Português: A linguagem do conto "A Aia"

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A linguagem do conto "A Aia"



Advérbio de modo:
- “magnificamente”, “desoladamente”, “ansiosamente”: contribuem para expressar a emoção da rainha após a morte do rei;
- “Serva sublimemente leal!”: o advérbio de modo e a exclamação realçam a fidelidade da serva.

 
Diminutivo (“filhinho”, “principezinho”, “criancinha”, “corpinho”, “escravozinho”): traduz o carinho que rodeia os dois bebés e realça a forma como a rainha vê o seu filho, isto é, como um ser humano frágil e indefeso (“filhinho”), que urge defender; caracterizam os bebés, acentuando a sua fragilidade e insegurança.

 
Verbos expressivos:

- “tremia”: exprime o receio e a preocupação da Aia pelo principezinho, por causa da sua fragilidade;

- “Então […] arrebatou o príncipe do seu leito de marfim”: o verbo «arrebatar» evidencia a rapidez e a convicção com que a aia troca as crianças de berço.

 
Adjetivação expressiva:

- contribui para a caracterização das personagens: “bela e robusta escrava”, “cabelo louro e fino”, “pobre e de verga”, “cabelo negro e crespo”;

- indicia a preocupação, a ansiedade e a angústia com o destino do principezinho e o seu crescimento: “longa distância”, “anos lentos”;

- “beijos pesados e devoradores”: a dupla adjetivação posposta ao nome realça o afeto, o carinho, o amor que a asia nutre pelo filho.

 

Metáforas:

- “faminto do trono”: exprime o forte desejo do trio por usurpar o trono e o ocupar;

- “E sem que a sua face de mármore perdesse a rigidez” realça a rigidez e a lividez da face da Aia, sugerindo a sua apatia e ausência de vida;

- “cabelos de ouro”: os cabelos louros do principezinho;

- “a flor da sua nobreza”: sugere que os que pereceram faziam parte da elite da nobreza, eram os melhores dentre os melhores;

- “Uma roca não governa como uma espada”: a metáfora e a comparação enfatizam o poder desigual e a fragilidade da mulher (“roca”) em relação ao homem (“espada”) numa sociedade tradicional, isto é, uma mulher não tem a capacidade guerreira de um homem – a rainha é incapaz de defender o reino após a morte do rei;

- “O bastardo, o homem de rapina […]”: a metáfora mostra o caráter violento e cruel do tio do príncipe; por outro lado, o uso do determinante artigo definido confere-lhe um sentido de generalização e singularidade, como se ele fosse o único e o pior de todos os seus semelhantes;

- “acendeu um maravilhoso e faiscante incêndio de oiro e pedrarias”: sugere o brilho intenso produzido pelo tesouro do palácio, bem como a sua beleza a extrema riqueza;

- “… valia uma província.”: sugere que o punhal escolhido pela aia era muito valioso.

 

Comparações:

- “de face mais escura que a noite e coração mais escuro que a face” (vide hipérbole):

- “Os olhos de ambos reluziam como pedras preciosas”: realça a beleza e o brilho dos olhos dos bebés;

- “à maneira de um lobo”: intensifica o caráter cruel e selvagem do tio;

- “Nenhum pranto correra mais sentidamente do que o seu pelo rei morto”: mais do que qualquer outra pessoa, a aia chorou copiosa e sentidamente a morte do seu rei;

- “Só a ama leal parecia segura – como se os braços em que estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidade…”: a comparação aponta para as ideias de proteção e coragem. A ama leal é a personagem que cuida do filho da rainha, que está em perigo por causa de um inimigo que ataca o reino. A comparação entre os braços da ama e as muralhas de uma cidade sugere que ela é capaz de defender o príncipe com a sua força e determinação, mesmo que esteja cercada de medo e insegurança. A comparação também cria um contraste entre a fraqueza da rainha, que apenas sabe chorar, e a firmeza da ama, que parece segura;

- “… um corpo tombando molemente sobre lajes, como um fardo”: indica o modo como o corpo do tio caiu, morto, no chão, isto é, de forma simultaneamente mole e pesada;

- “A mãe caiu sobre o berço, com um suspiro, como cai um corpo morto.”: mostra a reação de alívio e, simultaneamente, o esgotamento físico e emocional da rainha ao constatar que, afinal, o seu filho está vivo;

- “Nos seus clamores havia, porém, mais tristeza do que triunfo.”: sugere que os habitantes da cidade, que acabaram de derrotar o inimigo que os ameaçava, não sentem alegria nem orgulho pela sua vitória, mas sim dor e luto pelos seus mortos;

- “… seria no Céu como fora na Terra.”: sintetiza a visão do mundo e as crenças da aia;

- “… arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de oiro”: acentua a violência do ato (rapto do bebé) e a sua motivação (o dinheiro).

