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domingo, 9 de julho de 2023

Resumo do capítulo II de Memórias de um Sargento de Milícias


    Neste capítulo, temos uma narração rápida dos factos: a descrição do “menino”; a traição de Maria e o desfecho da situação. A infância da criança caracteriza-se por aspetos que já o marcavam ao nascer: é traquina, guloso e colérico. Após a fuga da mãe, o “menino” fica a cargo do padrinho.

    A narrativa dá um salto no tempo e vamos encontrar a criança já com sete anos, não sem que o narrador apresente alguns traços seus: o choro enquanto bebé; a traquinice; o gosto de comer; a teimosia. A mãe castiga-o batendo-lhe, o que lhe deixa marcas no corpo.

    Enquanto isso, a relação dos pais vive momentos conturbados: o pai suspeita que a companheira o trai, visto que já vira várias vezes um sargento a esgueirar-se e a olhar pela janela da sua casa. Além disso, desconfia de um colega que o procura constantemente, bem como de um capitão de um navio de Lisboa, que já encontrara diversas vezes junto da sua residência e, um dia, surpreende, ao entrar em casa, a fugir por uma janela.

    Confirmadas as suas suspeitas, Leonardo Pataca agride a mulher, numa cena que é observada pelo filho de ambos, que, com o maior sangue frio, enquanto rasga os autos que o pai havia deixado cair quando entrara em casa, assiste à sova que a mãe sofre. No momento em que Pataca começa a acalmar-se, repara que o filho lhe tinha rasgado a documentação, por isso enfurece-se de novo: levanta-o pelas orelhas, fazendo-o dar meia volta; em seguida, dá-lhe um pontapé, dizendo que a criança é filha de uma pisadela e de um beliscão, atirando-a a quatro braços de distância. O menino foge para a loja do padrinho, que já tinha conhecimento da verdade, dado que, como era comum na sociedade da época, tinha o hábito de espionar a vida alheia, por isso conhecia todas as visitas da comadre.

    O barbeiro desloca-se a casa do compadre Leonardo e questiona-o se tinha perdido o juízo, ao que o segundo responde que perdera a honra. Maria surge em cena e, sentindo-se protegida pela presença da comadre, o que desperta novo momento de fúria de Pataca, que a volta a agredir. De seguida, junta os papéis rasgados, a bengala e o chapéu e saiu batendo com a porta. É de manhã.

    De tarde, quando regressa a casa, disposto a fazer as pazes com Maria, fica a saber que ela tinha fugido entretanto com o capitão do navio de Lisboa. Leonardo sai sem dizer nada e o filho fica entregue ao compadre barbeiro.

Introdução a Memórias de um Sargento de Milícias


    Memórias de um Sargento de Milícias foi a única obra de Manuel António de Almeida (1831-1861) e não foi inicialmente bem recebida, porque o autor usou um discurso crítico e irónico e é dotada de um grande realismo.

    Escrita quando o autor tinha apenas 21 anos, começou por ser publicada em folhetins anónimos de um suplemento do jornal “Correio Mercantil”, intitulado “A Pacotilha” (onde trabalhava como revisor e redator), tal como aconteceu com as Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett. A publicação em folhetins era uma técnica comum no Romantismo e implicava estratégias diferentes para manter a atenção do leitor. Mais tarde, foi publicada em dois volumes assinados por “Um brasileiro”, nos anos de 1854 e 1855, um pseudónimo que servia para manter o anonimato do autor e tornar claro que o autor do livro não era um estrangeiro. Neste ponto, convém ter presente que era comum a publicação de traduções em suplementos literários.

    Memórias é um romance urbano que descreve o ambiente da cidade, os costumes, etc. O livro centra-se numa camada social relativamente baixa; sobe mais com D. Maria e desce com os ciganos. Descreve o modo como viviam, como ganhavam dinheiro e como adquiriram riqueza, tudo isto em tom irónico.

