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quinta-feira, 13 de julho de 2023

Resumo do capítulo XIII de Memórias de um Sargento de Milícias


    Ao quinto dia de escola, o miúdo consegue convencer o padrinho de que já sabe ir sozinho para a escola, mas, em vez de ir aprender, falta à escola e vai brincar, nomeadamente junto da Sé, onde se reunia sempre muita gente, o que permitia que ninguém o encontrasse, caso o procurassem. Nas aulas, Leonardo é muito irrequieto, rebelde e desobediente, o que lhe granjeia muitos «bolos»; por outro lado, vende tudo o que tem aos colegas (o tinteiro, a pasta, a lousa) e gasta o dinheiro do pior modo possível. Em suma, acriança é o gazeta-mor e o apanha «bolos»-mor.
    Entretanto, o barbeiro descobre e passa a acompanhá-lo novamente, o que não lhe dá hipótese de ir para a brincadeira. Como sente saudades do tempo passado na Sé, pede ao padrinho que o faça sacristão, alegando que isso o prepararia para a sua futura vida eclesiástica. Para o compadre, este pedido constitui a maior alegria que lhe podem dar.
    Numa bela manhã, sai de casa vestido de batina e sobrepeliz e toma posse da função. Quando o vê passar, a vizinha mostra-se surpreendida de início, mas, ao compreender o que se está a passar, solta uma gargalhada e chama-lhe “senhor cura”.
    O capítulo termina com a vingança que os dois meninos sacristãos (o segundo é uma criança que Leonardo conhecera na Sé na época em que para lá ia quando faltava às aulas) fazem à vizinha, que sempre agourara o herói desta história. Assim, durante uma missa, aquela coloca-se junto dos dois e, enquanto um, depois de encher o turíbulo de incenso, o balança fazendo com que as nuvens de fumo que se desprendem batam na cara da pobre mulher, o outro, com a tocha, derrama nas costas da sua mantilha cera derretida. Como a igreja está apinhada de fiéis, a desgraçada tem de suportar a vingança até ao fim. Terminada a missa, queixa-se ao mestre-de-cerimónias e os dois ouvem uma grande reprimenda.

Resumo do capítulo XII de Memórias de um Sargento de Milícias


    O compadre resolve colocar o menino numa escola, porque acha que ele já está avançado na educação que lhe ministra. De facto, a criança mostra progressos de aprendizagem: já lê sofrivelmente e aprendera a ajudar na missa. Preocupado com o futuro do afilhado, o padrinho procura um mestre e encontra um dos mais acreditados na cidade: um homem bastante baixo, magro, de cara estreita chupada, calco, com óculos e pretensões de latinista e que oferece bolos aos discípulos. No dia em que padrinho e afilhado o procuram, um sábado, encontram os alunos a cantar a tabuada de forma monótona que, no entanto, parece agradar às crianças.
    Na segunda-feira seguinte, Leonardo começa a frequentar as aulas, munido da sua pasta a tiracolo, da sua lousa e do seu tinteiro de chifre. No final do dia, leva quatro «bolos», pelo que, à saída, mal vê o barbeiro, diz-lhe que não voltará à escola, pois não quer ter de sofrer violência física para aprender. O barbeiro recebe com preocupação esta revelação, temendo que a vizinha fique a saber que o menino tinha apanhado no primeiro dia de aulas, porém este só concorda em regressar à escola se o padrinho dialogar com o professor no sentido de não lhe voltar a bater. O barbeiro, para o persuadir, concorda. Deste modo, Leonardo retoma as aulas, porém, como não consegue ficar quieto ou calado, é colocado de joelhos e posteriormente surpreendido a atirar uma bola de papel aos colegas. Como castigo, apanha doze «bolos», o que leva Leonardo a dirigir ao mestre todos os impropérios que conhece. Para o compadre, tudo se deve a uma praga da vizinha.
    Ao longo do capítulo, temos constantes intromissões do narrador e uma crítica à instituição escolar da época, tecida de modo irónico.

