sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Análise do Canto XIII da Ilíada
Zeus, a única divindade a poder intervir no conflito, tinha controlado a ação nos últimos cantos, no entanto neste afasta o olhar do campo de batalha, o que é aproveitado por Poseidon, que desafia a sua ordem de não interferência. Porém, como receia a reação do pai dos deuses se vier a descobrir a sua intervenção na guerra, não luta diretamente ao lado dos Gregos. Assim, limita-se a aconselhá-los e a manter o moral elevado. Encurralados, os Aqueus reagrupam-se e resistem, pois não têm para onde fugir e precisam de salvaguardar os seus navios a todo o custo, afinal a garantia da sua sobrevivência.
O Canto XIII centra-se muito mais em
questões de estratégia do que na descrição de cenas bélicas. Ambas as partes
conflituantes consideram que as suas linhas de combate necessitam de ser
reforçadas. A posição de Heitor e dos Ájax, ocupando o lugar central do palco,
ilustra os seus papéis centrais na ação. Por seu turno, Páris, que fora
retratado anteriormente de forma negativa – como cobarde e indiferente à sorte
dos seus companheiros –, revela agora uma determinação e um espírito de luta
que reanimam Heitor, que se encontrava desanimado, depois de constatar que
grande parte dos seus capitães estava morta ou ferida.
Resumo do Canto XIII da Ilíada
Zeus, satisfeito com a evolução do conflito, afasta-se do campo de batalha, o que é aproveitado por Poseidon para ajudar os Gregos. Assim visita o Grande Ájax e o Pequeno Ájax, na forma de Calcas, e inspira-os, bem como aos demais aqueus, a resistir ao ataque dos Troianos. Com a confiança restaurada, os Gregos enfrentam os inimigos e os dois Ájax forçam Heitor a recuar. Este dispara a sua lança em direção a Teucro, mas o grego desvia-se e a arma atinge fatalmente Anfímaco, o neto de Poseidon. Cheio de dor e desejando vingar-se, o deus do mar, que não ousa posicionar-se abertamente a favor dos Gregos receando a punição de Zeus, confere um grande poder a Idomeneu, que, em conjunto com o seu feroz ajudante Meriones, liquida ou fere muitos troianos. Tudo isto decorre na zona esquerda da batalha.
Enquanto isso, à direita, Heitor
prossegue o seu ataque, mas os soldados que o acompanham perderam parte da sua
força, depois de terem sofrido às mãos dos dois Ájax. Parte deles recua mesmo
até às suas próprias fortificações, enquanto os restantes estão dispersos pelo
campo de batalha. Polidamas convence o chefe troiano a recuar um pouco e a
reagrupar as tropas. Heitor procura os seus camaradas, mas descobre que estão
mortos ou feridos. Nesse instante, vale-lhe Páris, que o incentiva e lhe
levanta o ânimo. Ájax insulta-o e Heitor responde, prometendo matá-lo; com
muitos gritos à mistura, a batalha reacende-se. Enquanto Ájax discursava, uma
águia surgira à sua direita, o que é entendido como um presságio favorável aos
Gregos.
Análise do Canto XIV da Ilíada
É curiosa a forma como Agamémnon se deixa abater por vezes quando as coisas não correm a seu favor. Nesta ocasião, necessita de ser incentivado e convencido a não desistir da guerra e a voltar para casa, coberto de vergonha. A cada revês, acredita que Zeus está contra si. Crente nisso e que a derrota se afigura como inevitável, prefere uma sobrevivência desonrosa a uma eventual morte gloriosa e chega mesmo a propor a retirada, enquanto os eu exército ainda combate: Ora, esta opção contrasta com a postura de Aquiles, que prefere exatamente o oposto. Quando lhe foi dada a possibilidade de escolher entre uma vida tranquila e longa na sua pátria e casa, junto à sua família, e uma vida gloriosa, mas breve, ele não hesitou e escolheu a segunda hipótese. O discurso de Ulisses cobre Agamémnon de vergonha. A sorte da guerra está longe de estar decidida e o líder dos Gregos necessita de confiar mais nos deuses.