    Descreve uma sociedade mais próxima do seu tempo que Alencar em Iracema. No fundo, descreve a sociedade em que vivia, o que talvez justifique a sua fraca aceitação. A intenção de Alencar era a procura de um passado místico, onde radicasse a origem da nacionalidade do Brasil. Manuel António de Almeida tem como intenção descrever, de modo crítico e irónico, a sociedade que o rodeia.

    A trama principal do romance gira em torno da vida de um típico malandro do Rio de Janeiro, mas, na verdade, constitui a versão do autor das lembranças autobiográficas que lhe contara António César Ramos, um velho companheiro de redação, ambientadas no período joanino (1808-1822). O protagonista chama-se Leonardo, um menino endiabrado e jovem malandro amado por uns e odiado por outros.

Classificação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


    Como foi referido a propósito do título, a obra apresenta características de uma fábula (os animais falam e agem como seres humanos, representando cada um deles uma determinada característica humana, e o texto aponta para uma moralidade), chegando o próprio Jorge Amado a classifica-la como tal. Todavia, o caráter didático e pedagógico da narrativa não é muito evidente; por outro lado, os animais não são exatamente os “clássicos” animais das fábulas tradicionais, nem os seus defeitos e virtudes os tradicionais desta tipologia: aqui não há lobos maus nem raposas matreiras e astutas, por exemplo. Ou seja, os bichos não preenchem os “tipos” das fábulas tradicionais. É verdade que a Velha Coruja simboliza a sabedoria trazida pela experiência, porém o Sapo Cururu é um sábio e erudito que se evidencia pelos seus conhecimentos, bem como pela vaidade que ostenta por causa disso; o Papagaio é um fariseu religioso; a Vaca Mocha salienta-se pela bisbilhotice e má língua, etc.

    A obra contém também traços de um romance breve (a introdução, a divisão em capítulos, a existência de ação e personagens), bem como de um conto e até laivos poéticos. A fórmula introdutória (“Era uma vez, antigamente”) é típica do conto tradicional popular, todavia a estrutura da história do Gato e da Andorinha não tem nada de tradicional. A apresentação de um “capítulo inicial atrasado e fora do lugar”, os vários parênteses introduzidos e o modo como o narrador se dirige ao leitor são elementos que fogem aos padrões da narratologia e que tornam o texto algo revolucionário para a época em que foi escrito. O próprio autor esclarece isto, afirmando que, nos tempos modernos, se usam técnicas narrativas diferentes daquelas a que os leitores estavam habituados.

Moral de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    A moral da história poderia resumir-se do seguinte modo: é necessário combater a intolerância e os preconceitos sociais.

    A partir de uma narrativa sobre o relacionamento contrariado de dois animais de espécies diferentes – um gato e uma andorinha –, tidos por inimigos por natureza, o autor foca as questões da discriminação étnica, da não aceitação das diferenças (nomeadamente em meios pequenos, como é o caso do parque), dos preconceitos sociais, do julgamento dos outros pelas aparências, das convenções sociais (por exemplo, o papel dos pais e da comunidade e a forma como interferem nas escolhas das personagens).

Ideologia de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


  
1. Não se deve avaliar as pessoas pela sua aparência: o Gato era temido por todos e acusado de várias maldades, porque todos consideravam que tinha olhos maldosos. Por outro lado, é a imagem do Gato que a Andorinha tinha dele (“feio”, “feiíssimo”, “tolo”, “convencido”) que a leva a querer conhecê-lo melhor e a falar com ele. A importância da aparência física e de ser aceite ressaltam noutro passo: a Goiabeira faz uma cirurgia plástica para ficar mais bela e ser aceite pelos outros, nomeadamente pelo Gato. Todavia, o resultado não foi o que esperava, pois, desde esse dia, o Gato nunca mais olhou para ela (vide ponto X. 7).

