▪ Por
reflexão existencial entende-se a reflexão sobre uma forma de estar no
mundo, de viver a relação com ele e com os outros.
▪ Sensacionismo: a sensação sobrepõe-se ao
pensamento
Alberto
Caeiro recusa o pensamento, o conhecimento intelectual e vive de impressões,
privilegiando as sensações, sobretudo as visuais. O pensamento perturba-o,
fá-lo sofrer, é fonte de enganos, não lhe permitindo conhecer o real (“Pensar é
estar doente dos olhos”), por isso procura libertar-se dele, privilegiando o
conhecimento sensorial da realidade.
Para o poeta, o conhecimento do mundo e
do real circundante faz-se através das sensações. De uma forma que se quer
espontânea e natural, elas revelam uma existência que, em contacto com a
natureza, dispensa a ciência e a técnica.
Assim, vive em harmonia consigo e com
os outros, aceitando o mundo e a vida e sendo feliz, precisamente porque recusa
o pensamento e dá primazia às sensações. Perceciona a realidade através do
olhar, sem intelectualizar essa perceção, daí afirmar-se que a sua poesia é
sensacionista, na medida em que substitui o pensamento (que associa a uma
doença) e o sentimento (subjetivo e convencional) pela sensação. A
subjetividade não existe para ele.
▪ O poeta do olhar
Caeiro apreende o real através dos
sentidos / das sensações, nomeadamente as visuais, recusando o pensamento. Este
corresponde a uma atitude reflexiva que impede a compreensão e a uma doença da
visão [“pensar é estar doente dos olhos” (Poema II)], que constitui um
obstáculo à fruição do que os sentidos percecionam (nomeadamente a Natureza).
▪ Observação objetiva da realidade
Caeiro valoriza a realidade exterior
concreta e observável: “Creio no Mundo como num malmequer, / Porque o vejo”
(poema II).
Ao recusar o pensamento e ao optar pelo
concreto, encontra a felicidade: “Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
/ Sei a verdade e sou feliz”. O real é o único meio de atingir a verdade e a
felicidade, desde logo porque a realidade existe sem necessidade do pensamento.
Para o poeta, nada existe para além
daquilo que é percetível, para além daquilo que o ser humano capta os sentidos.
▪ Rejeição do pensamento abstrato e da
intelectualização
Caeiro recusa o conhecimento
intelectual e defende o primado das sensações.
O poeta nega que a Natureza tenha
significados ocultos. As coisas são o que são, resumem-se à sua aparência e
àquele cabe-lhe aceitá-las como elas são, sem pensar, porque "pensar é não
compreender”.
O mundo é claro, evidente, simplesmente
é – ser é o único valor possível. O conhecimento chega apenas através dos
sentidos, nomeadamente do olhar, pois o pensamento incomoda-o, perturba-o, é
fonte de infelicidade: “Pensar incomoda como andar à chuva”.
▪ «Filosofia» da antifilosofia (pensamento
antipensamento)
Caeiro rejeita a filosofia (bem como o conhecimento
intelectual, a metafísica, a ciência) e, consequentemente, constrói uma nova
filosofia: “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos” (Poema II). Ou seja, ao
percecionar a realidade como se fosse um simples pastor que acompanha o seu
rebanho, encontra na Natureza e nas sensações uma nova filosofia de vida.
Caeiro é, talvez, o heterónimo mais
complexo, visto que recusar o pensamento ou qualquer tipo de filosofia é pensar
e filosofar, e tentar atingir o grau zero do pensamento implica já uma complexa
operação mental. De facto, a recusa da filosofia e a apologia da sensação pura
constituem uma outra filosofia, pois recusar a filosofia é filosofar, tal como
afirmar que não se pensa é já pensar.
▪ Aceitação do mundo
Caeiro aceita o mundo e as coisas como
são, relacionando-se com eles de forma harmoniosa, visto que recusa o
pensamento e a abstração, privilegiando as sensações, nomeadamente as visuais.
Segundo ele, devemos fazer a
“aprendizagem do desaprender”, devemos aceitar a vida e a morte sem mistérios,
despojados de todo o pensamento, de toda a reflexão, de toda a subjetividade.
Para este heterónimo, o real é a única
fonte de felicidade e de conhecimento. Também isto explica que viva em comunhão
com a Natureza, aprendendo com ela, através das sensações, a ser feliz.
Em suma, Caeiro, aceita o real e a
vida, não problematiza a existência, contentando-se em sentir, ver e ser feliz.