Resumo do capítulo XI de Memórias de um Sargento de Milícias


    O compadre continua a educação do menino, tratada em termos cómicos. Ele fica indiferente quando sabe da prisão de Leonardo Pataca. Também o tenente quer tomar conta do miúdo, mas o compadre não aceita.
    A criança já conhece o alfabeto até à letra P, onde empanca de novo, mas é incapaz de decorar o Pai Nosso (em vez de dizer “Venha a nós o vosso reino”, dizia “Venha a nós o pão nosso”) e detesta ir à missa ou ao sermão. Apesar disso, o padrinho continua a ver nele um futuro clérigo.
    Em sentido oposto, os vizinhos veem em Leonardo um grande peralta, nomeadamente uma mulher viúva e presunçosa que se gaba de não ter papas na língua e que aborrece as pessoas com as virtudes do seu defunto marido. Assim sendo, várias vezes procura mostrar ao vizinho a verdadeira faceta do rapazinho. Certo dia, quando o barbeiro chega à sua loja, esta vizinha, da sua janela, pergunta-lhe, de forma trocista, onde está o seu reverendo. O homem explode, nomeadamente após ela lhe perguntar se o petiz já sabe o Pai Nosso, e responde-lhe que o afilhado já o sabe e que ele, barbeiro, o faz rezar todas as noites para o seu marido, que dava coices no Inferno. A mulher retorque e chama-lhe “raspa-barbas”. Quando o compadre a questiona sobre o motivo de implicar tanto com uma criança que nunca lhe tinha feito mal, a vizinha responde que o afilhado atirava pedras ao telhado, lhe fazia caretas e a tratava como se fosse uma saloia ou a mulher de um barbeiro. A discussão desperta a atenção do pequeno Leonardo, que chega à porta e arremeda a vizinha, o que motiva o riso do padrinho, que, assim, se sente vingado.
    Terminada a discussão, o narrador informa o leitor que o barbeiro tem conhecimento da prisão de Leonardo Pataca, mas não se importa com o sucedido.

Resumo do capítulo X de Memórias de um Sargento de Milícias


    A ação volta-se de novo para o velho tenente-coronel, que, embora seja uma pessoa de bem e tenha uma idade inofensiva, tinha uma história de vida com alguns episódios negativos. Por exemplo, aos 20 anos era um cadete desordeiro, viciado no jogo e insubordinado e, aos 36, tinha deixado um filho em Lisboa.
    Poucos dias antes de embarcar para o Brasil, na companhia do rei, foi procurado por uma mulher velha, baixa, gorda e vermelha, vestida pobremente, nervosa e agitada. Esta figura era a mãe de uma jovem, de nome Mariazinha, com quem o filho do tenente, nessa época capitão de navio, namorava e engravidara. A mulher acrescentou que o filho do capitão prometera casar com ela. O homem refletiu uns instantes e concluiu que não poderia deixar o descendente casar com a filha de uma simples vendedora e, além disso, o que aquele ganhava como cadete não era suficiente para sustentar uma família, por isso disse à mulher que iria pensar no assunto. Mais tarde, procurou-a e ofereceu-lhe algo para a calar, no entanto, como a hora de partir chegara, não houve tempo para discutir o problema. Assim, deixou o filho ao cuidado de conhecidos e partiu.
    Anos depois, já estabelecido no Brasil, soube que Mariazinha se encontrava no Rio de Janeiro, na companhia de Leonardo Pataca: era, portanto, Maria da Hortaliça. Este episódio explica, pois, o motivo por que o velho tenente-coronel prometera ajudar Leonardo: procurava, assim, aplacar o seu espírito de pai honrado, ajudando a mulher que o seu filho havia desonrado anos antes. Para tal, fizera um pacto secreto com a comadre: ele supriria qualquer necessidade de Maria da Hortaliça, bastando para tal que aquela o informasse.
    Como a comadre o ajudava da forma descrita no parágrafo anterior, o tenente deveria retribuir o favor se fosse necessário, por isso, quando ela o abordou, dirigiu-se à cadeia, falou com Leonardo Pataca e, depois, dirigiu-se a casa de um amigo fidalgo.
    O velho tenente sentia-se responsável e foi procurar ajudar Leonardo, libertando-o. O recurso a pessoas influentes era já um traço da época.