 
2. Os preconceitos são a causa de muitos conflitos e sofrimento. À partida, poder-se-ia pensar que a relação amorosa entre o Gato e a Andorinha seria impossível porque as leis da natureza não permitem que duas espécies inimigas e distintas acasalem. Todavia, a citação dos versos de Estêvão da Escuna permite imaginar um mundo onde é possível o casamento entre um gato maltês e uma andorinha, um mundo sem discriminação e onde o amor e a felicidade são o mais importante. No entanto, o verso “Saindo os dois a voar” coloca o leitor perante uma situação que rompe com o conhecimento do mundo e que não é explicada: como é que o Gato aprendeu a voar? Foi a força do amor? Foi uma forma de se adaptar à espécie a que pertence a amada? Ora, este dado evidencia a dificuldade com que o relacionamento entre o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá seria visto e criticado no parque.

      Os preconceitos relativos ao Gato, baseados no seu comportamento, no seu temperamento mal-humorado, nos seus hábitos solitários, na forma como se dirige e trata os outros animais, nunca diminuem, nem mesmo quando ele os salva da Cobra Cascavel. De facto, em vez de reconhecerem e agradecerem o seu ato heroico, todos, à exceção da Andorinha, procuram denegri-lo ainda mais: para uma parte, a expulsão do réptil não passa de “exibicionismo primário”; para outros, é o reflexo da sua suposta doença incurável. O parque é um local pequeno e a postura dos seus habitantes mostram quão difícil é combater e eliminar o preconceito, sobretudo em pequenas comunidades, em que todos se conhecem. A única forma de combater esta situação passa por uma reforma social que abranja todos os planos: social, religioso, político, cultural, educacional. Não obstante, convém não esquecer que entre o Gato e a Andorinha existem, de facto, diferenças assinaláveis, como, por exemplo, o facto de um voar e o outro não, ou de as aves dormirem em ninhos e não no chão, em pedaços de veludo.

 
3. As pessoas têm de aceitar as diferenças e ser mais tolerantes com os outros. As diferenças entre os dois animais são diversas, bem como os obstáculos ao seu amor: a pertença a espécies diferentes (este elemento corresponde às diferenças étnicas entre os seres humanos); a idade (o Gato é muito mais velho que a Andorinha, ainda uma adolescente); a religiosidade (ela é aluna da catequese do Papagaio, ele não tem “lei nem Deus”); o estatuto social (o Gato é pobre, ela é de uma classe mais alta); a experiência amorosa (o Gato é a primeira paixão da Andorinha, enquanto ele é conhecido pelas suas várias aventuras amorosas, tendo na sua juventude partido o coração de muitas gatas, de uma coelha e de uma raposa inclusive); a personalidade e o caráter (Sinhá mantém uma boa relação com todos os habitantes do parque; Malhado é temido pelos outros animais e tido como malvado, egoísta, ladrão e assassino, mesmo que não haja provas que comprovem estes dois últimos traços, além da sua feiura e malvadez).

      Um exemplo claro de não aceitação das diferenças encontra-se no “Parêntesis das Murmurações”: “pombo com pomba, pato com pata, pássaro com pássaro, cão com cadela e gato com gata”. Todos os pares de machos e fêmeas pertencem à mesma espécie, exceto quando toca aos pássaros. Neste caso, não se foca a espécie, mas a família, o que significa que existe uma duplicidade na interpretação das diferenças. O casamento da Andorinha Sinhá é bem visto e aceite, mesmo que os noivos não pertençam à mesma espécie, mas apenas ao mesmo subgrupo. O pai de Sinhá apresenta vários argumentos a favor do futuro genro, todos de caráter superficial (aspeto físico: é belo; educação: é gentil; idade: é jovem; profissão: canta bem; origem étnica: é de “raça volátil”), enquanto a mãe apenas se preocupa em a casar para não enfrentar o “mau comportamento” da filha. Ou seja, nenhum dos progenitores se preocupa com os sentimentos e a felicidade da filha.

 
4. As relações amorosas deveriam basear-se no amor e não ser “definidas” em função da idade, de tradições, do estatuto social ou de casamentos arranjados. A existência de muitas diferenças entre dois seres que se apaixonam pode querer dizer que o amor supera todas as barreiras e subverte, pelo menos temporariamente, aquilo que se espera que aconteça e procura anular os preconceitos. Tudo isto aponta para a necessidade de as pessoas serem tolerantes com as diferenças, respeitem os afetos e formas diversos de viver a sexualidade e combater qualquer tipo de discriminação.

