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terça-feira, 9 de maio de 2023

«”Albertina” ou “O inseto-insulto” ou “O quotidiano recebido como mosca”», de Alexandre O'Neill


             Este poema é constituído por oito estrofes: uma oitava, três tercetos, duas quadras e dois monósticos, com rima emparelhada e cruzada e métrica irregular.

            O seu tema é a arte poética, dando-nos conta de um sujeito poético que é poeta e discorre sobre o processo de criação poética, a inspiração para escrever. Se observarmos o título, bastante extenso para o que é usual em textos poéticos, observamos que se relaciona inequivocamente com o tema da composição: a criação poética e a inspiração.

            O sujeito poético abre o poema apresentando-nos o poeta – de forma humorística – sozinho (atente-se na reiteração da ideia) e à espera. De quê? O «eu» espera por “um minuto que seja de beleza” (v. 7), isto é, aguarda inspiração (para escrever). Essa espera está associada a uma certa expectativa, como é visível pela sua postura: “em abstração” (atente-se na alusão ao nariz e ao ato de dele tirar algo), com os cotovelos apoiados no tampo da mesa, com a cabeça voltada para baixo. A metáfora do verso 6 (“Onde o poeta é todo cotovelos”) intensifica a expectativa em que o «eu» poético está imerso e a demora em encontrar inspiração, um motivo para escrever, demora essa destacada pela referência ao nome “minutos” (repetido duas vezes). O último verso da primeira estrofe, uma metáfora (“o poeta é aos novelos”), iniciado pela conjunção coordenativa adversativa «mas», que exprime uma ideia de contraste com o que foi afirmado anteriormente, anuncia a insegurança e a indefinição que o caracterizam. Essa noção é desenvolvida na segunda estrofe, novamente anunciada pela mesma conjunção: o sujeito lírico sente-se inseguro e incapaz de dominar a «musa» (v. 10) que tantas vezes o inspirou de forma avassaladora: “aquela / Que tantas vezes arrastou pelos cabelos…” (metáfora). Recordemos que a musa era a divindade que, de acordo com a mitologia, presidia às artes e às letras, sendo a responsável pela inspiração dos poetas.

            A terceira estrofe coloca-nos perante uma nova figura: a mosca Albertina. Quem ou o que é ela? A mosca Albertina é um “inseto-insulto” (v. 13), isto é, algo que o atormenta, que compromete a já fraca inspiração do poeta. Antes, este tinha-a domesticada, ou seja, a inspiração surgia-lhe habitual e facilmente, porém, no presente, surge por sua iniciativa, “como um inseto-insulto, / Mas fingindo que o poeta a esperava…” (vv. 13-14). Recordemos que o nome Albertina, feminino de Alberto, deriva do vocábulo germânico “Adalbert”, resultado da junção de “adal” (nobre” e “berth” (ilustre, brilhante),que significava, portanto, “nobre ilustre, brilhante”.

            Por outro lado, Albertina possui uma dupla faceta: é inseto – mosca – e (quase) mulher. Na qualidade de mosca, ela incomoda o poeta, como os insetos incomodam os humanos, perturba-o, compromete a sua inspiração. “Albertina quer o poeta para si, / Quer sem versos o poeta.” (vv. 16-17). Enquanto mulher, ela sedu-lo, o que quer dizer que, em simultâneo, Albertina o afronta e seduz. E, apesar do apelo do sujeito poético para que ela o deixe em paz e, assim, permita que ele se inspire e escreva, mesmo que de forma imperfeita (“Que eu falhe neste papel” – v. 20), no “papel tão branco e insolente” – personificação, onde o poeta sabe que existe um verso belo que está, porém e de momento, ausente, pois falta-lhe a inspiração. O papel está “tão branco” (atente-se na intensificação sugerida pelo advérbio «tão»), porque a criatividade e a inspiração não surgem, logo o «eu» não cria, não escreve, e é “insolente” (personificação), ou seja, o papel é atrevido e desafia-o a escrever.