Resumo do capítulo IX de Memórias de um Sargento de Milícias


    A narração centra-se na figura do compadre: como se criou, como arranjou emprego num navio negreiro e como conseguiu a sua fortuna de forma pouco honesta.
    O compadre nunca conhecera os seus pais e parentes; quando era jovem, achou-se na casa de um barbeiro, sem saber se estava lá na qualidade de filho ou outra qualquer, de quem cuidara e herdara o ofício.
    Quando atingiu a adolescência, sabia barbear e sangrar sofrivelmente e, como considerava que não conseguiria frutificar enquanto barbeiro, dado que a freguesia que tinha se devia ao seu mestre, abandonou a sua casa sem rumo. Durante as suas andanças, conheceu um marujo que o colocou a bordo de uma embarcação como barbeiro e sangrador. A bordo, ganhou fama quando sangrou e curou dois marinheiros doentes e não deixou morrer nenhum negro do carregamento. Neste passo, o narrador aborda o problema da escravatura, distanciando-se dela.
    Pouco antes de chegar ao Rio de Janeiro, o capitão do navio adoeceu e não houve sangramento que o salvasse. Moribundo e em segredo, o capitão, que confia no barbeiro, entregou-lhe uma caixa, deu-lhe o endereço e pediu-lhe que o entregasse à sua filha. Pouco tempo depois, o capitão morreu; o barbeiro decidiu não embarcar mais e, como a conversa que tinha mantido com o comandante fora secreta e sem testemunhas, instituiu-se como seu herdeiro e nada entregou à filha. Fora assim que ele se arranjara na vida.
    Em suma, este capítulo mostra o compadre como homem sem escrúpulos. Ele é bom e mau. Com isto, o narrador pretende provar que todo o ser humano tem um lado bom e um lado mau.

Resumo do capítulo VIII de Memórias de um Sargento de Milícias


    O narrador descreve o pátio dos bichos e das personagens que nele se movimentam, sobretudo de um velho. O espaço era um saguão, uma saleta que existia no palácio do rei, cujo nome derivava do facto de todos os dias passarem por ele três ou quatro oficiais  superiores velhos, incapazes para a guerra e inúteis para a paz, ou seja, não eram usados pelo rei, pelo que a maior parte do seu tempo era dedicado ao ócio. Dentre eles, destacava-se um português, tenente-coronel, a quem a comadre recorreu para obter a libertação de Leonardo Pataca. Depois de a ouvir, o velho militar coloca o chapéu armado, põe a espada à cinta e sai.

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Resumo do capítulo VII de Memórias de um Sargento de Milícias


    A descrição da comadre, madrinha do menino, é pretexto para a referência à mantilha, característica espanhola e apresentada de forma diferente do Romantismo.
    A comadre é uma mulher baixa, gorda e ingénua – ou tola – por um lado e fina por outro. Além disso, é conhecida por ser beata e “papa-missas”. Usa por norma o traje típico das mulheres da sua condição social: uma saia de lila preta (um tecido que se fabricava na cidade francesa de Lila, capital do departamento do Norte), que se vestia por cima de um vestido qualquer, um lenço branco ao pescoço, outro na cabeça, um rosário pendurado no cós da saia, um ramo de arruda atrás da orelha, tudo coberto por uma mantilha, com uma pequena fisga se ouro ou osso presa na renda. O uso da mantilha era uma imitação da tradição espanhola que o narrador considera algo poético, já que envolve as mulheres num certo mistério e lhes realça a beleza. Na realidade, era algo prosaico, vulgar, nomeadamente quando eram usadas por mulheres gordas e baixas ou nas festas religiosas, dado que aqueles vultos negros cochichando entre si davam à igreja um ar lúgubre. No entanto, o uso da mantilha facilitava um dos hábitos da época, isto é, o da observação da vida alheia, já que permitia ver sem ser visto.
    As suas ocupações diárias – a de parteira, beata e curandeira – tomavam-lhe muito tempo, de tal modo que fazia muito tempo que não via nem sabia nada dos compadres e do seu afilhado. Certo dia, na Sé, ouve as beatas  comentarem sobre Maria ter sido sovada por Leonardo Pataca, ter fugido com o capitão de um navio e o filho, uma criança traquina e mal educada, ter ficado aos cuidados do padrinho. Depois de ouvir a história, visita o barbeiro e questiona-o, e este defende a criança, dizendo que é sossegada e gentil e tenciona ser padre. A mulher discorda deste projeto para a formação do menino e retira-se, mas desde esse dia visita o compadre regularmente. O padrinho, por sua vez, não desiste dos sonhos que tem para o afilhado e ensina-lhe o abecedário. A criança empanca no F.

