulo VI

        . Capítulo VII

        . Capítulo VIII

        . Capítulo IX

        . Capítulo X

        . Capítulo XI

        . Capítulo XII

        . Capítulo XIII

        . Capítulo XIV

        . Capítulo XV

        . Capítulo XVI

        . Capítulo XVII

        . Capítulo XVIII

        . Capítulo XIX

        . Capítulo XX

        . Capítulo XXI

        . Capítulo XXII

        . Capítulo XXIII

        . Capítulo XXIV

        . Capítulo XXV


V. Estrutura da ação


VI. Personagens: papel, caracterização, representatividade

    . Introdução

    . Leonardo

    . Luisinha

    . Vidinha

    . Comadre

    . Compadre barbeiro

    . D. Maria

    . José Manuel

    . Major Vidigal

    . Leonardo Pataca

    . Maria da Hortaliça

    . Chiquinha

    . Maria Regalada


VII. Tempo


VIII. Narrador - participação e focalização


IX. Classificação


X. Características do romance

Análise do poema "Antítese", de Castro Alves


    O título do poema aponta para um contraste presente no texto entre o homem branco (livre) e o negro (negro e escravo).
    Partindo do título, podemos dividir o poema em duas partes:
        - uma parte de festa: riqueza, luz e som;
        - a descrição do ambiente em que se vai integrar a personagem.
    De um lado, temos a festa, que é cor de vida, mas também falsidade e hipocrisia; do outro lado, está o velho desamparado.

    O poema abre com a descrição de um baile sumptuoso, num ambiente luxuoso, cheio de luz, requinte, cor e vida, onde se destacam os enfeites (“serpentinas”), o vestuário dos presentes (“sedas e querubins”), a orquestra, a riqueza e o luxo. A alegria que se vive é tão grande que os pares dançando parecem silfos numa valsa mágica: “como silfos / na valsa os pares perpassam / sobre as flores, que se enlaçam nos tapetes de coxins”.

    A partir da segunda estrofe começa a desenhar-se a antítese. O poema sai do ambiente de festa para “a névoa da noite, no átrio, na vasta rua”, enquadrando aquele que “como um sudário flutua / nos ombros da solidão”, isto é, aquele que recebeu como prémio o desprezo e uma carta de alforria: o escravo. O espaço que este habita não é o dos salões de festa, mas a praça: “a praça em meio se agita”. Ele é uma espécie de “cão sem dono”, imagem que evidencia a degradação da condição humana, que se acentua nos versos seguintes: “Desprezado na agonia, / Larva da noite sombria, / Mescla de trevas e horror.”

    A penúltima estrofe descreve o ser em questão e a sua situação social: “É ele o escravo maldito, / O velho desamparado / (…) / Tem por leito de agonias / As lájeas do pavimento, / E como único lamento / Passa rugindo o tufão.”

    Na última estrofe, o sujeito poético manifesta a sua solidariedade em favor do escravo: “Chorai, orvalhos da noite, / Soluçai, ventos errantes. / Astros da noite brilhantes / Sede os círios do infeliz!”. Os quatro últimos versos retratam a morte social do escravo (“cadáver insepulto”), que a alforria e a liberdade, embora não assistida, não conseguem ultrapassar.

    O elemento brasileiro (o escravo velho) não está numa posição dominante; o que está em causa é uma ideia romântica: a procura da liberdade, através de um processo muito caro ao Romantismo – a evasão.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Análise do poema "A Terra do Nunca", de Nuno Júdice


Análise do poema "Adormecida", de Castro Alves


                 “Adormecida” é um poema de 1868 de Castro Alves, publicado na obra “Espumas Flutuantes”, datada de 1870. Trata-se de uma composição constituída por sete quadras em versos decassílabos e com rima cruzada nos versos 2 e 4 de cada estrofe, sendo o primeiro e o terceiro brancos ou soltos.

                Este é considerado um dos poemas mais bem conseguidos da poesia romântica de Castro Alves, que descreve a mulher amada pelo sujeito poético adormecida, como é indiciado pelo título do texto. De facto, estamos na presença de uma descrição romântica da cena de uma mulher a dormir. Por outro lado, o título recorda-nos o conto tradicional “A bela adormecida”: quando completasse quinze anos, espetaria o dedo no fuso de uma roca e dormiria durante cem anos, até um príncipe a desencantar com um beijo. O despertar, em ambos os textos, constitui uma metáfora da passagem da adolescência para a idade adulta, para  amaturidade.