 
5. As convenções sociais e diversas tradições condicionam as decisões: de acordo com a lei, a Andorinha nunca poderia casar com um animal que não fosse da sua espécie e isso tornou-a infeliz e levou ao seu casamento com o Rouxinol, que ela não amava.

 
6. Nem todas as histórias de amor têm um final feliz. O amor é o tema central da obra e são vários os relacionamentos amorosos nela focados. Um deles é protagonizado pelo Vento e pela Manhã. Ele declara-lhe o seu amor e ela faz um cálculo em torno de um possível casamento entre ambos, apontando como vantagens a oportunidade de viajar pelo mundo e de ser ajudada na realização de algumas tarefas quotidianas. No entanto, o facto de o Vento gostar de levantar as saias das mulheres e de ser uma figura instável, cheia de defeitos e aventuras vividas, levam-na a repudiar a ideia. Estamos, pois, perante não um caso de amor correspondido, mas de sentimentos amorosos não correspondidos por incompatibilidade de personalidades e de interesses.

      Por seu lado, a declaração de amor que o Gato faz à Andorinha indicia, desde logo, a impossibilidade do amor entre amos: “se eu não fosse um gato”. Por seu turno, Sinhá poderia responder com outra condicional, do género “se eu não fosse andorinha, casava-me contigo”. No entanto, a Andorinha nem sequer tem a coragem de contar aos pais que o ama. Por outro lado, nenhum dos dois defende esse amor e deixam que os seus próprios medos os separem, muito mais do que os preconceitos sociais, a intolerância dos outros ou as leis da natureza. À medida que o tempo passa e a relação entre ambos se torna cada vez mais impossível, a história adquire tons mais sérios e tristes, os protagonistas afastam-se, até o seu destino infeliz ficar selado com a pétala de uma rosa, que antes parece uma ferida a sangrar e uma lágrima.

 
7. O amor: todos os relacionamentos amorosos (dos pombos, dos patos, do galo, dos pais de Sinhá), além de maioritariamente serem protagonizados por pássaros, portanto por seres da mesma espécie, são superficiais, estando ausentes sentimentos fortes e sinceros. Chegam mesmo a estar associados ao adultério e à traição. Todavia, nada disto impede que os habitantes do parque julguem, critiquem e condenem o único par que se mostra verdadeiramente apaixonado: o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. A paixão da Goiabeira pelo Gato é a mais incomum de todas. Diariamente, o bicho ia coçar-se na árvore, que se apaixonou por ele. Querendo ficar mais bela, consultou um cirurgião plástico, que lhe retirou todas as irregularidades do tronco. A partir desse dia, o Gato deixou de olhar para ela, pois não gostava de estar na sua presença, dado que o que o atraía nela eram precisamente as suas curvas e rugas. Esta passagem da obra simboliza a capacidade de as pessoas se aceitarem como são: se um indivíduo não gosta de si, os outros não o respeitarão e não lhe darão o seu amor.

      O assunto central da obra é, porém, o amor contrariado e impossível entre dois animais perfeitamente diferentes: um gato e uma andorinha. Por um lado, este relacionamento levanta questões muito importantes: a (im)possibilidade de ultrapassar as diferenças, a aceitação do outro e de si mesmo, a (im)possibilidade de superar os preconceitos, o modo como os protagonistas deveriam defender os seus sentimentos. Por outro, permite refletir sobre o futuro da relação a longo prazo, caso ela fosse possível, tendo em conta as muitas diferenças existentes entre ambos, desde o meio social até à personalidade. Como sucede em muitas relações, é possível que, após a primeira fase da paixão, as suas diferenças fossem gradualmente ganhando preponderância e afetando o casal, bem como a possibilidade de os outros animais do parque não os aceitarem. Neste contexto e como recorda a Velha Coruja, a lei das andorinhas que existe “desde que o mundo é mundo” e que estipula que é proibido as andorinhas casarem com gatos, visto que aquelas fazem parte da cadeia alimentar dos felinos, vem acentuar a dúvida acerca da duração da relação a longo prazo. Em “Parêntesis das murmurações”, a Cadela acrescenta outro pormaior: visto que nunca houve um relacionamento como aquele, ela comenta que “o Gato é ruim, só quer almoçar a pobre Andorinha”. Além de perigosa, a relação seria também imoral e feia, apenas e só porque o Gato era mau, criminoso, etc. O que mais se ouve da parte dos habitantes do parque é “onde já se viu?”, expressão que é repetida diversas vezes.

