Português

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Quando surgiram as línguas?


             A resposta é óbvia: não sabemos. Certamente, não foi algo imediato, antes um processo gradual que levou milhares ou milhões de anos. O que sabemos é que todos os animais comunicam entre si, incluindo os irracionais, embora as formas de comunicação humanas sejam especiais. Por exemplo, os seres humanos comunicam quando choram ou coram, isto é, sem soltar um som que seja.

            As línguas humanas têm características muito específicas: não estão inscritas nos genes, são extremamente flexíveis, adaptam-se facilmente a novas realidades (todos os dias surgem novas palavras para designar algo novo que surge), permitem falar do passado e do futuro (note-se como podemo-nos referir ao futuro sem usar o respetivo tempo verbal; é possível fazê-lo – e fazemo-lo – usando o presente: “Volto amanhã.” = “Voltarei amanhã.”), despertam e interferem com a imaginação. Por outro lado, as línguas humanas fazem uso da chamada dupla articulação, ou seja, um conjunto limitado de sons conjuga-se para criar unidades com significado.

            No seu sítio Certas Palavras (www.certaspalavras.pt), o professor Marco Neves, perante a total falta de dados que nos permitam saber como surgiu a linguagem humana, imagina uma história explicativa do processo.

            De acordo com essa explicação, a linguagem teria tido origem em sons que o Homem usava em certas situações de forma instintiva ou na imitação de animais e que, a partir de certo momento, conseguiu desligar o símbolo do seu significado. E prossegue nos seguintes termos: “Imaginemos um grupo de seres humanos, na savana, a caçar. Um deles vê, à frente, uma gazela. Habitualmente, usam um som dito em surdina, para que todos reparem. Com o tempo, encontram vários sons para diferentes animais. Estamos perante sinais, que vão sendo aprendidos pelas novas gerações. Estes sinais, a certa altura, começam a ser usados noutros contextos, para «conversar» sobre os animais. Nascem as palavras. Um som poderia representar um tigre, mas também pode ter passado a significar um animal, usando-se outro som (ou uma conjugação de sons) para representar o tigre em si. Alguém, à noite, refere vários tigres, usando, provavelmente, uma duplicação dos sons usados para se referirem àquele animal.

            Com o tempo, ganham-se hábitos de ordenação desses símbolos sonoros – seria possível dizer «gazela» «caçar» «eu», mas nunca «eu» «caçar» «gazela». Nasce a gramática. A língua é criada a partir de necessidades práticas, ganha características gramaticais particulares, que mais não são do que a cristalização de hábitos linguísticos adquiridos sem grande lógica, e conhecer essas características (essa gramática) torna-se essencial para viver na comunidade que usa essa língua. Quem falava para caçar também era capaz de falar para impressionar a vizinha – e se não fizesse, teria menos hipóteses de ter filhos com a vizinha.

            As línguas são sistemas simbólicos muito complexas, com base em sons ou gestos. Com esses símbolos, comunicamos e criamos pensamentos na cabeça dos outros (obrigamo-los a pensar em tigres). Trabalhamos a pensar em conjunto, nem que seja para saber como caçar o tigre – ou atacar a tribo do lado. Quanto mais o cérebro aumentava, mais capacidade tínhamos para manipular símbolos.”

            […]

            Imaginemos, por exemplo, um conjunto de arbustos que precisam de ter exposição ao sol para sobreviver. Ora, se um arbusto em particular sofre uma mutação no seu ADN que o torna ligeiramente mais alto e com mais folhas no topo, vai conseguir receber mais luz do sol e, ao mesmo tempo, vai impedir que os arbustos do lado recebam tanta luz. Vai viver mais e reproduzir-se mais. Em breve, […], os genes deste arbusto vão começar a espalhar-se mais do que os arbustos um pouco mais baixos. Os arbustos mais baixos passam a ter uma desvantagem que não existia antes. Os arbustos com mutações que os tornam mais altos ganham. O gene que leva a uma maior altura começa a ser preponderante – e assim surgem as árvores. Todos os arbustos viviam felizes e contentes antes desta guerra. Não há uma vantagem inerente à maior altura: a única vantagem é conseguir ganhar aos arbustos do lado.”