Este retrato de um Agamémnon
vacilante, cobarde, sem honra, permite compreender a razão por que Aquiles e
outros capitães gregos se ressentem da liderança do seu comandante e da
reivindicação da maior parte dos saques que obtêm. Por outro lado, Agamémnon
aparenta sentir pela primeira vez algum remorso por ter ofendido Aquiles,
contudo convém ter presente que tal sucede apenas por causa do modo como as
consequências nefastas dessa ofensa o afetam. Dito de outra forma, Agamémnon
receia que as suas tropas o culpem pela eventual derrota na guerra.
Os Gregos continuam a combater, mas
chefiados agora por um escasso número de líderes, nomeadamente os dois Ájax e
Menelau. Os restantes (Agamémnon, Ulisses e Diomedes) estão todos feridos,
enquanto Nestor está ocupado a tratar de Machaon. Este facto contrasta com o
que se passa entre os Troianos, onde avultam as figuras de Heitor, Páris e
Eneias, nomeadamente as capacidades de liderança do marido de Andrómaca, por
exemplo quando assistimos à forma como divide o seu exército ao longo da linha
grega e o faz recuar e reagrupar quando tal se torna necessário, ou quando
Polidamas e Heitor discutem qual é a secção do exército que necessita de ser
reforçada. Isto traduz o facto de, nos últimos dois cantos, a narrativa se
preocupar mais com as questões de tática militar do que com os confrontos
físicos da batalha. Outro exemplo que comprova esta ideia está presente na cena
em que Poseidon exorta os Gregos a redistribuir as armas pelos soldados de
forma mais eficiente entre os mais fortes e os mais fracos.
No que diz respeito aos deuses, mais
uma vez oferecem um contraponto humorístico à brutalidade da guerra. É o que
sucede com o episódio de Hera e Zeus, que evidencia como as questões de vida ou
morte dos humanos são frequentemente determinadas por picuinhices e
mesquinhices entre as divindades do Olimpo. Neste caso, a mudança dos
acontecimentos tem como causa a líbido de Zeus e a ingenuidade/credulidade de
Afrodite, bem como da astúcia e manha de Hera. Esta aproveita-se comicamente da
boa vontade da deusa do amor para manipular o seu esposo, explorando o seu
ponto fraco. Consecutivamente, os deuses mostram a sua falta de racionalidade e
equilíbrio.
Voltando a Heitor, neste canto
ocorre o segundo round do seu confronto com Ájax, do qual volta a sair
por baixo, o que ilustra o poder e a força relativos dos exércitos e heróis
conflituantes. Heitor é o guerreiro troiano mais forte, mas não consegue
sucessivamente derrotar o segundo lutador grego mais forte. Esta questão ganha
especial relevância, pois, caso Heitor seja derrotado, não haverá outro troiano
de valor aproximado que o possa substituir e liderar as tropas. Em sentido
oposto, as hostes aqueias possuem vários outros guerreiros fortes e corajosos.
Sucede que, mesmo com a ajuda de Zeus, o avanço de Troia em direção aos navios
inimigos é lento e marcado por vários contratempos.
Note-se, por último, que o poeta
procura retratar as duas fações em confronto de forma equidistante e simpática,
mostrando como ambos os exércitos lutam com honra, determinação e coragem,
porém vai-se percebendo que o lado troiano não possui a mesma forma de combate.
Resumo do Canto XIV da Ilíada
Nestor coloca Machaon na sua tenda e reúne-se aos outros comandantes gregos, feridos perto dos navios. Juntos, observam o campo de batalha e tomam consciência da dimensão das suas perdas. Perante este quadro, Agamémnon receia ser derrotado e propõe desistir da luta e regressar a casa. Ulisses rejeita de imediato a ideia, considerando-a um gesto de cobardia, desonroso e vergonhoso. Em alternativa, Diomedes sustenta que todos os comandantes se devem dirigir para a frente de batalha, não para lutar, dado que vários se encontravam feridos, mas para inspirar os seus soldados. Ao partirem, Podeidon, disfarçado, encoraja Agamémnon e diz-lhe que os Troianos se iriam retirar dos navios nalgum momento.
