Português: Biografia de Almeida Garrett

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Biografia de Almeida Garrett



1799          A 4 de fevereiro, no seio de uma família burguesa, nasce no Porto, mais precisamente na rua do Calvário, às Virtudes, numa casa ainda hoje assinalada com uma lápide municipal, nos números 37, 39 e 41, João Baptista da Silva Leitão, nome a que, mais tarde, acrescentará os apelidos Almeida Garrett. De acordo com o seu biógrafo, Gomes de Amorim, o apelido Baptista foi retirado do nome do seu padrinho, em sua homenagem, enquanto que Almeida era apelido da avó materna e Garrett da sua avó materna, de ascendência irlandesa.
 
Infância   O período da infância, vivido até aos 10 anos em Vila Nova de Gaia, entre a Quinta do Castelo e a Quinta do Sardão (ambas pertencentes à sua família), foi decisivo no futuro do escritor e na construção do sentimento poético de Garrett, alimentado pelas tradições populares reveladas nas histórias e cantilenas/modinhas populares contadas e cantadas pelas duas velhas criadas da família com quem conviveu: a velha Brígida (lembrada pelas suas “histórias da carochinha” em Viagens na Minha terra) e a mulata Rosa de Lima (surge no prefácio de Adozinda como recitadora de “maravilhas e encantamentos, de lindas princesas, de galantes e esforçados cavaleiros”). Estas recordações infantis despertarão nele o gosto pelas tradições nacionais que o levaram desde muito novo a compilar os textos que, posteriormente, usou na elaboração do Romanceiro e incluiu nalgumas peças de teatro.
 
1809          Em consequência das Invasões Francesas, nomeadamente da segunda, comandada por Soult, que entrou em Portugal por Chaves e se dirigiu, de seguida, para o Porto, cidade que ocupou, a família viu-se obrigada a fugir, primeiro para Lisboa e, depois, para os Açores, dado que o seu pai, António Bernardo da Silva, um funcionário superior da Alfândega do Porto, tinha nascido na ilha do Faial, o que explica o facto de a família se ter refugiado na Terceira, ilha onde passou a sua adolescência, onde estudou Latim e Grego, literatura clássica e filosofia, sob a orientação dos tios D. Frei Alexandre da Sagrada Família (anterior bispo de Malaca e de Angra e bispo eleito do Congo e de Angola) e João Carlos Leitão. Sob a influência dos tios e o desejo dos pais, Garrett pensa abraçar a carreira eclesiástica, mas rapidamente desiste da ideia por falta de vocação para o sacerdócio.
Ainda nas ilhas, começa a escrever, sob o pseudónimo de Josino Duriense. Por outro lado, o contacto com a cultura humanística clássica, nos Açores, através da leitura e do estudo dos grandes tragediógrafos gregos e latinos, revelou e desenvolveu nele o gosto pelo teatro, exemplificado pela escrita da tragédia Xerxes.
 
1816       De regresso ao continente, matricula-se no curso de Direito na Universidade de Coimbra, cidade onde funda uma sociedade maçónica com Manuel da Silva Passos e José Maria Grande. Em Coimbra, funda também um teatro académico e faz representar o seu drama Xerxes (que se perdeu) e a tragédia Lucrécia. Na mesma época, inicia a escrita de duas tragédias, Afonso de Albuquerque e Sofonista, que deixa incompleta.
 
1818         Em 1818, passou a usar os apelidos Almeida Garrett, à semelhança de toda a sua família. A introdução desses dois apelidos reflete o esteticismo e o elitismo social de Garrett.
 
1820         Concluída a licenciatura em Direito, parte para Lisboa, onde participa na revolução liberal, determinada pelos ideais de liberdade proclamados pela Revolução Francesa, que marcam para sempre o percurso cívico e político de Garrett. Enquanto dirigente estudantil e orador, defende o vintismo, escrevendo inclusive um Hino Patriótico recitado no Teatro de S. João.
 
1821          Estreia a tragédia Catão, acontecimento literário que lhe possibilita a entrada na vida pública e o conhecimento de Luísa Midosi, prima de seus primos Luís Francisco e Paulo Midosi. Neste mesmo ano, após a publicação do seu poema Retrato de Vénus, é acusado nas páginas da “Gazeta Universal”, pelo padre José Agostinho de Macedo, de ser “materialista, ateu e imoral”.
                 Funda a Sociedade dos Jardineiros. Após nova viagem aos Açores, provavelmente por razões relacionadas com a sua ligação à Maçonaria, estabelece-se em Lisboa, continuando aí a publicar textos repletos de fervor patriótico.
                   Conclui a sua licenciatura.
 