            No caso do ser humano, o uso do símbolo permitia o ganha de vantagens relativamente a quem não o domina, pois permite perceber melhor os outros, ganhar mais poder, ser bem-visto, seduzir.

            A linguagem não é essencial para a sobrevivência do ser humano, como o prova o facto de a humanidade ter vivido e evoluído ao longo de milhares de anos sem ter uma linguagem como a entendemos hoje. Assim sendo, qual terá sido a razão que fez com que se tornasse tão preponderante? O professor Marco Neves responde: “Há duas grandes correntes. Alguns linguistas sublinham que a linguagem é uma ferramenta cultural, inventada ao longo da nossa História. No fundo, o uso da linguagem será como a roda: uma vez inventada, tornou-se tão útil que ninguém a dispensa. Mas não nascemos – segundo esta perspetiva – com algum tipo de mecanismo linguístico impresso no cérebro. Outros linguistas sublinham o caráter biológico da linguagem: temos aparelhos fonadores e cérebros adaptados ao uso da linguagem – as nossas gargantas seriam diferentes se não fosse a necessidade de falar.” Assim sendo, é lícito concluir que a linguagem humana é um facto cultural e biológico.

            Para se adaptar à nova necessidade que era a linguagem, tudo no ser humano evoluiu: o corpo em geral, o cérebro, o aparelho fonador, a boca, a garganta. Aprender a falar é algo natural ao ser humano, como é caminhar, ao contrário do que sucede com outras competências, como, por exemplo, a leitura ou a escrita. Por exemplo, uma criança de 3 ou 4 anos não necessita que os adultos a ensinem a falar; basta a convivência diária para que ela aquira e desenvolva essa competência. Porém, o mesmo não sucede com a leitura. Se dermos a essa mesma criança um livro, não conseguirá lê-lo sozinha, sem ajuda, sem quem a ensine.

            Embora não existam certezas, é possível que, há cerca de 40 000 anos, os seres humanos já falassem línguas com características semelhantes às que hoje possuímos. No entanto, há indícios que sugerem que a linguagem humana já existia na era do Homo erectus, que surgiu há 2 000 000 de anos, conseguiu controlar e usar o fogo, se expandiu por um território vastíssimo e navegou até ilhas tão afastadas no mar que tal empresa implicou um grau acentuado de organização e comunicação, bem como o uso de embarcações com algum alcance e robustez. Em 2004, descobriram-se na Ilha das Flores, na Indonésia, ferramentas que datam de há 800 000 anos. Daniel Everett, na sua obra How Language Began, sustenta que o Homo erectus já falaria um tipo de língua simbólica algo parecida com a nossa. Dado que a ilha já na época distava muito de terra continental, certamente foi necessário construir barcos que levassem seres humanos até lá, sendo difícil imaginar que tudo teria sido feito sem o uso da fala.

            Deste modo, é possível que pelo menos há 40 mil anos já existissem línguas na Terra com características parecidas às das atuais, sendo que há quem alargue o período de surgimento das mesmas até há cerca de dois milhões de anos.

terça-feira, 31 de maio de 2022

Como surgiram as línguas?


             Marco Neves, no seu livro História do Português desde o Big Bang (p. 43), dá uma resposta curiosa à pergunta.

            Para tal, recua até ao momento em que se iniciou o processo que originou o surgimento do ser humano, cerca de 6 000 000 a.C. Assim, um grupo de símios, talvez à procura de comida na savana africana, ter-se-á dividido em dois, seguindo cada um rumos diferentes. Com a passagem do tempo, as mutações que ocorrem no momento da reprodução terão feito com que os dois grupos se tornassem cada vez mais diferentes. Em determinado momento, em época que desconhecemos, deixaram de poder reproduzir-se entre si. Deste modo, um dos grupos deu origem a todas as espécies de seres humanos, enquanto o outro às várias espécies de chimpanzés e bonobos. O primeiro grupo, nesse período de seis milhões de anos, evolui no sentido de desenvolver aquilo a que chamamos línguas, passou a locomover-se em duas patas e abandonou as árvores; já o outro manteve as formas de comunicação dos símios.

