A enfermeira de Julieta, a mulher
que a amamentou quando bebé e cuidou dela durante toda a sua vida, é uma
personagem vulgar, sinuosa e sentimental: ela fornece alívio cómico com os seus
comentários e discursos frequentemente inapropriados. Porém, até a um
desentendimento próximo do final da peça, a enfermeira é a fiel confidente e
intermediária leal de Julieta no romance com Romeu. Ela contrasta com Julieta,
já que a sua visão do amor é terrena e sexual, enquanto a jovem Capuleto é
idealista e intensa. A enfermeira acredita no amor e quer que Julieta tenha um
marido bonito, mas a ideia de que esta deseja sacrificar-se por amor é
incompreensível para si.
O papel principal da enfermeira na
peça é o de uma figura materna secundária para Julieta. A enfermeira claramente
tem um relacionamento mais próximo com a jovem do que com Lady Capuleto. Isso
não é surpreendente, dada a quantidade de responsabilidade que recai sobre si
por cuidar de Julieta desde o nascimento. A afeição da enfermeira por ela
decorre do facto de ter uma filha chamada Susana, que tinha a mesma idade de
Julieta, mas que morreu jovem. Assim, tal como a enfermeira é uma mãe de
aluguer para Julieta, esta também é uma filha de aluguer para a enfermeira. Por
outro lado, note-se que ela demonstra o seu carinho pela jovem Capuleto com
frequência. Por exemplo, quando Julieta sai para o baile Capuleto, a enfermeira
despede, dizendo: “Vá menina; procure noites felizes para dias felizes”. A
enfermeira é uma das poucas personagens da peça que deseja explicitamente a
felicidade de Julieta. Além de a apoiar emocionalmente, também trabalha
ativamente para garantir a boa sorte da sua protegida, como quando serve como
intermediária que permite o namoro secreto com Romeu. A enfermeira permanece
aliada de Julieta até o fim e sofre muito quando ela, juntamente com o resto da
família Capuleto, acredita que a jovem está morta.
A enfermeira também é uma figura
cómica. Ela é extremamente faladora, e um dos seus tiques verbais mais comuns
relaciona-se com o uso constante de interjeições e com o facto de se interromper
a si própria. Além disso, também costuma fazer comentários obscenos. Muitas
vezes, estes dois aspetos reúnem-se, como quando a enfermeira diz a Lady
Capuleto: “Agora, por minha empregada, aos doze anos, eu pedi que [Julieta]
viesse” (I.iii.2-3). A enfermeira só precisa dizer que chamou Julieta, mas faz
um juramento estranho, no qual jura pela "virgindade" que ainda tinha
aos doze anos de idade, o que implica que a perdeu a aos treze. Esta não
sequência não tem nada a ver com a conversa em questão. A enfermeira também
costuma interpretar as palavras dos outros literalmente, o que resulta em
mal-entendidos engraçados. Por exemplo, ela não entende o sentido retórico da
declaração de Lady Capuleto: "Você conhece minha filha numa idade
bonita". Enquanto Lady Capuleto quer dizer simplesmente que Julieta está
em idade de casar, a enfermeira responde sinceramente, dizendo que conhece a
idade exata de Julieta: "Fé, posso dizer a idade dela até há uma hora".
Estes exemplos de humor surgem um pouco às custas da enfermeira, pois mostram a
sua educação de classe baixa.