Resumo do capítulo VI de Memórias de um Sargento de Milícias


    A narrativa volta ao herói da história, o “menino”, que foge e deixa o padrinho muito aflito. Ele vai acompanhando a procissão e termina junto dos ciganos. O narrador descreve, então, o oratório e a sociedade cigana.
    Assim que dá pela falta do afilhado, o padrinho, muito aflito, procura-o pela vizinhança, mas ninguém sabe dele. Lembra-se da Via Sacra, começa a percorrer as ruas e a inquirir todos com quem se cruza sobre o paradeiro da criança. Quando chega ao Bom-Jesus, alguém lhe diz que viu três crianças que foram expulsas da igreja pelo padre por mau comportamento. O barbeiro volta a casa e passa a noite em claro. Antes de pedir ajuda ao Vidigal, reflete e decide esperar mais um dia pelo seu regresso.
    De seguida, a atenção do narrador volta-se para a sociedade dos ciganos. Juntamente com os emigrados de Portugal, tinham ido também para o Brasil os ciganos, retratados como uma praga ociosa, sem escrúpulos e tão velhacos que quem tivesse juízo não faria negócios com eles. Vivem quase na ociosidade, em permanente festa, e moral normalmente nas ruas, em plena liberdade.
    As duas crianças com as quais Leonardo fizera amizade durante a Via Sacra pertencem a uma família cigana. Elas levam-no para casa dos seus pais. No acampamento, como acontecia quase todas as noites, ocorre uma festa. Quando o sono chega, Leonardo junta-se aos novos amigos e adormece a um canto, embalado pela música e pela dança.
    Mais tarde, acorda sobressaltado e pede aos companheiros que o levem para casa. Quando o padrinho se apresta para recomeçar as buscas, esbarra com o afilhado e questiona-o sobre o seu desaparecimento. Em resposta, Leonardo diz-lhe que, como o barbeiro quer que seja padre, tinha ido ver um oratório. O padrinho sorri e leva-o para casa.

Despacho n.º 83562022: calendário escolar 2022-2023 e 2023-2024

Circular Conjunta 20975-2023 (adoção de manuais escolares)