            Há cerca de dois milhões de anos, terá surgido o «Homo erectus», a espécie que teria traços culturais parecidos com os nossos, que se espalhou desde a Península Ibérica até à atual Indonésia, que explorou continentes e ilhas tão distantes da costa que implicavam uma certa organização e condenação coletiva, ou seja, “Algo que permitiria ensinar e aprender, avisar e dar ordens” (Marco Neves, in História do Português desde o Big Bang, p. 44), isto é, uma forma de linguagem. São estes dados que levam alguns autores a defender que foi o «Homo erectus» que inventou a linguagem.

            Seguiu-se o «Homo sapiens», inteligente e dotado de poder de comunicação. Todas as outras espécies de hominídeos desapareceram, não obstante a provável convivência com o Homem de Neandertal, cujos genes estão presentes nas células de muitos de nós, humanos do século XXI (as trocas genéticas entre as várias espécies humanas sempre existiram e caracterizaram as relações entre elas). Perante isto, podemos questionar-nos sobre a razão que terá levado ao «triunfo» do «Homo sapiens» sobre as demais espécies. É provável que tenha sido precisamente a linguagem a responsável por esse domínio do «Homo sapiens».

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Resumo do capítulo XI de Amor de Perdição


             Domingos Botelho e D. Rita Preciosa tomam conhecimento do crime do filho e de que ele se encontra em casa do juiz de fora. O corregedor instrui o meirinho-geral a cumprir a lei e, perante o espanto da esposa, afirma que não irá proteger assassinos – o seu próprio filho – por causa de ciúmes da filha de um homem que odeia. Todas as tentativas de D. Rita de interceder por Simão caem em saco roto.

            O juiz informa Domingos de que, embora tivesse sugerido ao seu filho que alegasse legítima defesa no caso, ele continua a assumir o seu ato, sem receio da forca. No cárcere, Simão recebe uma carta da mãe, na qual esta maldiz o nascimento do filho e lamenta não o poder ajudar financeiramente. Desta forma, o jovem compreende que o dinheiro que recebera anteriormente era de João da Cruz e vira as costas à família.

            Mais tarde, Mariana visita-o e Simão abraça a jovem em lágrimas. O fidalgo pede à filha do ferrador que lhe leve uma banca, um tinteiro e papel para poder escrever a Teresa, por quem pergunta, sendo informado por Mariana de que tinha ido para o Porto. Ela promete não o desamparar e pede-lhe que a veja, a partir dali, como uma irmã.

domingo, 29 de maio de 2022

Andebol: Benfica vence a EHF


 

ENEM 2020


 Aplicação regular


Aplicação digital


Reaplicação/PPL/Segunda oportunidade

https://guiadoestudante.abril.com.br/enem/prepare-se-para-o-enem-refazendo-provas-anteriores/

Resumo do capítulo X de Amor de Perdição


             Mariana chega ao mosteiro. O padre capelão tenta falar com ela, mas a filha do ferrador ignora-o. Posteriormente, encontra-se com Teresa e entrega-lhe a carta, mas a fidalga comunica-lhe que está impedida de escrever a Simão. Assim sendo, solicita-lhe que o informe de que irá para o convento de Monchique, no Porto, e que, durante a viagem, será acompanhada por seu pai, por Baltasar e pelas suas irmãs, além de alguns criados.

            No caminho de regresso, Mariana repete o recado da fidalga e recorda como é bela, o que a deixa triste. É evidente que a filha de João da Cruz ama Simão e Teresa é uma «rival». Quando chega a casa, transmite a mensagem ao jovem, que se enfurece mal ouve o nome de Baltasar. O ferrador aconselha-o a deixar que Teresa vá para o Porto, mas o filho do corregedor está determinado a encontrar-se com a amada. Face a essa determinação, João da Cruz oferece-lhe os seus préstimos.