No Olimpo, Hera decide distrair
Zeus, para poder ajudar os Aqueus. Assim, visita Afrodite e engana-a, para que
lhe dê uma faixa de peito encantada em que os poderes do Amor e da Saudade são
tecidos, capaz de enlouquecer por amor o homem mais sensato do mundo. De
seguida, suborna o Sono (promete-lhe uma das suas filhas em casamento), para
que faça Zeus dormir. O Sono segue-a até ao Monte Ida e, disfarçado de ave,
esconde-se numa árvore. Zeus vê Hera; a banda encantada cumpre a sua função,
fazendo com que o desejo o domine. Ele faz amor com Hera e, depois, como
planeado, o Sono usa o seu poder em Zeus, que adormece. A seguir, a deusa avisa
Poseidon, informando-o de que está livre para auxiliar os Gregos.
O deus do mar reagrupa-os e a
batalha recomeça. Heitor e Ájax logo se veem frente a frente e lutam. O troiano
atinge o grego com um poderoso arremesso de lança, mas esta não penetra a sua
armadura. Ájax fere então o inimigo com uma pedra e este começa a expelir
sangue. Os Troianos levam o seu comandante de volta a Troia; na sua ausência,
os Gregos derrotam os seus inimigos, que morrem em grande número. No final do
canto, deparamos com o exército troiano em retirada, em direção à cidade.
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
Análise de "Composição VIII", de Kandinsky
“Composição VIII” é um quadro de
Kandinsky, pintor modernista russo, nascido a 4 de dezembro de 1866 e falecido
a 13 de dezembro de 1944, datado de 1923. Trata-se de uma pintura a óleo sobre
tela, de 140, 3 x 200, 7 cm, exposto atualmente no Museu Guggenheim de Nova
Iorque.
Este quadro é considerado pelo próprio
pintor como o auge das suas criações pós-Primeira Guerra Mundial. A obra é constituída
por diversas formas geométricas (círculos, semicírculos, triângulos e quadrados),
ângulos retos e agudos e linhas retas em várias direções, posicionadas em
locais estratégicos na tela, formando uma espécie de paisagem: os grandes
triângulos representam montanhas, enquanto o círculo do lado esquerdo superior
simboliza o sol.
Aparentemente caótica, por ser
assimétrica, a pintura estrutura-se a partir da técnica ponto, linha, plano,
isto é, o ponto constitui o «local» onde o objeto toca a tela, que são os
círculos. Quando o ponto se desloca, forma a linha e, sempre que esta se
desloca, forma o plano, que são as cores, que podem ser fluidas ou compactas,
como sucede com as formas geométricas. O conjunto constituído por cores e
linhas, forma três grandes triângulos, situados em planos diferentes.
Relativamente às cores, o fundo do
quadrado é claro e tripartido em tons que definem profundidade e conferem
dinamismo à pintura, provocando também um contraste de tonalidades entre esse
fundo e os elementos que se sobrepõem, todos eles com cores mais escuras. O
pintor usa tonalidades diferentes dentro das formas, dando energia à sua geometria,
como o círculo amarelo com uma auréola azul, em oposição ao círculo azul
contendo uma auréola amarela.
O uso dos círculos, retângulos, semicírculos,
triângulos e outras formas geométricas é consistente com a crença de Kandinsky
nas propriedades místicas das formas geométricas, enquanto as cores são
escolhidas pelo seu impacto emocional.
No canto superior esquerdo, encontramos
um círculo roxo dentro de um círculo preto envolvido por um halo de dupla
camada rosa e laranja. As bordas do halo, aparentadas à coroa em torno de um
sol eclipsado, contrastam fortemente com as linhas nítidas do círculo preto com
o seu núcleo roxo. Um círculo vermelho parcial, emergindo do canto inferior
direito da periferia do círculo preto e cortando o seu halo, é delimitado pelo
seu próprio nimbo amarelo, que se mistura com as coras rosa e laranja da forma
adjacente. Um círculo amarelo delimitado por uma linha preta fina, posicionado
no terço inferior da tela, possui um halo constituído por uma camada interna
azul e uma camada externa roxa. Outro círculo, azul com uma borda salmão,
localizado perto da parte inferior da tela, é rodeado por um anel de fogo
amarelo. Os círculos situados à direita da tela, ao contrário, não possuem halos.