                O poema parte de uma epígrafe retirada de Musset, um poeta romântico francês, que se refere aos cabelos, à sensualidade e à cruz, símbolo da religião. Aqui, junta dois elementos: a sensualidade e a religiosidade, que será o assunto do texto. A epígrafe não é sinal de imitação, mas estabelece a ponte para o sonho e para a evasão, associando-se ao título por remeter também para a circunstância de uma jovem adormecida: “Ses longs cheveux épars la couvrent tout entière / La croix de son collier repose dans sa main, / Comme pour témoigner qu’elle a fait sa prière. / Et qu’elle va la faire em s’eveiliant demain.”

                A descrição é feita a partir da memória, pois trata-se de uma recordação do sujeito lírico: “Uma noite eu me lembro…”. Ele recorda a imagem da mulher a dormir numa rede, uma cena prenhe de serenidade, doçura e sensualidade: ela está encostada “molemente”, de roupão “quase aberto”, cabelos soltos e pé descalço. De facto, na primeira quadra, é construída a imagem da mulher amada, associando-a à sensualidade e à languidez suave, ideias sugeridas, por exemplo, pelo advérbio de modo «molemente», pelos adjetivos (“aberto”, “solto”, “descalço”). Por sua vez, as reticências abrem as portas ao onírico e deixam algo em suspense, à imaginação, enquanto elementos como a noite, a rede, o roupão, o cabelo ou o tapete contribuem para a construção do ambiente íntimo da figura feminina, sugerindo claramente a intimidade e a proximidade do «eu» e da amada.

                A segunda quadra centra-se na janela aberta, por onde entra um cheiro agreste, proveniente das silvas da campina, e através da qual se pode ver uma noite “plácida e divina” e “um pedaço de horizonte”. O «eu» evoca o cheiro agreste das silvas e, de seguida, o jasmineiro, cujos galhos entravam pela janela e tocavam na mulher, que dormia sensualmente. Ocorre aqui uma divinização ou espiritualização do momento, quando o «eu» refere que a noite era plácida e divina e, na quarta, se alude a um «quadro celeste», que é desenvolvido nas estrofes seguintes. Enquanto isso, a brisa suave invadia o compartimento, fazendo com que o jasmineiro, que estava em flor, balançasse e tocasse a mulher. Esse instante em que a flor a tocava e ela, ao senti-la, a procurava suavemente, causava sensações eróticas no sujeito poético.

                As duas estrofes seguintes apresentam um “quadro celeste”, doce e sensual: o jasmineiro, personificado, é apresentado num movimento cujos galhos, obviamente também personificados (“galhos encurvados / indiscretos entravam pela sala… / Iam na face trémula beijá-la”), quais braços humanos, balançam, ora se aproximando, ora se afastando da mulher adormecida, constituindo cada aproximação da face feminina uma tentativa de a beijar. O jasmineiro, um ser inanimado, é, de facto, personificado, isto é, são-lhe atribuídas características dos seres animados, de modo a poder executar as ações que o «eu» não pode ou não consegue. Assim, a planta passa a desejar a mulher, sendo que esta o manipula por meio da sedução, ou seja, permanecendo dormindo, sedutora, na rede.

                O que se segue é uma espécie de jogo de sedução, em que o jasmineiro e a mulher brincam como “duas cândidas crianças”: quando a flor da planta beija a figura feminina, esta, mesmo que em sonhos, estremece e, quando tenta devolver o beijo, aquela foge com o balanço do jasmineiro. O sujeito poético coloca-se na posição de observador e contempla esta cena. Por outro lado, ao colocar a natureza e a mulher em contacto físico – e logo através de algo tão profundamente íntimo como um beijo – prossegue a construção da cena de sensualidade. O recurso a formas verbais no pretérito imperfeito (“estremecia”, “serenava”, “beijava”) e a insistência nas reticências criam um clima de erotismo comedido através da interação e troca contínua de carícias entre a mulher e a flor. O jasmineiro age como um amante que, sorrateiramente, acaricia a figura feminina, beija a sua face e depois se afasta quando ela tenta devolver o beijo. Atente-se ainda no facto de a flor, para a biologia, ser o órgão reprodutor das plantas, pelo que se pode entender como metáfora do órgão sexual feminino, constituindo o seu desfloramento a perda da virgindade.

                É curioso observar dois movimentos contrários. Num primeiro momento, o jasmineiro, através dos seus galhos, seduz a mulher, beijando-a (o que deleita o sujeito lírico: “quadro celeste”), contudo, posteriormente ocorre uma inversão de papéis quando ela tenta beijar a planta, que, no entanto, foge. Ou seja, ela não só aceita a sedução, como também a retribui, porém é recusada.

