19.03.1930 - 21.10.2024
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
Análise do capítulo VII de O Cortiço
Continua o domingo, dia especial, em que os sentidos e o prazer se juntam. É também o dia em que todos se juntam e fazem reuniões bastante festivas. Isto remete para uma característica do romance, que é a junção de vários sentidos. Os convivas distribuem-se pelas várias casas, mas juntam-se todos na altura do canto e da dança.
Mas, no capítulo, há outros aspetos importantes:
= Contraste do cortiço com a casa de Miranda, que reage ao barulho. As reações às observações de Miranda são violentas e ainda fazem mais barulho.
= Retrato de Firmo, através de uma descrição miudinha e nervosa, que vai ser importante, quando se põem em contraste Firmo e Jerónimo. Era delgado, capadócio, pernóstico, bigodinho crespo, petulante. Era oficial de torneio, oficial perito e vadio. Era o companheiro de Rita.
= Caracterização de Libório: velho semítico e desgraçado. Dele fica a imagem de repugnância e nojo.
= Referência a Albino, por contraste com Libório: é muito suscetível quando é alvo de brincadeira.
Temos, assim, neste capítulo, o acumular de vários retratos individuais, que permitem construir uma imagem do grupo, caracterizado sobretudo por uma certa degradação. Tanto a imagem de Firmo, como de Libório e Albino deixam passar uma ideia negativa.
Com o cair da noite, vem a festa: festa em casa de Miranda e festa no cortiço. Esta começa a ter uma influência marcante em Jerónimo, antes mais fiel ao fado. Começa a estabelecer-se um contraste entre o som brasileiro e o fado, que acaba por ser colocado de parte. É uma influência que, apesar de subtil, é profunda e opera-se através dos sentidos, responsáveis pelas modificações, mesmo em termos de atitudes. Rita vai ser o agente da modificação que Jerónimo começa a sentir. É como se ficasse preso num encanto, sem hipóteses de dele fugir. Isto mostra a influência da raça, do meio e do momento sobre a personalidade. Mais do que um romance de intriga, estamos na presença de um romance de mudança de caráter. A esta modificação de caráter associa-se a paixão.
Análise do capítulo VI de O Cortiço
O início deste capítulo marca um flagrante contraste com o fim do capítulo anterior. É um domingo, dia de calma, em que as pessoas descansam e se dedicam aos seus afazeres pessoais. De tudo isto, resulta uma harmonia que não se verifica nos dias de trabalho.
Mas a intriga tem que avançar e nestes capítulos temos dois acontecimentos muito importantes: chegada de Jerónimo e, agora, a chegada de Rita Baiana.
Rita é recebidas e querida por todo o cortiço. Temos ainda a sua caracterização física: sensual, irrequieta, independente, daí ser contra o casamento, visto como cativeiro. Da mistura do facto de ser baiana e mulata, resulta a sua sensualidade. Ela representa o Brasil, os elementos tipicamente brasileiros. É muito popular, jovial e respeitada. A todos tem uma palavra a dizer, o que mostra que os conhece bem. É atrevida, mas boa; sempre que uma personagem é expulsa do cortiço ou tem problemas, é ela que se mexe para os tentar resolver.
Rita procura informar-se de tudo o que se passa na sua ausência e daí perguntar a Leocádia quem eram os "jururus do 35", apresentando esta Jerónimo e Piedade como "boa gente" e "coitados".
Temos já os elementos importantes para o avançar da intriga:
- chegada de Jerónimo
- chegada de Rita Baiana
- referência a Pombinha
Antes tivemos a descrição das origens do cortiço, graças à ação de João Romão. Agora o cortiço começa a ganhar vida própria através dos elementos humanos que nele habitam. Criam-se as condições para que a alegria sentida nestes capítulos se altere.
Se o elemento humano em Aluísio Azevedo é positivo, como é que o meio o vai alterar? Esta é a tese que se pretende provar.
Análise da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo
I. Biografia de Aluísio de Azevedo
II. Obras de Aluísio de Azevedo
III. Período literário
IV. Ação
. Resumo
. Capítulos
. Capítulo VI
. Capítulo VII
Análise do capítulo V de O Cortiço
Caracterização de Jerónimo e sua mulher, Piedade de Jesus.
Piedade tinha uma figura simpática, era dedicada, simples, natural e honesta. Pela sua entrada no cortiço e conversa das lavadeiras, podemos tirar algumas conclusões: tinham uma vida arranjada, viviam bem um com o outro e tinham uma personalidade própria e vincada. Tinham uma filha a estudar num colégio, o que mostra que tinham algumas posses económicas.
A analepse serve para mostrar a vida passada de Jerónimo e Piedade, agora marcada pela saudade e melancolia portuguesas. A assimilação dos hábitos brasileiros (ex.: sensualidade) é mais tardia.
O capítulo termina com uma imagem que fornece certos indícios de desgraça, que se irá verificar mais tarde.