Resumo do capítulo V de Memórias de um Sargento de Milícias


    Neste capítulo, o narrador ocupa-se da caracterização do Vidigal, que leva Leonardo Pataca preso, expondo-o a uma enorme vergonha na casa da guarda. Vidigal é polícia e juiz ao mesmo tempo.
    Na época em que a ação decorre – início do século XIX no Brasil –, a polícia da cidade ainda não estava organizada, pelo que a figura do Vidigal detinha um poder absoluto, sendo em simultâneo o guarda que perseguia e prendia os criminosos e o juiz que julgava e determinava a pena. Frequentemente, nos casos de que era responsável, não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem processos; tudo se concentrava nele e a sua justiça era infalível. Das sentenças que dava, não havia recurso – fazia o que bem entendia, sem ter de prestar contas a ninguém.
    O Major Vidigal é um homem alto, não muito gordo, com ar de molengão, o olhar sempre baixo, os movimentos lentos e a voz descansa e adocicada. Além disso, é uma pessoa calma, inteligente e muito temida. Juntamente com uma companhia de soldados escolhidos por si, patrulha a cidade de noite, enquanto de dia a tarefa cabe à polícia. Todos o temem, por isso, quando bate à porta da tapera do velho feiticeiro e pede que a abram, os seus ocupantes ficam em pânico e procuram fugir pelos fundos da habitação, porém esta está cercada por todos os lados, pelo que são presos em flagrante, acusados de nigromancia.
    Já dentro da casa, o Vidigal solicita-lhes que prossigam com a cerimónia, pois deseja ver como se faz. Como é impossível resistir-lhe, após uma hesitação inicial, recomeçam o ritual. Após cerca de meia hora, param, porém o major pede que continuem, e a cena repete-se mais algumas vezes, até que, já exaustos, o Vidigal lhes ordena que parem. Depois pede aos granadeiros que toquem, o que faz os soldados pegar nas suas chibatas e o grupo feiticeiro dançar muito mais.
    Segue-se o interrogatório. Vidigal pergunta a todos a sua ocupação, mas nenhum lhe responde. Quando chega a vez de Leonardo Pataca, reconhece-o e, depois de o desgraçado lhe ter explicado a razão de todo aquele espetáculo, o major prontifica-se a curá-lo. Assim, arrasta-o para a casa da guarda no largo da Sé, uma espécie de depósito onde eram guardados aqueles que fossem presos durante a noite até lhes dar um destino.
    Ao amanhecer, já toda a cidade tem conhecimento do acontecido e Leonardo é encarcerado na prisão, o que, de início, deixa tristes os seus conhecidos, mas depois contentes com a situação, visto que, enquanto Pataca estiver preso, serão eles procurados para os negócios. Ou seja, a sua prisão equivale a um concorrente a menos.

Resumo do capítulo IV de Memórias de um Sargento de Milícias


    Este capítulo centra-se de novo na figura de Leonardo Pataca, envolvido em atos de feitiçaria por causa de um novo amor. Não sendo bem sucedido nos seus propósitos, recorre à feitiçaria e é surpreendido pelo Vidigal, que o leva preso.
    De facto, o narrador leva-nos até à tapera de um feiticeiro: trata-se de uma casa coberta de palha da mais feia aparência, com dois cómodos e uma mobília bastante rudimentar – dois ou três assentos de paus, algumas esteiras e uma grande caixa de madeira que servia, simultaneamente, de mesa de jantar, cama, guarda-roupa e prateleira. Este episódio é usado por Jorge Amado para criticar as práticas de feitiçaria, a que recorriam com grande frequência tanto as gentes do povo como parte da alta sociedade.
    Uma das pessoas que procura o velho caboclo feiticeiro é, pois, Leonardo Pataca, por causa das contrariedades de um novo amor. De facto, apaixona-se por uma cigana que conhecera após a fuga de Maria, porém, tal como sucedera com esta, que fugira com o capitão de um navio de Lisboa sob o pretexto de sentir saudades da pátria, também a nova paixão lhe é infiel e o abandona. Assim, Pataca recorre aos serviços do feiticeiro para conseguir a cigana de volta, a troco de dinheiro e da realização de diversas ações: submissão a fumigações de ervas sufocantes; tragar de bebidas enjoativas; decorar de milhares de orações, que repete várias vezes ao dia; depósito quase todas as noites de determinadas quantias e objetos em lugares determinados, tudo com o objetivo de colher a ajuda de certas divindades. No entanto, a cigana parece imune a tudo e não há maneira de voltar para os braços de Pataca. A derradeira prova acontece à meia noite de certo dia: Leonardo desloca-se a casa do feiticeiro, é forçado a trajar como Adão e a envergar um manto imundo; depois, ajoelha e reza em todos os cantos da casa do velho. De seguida, aproxima-se da fogueira, enquanto quatro figuras saem do quarto, juntam-se-lhe e, todos juntos, começam a dançar ao redor do lume. Subitamente, batem levemente à porta: é o Major Vidigal.
    Neste capítulo, Jorge Amado critica também o vocabulário romântico, a propósito da figura de Leonardo Pataco: “… mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo.” A comicidade é uma das características fundamentais do discurso, o que marca já uma oposição ao Romantismo, de que é exemplo Iracema.