O halo é um tema artístico
recorrente ao longo do tempo e em diversas culturas. Por seu turno, a luz,
nalgumas tradições espirituais e filosóficas, representa a consciência
superior, enquanto uma pessoa que se deleita na luz da razão pode ser
considerada iluminada. Cabeças de divindades gregas e romanas, como, por
exemplo, Hélios e Júpiter, eram circunstancialmente mostradas circundadas por
um nimbo de luz, uma representação que terá sido adotada pelos primeiros
cristãos que viviam no mundo greco-romano. Kandinsky, um apreciador do
cristianismo ortodoxo russo, cuja fé influenciava frequentemente os termos das
suas pinturas, deveria estar ciente da importância do halo na iconografia religiosa
russa.
Entre 1921 e 1923, tiveram lugar
seis eclipses lunares, coincidindo dois no ano da criação de “Composição VIII”,
o que poderá ter constituído uma inspiração para a composição do círculo preto
com a sua coroa rosa e laranja. O preto, de acordo com a teoria sónica da cor
de Kandinsky, significava silêncio externo, enquanto o laranja indicava a voz
masculina mais alta e os instrumentos musicais correspondentes na faixa de
contralto. O rosa, enquanto mistura de vermelho e branco, pode ser interpretado
como um amortecimento de sons cacofónicos ou uma suavização de tons mais
ásperos. O amarelo, formando um halo em torno dos círculos azuis e vermelhos, representa
perturbação e raiva, enquanto em termos musicais significa trombetas e fanfarras.
Uma das três grades, formadas por quadriláteros e dispostas numa forma que lembra um prédio alto, aparece no lado esquerdo da tela e aparece sob um triângulo preto forrado e parcialmente formado por azul claro que se funde com o fundo creme. Os círculos terão sido usados pelo pintor para representar o simbolismo planetário, o que se tornou comum durante o período abstrato da sua carreira.
domingo, 1 de agosto de 2021
Análise do Canto XV da Ilíada
O Canto XV constitui o princípio do fim para Heitor, precisamente quando atinge o auge do seu poder. É isso que Zeus revela a Hera quando acorda, incluindo a queda da cidade de Troia, que não é descrita na Ilíada, que termina com os funerais de Heitor. Juntando essa a outras revelações – as mortes de Pátroclo e de Aquiles –, o leitor fica a saber antecipadamente o desenlace da história. Esta forma de construir a narrativa contrasta com a usual na ficção contemporânea, que procura criar tensão dramática, criar suspense, mantendo o leitor na expectativa do que irá suceder.
É verdade que, no caso, por exemplo,
de certos romances policiais, o leitor fica a conhecer ab initio quem é
o criminoso, mas tal constitui uma exceção à regra. A literatura moderna faz
depender, frequentemente, o desfecho da história da ação das personagens
individuais e das escolhas que fazem na vida. Ora, este paradigma narrativo é
mais complexo de encontrar na Ilíada, pois as narrativas antigas
assentam muitas vezes na tradição mitológica, o que implicava que o
leitor/ouvinte seria confrontado com uma história cujo desfecho já era do seu
conhecimento. Neste contexto, a tensão dramática não resulta da interferência
da mentalidade e da personalidade das personagens nos eventos, mas da forma
como estes afetam as personagens. O leitor, nesta fase do poema, já está ciente
da queda de Troia e da morte de Heitor, do mesmo modo que Aquiles sabe
perfeitamente que, se regressar à luta, irá perder a vida. Assim sendo, não é o
desenlace da história e o fim das personagens que cativam a sua atenção, mas
ficar a saber como elas respondem a um fim já conhecido. Quando o espectador
compra o bilhete e entra na sala do cinema, tem consciência de que a personagem
encarnada por John Wayne irá castigar os maus e triunfar no fim da história,
mas, ainda assim, quer ver como o vai conseguir. Tudo isto ganha foros
caricaturais quando assistimos ao avanço de Heitor e dos Troianos, sabendo já
que a sua vida irá terminar em breve.