1822          É ilibado da acusação de materialismo, ateísmo e abuso de liberdade de imprensa, resultante da publicação do poema O Retrato de Vénus e das respostas que deu em sua defesa no periódico “Português Constitucional Regenerado”.
                 Funda, com o amigo Luís Francisco Midosi, um jornal dedicado às senhoras portuguesas: “O Toucador”.
            Em 11 de novembro, casa-se com Luísa Midosi, após ter assumido o lugar de chefe de repartição da instrução pública.
 
1823     Na sequência da Vilafrancada, o golpe militar chefiado por D. Miguel que teve como consequência o restabelecimento do Absolutismo, e a instabilidade política que se lhe segue, Garrett é obrigado a abandonar o seu cargo na Secretaria dos Negócios do reino, é preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, e a exilar-se por duas vezes: em Inglaterra, de 1823 a 1824, e em França, de 1824 a 1826, onde contactou com a nova estética – o Romantismo. O exílio acabou por ser decisivo para a sua vida política e para a notoriedade literária, visto que lhe permitiu a integração nos círculos de emigrados liberais e o contacto com o Romantismo europeu, que importaria para Portugal, tornando-se na sua figura central, juntamente com Alexandre Herculano.
                   Garrett e a família vivem com muitas dificuldades durante o exílio, dado que o poeta apenas consegue emprego num banco como correspondente comercial.
 
1825           É publicado, em Paris, o poema Camões.
 
1826       É publicado, em Paris, o poema D. Branca, que, juntamente com Camões, são obras de temática nacionalista, consideradas marcos fundadores do Romantismo português e cuja escrita é influenciada pelas leituras das obras de Shakespeare, Byron e Walter Scott durante o primeiro exílio inglês.
             Após a morte de D. Afonso VI, Almeida Garrett é amnistiado e regressa à pátria, após a Outorga da Carta Constitucional e da abdicação de D. Pedro IV em favor da sua filha D. Maria da Glória. Em Lisboa, funda com Paulo Midosi o jornal “O Português” e escreve em “O Cronista”.
 
1927         Garrett e os dois irmãos Midosi são presos devido aos seus artigos em defesa do Liberalismo.
 
1828        O regresso de D. Miguel a Portugal força Garrett a novo exílio em Inglaterra, que se prolonga até finais de 1831. Desta vez, tem como emprego o cargo de secretário particular do Duque de Palmela, também exilado em Inglaterra, e fixa-se em Plymouth. Em Londres, publica Adozinda e Bernal Francês (texto mais tarde inserido no Romanceiro).
 
1829       Publica, ainda em Londres, a Lírica de João Mínimo, que reúne poemas escritos desde a juventude. Redige o jornal “O Chaveco Liberal” e inicia a escrita de Da Educação, que visa a instrução da nova rainha D. Maria II para o cargo que ocupa.
 
1831         Escreve nas páginas de “O Precursor”. Segue, em dezembro, para França (onde prepara, com outros exilados, a expedição que visa o fim do Absolutismo) e, posteriormente, para os Açores, em 1832.
 
1832    Regressa a Portugal, desembarcando primeiro nos Açores, integrando com Alexandre Herculano, como voluntários, o exército liberal de D. Pedro e participando ativamente no desembarque do Mindelo (em julho) e no cerco e libertação do Porto, em julho de 1832.
                Inicia a escrita do seu primeiro romance – O Arco de Sant’Ana –, que se teria baseado num antigo manuscrito encontrado no Convento dos Grilos, onde os expedicionários se aquartelam, e cujo primeiro volume só é publicado em 1845.
 
1834     Parte para a cidade de Bruxelas, na Bélgica, para assumir o cargo de Cônsul-Geral e Encarregado de Negócios de Portugal. Nessa urbe, entra em contacto com as obras dos grandes escritores românticos alemães, como Goëthe e Schiller.
 
1836         Regressa a Portugal, separa-se de Luísa Midosi e passa a viver com Adelaide Pastor Deville, com quem terá uma filha. Em simultâneo, afirma-se como um claro opositor ao regime, ao lado de Passos Manuel, velho amigo dos tempos de Coimbra. Após a Revolução de Setembro, forma-se novo governo de esquerda liberal, tendo Garrett sido eleito deputado às cortes constituintes e nomeado por Passos Manuel Presidente do Conservatório de Arte e incumbido de reformar o teatro nacional. O projeto para a renovação da Arte em Portugal é descrito no prefácio de Um Auto de Gil Vicente (1838), um dos primeiros contributos de Garrett para a criação de um repertório teatral português.
 
1837         É nomeado Inspetor-Geral dos Teatros, o que lhe permite fundar o Teatro Nacional D. Maria II e o Conservatório Nacional, a primeira escola portuguesa de atores.
 