Análise do capítulo IV de O Cortiço
O capítulo anterior anunciou a chegada de uma personagem, que agora nos é apresentada: Jerónimo, que vem em busca de emprego na pedreira.
Enquanto a descrição do cortiço se ligava à descrição das personagens que o habitam, a descrição física da pedreira é diferente. É um elemento árido e agressivo, onde se sobrepõe o calor e a dureza do trabalho. A agressividade mostra-se na interligação com as pessoas que aí trabalham. Mistura-se a aridez da pedreira com o fogo da bigorna e o resultado é um ambiente infernal.
É neste âmbito que se introduz Jerónimo. Na conversa deste com João Romão, vai acusando os trabalhos mal feitos da pedreira, o que mostra a sua competência e honestidade (características implícitas que derivam do diálogo).
Análise do capítulo III de O Cortiço
Neste capítulo, encontramos a caracterização do cortiço e de seus habitantes. Estes são caracterizados pelas suas atividades diárias: as mulheres dedicam-se, sobretudo, à lavagem. Resulta um retrato alegre e vivo, o que deriva da abundância dos sentidos que ficam no ar.
As personagens são muitas e variadas: Leandra, a "Machona", que tinha três filhos: Ana das Dores, Nenen e Agostinho; Augusta, mulher de Alexandre; Leocádia, mulher de Bruno; Paula, chamada "bruxa"; Marciana e sua filha Florinda; D. Isabel e sua filha Pombinha; Albino, sujeito efeminado. Temos ainda a referência a uma personagem que está ausente, mas que vai ser muito importante: Rita Baiana, que vive com Firmo.
domingo, 20 de outubro de 2024
Análise do 6.° parágrafo do conto "A Aia"
● A aia
1. Caracterização
2. Crenças – Conceção de vida e
de morte
A aia é
crente, pois acredita na vida depois da morte, o que a ajuda a superar /
aceitar essa perda: “Pertencia, porém, a uma raça que acredita que a vida na
Terra se continua no Céu.” Além disso, para ela o Céu reproduz a estrutura
social existente na Terra, mantendo o rei e os seus súbditos a hierarquia
vivida na Terra: “O rei seu amo, decerto, já estaria agora reinando num outro reino, para além das
nuvens, abundante também em searas e cidades. O seu cavalo de batalha, as suas
armas, os seus pajens tinham subido com ele às alturas. Os seus vassalos, que
fossem morrendo, prontamente iriam nesse reino celeste retomar em torno dele a
sua vassalagem.” Deste modo, a morte do rei não representa um fim definitivo,
mas apenas uma transição para outro reino, onde continuará a reinar, de modo
semelhante ao que fazia em vida, o que reflete a sua crença na vida após a
morte, onde as relações e hierarquias se manteriam intactas.
Deste
modo, quando chegar o dia da sua morte, espera reencontrar o rei, seu senhor, e
continuar a desempenhar o seu papel de serva, retomando o seu trabalho de
fiação e preparação de perfumes, repetindo as ações realizadas em vida. O Céu é
uma continuação idealizada e eterna do que ela já conhece, numa espécie de
servidão eterna: “… e feliz na sua servidão”.
● Linguagem
A
linguagem do parágrafo pertence, em parte, ao domínio do religioso e do
sagrado, para transmitir, desta forma, as suas crenças.
A comparação
“Nenhum pranto correra mais sentidamente do que o seu pelo rei morto…” enfatiza
o facto de a aia ter chorado copiosa e sentidamente a morte do seu rei, mais do
que qualquer outra pessoa.
O eufemismo
“O seu cavalo de batalha, as suas armas, os seus pajens tinham subido com ele às alturas.” Suaviza a morte dos pajens, o que está de acordo com as crenças da
aia num mundo para além da morte. Por outro lado, traduz a convicção da aia na
vida no céu enquanto réplica da vida na Terra. De facto, para a serva, o céu
reproduz a estrutura social terrena, mantendo o rei e os seus súbditos a hierarquia
vivida na Terra. Esta crença envolvia os próprios animais e os objetos (cavalos
e armas).
Face ao
exposto, é evidente a antítese entre vida e morte, que, neste caso, não
são abordadas como opostos, mas como continuidade, o que anula o contraste. A
morte do rei constitui uma tragédia pessoal e coletiva e é chorada como tal,
porém, para a aia, não constitui um fim definitivo, antes uma transição para
outra forma de existência que, na prática, consiste na continuação da ordem
social e do papel da aia existentes na Terra.
Relativamente
à adjetivação, a presença de adjetivos como “grande [rio]” e “[reino]
celeste” realçam a grandiosidade e o sentido trágico da morte, ao mesmo tempo
que evidenciam a dimensão quase mitológica do evento.