Note-se, contudo, que nem sempre a
ação se desenvolve de acordo com o esquema descrito. De facto, há momentos em
que os eventos estão dependentes das opções das personagens. É o caso flagrante
de Aquiles, que se tem vindo a confrontar com um dilema: retornar à guerra,
salvar os seus companheiros e auxilia-los a derrotar Troia, ou conservar a sua
cólera e o seu orgulho e deixá-los entregues à sua sorte. Estes conflitos internos,
tão comuns nos textos teatrais (quem se pode esquecer dos de D. Madalena ou
Telmo Pais no Frei Luís de Sousa?), contribuem para a criação de um
ambiente dramático, mas, ocasionalmente, são igualmente envolvidos por um certo
clima irónico. Por exemplo, no Canto I, depois de ver o seu orgulho ferido
pelas ações de Agamémnon, Aquiles, através da sua mãe, pede a Zeus que castigue
os Gregos (não teria esta hybris de ser punida pelos deuses mais tarde
ou mais cedo?); no entanto, agora é a ação do mesmo Zeus em prol dos Troianos
que contribuirá também para a perda do seu amigo Pátroclo.
O outro plano do poema – o da
mitologia – prossegue a todo o vapor. Hera escapa à punição de Zeus protestando
a sua inocência e atribuindo as culpas para cima de Poseidon. No entanto, o seu
juramento no rio Estige – um voto que os deuses não podem quebrar – mostra a
sua falsidade. É verdade que ela não enviou Poseidon em auxílio dos Gregos, mas
aproveitou o ensejo para o ajudar no processo e assim, indiretamente, acabam
por os ajudar.
Por seu turno, a postura do deus do
mar justifica-se pela rivalidade que cultiva com Zeus, seu irmão mais velho.
Enquanto primogénito, este detém muito mais poder e autoridade, mas o que mais
irrita Poseidon é o facto de ele ter de desistir dos seus próprios interesses
em prol das prioridades e interesses de Zeus. Ora, este conflito desenvolve-se
paralelamente ao de Agamémnon e Aquiles, que hostiliza o primeiro, o todo
poderoso rei dos Gregos, porque espera que o filho de Tétis abdique de algo que
lhe pertence (Briseida) em seu favor. Poseidon cede, com medo do poder e do
castigo de Zeus, mas solta uma ameaça; também Aquiles cede, mas não sem
procurar uma dupla vingança sobre Agamémnon: abandona o combate e pede ao pai
dos deuses que castigue os Gregos.
Por último, há que atender ao
seguinte no que diz respeito a Heitor: quando ele finalmente atinge os navios
inimigos, a promessa de Zeus está cumprida. De ora em diante, o curso da guerra
alterar-se-á em desfavor de Troia, cumprindo-se, deste modo, a profecia do todo
poderoso deus.
Resumo do Canto XV da Ilíada
Enquanto as tropas troianas são repelidas, Zeus desperta do seu sono e observa o que aconteceu enquanto dormia. Ameaça castigar Hera, mas esta protesta a sua inocência, desviando a culpa para cima de Poseidon. Ele diz-lhe que, não obstante os eu apoio aos Troianos, troia está condenada a cair e que Heitor morrerá depois de lutar e matar Pátroclo. Por outro lado, Zeus parece aceitar a inocência da esposa, mas força-a a trabalhar no sentido de desfazer as ações de Poseidon, pedindo-lhe que chame Íris e Apolo. Ela obedece, mas antes incita Ares a quase desafiar o pai dos deuses para vingar o seu filho, sendo apenas travado por Atenas. Íris ordena a Poseidon que abandone o campo de batalha, enquanto Apolo dota Heitor e os seus companheiros de novas forças.
De seguida, Heitor lidera um ataque
contra os Gregos, que sustentam a ofensiva inicialmente. No entanto, com um grito
de guerra, Apolo agita o escudo de tempestade de Zeus contra as tropas gregas,
que recuam aterrorizadas. Apolo enche, então, a trincheira em frente às
fortificações aqueias, permitindo que os Troianos derrubem as muralhas.