 
8. Jorge Amado visa também alguns estereótipos literários. Por exemplo, a relação tem início na primavera, quando a natureza renasce, as flores brotam e tudo parece propício ao amor, tópico que encontramos logo nas cantigas de amigo. Mais à frente, o narrador afirmará que o amor também pode acontecer no inverno, dependendo do que vai no coração de cada pessoa. A ideia de conhecer melhor o Gato Malhado por parte da Andorinha começa como uma brincadeira de adolescente, quando se escondia e lhe atirava gravetos, o que remete para um preconceito muito comum, o de que os amores adolescentes não são para levar a sério e não são profundos. Para desmentir esse estereótipo, Jorge Amado refere que a Andorinha deixou de fazer esse joguinho quando tomou consciência de que poderia magoar os sentimentos do Gato. Outro estereótipo tem a ver com a noção de que o amor transforma as pessoas, tornando-as melhores, o que, de facto, aconteceu com o Gato. Depois de se apaixonar, deixou de agredir outros animais, mostrou que era capaz de sentimentos e ações nobres e tornou-se mais sociável.

 

Representação do discurso em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

  
Narração: sucessão de ações que são narradas no pretérito perfeito e que constituem momentos de avanço da ação: “… o Gato levantou-se, estirou os braços e as pernas, eriçou o dorso para melhor captar o calor…”.

 
Descrição: são momentos de pausa, usados para descrever personagens, espaços, ambientes, etc., usando a adjetivação, o pretérito imperfeito, as sensações e diversos recursos expressivos.

 
Diálogo: representação do discurso das personagens de forma direta.

 

O narrador de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    O narrador desta história conta o que ouviu do Sapo Cururu, que a escutara do vento quando este a contou à Manhã e que, por sua vez, a narrou a Tempo para, assim, receber a rosa azul.
    Face ao exposto, é lícito concluir que a narração se associa à transmissão oral de histórias de geração em geração (como sucede, por exemplo, com os contos tradicionais).
    Por outro lado, o narrador é heterodiegético, visto que não é uma personagem da história narrada, pelo que a narração é feita na terceira pessoa.
    Além disso, estamos perante um narrador subjetivo, pois vai introduzindo apartes, para dar informações ou fazer comentários ao longo da narrativa e usa a primeira pessoa para exprimir o seu ponto de vista.
    Por último, é um narrador que inova quando altera a estrutura da obra: o capítulo inicial é introduzido fora do lugar.
    Quanto ao ponto de vista, estamos perante uma narrativa em que predomina a focalização externa, dado que não é personagem da história narrada, antes exterior aos acontecimentos, narrando apenas aquilo que os sentidos lhe transmitem.

sábado, 8 de julho de 2023

Espaço psicológico em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    O espaço psicológico refere-se à memória dos dias felizes vividos pelo Gato e pela Andorinha e dos espaços em que conviveram. De facto, o felino vive uma experiência que abre caminho para a recordação de uma paixão romântica e idealizada, mas também muito sofrida, experiência essa que o muda e faz crescer.

Espaço social em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

 
Os animais que vivem no parque têm estatutos sociais diferentes: o Gato é uma espécie de vagabundo, enquanto a Andorinha é criada com luxo e até tem aulas de canto.

 
O Gato é discriminado e alvo de preconceito por parte dos outros animais até pela sua aparência.

 
A Andorinha pertence a uma classe distinta, superior aos demais, e é muito protegida.

 
O romance entre o Gato e a Andorinha é impossível, desde logo pelas diferenças sociais entre ambos, isto é, porque pertencem a estratos diferentes.