 

Exclamações:

- “Pobre principezinho da sua alma!”: traduz a ansiedade e a preocupação em torno do crescimento do principezinho, face à sua fragilidade e aos perigos que o cercam.

 

Repetição:

- “forte pela força e forte pelo amor”: reforça a ideia de grandeza do reino, nascida não só da força, mas também do amor.

 

Antítese:

- “cabelo louro e fino” / “cabelo negro e crespo”: marca o contraste físico entre os dois bebés – o príncipe e o escravo;

- “mãe ditosa” / “mãe dolorosa”: a mãe ditosa é a rainha, que fica feliz por o seu filho estar vivo e salvo, enquanto a mãe dolorosa é a Aia, que está triste e repleta de dor pela perda do seu filho.

 

Eufemismo:

- “[…] os seus pajens tinham subido com ele às alturas”: suaviza a morte dos pajens, o que está de acordo com as crenças da aia num mundo para além da morte;

- “O seu cavalo de batalha, as suas armas, os seus pajens tinham subido com ele às alturas.”: traduz a ideia de morte e a crença da aia na vida no céu enquanto réplica da vida terrena. De facto, para a personagem, o céu reproduz a estrutura social existente na terra, mantendo o rei e os seus súbditos a hierarquia vivida na terra. Esta crença envolvia os próprios animais: “O seu cavalo de batalha, as suas armas, os seus pajens tinham subido com ele às alturas.”;

- “… sucumbira, ele e vinte da sua horda.”: traduz a morte do tio bastardo e dos seus soldados.

 

Hipérbole:

- “de face mais escura que a noite”: exprime o caráter tenebroso e desprezível do irmão do rei, estabelecendo a correspondência entre os traços exteriores e os interiores.

 

Aliteração:

- “passos pesados”: a aliteração em “p” marca a cadência sinistra dos passos (podemos considerar esta expressão também uma hipálage)

- “forte pela força e forte pelo amor”: a aliteração em “f” sugere a fragilidade do príncipe, que não tinha quem o protegesse e defendesse.

 

Enumeração:

- “refulgiam os escudos de ouro, as armas marchetadas, os montões de diamantes, as pilhas de moedas, os longos fios de pérolas”: sublinha a valia / a riqueza do tesouro.

 

Interrogação:

- “Que bolsas de ouro podem pagar um filho?”: o narrador suscita a reflexão sobre o valor / o preço da vida humana – um filho não tem preço.

 

Determinante artigo indefinido:

- “Era uma vez”; “um reino abundante”, um rei”:

não permite determinar com precisão o tempo histórico e o tempo cronológico (intemporalidade);

não permite determinar com precisão o espaço físico:

contribui para a exemplaridade da história, cuja mensagem, cujo teor humano pode ser aplicado a muitos tempos e lugares;

traduz o anonimado das personagens.

 

Determinante artigo definido:

- “O bastardo, o homem de rapina […]”: vide metáforas.

 

Sensações auditivas e visuais:

- as sensações auditivas relevam a solenidade do momento e o acontecimento trágico que lhe deu origem: “(…) respeito tão comovido que apenas se ouvia o roçar das sandálias nas lajes. As espessas portas do tesouro rolaram lentamente.”; “Um longo «Ah!», lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um silêncio ansioso”; “Todos seguiam, sem respirar […]”;

- as sensações visuais relacionam-se sobretudo com a descrição da “câmara dos tesouros”, destacando-se as notações de luz e brilho (que servem também para marcar o tempo cronológico – “a luz da madrugada, já clara e rósea”): “acendeu um maravilhoso e faiscante incêndio de ouro e pedrarias!”; “reluziam, cintilavam, refulgiam os escudos de ouro, as armas marchetadas, os montões de diamantes, as pilhas de moedas, os longos fios de pérolas”; “refulgência preciosa”.


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