terça-feira, 11 de julho de 2023

Resumo do capítulo III de Memórias de um Sargento de Milícias

    Este capítulo narra a vida do pequeno Leonardo em casa do padrinho, que vive preocupado com a educação do afilhado: quer que seja padre.
    Inicialmente, enquanto tudo é recente e novidade na nova casa, a criança porta-se bem, porém, assim que se familiariza com o ambiente, o barbeiro, cego pela afeição ao pequeno, tolera todas as diabruras, atribuindo-as e desculpando-as com a sua ingenuidade. Esta postura do padrinho justifica-se, antes de mais, com a sua idade – já tinha mais de 50 anos –, e depois com a ausência de afeto na sua vida e com o seu isolamento, já que sempre fora celibatário. Perante tal imunidade, a criança faz tudo o que lhe apetece, desde caretas aos fregueses da barbearia, o que causa o riso de uns e a fúria de outros, acabando muitos por saírem com a face cortada, até esconder a navalha mais afiada do padrinho, o que leva a que o freguês esteja imenso tempo à espera, com o rosto cheio de sabão, enquanto aquele a procura. Em casa, atira pedras aos telhados dos vizinhos, incomoda quem passa na rua ou algum vizinho que esteja à janela. Deste modo, ninguém por ali gosta dele, todavia o padrinho de nada se apercebe e acarinha-o sempre. Além disso, preocupa-se com o seu futuro e tem grandes sonhos para o afilhado: uma grande fortuna, uma alta posição social e o meio de os alcançar, nomeadamente enviando-o para Coimbra, para se tornar padre.
    Certa manhã, o barbeiro chama Leonardo, então com nove anos, e diz-lhe que se deveria fartar de travessuras até ao final dessa semana; daí em diante, só aos domingos, após a missa. A criança leva a fala do padrinho à letra e interpreta-a como uma licença para fazer o que lhe apetecesse. Na noite dessa quarta-feira, realiza-se a Via Sacra do Bom Jesus. Quando o apercebe, Leonardo recorda as palavras do barbeiro e mistura-se no meio da multidão, pulando, gritando, cantando, etc.
    Outro aspeto importante da obra é a constante referência ao leitor e a intromissão do narrador, através da ironia, comicidade e da crítica social à educação escolar e à religião. Temos ainda a referência aos costumes da época com a descrição da Via Sacra do Bom Jesus.