Os exércitos lutam junto ao
acampamento grego e perto dos navios. Ájax e Heitor enfrentam-se novamente. O
arqueiro Teucro derruba vários soldados troianos, todavia Zeus parte o seu arco
quando faz mira em Heitor. Ájax incentiva os seus companheiros a lutar, mas o
líder troiano reúne as suas tropas e, passo a passo, avançam com a ajuda de
Zeus, até que Heitor chega a um navio.
Análise do Canto XII da Ilíada
Este canto contém indícios do destino de Heitor e de Troia, à semelhança do que tinha sucedido com a cena de Nestor e Pátroclo, também ela premonitória. Assim, de acordo com as previsões dos adivinhos, a cidade está condenada a cair. Em simultâneo, Homero não deixa de sugerir ao leitor que a morte de Heitor, bem como a partida dos Gregos no décimo ano.
No entanto, por outro lado, são
vários os sinais de sentido oposto, desde logo porque Zeus manipula a batalha,
ora derramando sangue sobre os Gregos, ora permitindo que Heitor se torne o
primeiro troiano a cruzar as fortificações do inimigo. Os Aqueus reconhecem o
dedo de Zeus no curso dos acontecimentos e compreendem que, ao combater os de
Troia, se opõem também ao deus. Neste contexto, Diomedes conclui que o chefe
dos deuses já selecionou o vencedor do conflito: os Troianos. Deste modo,
perante sinais contraditórios, o leitor hesita, não sabendo em quais confiar, pelo
que o desenlace da história permanece em aberto, por causa desses sinais
ambíguos. Os dois lados em conflito ficam confusos sobre a vontade de Zeus:
ambos reclamam o seu apoio, mas as suas intervenções nada clarificam.
Voltando a Heitor, no momento em que
ignora o conselho de Polidamos, dá mais um passo rumo ao destino que lhe está
reservado. Note-se, contudo, que recuar naquele instante constituiria um
comportamento desonroso, além de sem sentido, pois a batalha está a ser
francamente favorável aos Troianos. Assim, que razão haveria para recuar? Deste
modo, é perfeitamente normal que Heitor ignore o presságio e prossiga a luta em
defesa da sua pátria, cumprindo, em simultâneo, o destino que Zeus lhe traçou.
Resumo do Canto XII da Ilíada
À medida que os Troianos avançam sobre as fortificações gregas, o poeta dá-nos conta que elas serão destruídas quando Troia cair. Entretanto, elas continuam a cumprir o seu papel: resistir aos avanços dos inimigos – a trincheira aberta à sua frente bloqueia os carros troianos e impede-os de avançar. Por isso, Heitor segue o conselho de Polidamas, ordena aos soldados que desçam dos carros e ataquem as muralhas a pé. Quando se preparam para atravessar as trincheiras, algo de extraordinário acontece: uma águia voa sobre a ala esquerda do exército troiano, é mordida pela grande cobra que transporta e deixa-a cair no meio dos combatentes. Polidamos interpreta esta cena como um sinal de que os Troianos serão derrotados pelos Aqueus e aconselha Heitor a recuar, mas este zomba dele e decide prosseguir o ataque.
Assim, Glauco e Sarpédon atacam as
muralhas, enquanto Menesteu, auxiliado por Ájax, a defende. Sarpédon abre uma
brecha no muro, enquanto Heitor destrói uma das portas com uma rocha. Ato
contínuo, os Troianos invadem as fortificações, e os Gregos recuam, apavorados,
para os seus navios.
Na aula (XLI): profundos conhecimentos geográficos
Marrocos é uma ilha.
Marco E.
Análise do Canto XI da Ilíada
O Canto XI abre com a aristeia de Agamémnon. O poeta faz uma descrição efetiva do seu armamento e armadura, ricamente decoradas com materiais preciosos que enfatizam a sua riqueza. Dos vários elementos destaca-se a Górgona que está no seu escudo, a qual também marca presença no escudo de Atenas, e que simboliza o apoio dos deuses. Por instantes, o chefe dos Gregos vira a maré da batalha contra os Troianos, apesar das intenções de Zeus serem de sentido oposto.