                Por que razão é escolhido o jasmineiro e não uma outra planta ou árvore para contracenar com a mulher? O jasmineiro é um arbusto pequeno, ereto ou trepador com caules longos, o que permite encará-lo como metáfora do órgão sexual masculino. Por outro lado, essa planta também possui propriedades afrodisíacas, o que reforça a ideia da sedução presente no texto.

                A quinta estrofe infantiliza a mulher e coloca-a num plano virginal, ao associá-la a uma criança, enquanto a brisa, que agitava as folhas verdes, fazia ondular os seus cabelos negros entrançados. Vocábulos como «doce», «brincavam», «cândidas» e «crianças» conferem à cena ingenuidade, infantilizando a figura feminina e valorizando a virgindade, característica de sociedades antigas e mais conservadoras.

                A sexta retoma o tom erótico que percorre o poema, ao recuperar o jogo de sedução entre a flor e a figura feminina e o contacto físico entre ambas: “E o ramo ora chegava ora afastava-se.” Sempre que a mulher, despeitada pela «recusa» do «eu», parece que se vai zangar, o jasmineiro derrama-lhe uma “chuva de pétalas no seio”. O adjetivo «despeitada», além de idealizar os seios nus, exprime também a noção de ressentimento. Note-se que ela não é alheia ao clima de sensualidade, antes parece participar, pois, durante a espécie de dança entre ambos, estremece a cada carícia que a planta lhe faz e tenta retribuir os beijos que ele lhe dá. A chuva de pétalas no seio reforça todo o ambiente erótico: trata-se de algo íntimo, delicado, que pode ser interpretado como uma chuva de beijos no peito da mulher adormecida ou, de acordo com uma leitura intensamente erotizada do poema, como a metáfora da ejaculação masculina.

                O verso “e o ramo ora chegava, ora afastava-se” pode ser interpretado de forma mais profunda que não a mera imagem da boca do amado que ora se afasta ora se aproxima para beijar a amada: funciona como metáfora do ato sexual, isto é, indicia o movimento de vaivém do órgão sexual masculino (o jasmineiro) no interior do corpo feminino, sugerindo a consumação daquele ato. A antítese “chegava” / “afastava”, as reticências e a reiteração de «ora» remetem para o ato e a sua duração. Contudo, no final, ficamos a saber que a jobem permanece virgem, o que significa que a relação sexual nunca aconteceu. Neste contexto, a chuva de pétalas podem interpretar-se também como a metáfora do sémen e da ejaculação.

                A última estrofe enaltece o caráter virginal da mulher amada e estabelece a relação de identificação entre a mulher e a natureza. Nos dois versos iniciais, o sujeito lírico clarifica o seu estatuto de observador da cena (“Eu, fitando esta cena”) e, nos dois últimos, começa por caracterizar o jasmineiro de “virgem das campinas”, para, no derradeiro, se dirigir à amada, apelidando-a de virgem e a definir como a flor da sua vida. Assim, ao denominar a natureza e a mulher por meio do mesmo vocabulário, promove a identificação entre ambas. Na verdade, podemos concluir que o «eu», ao observar o jogo de sedução entre o jasmineiro e a jovem, o vento que lhe agita os cabelos, os beijos da flor e o subsequente retraimento, na realidade, desejava ser ele mesmo a  acariciá-la, beijá-la e repeli-la. Note-se também que a imagem final que ressalta passa pela negação da sedução negativa e pela exaltação da pureza e virgindade da mulher: ela permanece virgem, apesar de toda a sedução de que é objeto e da ação do jasmineiro / da flor. Atente-se na expressividade do adjetivo «lânguida», que caracteriza a noite, o qual significa “doçura”, “sensualidade”, “voluptuosidade”, mas também “abatimento”, “fraqueza emocional ou física”.

                Ao longo do poema, existe uma oposição entre as ideias de sedução/sensualidade (o roupão aberto, a carícia, os beijos, a chuva de pétalas no seio, o estremecimento da mulher, o cabelo solto, o adormecimento, etc.) e de pureza, sugerida pela adjetivação (“cândidas”, “celeste”, “divina”, “doce”), pela associação a uma criança ou por nomes como “virgem” ou “sonhos”.

                Neste poema, já não temos a natureza em todo o seu esplendor, mas sim uma cena de interior, em que aquela está presente apenas em parte: aquilo que entra pela janela. É uma natureza muito expressiva e essencialmente romântica. No Romantismo, a natureza começa por ser cenário; depois é mais que isso: participa na ação e pode identificar-se com a mulher – “Brincavam duas cândidas crianças” (natureza + mulher).