Resumo de Memórias de um Sargento de Milícias


    Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça conhecem-se num navio que parte de Lisboa em direção ao Rio de Janeiro e iniciam um relacionamento amoroso do qual resulta um filho: Leonardo. O casal vive junto, mas não é casado.
    O batizado do recém-nascido é muito festivo, com direito à vigia do Major Vidigal. O seu padrinho é o barbeiro, que é vizinho da família, e a madrinha é a parteira. Entretanto, Leonardo Pataca, que é meirinho, começa a desconfiar que a esposa o trai enquanto ele está ausente de casa.
    Certo dia, as suas desconfianças confirmam-se: regressa a casa e surpreende um vulto a fugir pela janela da sala. Na sequência, Leonardo agride Maria e o filho, que, assustado, foge para a barbearia do seu padrinho, enquanto o pai sai para a rua.
    Quando regressa a casa, descobre que a mulher tinha fugido para Lisboa com o capitão de um navio. Leonardo não encara com bons olhos o facto de ter de criar uma criança sozinho, por isso entrega o filho aos cuidados do compadre. Deste modo, ele cresce mimado pelo padrinho e faz várias travessuras. A vizinha d barbeiro não gosta do menino, vaticinando-lhe um futuro de fracasso, ao contrário do padrinho, que tem sonhos de grandeza para o afilhado, nomeadamente ordená-lo padre.
    Um dia, ao seguir uma procissão que procura tumultuar, acaba num acampamento de ciganos, onde passa a noite no meio de uma festa. Em simultâneo, o pai envolve-se com uma cigana e, quando o caso termina, inconformado, recorre à feitiçaria na tentativa de a reconquistar, acabando por ser preso. Ao descobrir que a cigana está envolvida com o padre, planeia vingar-se. Assim, no aniversário da ex-amante, paga a um malandro para arranjar uma confusão durante a festa e avisa o Major Vidigal. Mal o tumulto começa, o representante da autoridade entra em cena e depara com o padre só de ceroulas e sapatos no quarto da cigana. No final, o eclesiástico desiste da mulher e Leonardo reconquista-a.
    Entrementes, o compadre começa a frequentar a casa de D. Maria, uma senhora rica. As visitas são enfadonhas, até que Luisinha, a sobrinha de D. Maria, se muda para casa da tia. Leonardo apaixona-se por ela e um namoro entre ambos tem início. No entanto, José Manuel, um homem mais velho e interessado na herança de Luisinha, começa a cortejá-la. A madrinha de Leonardo intervém em socorro do afilhado e conta a D. Maria uma mentira sobre José Manuel, para o afastar da cena. Inicialmente, a mentira resulta, contudo os aliados daquele ajudam-no a desmascarar a madrinha, por isso volta a frequentar a casa, enquanto Leonardo e ela ficam mal vistos junto de D. Maria. Enquanto isso, Pataca vive novos problemas com a cigana e é convencido pela comadre a juntar-se à sua filha, com quem tem uma criança.
    Entretanto, o compadre morre e deixa uma herança a Leonardo, a qual, na realidade, pertencia ao capitão de navio, que lhe confiou para entregar à sua família. Interessado no dinheiro do filho, Pataca faz com que Leonardo passa a morar consigo.
    No entanto, o jovem e a madrasta brigam constantemente e, um dia, na sequência de uma grande discussão, acaba por ser expulso de casa pelo pai e acaba a vaguear pelas ruas, até que encontra um grupo de jovens fazendo um piquenique, no qual reconhece um amigo de infância. Leonardo vai viver com ele, numa casa onde moram também duas irmãs viúvas, cada uma com três filhos. Uma das mulheres chama-se Vindinha e Leonardo enamora-se primeiro, iniciando-se, assim, um namoro entre ambos. Contudo, ela já era disputada por dois primos seus, que se unem para retirar Leonardo de cena.
    Mais tarde, durante outro piquenique, esses primos avisam o Major Vidigal que nele marcará presença Leonardo, um vagabundo (dado que não trabalha nem tem rendimentos), o que era proibido na época. O major prende Leonardo, porém este consegue fugir. A sua madrinha arranja-lhe um emprego na ucharia real, o que inviabiliza a sua prisão, no entanto envolve-se com a mulher do chefe, é demitido e preso. Na sequência, é colocado no exército como granadeiro, auxiliando o Major a combater os malandros e vagabundos do Rio de Janeiro, visto que, como já tinha pertencido a essa classe, acreditava que pudesse ajudar o regimento com os seus conhecimentos.
    Todavia, Leonardo acaba por se juntar à malandragem em vez de a combater. Na festa de batizado da filha do seu pai, Leonardo é destacado para prender um animador de festas que faz imitações do Major Vidigal, todavia, em vez de o deter, acaba por o ajudar a fugir. Quando Vidigal descobre, manda prendê-lo, que, posteriormente, é condenado a ser chicoteado. Esta situação desespera a madrinha, que procura D. Maria para remediar a situação. Esta, por sua vez, procura uma antiga amiga, chamada Maria Regalada, uma ex-amante do Major Vidigal, e as três deslocam-se a sua cada pedindo perdão para Leonardo. A empreitada obtém sucesso e o jovem é libertado e promovido a sargento. Assim, volta a frequentar a casa de D. Maria, onde também mora Luisinha, após a morte do marido. Os dois voltam a namorar, mas o desenvolvimento do namoro enfrente um obstáculo: Leonardo não se pode casar, dado ser um sargento do exército.
    D. Maria e a madrinha voltam a contactar Maria Regalada para que ela peça ao Major a dispensa de Leonardo, porém, ao chegarem a sua casa, encontram Vidigal a morar com a amante. Este promove Leonardo a sargento de milícias, o que permite que ele se case com Luisinha. O casal, que já usufruía uma riqueza considerável graças a uma herança, herda também após as mortes de Leonardo Pataca e de D. Maria.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Resumo do capítulo I de Memórias de um Sargento de Milícias