● Elementos simbólicos
O uso de
símbolos é constante ao longo do conto, como sucede também neste parágrafo, no
qual se destacam os seguintes, alguns revisitados:
a) o “grande
rio” onde o rei encontrou a morte simboliza a passagem da vida para a morte;
b) o raio de lua descreve a
ascensão da aia ao céu mágico;
c) o cavalo
de batalha, as armas e os pajens simbolizam o poder do rei e a hierarquia
social existente no reino, que se conservarão no Além.
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Análise do 5.° parágrafo do conto "A Aia"
● Personagens
Este
parágrafo apresenta uma nova personagem: o escravozinho, o filho da
escrava que amamenta o príncipe.
Socialmente,
enquanto filho de uma escrava, a sua condição é igualmente a de escravo. Além
disso, embora tenha nascido na mesma noite que o príncipe e seja rodeado dos
mesmos cuidados e tratado com o mesmo carinho, a sua condição de vida é
claramente mais humilde. O seu berço é “pobre e de verga”, o que simboliza a
sua condição inferior e subalterna na sociedade. No entanto, cola-se-lhe à pele
uma certa dignidade e inocência, a ele que é alvo do mesmo amor, cuidados e
atenção que o príncipe, incluindo por parte da rainha. Fisicamente, é um bebé
de berço, tem o cabelo negro e crespo e olhos brilhantes (“Os olhos de ambos
reluziam como pedras preciosas” – comparação).
À
semelhança do que sucede com as restantes, também o filho da aia é uma
personagem anónima, sendo identificado pela sua condição social, daí ser
designado pelo narrador como o «escravozinho». Esta designação não deixa
dúvidas de que é um escravo, portanto socialmente inferior.
A aia,
a mãe do escravozinho, é uma escrava que dá título, nome e sentido à história,
cuja função é exercer um papel maternal, isto é, criar ambas as crianças.
Fisicamente, é bela e robusta, qualidades que sugerem vigor físico.
Psicologicamente, é uma serva leal, traço que se revelará fundamental para o
desenrolar dos acontecimentos. A sua lealdade e dedicação são tais que cuida do
futuro rei com o mesmo desvelo e carinho que dedica ao próprio filho: “A leal
escrava, porém, a ambos cercava de carinho igual, porque se um era o seu filho –
o outro seria o seu rei.” Ou seja, se a um a liga o sangue, ao outro é a
lealdade a quem lhe é superior.
Por sua
vez, o principezinho, sempre tratado de forma carinhosa, por meio de diminutivos,
fisicamente, tem o cabelo louro e fino e os olhos brilhantes. Social e
psicologicamente, dada a sua nobreza de sangue, é de condição social superior,
portanto privilegiada, e rico, como o demonstra o facto de dormir num berço “magnífico
e de marfim entre brocados”. Ele representa o futuro da monarquia e do reino,
daí ser, de certa forma, o centro das atenções e das preocupações das demais
personagens. Nesta fase inicial da sua existência, é tratado de modo igual ao
do escravozinho, sem privilégios de monta, à exceção do berço em que dorme.
Assim, ambos partilham da mesma atenção, cuidado e carinho, sugerindo que, na
infância, não existem as barreiras e diferenças que, no futuro, os separarão.
A caracterização
do príncipe e do escravozinho revelam um conjunto de semelhanças e diferenças
entre as duas personagens:
a)
Semelhanças:
i) viviam
no mesmo castelo
ii) tinham
nascido na mesma noite de verão (símbolo de um destino partilhado?)
iii) alimentavam-se
do mesmo seio = a aia amamentava ambos (estão ligados simbolicamente desde os
primeiros momentos de vida)
iv) eram
ambos beijados pela rainha
v) eram
tratados pela aia com o mesmo carinho, como se fossem os dois seus filhos
vi) os
olhos de ambos eram brilhantes (igualdade na beleza e no brilho)
b)
Diferenças:
|
Principezinho |
Escravozinho |
Aparência
física
↓ simboliza
o contraste étnico e social entre ambos |
. cabelo louro e fino |
. cabelo negro e crespo |
Condições
materiais |
. berço magnífico e de
marfim |
. berço pobre e de verga |
Condição
social
|
. classe social: nobreza / realeza – príncipe herdeiro do
trono . rico e privilegiado . filho da rainha |
. classe social: escravo . pobre e humilde . filho da escrava |
Situação |
. frágil e vulnerável |
. nada tinha a recear |
● Linguagem e recursos expressivos
A adjetivação
assume também grande relevância neste parágrafo, preferindo o narrador o
uso da dupla adjetivação na elaboração do retrato das personagens. Assim, a aia
é caracterizada como «bela e robusta», enfatizando a sua beleza física e a sua
robustez física. Os dois traços têm o condão de a humanizar, sugerindo que,
apesar de ser de condição social inferior, é um ser humano que se destaca pela
aparência física atraente (o primeiro) e enfatizar o seu lado maternal e
capacidade de nutrição. A dupla adjetivação é o recurso usado para dar conta
das características físicas dos dois meninos: o cabelo louro e fino do príncipe
sugere uma imagem de delicadeza, pobreza e fragilidade da personagem (na
tradição cultural ocidental, o cabelo louro é assiduamente associado à nobreza
e pureza, o que sugere a sua condição social destacada); o cabelo negro e
crespo do escravozinho contrastam com o do vizinho de berço e são associados a
pessoas de origem africana, enfatizando, portanto, a identidade / origem étnica
e social da personagem – filho de uma escrava. A adjetivação expressiva é
utilizada ainda para descrever os berços. Assim, o do príncipe é magnífico,
adjetivo que sugere riqueza, enquanto os nomes «marfim» e «brocados»
enfatizam as ideias de sofisticação e privilégio. Por seu turno, o do pequeno
escravo é «pobre» e feito de «verga», nome que expressa a simplicidade do
objeto, denunciando a sua condição social inferior. Em suma, estes adjetivos
vincam os contrastes sociais e materiais entre as duas crianças, bem como os
traços físicos e psicológicos que distinguem as personagens.