O pai dos deuses continua a ser o
único a poder intervir no curso da guerra, o que ele faz em favor de Troia.
Neste passo da obra, a deusa Íris atua como uma extensão da sua vontade e uma
evidência da brutalidade da guerra, algo que perpassa toda a Ilíada, mas
isso não significa propriamente uma condenação dos conflitos bélicos. Apesar de
ser um acontecimento trágico, onde milhares de homens são sacrificados, a
guerra constitui igualmente uma forma de alcançar a glória e a honra pessoais,
tão importantes no mundo antigo. De acordo com a visão de Homero, a guerra faz
parte da vida humana.
Neste canto, Pátroclo assume uma
importância que não tinha tido até aqui e que se vai estender para o futuro
imediato. Quando ele responde ao chamamento de Aquiles para questionar Nestor,
o poeta afirma que, a partir desse momento, a sua condenação era um dado adquirido,
condenação essa que se adensa com a sugestão de Nestor para que Pátroclo finja
ser Aquiles e entre em combate. Por outro lado, a figura de Pátroclo funciona
também como contraponto do seu amigo. De facto, embora sejam bastante inimigos
e irmãos adotivos, são personalidades bem diversas. Pátroclo mostrará todo o
seu humanismo e toda a sua compaixão na cena de Eurípilo, enquanto Aquiles já
demonstrou, em mais de uma ocasião, todo o seu orgulho, que se sobrepõe ao
destino dos seus próprios companheiros, algo que o próprio amigo desaprova.
Resumo do Canto XI da Ilíada
Na manhã seguinte, os exércitos voltam a enfrentar-se e Zeus faz chover sangue sobre o campo aqueu, causando enorme pânico entre os Gregos, que sofrem um massacre nessa fase do combate. No entanto, da parte da tarde a maré começa a mudar: Agamémnon mata diversos inimigos e faz recuar de novo os Troianos até aos portões da cidade.
Porém, Zeus envia uma mensagem a
Heitor através de Íris para ele esperar até Agamémnon ser ferido e só então dar
início ao seu ataque. De facto, o comandante grego acaba por ser ferido por
Coon, filho de Antenor, logo após matar o seu irmão. Mesmo ferido, continua a
lutar e liquida Coon, no entanto a dor que sente força-o a abandonar o campo de
batalha.
Heitor reconhece a situação e
avança, fazendo recuar os Aqueus, que entram em pânico, mas Ulisses e Diomedes
incentivam-nos a resistir e insuflam coragem nos seus corações. Diomedes
arremessa uma lança que atinge Heitor no capacete que o deixa atordoado e o
obriga a recuar. Em rápida sucessão, a maioria dos melhores lutadores gregos é
ferida e até Diomedes é atingido no pé pro uma seta disparada por Páris, o que
o arreda do resto do poema e deixa Ulisses numa situação delicada, ferido
também e cercado por inimigos. O estratega do Cavalo de Troia luta com todos,
mas um adversário chamado Socus fere-o nas costas, sendo salvo por Ájax, que o
carrega de volta ao acampamento.
Entretanto, Heitor regressa à ação
noutro setor do combate e, juntamente com outros soldados, força Ájax a recuar
enquanto Nestor leva Machaon (um curandeiro grego que tinha sido ferido por
Páris) de volta à sua tenda. Enquanto isso, atrás das linhas, Aquiles assiste à
batalha e envia o seu amigo Pátroclo para identificar o lutador ferido que
Nestor transporta. Este relata-lhe todos os revezes que os Gregos estão a
sofrer e implora-lhe que convença Aquiles a retornar à luta, ou pelo menos o
deixe a ele, Pátroclo, entrar na batalha disfarçado, envergando a armadura do
próprio Aquiles. Esse estratagema teria um duplo efeito: por um lado, daria
coragem aos Gregos; por outro, intimidaria os inimigos. De outra forma, Nestor
vê muito difícil a tarefa de resistir aos Troianos. Pátroclo promete falar com
Aquiles.