            O apelo intensifica-se no monóstico correspondente ao verso 22: “ – Albertina! eu quero um verso que não há!...”. No entanto, o inseto fica-lhe indiferente e, em vez de o inspirar, “Conjugal, provocante, moreno e azulado”, levanta voo, esvoaça por ali e aterra insultuosamente na folha de papel em branco. Atente-se na expressividade da quádrupla adjetivação do verso 23, que acentua a atitude provocatória de Albertina e sugere a existência de uma relação entre ambos marcada pela conjugalidade.

            Como consequência dessa atitude, que o leva a abstrair-se ainda mais da criação poética, o poeta “sai de chofre” (v. 27), isto é, repentinamente, e sente-se “desalmado”, ou seja, desinspirado, “por uns tempos” (v. 27).

            À semelhança do que sucede com vários outros poetas contemporâneos, Alexandre O’Neill reflete, neste poema, sobre a arte poética, só que neste caso estamos na presença de uma arte poética invulgar, dado que o ato de criação poética é aparentemente banalizado e vulgarizado, através do recurso a um tom humorístico que percorre todo o poema, da atitude do poeta e da forma como encara a inspiração.

            Deste modo, Alexandre O’Neill desconstrói humoristicamente, a imagem do poeta inspirado, desprovido das suas faculdades de criação poética e nega, em simultâneo, a ideia do poeta como um ser eleito, inspirado por natureza e produtor infindável e incansável de poesia.

            O processo é descrito num poema que podemos dividir em três momentos. O primeiro situa-se entre os versos 1 e 11, no qual o «eu» lírico retrata o poeta que reflete sobre o que escrever, esperando a inspiração, que tarda. O segundo abrange os versos 12 a 26 e neles é apresentada e caracterizada a mosca Albertina, que perturba o poeta, que a tenta repelir, em vão. O terceiro momento diz respeito ao último verso e retrata a “desistência” temporária do poeta, que abandona o espaço em que se encontra, desmotivado.

domingo, 7 de maio de 2023

Contexto da escrita de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


                 De acordo com uma nota introdutória da autoria do próprio Jorge Amado, a obra foi escrita em 1948 como presente para o seu filho João Jorge quando este completou um ano de vida, sem haver qualquer interesse em a publicar, por isso só foi publicada trinta anos depois, em 1978, depois de o filho a recuperar e ter levado a Carybé (Hector Julio Páride Bernabó, um multifacetado artista plástico nascido na Argentina em 1911, naturalizado brasileiro e radicado no Brasil desde 1949 até à sua morte em 1997,em Salvador da Baía). Assim a primeira edição da obra é composta pelo texto original – a história de amor impossível entre o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá –, acompanhado de belíssimas ilustrações de Carybé.

                Por outro lado, a obra de Jorge Amado baseia-se na seguinte trova, da autoria do poeta popular baiano Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador:

O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha.
 

Análise de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


 I. Contexto de escrita


II. Título


III. Estrutura da obra


IV. Ação

    4.1. Resumo

    4.2. Comentário

    4.3. Estrutura

    4.4. Relevo

    4.5. Organização das sequências narrativas


V. Personagens

    5.1. Papel / Relevo

    5.2. Retrato/Caracterização e Representatividade

            a) Gato Malhado

            b) Andorinha Sinhá

            c) Rouxinol

            d) Velha Coruja

            e) Reverendo Papagaio

            f) Vaca Mocha

            g) Sapo Cururu

            h) Tempo

            i) Vento

            j) Manhã

            k) Pais da Andorinha Sinhá

            l) Cobra Cascavel

            m) Pata Petita e Pato Pernóstico

            n) Pombo Correio

            o) Galo D. Juan de Rhode Island


VI. Tempo

    6.1. Tempo da história

    6.2. Tempo psicológico

    6.3. Tempo do discurso


VII. Espaço

    7.1. Espaço físico ou geográfico

    7.2. Espaço social

    7.3. Espaço psicológico


VIII. Narrador


IX. Representação do discurso


X. Ideologia


XI. Moral


XII. Classificação - Género


Benfica é tetracampeão nacional de voleibol masculino


     André Lopes ergue o troféu, marcando a sua retirada do mundo da competição profissional.

Polo aquático feminino é tetracampeão!