            Ao anoitecer, Simão escreve uma carta emocionada à fidalga, afirmando que, quando ela lesse aquela missiva, ele já estaria morto. Ao perceber que o jovem se prepara para tomar uma atitude arriscada, Mariana chora e pede-lhe que não saia nessa noite, contudo o filho do corregedor está decidido a ir. No entanto, a João da Cruz afirma que mudou de ideias e já não irá ao encontro de Teresa.

            Quando Simão se encontra à porta do convento, chegam as irmãs de Baltasar, dois criados, Tadeu e Baltasar, que conforta o tio, mas critica, ao mesmo tempo, a educação ministras a Teresa. Entretanto, Teresa e as irmãs de Baltasar saem do convento; a fidalga avista o primo, o que a deixa perturbada. Subitamente, Simão caminha na direção da jovem e dirige-lhe a palavra. Baltasar avança também e os dois trocam palavras violentas. O fidalgo de Castro Daire lança-se sobre o filho do corregedor, que saca de uma pistola e lhe coloca uma bala no crânio. De seguida, João da Cruz insta Simão a fugir, porém este recusa. Quando o meirinho-geral chega e se apercebe de que se trata do filho de Domingos Botelho, dá-lhe a oportunidade de fugir, mas Simão entrega-se. Teresa segue para o Porto na companhia dos criados.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Finlândia e Suécia aderem à NATO


Alexandre Ballaman

 

Resumo do capítulo IX de Amor de Perdição


             João da Cruz regressa a casa e informa Simão de que tinha estado com a mãe, que lhe tinha enviado algum dinheiro. Grato pelos cuidados do ferrador e de Mariana, o jovem pede-lhe que aceite parte do dinheiro como pagamento da sua alimentação, mas aquele recusa a oferta.

            Teresa escreve novamente a Simão e aconselha-o a regressar a Coimbra, visto que Tadeu sabe onde o jovem se encontra. No entanto, noutra missiva, aconselha-o a não ir, pois receia que o seu pai a enclausure num convento mais rigoroso, e assegura-lhe que recusará sempre professar e que deseja fugir.

            Tadeu de Albuquerque avisa a filha de que a vai transferir para o convento do Porto no dia seguinte. A jovem escreve a Simão, relatando-lhe a decisão do pai, no entanto é denunciada pela escrivã. Assim, a mendiga é expulsa do convento e espancada pelo hortelão, que leva o bilhete de Teresa ao pai.

            A mendiga dirige-se a casa de João da Cruz e relata a Simão o que sucedeu, que fica determinado a ir a Viseu. Contudo, Mariana diz-lhe que tem uma amiga que poderá entregar uma carta a Teresa. Deste modo, inquieto, Simão escreve à fidalga, pedindo-lhe que fuja.

Resumo do capítulo VIII de Amor de Perdição

             Em sua casa, João da Cruz recomenda a Mariana que cuide de Simão e que o trate como «irmão ou marido», o que faz corar a filha. Quando o jovem sugere ao ferrador que case a filha, ele responde que Mariana tem muitos pretendentes, mas não aceita nenhum.

            Simão pede à filha de João da Cruz que lhe traga papel e lápis. Esta diz-lhe que tem conhecimento da sua relação com Teresa e do que sucedera aos criados de Baltasar. Além disso, afirma que conhece a família e que está muito grata a Domingos Botelho por ter livrado o pai da forca. Por último, revela-lhe que tinha estado presente na fonte aquando da cena de pancadaria e que tivera um sonho que indiciava que uma desgraça se iria abater sobre Simão.