O
retrato dos dois infantes assenta também na figura da antítese, que
evidencia as características contrastantes que os diferenciam, como é o caso da
cor da pele e do cabelo, a qualidade e o material dos berços.
A comparação
dos olhos de ambas as crianças a pedras preciosas realça o seu brilho e beleza.
Outro
recurso impactante e reiterado ao longo do conto é o diminutivo,
aplicado às duas crianças. «Escravozinho» enfatiza a tenra idade da personagem,
bem como as ideias de inocência e fragilidade, traços partilhados por ambos os
infantes. Por outro lado, evidencia o facto de a condição social ser uma espécie
de ferrete que a sociedade impõe desde a nascença ao filho da aia e que o
acompanhará ao longo da vida. Em terceiro lugar, o termo carrega, por si, uma
conotação de submissão e inferioridade, o que é enfatizado pela redução ao
diminutivo, que veicula, nesta aceção, as ideias de pequenez e submissão. No fundo,
reflete a mentalidade da época medieval, durante a qual as pessoas escravas
eram tratadas como inferiores e menos importantes do que as restantes.
● Elementos simbólicos
O berço
de marfim simboliza a riqueza e o privilégio de quem nele dorme, o príncipe,
enquanto o de verga traduz a humildade e a condição social inferior do pequeno
escravo.
O facto
de os dois bebés serem amamentados pelo mesmo seio pode simbolizar a igualdade
na primeira infância, antes que as normas sociais se impusessem e pusessem em
marcha o estatuto de cada um.
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
A importância da escrita manual
Estudos mostram que escrever à mão ativa diversas regiões do cérebro, melhorando a capacidade de retenção da memória e a função cognitiva.
Algumas escolas por esse mundo fora já deixaram de ensinar escrita cursiva. Uma boa ideia ou nem por isso?
Vários estudos têm vindo a comprovar que escrever à mão traz benefícios cognitivos que as ferramentas digitais não conseguem substituir. «Em termos estatísticos, a maioria dos estudos sobre a relação entre a escrita e a memória [incluindo estudos realizados no Japão, na Noruega e nos Estados Unidos] mostram que as pessoas se lembram melhor das coisas que escreveram à mão do que num computador.» Quem o diz é a professora de linguística da American University, de Washington D.C., e autora de Who Wrote This? How AI and the Lure of Efficiency Threaten Human Writing, Naomi Susan Baron.
As vantagens de escrever à mão podem ser parcialmente atribuídas à participação de vários sentidos no processo da escrita. «Segurar uma caneta com os dedos, encostá-la a uma superfície e deslocar a mão para criar letras e palavras é uma habilidade cognitivo-motora complexa que requer muita atenção», diz Melissa Prunty, professora de terapia ocupacional na Brunel University London, que investigou a relação entre escrever à mão e a aprendizagem. «Os estudos demonstraram que este nível mais profundo de processamento, que envolve transformar sons em letras, contribui para as capacidades de ler e soletrar nas crianças», diz Prunty.
Os adultos também beneficiam da natureza laboriosa de escrever à mão. Um estudo com quarenta e dois adultos que estavam a aprender árabe concluiu que os participantes que aprendiam as letras escrevendo-as à mão conseguiam vocalizar melhor as letras recém-aprendidas do que as pessoas que aprendiam os novos caracteres datilografando-os ou simplesmente observando-os.
«Achamos que os resultados podem ser parcialmente explicados pelo facto de escrever à mão ativar diferentes vias para o mesmo conceito», diz Robert Wiley, professor de psicologia na Universidade da Carolina do Norte e coautor do estudo. Ele explica que aprender uma nova palavra implica associar um símbolo abstrato a informação visual, motora e auditiva. «Escrever à mão pode ativar mais ligações nessas diferentes dimensões, comparado com datilografar", afirma.
Através de inquéritos realizados a 205 jovens adultos na Europa e nos Estados Unidos, Baron descobriu que muitos alunos diziam ter mais concentração e melhor memória quando escreviam um texto utilizando um instrumento de escrita em vez de pressionando teclas num teclado, o que sugere que o sentido do tato desempenha um papel fundamental na forma como absorvemos a informação.