 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Análise do poema "Epigrama N.º 2", de Cecília Meireles


                 No primeiro verso, o «eu» poético apresenta a felicidade escrita em maiúscula, personificada, e caracteriza-a como algo efémero: “És precária e veloz”. Por outro lado, é algo difícil de acontecer, que “custa a vir e, quando vens, não se demora”. A velocidade com que os momentos de felicidade acontecem está relacionada com o tempo e a sua transitoriedade, visto que tudo no universo gira em torno do tempo e da ação dele sobre os seres.

                Por outro lado, a felicidade constitui a razão de ser do tempo, a qual, por ser tão “precária e veloz”, “obrigou” o ser humano a medir o tempo e a inventar as horas, para que esses momentos fossem medidos e valorizados: “Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se inventaram as horas.”

                Na segunda estrofe, o sujeito poético designa a felicidade como “coisa”, o que significa que é muito difícil compreender a sua natureza, defini-la. Esta ideia é frisada quando o «eu» qualifica a felicidade com o adjetivo «estranha», sugerindo, assim, que é algo que não se pode explicar (estranha), apenas sentir. No entanto, apesar de ser um sentimento bom, pode tornar-se muitas vezes “doloroso”, dado que são tristes as horas subsequentes quando comparadas aos momentos em que ela se fez sentir.

                A felicidade, tal como o tempo, é transitória, passageira, o que torna a vida do homem mais triste, uma vez que, após a passagem dos momentos felizes, resta ao homem uma realidade monótona porque rotineira, pelo que aquele inventou as horas, porque, desse modo, saberá dar valor ao tempo em que está feliz: “Porque um dia se vê que as horas todas passam, / e um tempo, despovoado e profundo, persiste.”

                O sujeito poético, no último verso, enfatiza, de forma melancólica, a transitoriedade da vida, “porque um dia se vê que as horas todas passam”. Como tudo é passageiro, a felicidade também é transitória e passa, razão pela qual o «eu» lírico se refere a “um tempo, despovoado e profundo, persiste”.

                Esta tristeza que brota após a passagem da felicidade não é individual; pelo contrário, é expressa em nome dos homens que sofrem quando a perdem ou passam por momentos de felicidade, facto que lhe ensina o valor do tempo e da sua existência, bem como a importância do significado da felicidade, visto que o sujeito poético é alguém que já experimentou o sabor da felicidade, pelo que conhece o quão importante é e o que há a esperar dela.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Deduções e inferências


                 Quando lemos ou ouvimos um texto, fazemos uma leitura, uma interpretação do mesmo. Esta interpretação resulta da informação explícita (os dados, a informação apresentada(os) no texto de forma clara e evidente) e implícita (os dados, a informação que não estão expressos no texto, mas que deduzimos, subentendemos, inferimos). Deste modo, a interpretação de um texto resulta do contexto, da situação, da entoação, da nossa cultura e do conhecimento que temos do mundo.

                Assim, deduzir ou inferir é tirar conclusões, a partir do raciocínio que fazemos sobre os factos e indícios que o texto nos apresenta.

Exemplos:

1. Miquelina, acende a luz.

Podemos inferir que está escuro.

2. Os cães são animais bonitos. Tenho um cão chamado Tim.

Podemos inferir que o Tim é bonito.

                Existem dez tipos de inferências:


In Preparar a Prova Final, Fernanda Delindro e Maria Pereira
Areal Editores

Deduções e inferências


                 Quando lemos ou ouvimos um texto, fazemos uma leitura, uma interpretação do mesmo. Esta interpretação resulta da informação explícita (os dados, a informação apresentada(os) no texto de forma clara e evidente) e implícita (os dados, a informação que não estão expressos no texto, mas que deduzimos, subentendemos, inferimos). Deste modo, a interpretação de um texto resulta do contexto, da situação, da entoação, da nossa cultura e do conhecimento que temos do mundo.

                Assim, deduzir ou inferir é tirar conclusões, a partir do raciocínio que fazemos sobre os factos e indícios que o texto nos apresenta.

Exemplos:

1. Miquelina, acende a luz.

Podemos inferir que está escuro.

2. Os cães são animais bonitos. Tenho um cão chamado Tim.

Podemos inferir que o Tim é bonito.


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