                Apesar de ser um poema romântico, há elementos específicos do Brasil, como a «rede», elemento específico dos costumes brasileiros, símbolo da sensualidade e que aparece ligada à mulher. Esta é identificada com a natureza, mas também com a criança. A descrição surge de uma atitude de contemplação do «eu» poético: é retórica e principalmente expressiva e tem como características fundamentais a sensualidade. Essa identificação acentua-se nos dois últimos versos do poema, ao ser classificada como «virgem» a flor e a «virgem» como flor.

                Além dos traços românticos anteriormente apurados, há que atentar também ao quadro simultaneamente de volúpia e naturalidade da mulher adormecida, para o qual contribuem o detalhe do espaço físico, o realce dado ao perfume do ambiente, o estado da mulher, a janela aberta e a exaltação da natureza.

Lua enorme


 

domingo, 2 de julho de 2023

Análise do poema "Sonho da Boémia", de Castro Alves

     "Sonho da Boémia" é um poema tipicamente romântico:
        - mulher sensual;
        - idealização como evasão: a vontade constante de fugir leva-o à criação de uma utopia. Idealiza um lugar, no qual junta a fantasia da evasão ao amor e constrói um paraíso. A ideia de errância está presente nos seguintes versos:
                                "Como boémios errantes:
                                Que repetem delirantes:
                                P'ra ser feliz basta amar!"
        - referência à moda espanhola;
        - conceção do amor: é um amor muito egoísta, pois só vive e só é possível no isolamento:
                                "Faremos os nossos ninhos
                                Lá onde ninguém mais for."
    É um amor egoísta, só possível com o apartamento da sociedade.

Análise do poema "Horas de Martírio", de Castro Alves

     O poema pode dividir-se em duas partes distintas:
        = Situação de ausência, evidenciada pelo tempo/relógio que anda devagar.
        = Depois, em que se situam a lembrança, recordação, memória e saudade.
    A mulher é caracterizada como «anjo caído» e com base em dois aspetos: pureza e sensualidade. Isto é próprio da inconstância amorosa e espiritual do poema romântico.
    Encontramos ainda uma definição do amor, visto numa dupla perspetiva (típico do Romantismo): o amor dela, que engrandece e dá forças e o amor dele, que é delírio e volúpia. Temos assim o amor em duas facetas, mas na mesma pessoa, porque é o que ele sente que está em causa; o que ela sente só nos é dado a conhecer por ele, ou seja, o que ele pensa que ela sente por ele.

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Organização das sequências narrativas de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


  
Encadeamento – A história do Gato e da Andorinha (os episódios são narrados por ordem cronológica, à exceção de um capítulo que é uma analepse assumida pelo narrador).

 
Encaixe – A história de um amor entre o Gato e a Andorinha é encaixada dentro da história do Vento e da Manhã, que ocupa os dois primeiros capítulos (Madrugada e Parêntesis), e que é retomada brevemente no final do último capítulo.

 

Relevo da ação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


  
Ação principal: a história de amor entre o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.

 
Ações secundárias:

a narrativa que envolve o Tempo, a Manhã e o Vento;

a conversa do Gato com a Coruja;

o episódio da Vaca Mocha;

a história do Reverendo Papagaio;

a conversa entre a Pata Pepita e o Pato Pernóstico;

a história do Galo Don Juan de Rhode Island.

 

Estrutura da ação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


 
Situação inicial – Depois de explicar a origem da história de amor, o narrador apresenta os protagonistas: o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.

 
Peripécias – O Gato e a Andorinha conhecem-se, começam a conversar e a gostar de passear e de passar tempo juntos.

 
Conflito / Complicação – O narrador relata o desenvolvimento do romance inesperado entre o Gato e a Andorinha e as reações dos outros animais.

 
Resolução – A Andorinha conta ao Gato que vai casar com o Rouxinol.

 
Situação final – A Andorinha e o Rouxinol casam-se e o Gato afasta-se para a “encruzilhada do fim do mundo”.


Comentário a O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


                 A obra narra-nos a história de um amor proibido entre dois animais que se desenrola ao longo das quatro estações do ano, começando no inverno, a estação do frio e da tristeza, no cenário de um parque onde habitam vários animais, nomeadamente o Gato Malhado, um animal já velho, mal-humorado, solitário e feio. Note-se que este temperamento do felino se coaduna com o temperamento que a estação do inverno suscita na generalidade das pessoas.