            João da Cruz entrega a Simão uma missiva trazida por uma mendiga que o informa de que Teresa se encontra no convento, no Porto. Esta nova deixa Mariana um pouco feliz. O jovem responde à carta, pedindo à amada que fuja. Se esta fugisse, ele raptá-la-ia no trajeto. A finalizar a missiva, reafirma o seu amor pela fidalga e a sua decisão de se sacrificar por ela.

            O ferrador apercebe-se de que Simão está sem dinheiro e comunica-o à filha, que se prontifica a lhe entregar as suas economias e congemina um plano para fazer crer que seria D. Rita, a mãe, a enviar o dinheiro ao filho através de João da Cruz. Simão estranha o gesto da progenitora, mas aceita o dinheiro. No final do capítulo, o filho de Domingos Botelho fica consciente de que a Mariana o ama.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

A escalada dos preços


Peter Brooks

 

Resumo do capítulo VII de Amor de Perdição


            Apesar do ferimento no braço, Simão preocupa-se apenas com Teresa, da qual recebeu uma carta transportada por uma mendiga, na qual a fidalga afirma estranhar o comportamento condescendente do seu pai e de Baltasar e aconselha o amado a fugir para Coimbra. Rita, irmã de Simão, informa Teresa de que tinham sido encontrados mortos dois criados de Baltasar. A fidalga pressente algo e fica extremamente inquieta. De seguida, escreve novamente a Simão, manifestando-lhe toda a sua preocupação, no entanto este responde-lhe de forma a tranquiliza-la e promete-lhe acatar o seu conselho e ir para Coimbra assim que lhe for possível.

            Entretanto, Tadeu de Albuquerque decide enviar a filha para um convento no Porto, cuja madre prioresa é sua familiar. Teresa aceita a decisão paterna sem questionar, apesar da tristeza que a mesma acarreta para si. Antes de partir para o Porto, a fidalga fica num convento em Viseu. Ao entrar na clausura, Teresa afirma que se sente livre.

            A madre prioresa, então, descreve a vida conventual a Teresa como se se tratasse de um paraíso, onde as religiosas vivem em harmonia e comunhão. No entanto, rapidamente a jovem se apercebe de que tal não corresponde à verdade, visto que as monjas eram intriguistas e adotavam uma conduta pouco consonante com a vida conventual.

            Contrariando as instruções de Tadeu, a madre escrivã oferece à fidalga papel, tinteiro e o seu quarto para que ela possa escrever a Simão. Além disso, oferece-se para receber em seu nome as cartas do filho de Domingos Botelho.

            Teresa dorme na mesma cela da madre prioresa, mas, apesar disso, consegue escrever a Simão, mostrando-se firme nos seus sentimentos por ele e prometendo mantê-lo a par das resoluções de seu pai.

Resumo do capítulo VI de Amor de Perdição


             Baltasar e os seus criados esperam por Simão à porta da casa de Teresa, quando veem chegar João da Cruz, que tinha avisado o filho do corregedor da presença do primo de Teresa e dos seus criados. O ferrador recomenda-lhe prudência e sugere-lhe que siga os seus conselhos para evitar problemas.

            Simão chega à fala com Teresa no quintal de sua casa. João da Cruz suspeita que Baltasar esteja a armar uma cilada a Simão, por isso acompanha-o sem este saber, chegando primeiro ao local do encontro. Entretanto, apercebe-se de que os criados de Baltasar esperam o fidalgo no caminho e ouve o som de dois tiros. Na emboscada, o filho de Domingos Botelho é ferido no ombro.

            Os dois grupos veem-se frente a frente e o ferrador dispara mortalmente sobre um dos criados de Baltasar, enquanto o outro foge e se esconde no mato, porém é descoberto pelo arrieiro e por João da Cruz. Apesar dos pedidos de Simão para que o poupe e das súplicas do homem, o ferrador abate-o longe dos olhos dos companheiros, gesto que deixa o jovem horrorizado.

terça-feira, 17 de maio de 2022

A ideia de uma Internet aberta e acessível a todos está em risco


    A ideia de uma Internet aberta, acessível a todos está em risco? O controle mais apertado de governos e organizações sobre os conteúdos e as plataformas é um risco para o futuro e várias organizações querem medidas para evitar a morte da Internet como a conhecemos.