 
As relações sociais no parque seguem regras muito rígidas. Por exemplo, os animais só poderiam relacionar-se com alguém da mesma espécie: “Tem uma lei, uma velha lei, pombo com pombo, pato com pata, pássaro com pássaro, cão com cadela e gato com gata.”

 

Espaço físico de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    A ação decorre num parque onde os animais vivem e que, com a chegada da primavera, se torna extremamente belo.

    Dentro do parque, o narrador foca a sua atenção noutros microespaços, como, por exemplo, debaixo das árvores, o local destinado aos bichos que não voam nem trepam e por onde o gato passeia. Os ramos das árvores são o lugar onde as aves pisam e fazem os seus ninhos. Além disso, é a partir dos ramos das árvores que a Andorinha observa o Gato. O esconderijo da Cascavel é um lugar longínquo, onde vive apenas a Cobra Cascavel, a encruzilhada do fim do mundo, e para onde ele se dirige no final da história, depois do casamento da Andorinha e do Rouxinol.

Tempo do discurso em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

    O tempo do discurso tem a ver com a forma como o narrador gere o tempo da história: a estação da primavera ocupa três capítulos, o verão um, o outono dois e o inverno um. Por outro lado, o narrador aumenta e diminui o tempo da narração, destacando alguns factos e omitindo outros. Além disso, ele não obedece sempre à cronologia, introduzindo algumas analepses e prolepses, como é o caso, por exemplo, do “Capítulo inicial, atrasado e fora do lugar”.

Tempo psicológico de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

 
. “É sempre rápido o tempo da felicidade.”

. “Curto foi o tempo do verão para o Gato e a Andorinha.”

Tempo da história em O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


Na obra, o tempo da história abrange cerca de um ano da vida dos protagonistas e é narrado de acordo com as estações do ano, que dão título a alguns dos capítulos da história e que estão em consonância com os sentimentos das personagens principais.

    Na primavera, o Gato e a Andorinha conhecem-se e, com a continuação da estação, interessam-se um pelo outro. No final, encontram-se todos os dias. No verão, o Gato e a Andorinha agem como namorados e o felino sente ciúmes por ela sair com o Rouxinol. No outono, o Gato parece mais sociável, sofre e escreve poemas apaixonados e nostálgicos, mas a Andorinha afasta-se e revela que vai casar com o Rouxinol. No inverno, ressalta a tristeza e a dor resultantes da separação: a ave casa com o Rouxinol e o Gato compreende que o “sonho de amor” acabou.

                Em síntese:

 
Primavera
 
. O Gato Malhado vivia isolado, pois era mau para os outros animais do parque.

 
. A Andorinha, curiosa e interessada, queria saber mais do gato, por isso passou a observá-lo.

 
. No primeiro dia da primavera, todos fugiram do Gato menos a Andorinha.

 
. Apesar da má relação entre gatos e andorinhas, o Gato e a Andorinha decidiram ser amigos.

 
. O Gato e a Andorinha encontravam-se e passeavam todos os dias, situação que se prolonga até à primavera findar.

Verão
 
. O Gato e a Andorinha passeavam e conversavam.

 
. O Gato tinha ciúmes do Rouxinol e ficava triste quando a Andorinha saía com ele.

 
. O Gato declarou-se à Andorinha: “Se eu não fosse gato, te pediria para casares comigo.”

Outono
 
. O Gato tinha mudado.

 
. Os animais já não tinham medo dele.

 
. O Gato escreveu um soneto à Andorinha.

 
. Os dois passeavam, mas em silêncio.

 
. No final do dia, o Gato ofereceu o soneto à Andorinha.

 
. No dia seguinte, a Andorinha não apareceu e enviou uma carta definitiva pelo pombo-correio.

 
. Ambos se sentiam tristes.

Inverno
 
. No início do inverno, a Andorinha casa com o Rouxinol.

 
. O Gato perde toda a esperança.

 
. O Gato vai ao encontro da morte, a Andorinha apercebe-se e chora.


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