    O capítulo começa com uma referência ao tempo (“Era no tempo do rei…”), que remete para o início dos contos tradicionais populares, e ao espaço. Há uma descrição do espaço, que aponta já para um certo realismo pelo tema, ponto de vista e forma como essa descrição é feita, e uma integração das personagens.

    A função deste capítulo é apresentar o protagonista do romance: Leonardo. O narrador, baseando-se na história que um sargento de milícias reformado lhe contou, narra a vida e os costumes do Rio de Janeiro durante a época em que D. João VI, fugindo das Invasões Francesas, viveu no Brasil.

    A descrição dos meirinhos – que se reuniam num local, conhecido por canto dos meirinhos, localizado na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro – é feita com base na oposição entre os meirinhos do passado e os do presente. Assim, os atuais – segunda metade do século XIX – são uma mera sombra dos do tempo do rei, gente temida e temível, respeitada e respeitável, com grande influência social, que se distinguiam pela grande influência social que tinham, pelo porte físico e pelo traje (casaca preta, calção e meias da mesma cor, sapato afivelado, espadachim e chapéu), enquanto os demais não se distinguem das demais pessoas.

    Integra-se depois a história de Leonardo Pataca, que era meirinho, e de Maria da Hortaliça. É da relação de ambos que nasce o herói da história. A única personagem identificada com o nome é Leonardo Pataca; as outras personagens representam tipos sociais e, por isso, não são apresentadas com nome próprio. O narrador coloca-nos na esquina da rua, onde um grupo de meirinhos conversa sobre diversos assuntos. Dentre eles destaca-se Leonardo Pataca, uma rotunda figura de cabelos brancos e carão avermelhado, molengão e pachorrento. Por causa destes traços, ninguém o procurava para negócios, por isso ele passava os dias sentado na esquina, na companhia da sua bengala. Como se queixava constantemente dos 320 réis por citação, deram-lhe a alcunha de Pataca.

    De seguida, o narrador relata um pouco do passado de Leonardo. Cansado da sua vida em Lisboa, viaja para o Brasil e, a bordo do navio que o transporta, conhece Maria da Hortaliça, uma quitandeira nas praças da capital de Portugal, saloia rechonchuda e bonitinha. Ele viu-a quando ela estava encostada na borda do barco e, ao passar, de modo supostamente distraído, pisou-a fortemente no pé direito. Maria, como se já estivesse à espera daquilo, sorriu e respondeu com um grande beliscão nas costas da mão esquerda. Os dois tornam-se amantes; quando desembarcam, ela começa a sentir enjoos e vão morar juntos. Sete meses depois, nasce o herói do romance, um bebé comprido (de quase três palmos de comprimento), gordo e vermelho, com muito cabelo e chorão. Mal nasce, mama durante duas seguidas, sem largar os seios maternos.

    A festa de batismo é de arromba: a madrinha é a parteira e o padrinho um barbeiro. Este leva uma rabeca e todos dançam o fado e o minueto. A festa vai aumentando de intensidade e transforma-se numa grande gritaria e algazarra, que só termina quando se apercebem da presença próxima do Vidigal. A última a sair é a madrinha, que, antes de se retirar, coloca um pequeno ramo de arruda no bebé.

    Nota-se, no relato, uma grande rapidez na apresentação dos factos e motivos; cómico dos factos e da linguagem, ironia e gradação do discurso.

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