    Os alertas para o controle e bloqueio de serviços são antigos e Tim Berners-Lee já defende há vários anos um “Contrato para a Internet” para reparar o que na sua perspetiva está errado com a grande rede. A iniciativa data de 2019 e a visão do “pai da World Wide Web” já reuniu milhares de empresas e organizações que assinaram este “Contrato” com nove compromissos em várias áreas.

    Podem estas iniciativas e avisos ter efeito? Que impacto tem o isolamento progressivo da Rússia? Ricardo Lafuente, vice presidente da associação D3 – Direitos Digitais lembra que a balcanização da Internet não é nova e que neste momento é difícil fazer previsões sobre o que vai acontecer.

“COM A INVASÃO DA UCRÂNIA AINDA EM CURSO E UMA GRANDE INCERTEZA SOBRE OS PRÓXIMOS PASSOS DA CHINA FACE A TAIWAN, É ARRISCADO FAZER QUALQUER PREVISÃO DO QUE SE IRÁ TORNAR A INTERNET – SÓ SABEMOS QUE MUITO VAI MUDAR”, AFIRMA EM ENTREVISTA AO SAPO TEK, AVISANDO QUE “O QUE SE DISCUTE AGORA É O QUANTO SE IRÁ AGRAVAR FACE À REALIDADE GEOPOLÍTICA ATUAL”.

    A utilização da Internet como arma nos conflitos, em especial por regimes totalitários mas também por países democráticos, para controlar a população, reprimir dissidências internas e fazer pressão política são medidas que “têm sido aplicadas regularmente nos conflitos contemporâneos, mas a proximidade da invasão da Ucrânia veio dar ao ocidente outra perspetiva relativamente ao acesso à Internet como arma e mecanismo de controlo”, explica Ricardo Lafuente, apontando a tática russa de desviar tráfego das zonas ocupa-as para passar por servidores russos, com objetivo de vigilância das comunicações.

    A Internet Society é outra das organizações que tem vindo a alertar para a possibilidade da fragmentação deitar por terra décadas de esforço para garantir a ligação do mundo inteiro, dividindo a Internet numa série de redes separadas, sem pontos de contacto.

“PODEM USAR OS MESMOS NOMES E PROTOCOLOS, MAS OS GOVERNOS E EMPRESAS PODEM TORNAR-SE OS ‘PORTEIROS’ DO ACESSO AO QUE AS PESSOAS PODEM FAZER, VER E ACEDER NESSAS REDES”, ADIANTA A ORGANIZAÇÃO.

    E não é só o fluxo dos dados que está em causa, mas o próprio comércio internacional, assim como a divisão digital.

    Dan York, diretor da Internet Society, defende que o impacto na nossa forma de viver é profundo e exemplifica, de forma simples, com o caso de quem não consegue aceder ao Facebook, tem uma alternativa ao Google porque o motor de busca está bloqueado e que mesmo a Wikipedia está fora de alcance. “Podemos usar os mesmos browsers e programas de email mas não conseguimos chegar aos mesmos sítios. E mesmo que consiga, não tem a certeza se o governo local está a monitorizar tudo o que faz online”.

“A INTERNET FOI BEM SUCEDIDA PORQUE É ABERTA, SEM RESTRIÇÕES, E COM PROTOCOLOS COMUNS. PARA O MANTER TEMOS DE PARAR A DIVISÃO E FRAGMENTAÇÃO”, DEFENDE DAN YORK.

    Ricardo Lafuente admite a esperança de que a União Europeia tenha impacto na defesa de uma Internet livre e aberta, mas avisa que a posição tem sido ambivalente e que “tem havido desenvolvimentos que nos deixam apreensivos”, referindo a recente ideia de fazer vigilância massiva e reduzir a encriptação com o pretexto de proteger as crianças.

Fonte: tek.sapo.pt [link]

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