Atividades como o toque e o movimento ativam as mesmas zonas do cérebro que participam na aprendizagem e na memorização, diz Lisa Aziz-Zadeh, professora no Brain and Creativity Institute da University of Southern California.«O cérebro humano evoluiu para processar informação sensorial e motora ao longo da evolução», diz, «e essas mesmas regiões do cérebro de processamento sensorial e motor estão agora envolvidas nos níveis mais altos da cognição.»
Para compreendermos melhor como os nossos sentidos influenciam a nossa cognição, podemos pensar no cérebro como uma rede rodoviária, diz Audrey van der Meer, professora de neuropsicologia da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. As redes cerebrais das crianças são como trilhos ténues e serpenteantes numa floresta, afirma. Com experiência e prática, esses trilhos podem transformar-se em vias rápidas que ligam diferentes partes do cérebro, transportando a informação de forma rápida e eficiente.
Num estudo publicado em janeiro de 202, van der Meer e o seu coautor Ruud van der Weel, examinaram exames cerebrais de trinta e seis jovens universitários enquanto executavam tarefas de escrita. Pediram aos estudantes que escrevessem palavras do Pictionary utilizando uma caneta digital e um ecrã sensível ao toque ou que as datilografassem num teclado. A atividade cerebral dos participantes durante cada tarefa foi captada através de técnicas de eletroencefalograma.
«A coisa mais surpreendente foi que todo o cérebro estava ativo quando escreviam à mão, [enquanto] áreas muito mais pequenas estavam ativas quando datilografavam», diz van der Meer. «Isto sugere que, quando escrevemos à mão, estamos a utilizar a maior parte do nosso cérebro para executar essa tarefa.»
Além disso, o estudo mostrou que as diferentes vias do cérebro ativadas pela escrita manual comunicavam umas com as outras através de ondas cerebrais associadas à aprendizagem. «Existe todo um corpo de investigação sobre as oscilações alfa e beta no cérebro que são benéficas para a aprendizagem e a memória», diz van der Meer. «Descobrimos que essas oscilações estavam ativas quando as pessoas escreviam à mão, mas não quando datilografavam.»
Por esta razão, os investigadores estão agora a incentivar as pessoas a continuarem a escrever à mão. Na Noruega, várias escolas deixaram de ensinar escrita cursiva, preferindo que os alunos escrevessem e lessem num iPad, uma tendência que van der Meer espera mudar através da sua investigação.
«Acho que devemos ter um mínimo de escrita à mão nos currículos da escola primária pelo simples facto de fazer muito bem ao cérebro em desenvolvimento», afirma.
Nos Estados Unidos, a escrita cursiva foi removida do Common Core Standard, mas vários estados decidiram incorporá-la novamente nos currículos escolares devido aos seus benefícios para a aprendizagem.
Quanto aos adultos, van der Meer também os aconselha a usar papel e caneta. «Continuar a escrever algumas coisas à mão é um exercício muito para o cérebro», diz. «É o equivalente a fazer obras de manutenção numa estrada movimentada.»
Fonte: nationalgeografic.com.
domingo, 13 de outubro de 2024
Análise do 4.° parágrafo do conto "A Aia"
● Personagens
O
terceiro parágrafo termina com a referência aos inimigos que ameaçavam o reino
e a vida do pequeno príncipe. Na sequência, o quarto introduz um desses
inimigos, o maior: o tio bastardo. O retrato que o narrador traça dele é
implacável.
De
facto, ele é retratado como uma personagem vil, destacando-se pela sua
depravação, caráter bravio e brutalidade. Além disso, é um homem dominado pela
ambição material e grosseira, movendo-se pelo desejo de alcançar a realeza, não
pelo poder que ela lhe proporcionaria, mas pelos tesouros a que teria acesso.
Fisicamente,
vive isolado num castelo nas montanhas, o que reflete a sua natureza sombria,
rodeado por uma «horda de rebeldes». A comparação com um lobo, um animal
predador, sugere que se trata de alguém feroz e selvagem, violento e cruel,
predisposto à violência. Estamos perante uma figura que vive isolada e que
lidera um grupo de malfeitores, afastado da civilização, que planeia assaltar o
trono à força. De forma calculista e impiedosa (“de atalaia, espera a presa”),
conspira contra o frágil e indefeso sobrinho, que perspetiva como uma presa
fácil.
Em
suma, o tio bastardo é apresentado, desde o início, como um vilão cruel e
sinistro, ávido de riqueza e que, qual lobo faminto, aguarda a ocasião certa
para atacar a presa indefesa e saciar a sua ambição.