                No entanto, tudo começa a mudar no dia em que o gato encontra a andorinha, mais concretamente na primavera, a estação que simboliza o renascimento da natureza, da vida, e o amor. Este encontro muda a sua postura relativamente à vida, pois a ave traz à sua existência uma nova luz. Os encontros entre ambos sucedem-se e, inevitavelmente, o rabugento gato apaixona-se pela andorinha. Esse amor muda-o (trata-se de um tópico frequente no campo da literatura, como o demonstra a novela mais emblemática das Letras Portuguesas – Amor de Perdição –, onde encontramos um jovem rebelde, violento e sanguinário, Simão Botelho, que muda radicalmente quando conhece e se apaixona por Teresa Albuquerque, sua vizinha), tornando-o mais bem-humorado e realizado na vida. Essa mudança de estado de espírito coincide com a mudança de estação do ano: é primavera, a vida renasce, o amor brota.

                Todavia, como é frequente nas grandes histórias de amor, surge um contratempo: o amor entre ambos é proibido, visto que o Gato e a Andorinha são de espécies diferentes e os gatos são inimigos eternos das aves, pelo que as regras do mundo animal proíbem essa relação. Os animais do parque comentam criticamente e reprovam o alegado romance.

                Pelo exposto, a obra constitui uma reflexão sobre os amores impossíveis, uma temática intemporal. Assim, retrata de forma simples os preconceitos existentes na sociedade que impedem determinadas relações amorosas. Continua a não ser incomum, em pleno século XXI, a crítica e a obstaculização de romances entre pessoas de etnias diferentes, de cor de pele distinta, de classe social diversa, etc., e que envolvem a oposição de várias pessoas, nomeadamente das próprias famílias. Por exemplo, os infaustos amores narrados em Romeu e Julieta e Amor de Perdição prendem-se com preconceitos sociais e com os ódios entre as famílias dos protagonistas.

                Por outro lado, o texto suscita o confronto entre o amor espontâneo e livre e os casamentos arranjados. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá conhecem-se, dialogam e apaixonam-se, mas não se podem casar, pois as leis do reino animal não o permitem. Mais do que isso, Sinhá acaba por se casar, contrariada, com o Rouxinol, a quem estava prometida. Recordando novamente Amor de Perdição, Tadeu Albuquerque queria casar, à força, a sua filha Teresa com o primo Baltasar Coutinho, intuito que só não se concretizou graças à rebeldia e determinação da jovem, embora tenha pago um preço elevado pela sua coragem: a reclusão num convento e a morte. Na dita vida real, durante muitos séculos, os casamentos eram arranjados pelas famílias dos noivos, que dessa forma procuravam a perpetuação de alianças políticas ou militares ou a manutenção do poder económico e do estatuto social familiar. O consentimento só passou a ser possível a partir de 1140 com o Decreto de Graciano e apenas a seguir a 1670 a indissolubilidade do casamento começou a ser contestada. Na atualidade, a realidade do casamento arranjado e forçado está bem viva. É o que sucede entre nós, por exemplo, com a etnia cigana, onde continua a ter grande prevalência, porém não se esgota aí. De acordo com um relatório da OIT, o número de pessoas obrigadas a casar passou de 15,4 milhões em 2016 para 22 em 2021. Deste total, dois terços das pessoas são mulheres, isto é, cerca de 14,9 milhões. Além disso, o relatório aponta para que a prevalência dos casamentos forçados se faça sentir mais nos países árabes, seguidos da Ásia e dos países do Pacífico, ocorrendo dois terços dos mesmos (envolvendo cerca de 14,2 milhões de pessoas) na Ásia e no Pacífico, 14,5% na África (3,2 milhões) e 10,4% na Europa e Ásia Central (2,3 milhões).

                Por último, é interessante observar que a sátira dirigida a alguns animais, nomeadamente àqueles que mais criticam o romance entre o Gato e a Andorinha. De facto, são esses animais que mais falhas e erros cometeram. Quantas vezes não sucede encontrarmos pessoas que criticam e julgam as outras sem qualquer moral para o fazerem?

Filho de ator português não foi admitido em escola "por ser autista"

     A notícia vem em diversos meios de comunicação social e é simples de resumir.

    O ator Philippe Leroux é pai de um jovem autista cuja matrícula e frequência terá sido recusada por uma escola profissional, a Famarteam, segundo o próprio artista por causa da doença do filho.

    A notícia carece, desde logo, de contraditório e de confirmação, pelo que não sabemos se é verídica ou não. Seja como for, se se tratasse de uma escola pública, o jovem seria recebido como qualquer outro. Se, posteriormente, disporia de técnicos especializados que trabalhassem com ele, é outra conversa. Provavelmente, não, pois somam-se os casos de escolas que solicitam professores e/ou técnicos especializados para atender a estas situações e não obtêm resposta do Ministério da Educação.

    O mundo não é perfeito, mas há autismos públicos e privados que calam bem fundo.
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