1838          A sua ação em prol da dinamização do teatro português prossegue com a publicação de Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840) e O Alfageme de Santarém (1842), procurando, assim, dinamizar o quase inexistente repertório dramático nacional.
 
1841        O ministro António José de Ávila propõe a dissolução do Conservatório. O deputado Almeida Garrett responde-lhe diretamente e, no dia seguinte, é demitido de todos os seus cargos. Falece Adelaide Pastor, deixando órfã a filha de ambos.
 
1843         Desencantado com a evolução da causa liberal durante o governo cabralista, Garrett afasta-se dos cargos políticos, mas não abdica do seu patriotismo empenhado, como se pode comprovar em Viagens na Minha Terra, obra escrita neste ano que denuncia o materialismo excessivo que conduz à degradação física e moral do país e cuja primeira parte é publicada em folhetins na “Revista Universal Lisbonense” (a edição só fica concluída em 1846). As Viagens são inspiradas por um passeio pelo Ribatejo a convite de Passos Manuel, então na oposição ao governo de Costa Cabral. Ainda neste ano, é publicado o primeiro volume do Romanceiro e feita a primeira representação de Frei Luís de Sousa, com Garrett a desempenhar o papel de Telmo Pais, no teatro da Quinta do Pinheiro.
 
1844          É publicado Frei Luís de Sousa, três anos após a morte de Adelaide Pastor Deville, quando o escritor conhece Rosa de Montufar Barreiros, Viscondessa da Luz, por quem se apaixona e a quem dirige cartas de intensa paixão e que lhe inspira a escrita dos poemas de Folhas Caídas.
 
1845        Publica o romance O Arco de Sant’Ana, iniciado em 1832, durante o cerco do Porto, mas cujo primeiro volume só sai em 1845, e Flores sem Fruto.
 
1846      Nos tempos do Cabralismo e seguintes, afastado da vida política, passa a frequentar a sociedade elegante e escreve as peças Tio Simplício, Falar Verdade a Mentir, Um Noivado no Dafundo.
 
1848       É representada a peça A Sobrinha do Marquês no Teatro D. Maria II e logo a seguir publicada.
 
1851          Com a Regeneração, Almeida Garrett retoma a vida política, tendo sido nomeado, em julho, Ministro dos Negócios Estrangeiros, após a nomeação de Visconde e Par do Reino.
                   O governo francês concede-lhe o título de Grande Oficial da Legião de Honra.
                   São publicados os volumes II e II do Romanceiro.
 
1852          É novamente eleito deputado. Escreve e lê, na Câmara, o “Discurso de Resposta ao Discurso da Coroa”.
 
1853       Publica Folhas Caídas, uma coletânea de poemas marcados por um subjetivismo de cariz confessional em cuja génese está a paixão avassaladora e adúltera por Rosa de Montufar.
                Com a Regeneração, regressa à administração do Teatro Nacional, mas demite-se a pedido dos atores e autores.
                 Já muito doente, começa a escrever Helena, a obra que seria o seu terceiro romance. Apesar de o seu estado de saúde se agravar de dia para dia, ainda apresenta o “Relatório e Bases para a Reforma Administrativa”.
 
1854           Profere, na Câmara dos Pares, a resposta ao Discurso da Coroa de 1854.
                  Falece a 9 de dezembro, aos cinquenta e cincos anos, vitimado por um cancro hepático, após uma vida política e cívica intensa: estudante revolucionário em Coimbra (1820), jornalista interventivo perseguido pelas suas ideias liberais (1822-1823), preso e exilado político por diversas vezes (1823-1827 e 1828-1832), soldado da causa liberal, “bravo do Mindelo” que combateu no cerco do Porto, secretário da missão diplomática em Madrid, Paris e Londres, em prol da causa liberal, colaborador ativo de várias tarefas a nível governativo, cônsul geral na Bélgica (1834-1836), resistente político durante a ditadura do governo de Costa Cabral (1842-1846 e 1849-1851), Par do Reino (1851) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1852), durante a Regeneração. É sepultado no Cemitério dos Prazeres. Os seus restos mortais são depositados no Mosteiro dos Jerónimos em 1903 e trasladados para Santa Engrácia em 1966, aquando da inauguração do monumento como Panteão Nacional.
 
Fontes:
     * História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes;
     * Coleção Resumos;
     * Dicionário da Literatura, de Jacinto do Prado Coelho;
     * Leituras - Revista da Biblioteca Nacional (n.º 4, primavera de 1999).

1 comentário :

  1. André Ramos Pedro19 janeiro, 2012 19:14

    ESTÁ MUITO GIRO E COM MUITA INFORMAÇÃO.
    JÁ VIM COPIAR ISTO TUDO PARA UM TRABALHO DE ESCOLA!!!
    OBRIGADO

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...