Metaforicamente,
o príncipe é apresentado como a presa do tio bastardo, enfatizando-se mais uma
vez a sua tenra idade, fragilidade e vulnerabilidade (observar a expressividade
do diminutivo «criancinha»). Por seu lado, a imagem de um “rei de mama”
destaca a ironia da situação em que se encontra: apesar de ser o herdeiro de um
reino vasto e abundante (“senhor de tantas províncias”) e de ser detentor de um
título que lhe dá grande poder, não tem qualquer controlo sobre o seu destino e
é um ser indefeso, incapaz de compreender e se defender dos seus inimigos e dos
perigos que o espreitam.
Essa
ideia é acentuada pela imagem final, que no-lo apresenta a dormir pacificamente
no seu berço e que contrasta com o perigo que o rodeia. Na mão, segura um guizo
de ouro, um brinquedo infantil que simboliza a sua inocência e despreocupação,
ao passo que o ouro indicia a riqueza e o poder que o cercam, mas que, em
simultâneo, são os responsáveis pela existência dos inimigos que o ameaçam.
● Espaço físico e social
O
espaço físico apresentado neste parágrafo assenta na alternância entre dois
lugares: o castelo nas montanhas, habitado pelo tio bastardo, e o ambiente doméstico
e protegido do pequeno príncipe, que dorme pacificamente no seu berço.
O
primeiro espaço é uma fortaleza isolada, situada no cimo dos montes, um local
de difícil acesso e afastado da civilização, que enfatiza o distanciamento
físico e emocional de quem nele habita em relação ao reino e seus habitantes. O
tio bastardo vive como um pária, rodeado de uma horda temível, elementos que
indiciam que o local em que habitam é selvagem, caracterizado pela desordem e
violência, além do isolamento e solidão. A comparação da personagem com um lobo
que, de atalaia, espera a presa, intensifica o caráter predatório do espaço,
associando o castelo a uma espécie de covil inóspito e extremamente perigoso.
Em suma, o castelo é um reflexo do seu dono: isolado, sombrio e ameaçador.
Por sua
vez, o príncipe vive num espaço contrastante, um espaço interior: um quarto
onde dorme sossegadamente no seu berço, um local caracterizado pelo afeto, pela
segurança e pelo cuidado. Não obstante, embora se encontre aparentemente seguro
e protegido, cercado pelas riquezas do reino que, eventualmente, governará no futuro,
há um perigo que o espreita vindo das montanhas.
No que
diz respeito ao espaço social, o parágrafo anterior e este introduzem
uma questão relevante. Com a morte do rei, o pequeno príncipe, sem o saber e
sem querer, enquanto herdeiro do trono, é o detentor do poder e da autoridade no
reino, mesmo que futuro, daí que seja o foco da ação do tio, que necessita de
se livrar dele para se apossar do trono. O guizo de ouro que aperta entre as
mãos é o símbolo, neste contexto, da sua posição social elevada, a mesma que
desperta a cobiça dos inimigos e coloca a sua vida em perigo.
Por seu
turno, o tio é uma figura marginalizada no âmbito da sociedade retratada no
conto, tanto por causa de se tratar de um bastardo, de um filho ilegítimo, fora
do casamento, como pelos eu comportamento rebelde e predatório. De facto, ele
vive à margem da sociedade, isolado, liderando uma horda, o que tem como (outro)
motivo a ambição desmedida pela riqueza e pelo poder.
Esta
personagem representa a corrupção e a ganância, que acabam por minar as
relações sociais e políticas. Apesar de bastardo, não deixa de fazer parte da
família real, desde logo porque é irmão do falecido rei, porém a sua
ilegitimidade e o seu comportamento colocam-no em conflito com os seus. Essa
ilegitimidade contrasta com a legitimidade e a pureza do príncipe, que, não
obstante ser uma criança, é encarado como o legítimo candidato ao trono.
● Posição do narrador
Ao
longo do conto, maioritariamente, o narrador é objetivo, porém há momentos em
que se apresenta como subjetivo, visto que:
a.
usa uma linguagem judicativa: ao descrever o
tio bastardo, caracteriza-o como «depravado e bravio»;
b.
socorre-se de termos (por exemplo, a
interjeição «ai») que deixam transparecer a sua emotividade, sugerindo
compaixão pelo príncipe.
● Linguagem
Um dos
recursos mais importantes do capítulo é a adjetivação, concretamente
aquela que caracteriza o tio bastardo:
a. os
adjetivos «bravio» e «depravado» enfatizam a sua natureza selvagem e vil;
b. o
adjetivo «grosseiras» e o nome «cobiças» revelam a sua faceta ambiciosa e
avarenta;
c. o
adjetivo «bastardo» destaca a ilegitimidade social (alguém nascido fora do casamento),
mas também, pelo comportamento, moral (fulano de tal é um bastardo, isto é,
desonesto, de caráter duvidoso).
O tio é
também comparado a um lobo (“à maneira de um lobo que, de atalaia,
espera a presa”), comparação essa que enfatiza o caráter cruel e selvagem da
personagem. Como um predador, escondido, espera o momento certo para atacar.
