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Os Maias distinguem-se duas intrigas - a
intriga secundária, narrada retrospetivamente, corresponde à paixão trágica de Pedro da Maia e condiciona decisivamente o desenvolvimento e o desenlace da
intriga principal, cujo protagonista é Carlos da Maia, filho de Pedro.
A intriga secundária está
estruturada em cinco momentos:
1.º) Pedro vê Maria Monforte.
2.º) Pedro namora Maria Monforte.
3.º) Pedro casa com Maria Monforte.
4.º) Maria Monforte foge com Tancredo, levando a filha.
5.º) Pedro suicida-se.
Observemos, agora, em detalhe, algumas das suas caraterísticas principais.
Desde logo, a
paixão de Pedro por Maria é aquilo que poderíamos designar por romântica. Por um lado, Maria surge envolta num ambiente de mistério (a sua origem) e marcada pelos traços da beleza física e da transgressão (
«toilettes excessivas e teatrais»). Por outro lado, trata-se de uma paixão súbita / à primeira vista (uma paixão fatal), seguida de um namoro "à antiga", com a escrita diária de duas cartas febris de seis folhas de papel (de Pedro para Maria) e a oferta de ramos das mais belas camélias dos jardins de Benfica. Em terceiro lugar, não poderia faltar a oposição paterna a este romance, resultante do conhecimento dos pormenores hediondos sobre a família de Maria por parte de Afonso.Por último são inúmeros os
presságios disfóricos que marcam as personagens e a paixão em si.
À paixão segue-se o casamento. A lua-de-mel, inicialmente, é apresentada como uma «felicidade de novela». Passa por Itália e Paris, havendo a destacar a vida faustosa e luxuosa de Maria, os ciúmes causados em Pedro e a primeira gravidez. De regresso a Lisboa, instado pela esposa, ele escreve ao pai tentando a reconciliação, recusada por Afonso. Segue-se a descrição das
soirées mais alegres de Lisboa, em Arroios, num ambiente festivamente romântico, até que tudo muda após a chegada do misterioso Tancredo, por quem Maria se apaixona e com quem foge.
E tudo culmina com o
desenlace trágico da intriga secundária.
O adultério e a fuga de Maria (com a filha) encontram as suas causas, por um lado, na ociosidade de Maria, uma personagem dominada pelo luxo, pela ostentação, sem uma ocupação que lhe preencha utilmente a vida, daí que se entregue aos prazeres e caia no adultério, e, por outro, na literatura romântica, uma literatura idealista e desvinculada da vida real que origina condutas anómalas e desvarios no leitor: a fuga de Maria com Tancredo tem o caráter de um episódio de novela romântica.
O suicídio de Pedro, por sua vez, constitui o desenlace típico do romance naturalista, reflexo do(a)
Com efeito, o percurso amoroso e biográfico de Pedro só é explicável à luz de fatores naturalistas: a raça / hereditariedade, a educação e o meio social. Quanto à hereditariedade, o romance salienta o paralelismo de identidade entre a mãe e o filho (cap. I, p. 20); relativamente à educação, recebe a que a mãe escolhe, tendo o padre Vasques por orientador, uma educação que impede o desenvolvimento físico, moral e intelectual, tornando-o «um fraco em tudo»; quanto ao meio, Pedro, após a morte da mãe, frequentou um ambiente moralmente baixo. Eis, pois, Pedro lançado no trilho que o levará inexoravelmente à destruição. Ficava provada a
tese de que o ser humano é um produto desses fatores naturalistas, que o condicionam irrefreavelmente. Pedro torna-se, em suma, um herói romântico, sem heroísmo, com uma solução romântica.
Por último, refira-se que a intriga secundária se carateriza por um ritmo rápido de novela e é narrada por um narrador omnisciente. As duas personagens centrais têm como função maior (além da demonstração das teses atrás enunciadas) evidenciar os paralelismos de comportamento de Carlos e Maria Eduarda (vide intriga principal).