Assim sendo, podemos deduzir, desde já, que agora que o rei morreu, o tio se
prepara para descer dos montes e atacar o palácio e o sobrinho bebé. O perigo é
iminente. Assim se cria um clima de tensão e expectativa.
O uso
da interjeição «Ai», seguida da exclamação, traduz(em) a
preocupação e a compaixão do narrador relativamente ao príncipe e ao seu destino.
As
figuras do tio – ambicioso, perigoso, selvagem – e do sobrinho – frágil,
vulnerável, inocente, desprotegido – constituem um contraste, uma antítese.
A
construção da figura do príncipe está rodeada de uma certa ironia.
Embora seja o herdeiro do trono e, em consequência, detenha grande poder e
autoridade em tese, não passa de uma criancinha, de um «rei de mama», ou seja,
alguém que é totalmente incapaz de exercer o seu poder e autoridade. Neste
contexto, a expressão «rei de mama» sugere, em simultâneo, a sua posição de
privilégio (detentor de poder e autoridade) e a sua absoluta fragilidade e
vulnerabilidade, traços que contrastam com o que se espera de um rei, visto
tradicionalmente como uma figura de poder e força.
● Elementos simbólicos
O guizo
de ouro reveste-se de uma simbologia particular. Enquanto brinquedo
infantil, representa a inocências e a despreocupação da criança; o facto de ser
de ouro, torna-o símbolo de riqueza e poder, elementos que, no contexto do
conto, se constituem como fonte de cobiça e conflito.
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
Análise do 3.º parágrafo do conto «A Aia»
Este parágrafo
é dominado pela descrição da reação da rainha à morte do marido, caracterizada
por uma profunda dor e tristeza. A manifestação física visual dessa reação são
as lágrimas, o choro. Por outro lado, a dor é distribuída pelas várias facetas
da monarca. Assim, como rainha, chora o facto de o reino ficar sem um governo
forte, de forma intensa, mas também digna (atentar na expressividade do advérbio
de modo «magnificamente», refletindo a grandeza e o respeito que ela tinha
pelo esposo. Em segundo lugar, chora «desoladamente» (novo advérbio de modo
expressivo) o esposo, ou seja, como mulher, perde o marido, fica viúva,
ressaltando neste passo a perda pessoal do companheiro amado, cujos traços
físicos («formoso» e psicológicos («alegre») tornam a perda mais impactante e
difícil de suportar. Todavia, o que mais a angustia é, no papel de mãe, o facto
de o filho de ambos ficar desamparado e à mercê dos inimigos (atentar no valor
expressivo do terceiro advérbio de modo – «ansiosamente» –, que remete para um perspetivar
angustiado do futuro). Em suma, a rainha sente dor não apenas pela perda
pessoal do marido, mas, sobretudo, pela vulnerabilidade em que ficam o filho e
o reino.
Neste
parágrafo, conhecemos também mais duas características do rei, uma física
(«formoso») e outra psicológica («alegre»). Quanto ao príncipe, é enfatizado o
facto de ser uma criatura frágil (convém não esquecer que é um bebé de berço) e
ficar desamparado com a morte do pai, rodeado de inúmeros inimigos.
No que
diz respeito à linguagem, além da expressividade dos advérbios de
modo já abordada, destaca-se a linguagem elevada e solene
(«magnificamente») usada para descrever o luto e a reação da rainha à morte da
esposa, carregados de dignidade, apesar da tremenda tristeza e dor. Essa
linguagem, no fundo, adequa-se ao caráter nobre das personagens e do meio em
que se inserem.
A anáfora
e o paralelismo [“chorou (…) chorou (…) chorou”] enfatizam a intensidade
e a multiplicidade da(s) perda(s) sentida(s) pela rainha: primeiro, como
rainha, do rei; depois, como mulher, do esposo; por último, como mãe, do pai do
filho. Esta progressão de perdas reflete a profundidade crescente do seu
sofrimento. Neste contexto, podemos considerar também a existência de uma enumeração
dos diferentes papéis que o rei desempenhava, que enfatiza que a perda sofrida
pela rainha não é apenas política (a de um monarca, líder de um reino), mas
sobretudo pessoal (a do companheiro afetivo e do pai do seu filho).
Por sua
vez, a aliteração em «f», presente em “forte pela força e forte
pelo amor”, sugere a fragilidade do príncipe, que, com a morte do pai, não
tinha quem o protegesse e defendesse dos perigos e inimigos que espreitavam.
Por outro lado, a repetição do adjetivo «forte» reforça a ideia
de grandeza do reino, nascida não só da força, mas também do amor.
Em “o
braço que o defendesse”, podemos vislumbrar uma metáfora / sinédoque que
sugere a ausência de alguém que protegesse e defendesse o príncipe. Por último,
o quantificador «tantos» enfatiza, sem quantificar, a grandeza da ameaça
enfrentada pelo bebé, os perigos que o espreitavam. Além disso, nota-se aqui um
claro contraste (antítese) entre o elevado número e a força de inimigos
e a vulnerabilidade e fragilidade em que vivia.
terça-feira, 8 de outubro de 2024
Análise do 2.º parágrafo do conto «A Aia»
● Ação
A ação
do segundo parágrafo gira em torno de dois acontecimentos: a derrota do rei
numa batalha e a notícia da sua morte.
O rei
partiu em busca de conquistar terras e da consequente fama obtida no campo de
batalha, porém a derrota destruiu esses sonhos.
● Personagens
O rei
é apresentado como alguém sonhador e ambicioso, pois partiu para a guerra em
busca de fama e de novas terras e reconhecimento. Os seus sonhos e esperanças,
porém, são estilhaçados pela derrota na guerra, redundam em fracasso trágico. A
sua morte simboliza o fim das ambições de conquista e fama, gerando uma
sensação de perda profunda.
A outra
personagem focada no segundo parágrafo é o cavaleiro que traz a notícia da
derrota na batalha e da morte do rei. A sua única função no texto é a de
mensageiro, a do portador de más notícias, as quais introduzem uma mudança nos
acontecimentos. A sua descrição física dá conta do seu estado deplorável: “com
as armas rotas, negro do sangue seco e do pó dos caminhos”. Ele está exausto,
passou por grandes dificuldades, sobreviveu a uma batalha sangrenta, que lhe
trouxe um grande sofrimento físico e emocional. O seu aspeto físico e as armas
danificadas representam a violência da batalha: o sangue seco, por exemplo,
sugere claramente que o combate foi brutal, causando inúmeras mortes e
destruição. Ele é um sobrevivente, o único do exército do rei, mas traz consigo
a marca da derrota e da tragédia; é um homem vitimado pelos horrores da guerra,
refletindo o fracasso das expectativas de conquista e glória.
● Tempo e espaço
A
esmagadora maioria dos acontecimentos do conto ocorre à noite, como se
pode comprovar neste parágrafo, pois quer a partida do rei quer a sua morte têm
lugar nesse momento do dia.
No caso
do espaço físico, há referência ao “pó dos caminhos” percorridos pelo
cavaleiro desde o campo de batalha até ao palácio e à margem de um grande rio,
o local onde o rei tombou e cuja simbologia é abordada no ponto que reflete
sobre os elementos simbólicos do parágrafo.
● Elementos simbólicos
Quer a
partida do rei para a guerra, quer a sua morte estão intimamente ligadas à Lua.
De facto, quando embarca em busca do “seu sonho de conquista e fama”, a Lua
está na fase cheia, o que simboliza o seu sonho e a ilusão da conquista e da
fama; porém, a sua morte ocorre quando a mesma Lua está a minguar. Ora, a fase
minguante é a que antecede os três dias em que não brilha, em que «morre»,
portanto o minguar da Lua simboliza / reflete exatamente a derrota das tropas
do rei e a sua morte. Ou seja, o ciclo lunar constitui uma metáfora da
trajetória do rei: um período breve de glória e ambição desagua na derrota e na
morte.
Por
outro lado, o monarca pereceu trespassado por sete lanças, sendo que este
número está associado à tragédia, à morte, neste caso, do rei, morte essa que é
indiciada pelas armas rotas do cavaleiro e acentuada pelo sangue e pelo facto
de regressar sozinho ao reino. Além disso, a morte tem lugar “à beira de um
grande rio”, o qual representa o limiar entre a vida e a morte, neste caso
concreto, do rei e da elite da sua nobreza guerreira.
● Linguagem
Neste
parágrafo, a Lua é personificada, como se fosse uma testemunha muda da
partida do rei: “A Lua cheia que o vira marchar…”. Posteriormente, já
minguante, reflete a perda e a derrota. Os nomos «sonho», «conquista» e «glória»
sugerem a ambição e o ideal do rei, o que contrasta com, por exemplo, o
adjetivo «perdida» e o nome «morte», que dão conta da derrota do monarca e da
destruição do seu ideal, sonhos e ambição.
Por
outro lado, as descrições pautam-se por um grande visualismo,
como é o caso da do cavaleiro (“Com as armas rotas, negro do sangue seco e do
pó dos caminhos.”), que enfatiza a violência da batalha e o desgaste físico e o
cansaço da personagem, motivados pela longa jornada que teve de fazer e que é
refletida pela longa jornada que teve de fazer e que é refletida pelos nomes
presentes na expressão «pó dos caminhos».
Na
expressão «trespassado por sete lanças», podemos eventualmente vislumbrar uma hipérbole,
que enfatiza a violência que rodeou a morte do rei. Por seu turno, a metáfora
“a flor da sua nobreza” sugere que os que pereceram na batalha eram a elite da
nobreza, os melhores e mais nobres cavaleiros dentre os melhores, reforçando a magnitude
da derrota e da perda.
domingo, 6 de outubro de 2024
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