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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Correção do questionário sobre o conto "A chama obstinada da sorte" - 1.ª parte


1. Numa entrevista dada ao Diário de Notícias, publicada a 25 de outubro de 2008, Luís Sepúlveda explica a origem deste conto e a razão da epígrafe que o acompanha: “Na América do Sul quando conhecemos alguém dizemos o nosso apelido. E um dia, na Patagónia, cheguei a uma cabana onde viveram os famosos bandidos Butch Cassidy e Sundance Kid e vejo um homem muito velho, que me estende a mão e diz «Sepúlveda». Não porque me conhecesse, mas porque era o seu nome. Era óbvio que tínhamos o mesmo nome. Eu digo-lhe: «Devemos ser parentes, qual é o seu primeiro nome?» E ele diz: «Aladino.» Aladino Sepúlveda. Isto é uma maravilha. Isto dá um conto.”
 
2.1. O velho tinha oitenta e alguns anos e era o sustento de uma numerosa família que recorria a ele sempre que surgiam dificuldades.

 
2.2. As expressões que evidenciam a dimensão da família são as seguintes: “filhos, filhas, noras e genros”; “caterva indeterminada de netos”.

 
2.3.

a. Na expressão “erráticos como o vento da estepe”, está presente uma comparação, a qual evidencia o movimento constante das pessoas. A aproximação semântica ao “vento da estepe”, o segundo termo da comparação, procura transmitir a ideia de movimentação constante.

b. Na expressão “quando os ventos (…) faziam soar as tripas”, encontramos uma perífrase que denuncia a fome (“soar as tripas”) que, quando é muita, provoca ruídos no sistema digestivo. A perífrase surge ainda associada aos ventos do inverno, como se estes fossem a sua causa direta.

 
3.1. A outra personagem é Cachupín, o cão do velho. O canino é um animal preguiçoso e que dormia “com um olho aberto”, “sempre atento aos movimentos do dono”. Apesar de ser preguiçoso e pachorrento, era também um animal que, incitado pelo dono, assumia comportamentos de ferocidade.

 
3.2. A função do cão era acordar todos os membros da família que se encontravam em casa e expulsá-los.

 
4. A expressão “vacas magras” tem origem na história bíblica de José do Egito, presente no Génesis. Oriundo de uma família numerosa, José era o preferido do pai, por isso os irmãos decidiram livrar-se dele, vendendo-o como escravo a uns mercadores a caminho do Egito. Preso mais tarde, dedicou-se, na prisão, à interpretação de sonhos, atividade que o tornou famoso e o levou à presença do faraó, para interpretar um dos seus sonhos, no qual previu sete anos de abundância, simbolizados em sete vacas gordas, e sete outros de fome, simbolizados em sete vacas magras. Satisfeito, o faraó nomeou-o seu ministro. Quando a sua previsão de fome se concretizou, José perdoou aos irmãos.

 
5. A sua intenção era ficar apenas acompanhado de Cachupín.

 
5.1. O velho esperava que a família se afastasse bastante, ao ponto de as pessoas serem apenas “referências incertas no horizonte plano”, para entrar novamente na cabana e esperar pacientemente, enquanto Cachupín guardava o lugar.

 
5.2. O diminutivo “familória” tem um valor pejorativo.


5.3. A expressão “esperava pela chegada das sombras” pode remeter para a noite ou a escuridão.


6. O tipo textual predominante é o descritivo. De facto, o narrador descreve personagens, situações e ambientes, normalmente de forma dinâmica. Os recursos característicos do texto descritivo presentes são o pretérito imperfeito (“tinha”, “agarrava”, “faziam”), os adjetivos (“atento”, “colado”, “comprida e fina”) e expressões caracterizadoras, muitas vezes expressivas (“erráticos como o vento da estepe”, “que se agarrava a ele quando os ventos ainda mais frios…”).

 
6.1. No oitavo parágrafo, inicia-se uma sequência de tipo textual narrativo, apresentando eventos que configuram o desenvolvimento da ação global (“acendeu”, “levou”, “tirou”).


7. Dentro da cabana, o velho acendeu um candeeiro de azeite e fez o que “vinha fazendo há mais de trinta anos” (apesar de não se saber neste momento do que se trata). Cortou um pedaço de charque e, depois de o mastigar, deu-o ao cão para ele engolir. Saiu da cabana e foi-se afastando. Os seus familiares regressavam então ao abrigo. Já distante, o velho, seguro de que ninguém o seguia, apagou o candeeiro.

 
8. A ação do excerto decorre na Patagónia argentina (“Cholila”; “Patagónia”), durante a noite (“luminosidade cinzenta da estepe”); “vastidão da noite”).


Questionário 1: questionário.

Análise da cantiga "A dona de Bagüin"

    Esta cantiga de escárnio e maldizer de mestria (isto é, sem refrão), em cobras singulares, da autoria de Lopo Lias, é dedicada à dona do Soveral. Em concreto, trata-se da segunda que tem essa figura como destinatário; a outra é “A dona fremosa do Soveral”. A composição poética apresenta uma curiosidade no que diz respeito à métrica da primeira cobla, visto que os dois versos iniciais apresentam sete sílabas métricas, enquanto os correspondentes na segunda têm oito. Além disso, existe igualmente irregularidade no que toca à rima dos primeiros quatro versos da primeira cobra, que apresentam rima cruzada, ao passo que os correspondentes da segunda são monorrimáticos.
    O poema visa, pois, uma figura feminina designada por “dona de Bagüin”, um topónimo que se refere a um lugar do concelho de Marim, junto a Pontevedra, na Galiza. O verso seguinte esclarece que vive concretamente numa localidade chamada Soveral, pertencente à freguesia de Mogor, concelho de Marim, situada imediatamente a seguir a Bagüin. O trovador deu à mulher dezasseis soldos, em troca de um compromisso, um pacto, no entanto ela não cumpriu o prometido nem lhe devolveu o dinheiro, como combinado entre ambos, se “ond’al non fezesse”, expressão que constitui uma referência possivelmente erótica, aludindo a uma eventual troca de dinheiro por favores sexuais. O combinado era que, em troca do dinheiro adiantado, ela se fosse encontrar com o trovador a casa de D. Corral, um burguês galego, provavelmente pertencente a uma família natural do lugar homónimo, em Nóia.
    O arranjo entre o «eu» poético e a mulher é conhecido em diversos locais, como Morraz (ou Morrazo), uma península situada nas rias baixas galegas, entre Vigo e Pontevedra) e Salnês ou Salnés, na mesma zona, um topónimo cuja raiz é «sal», um produto aí produzido há bastante tempo. Isto significa que o assunto é público, conhecido por muita gente. O sujeito poético acrescenta que já passou mais de um mês e a mulher ainda não lhe restituiu os dezasseis soldos que ele lhe emprestou, continuando, portanto, a desrespeitar o acordo. O incumprimento ganha foros de maior escândalo, em virtude de a dona ter prometido devolver-lhe a quantia referida no terceiro dia após o empréstimo. O saldo da dívida seria consumado em casa de Dom Corral, o tal burguês referido no último verso da primeira estrofe, uma figura provavelmente prestigiada, cuja habitação seria o local que servia de cenário para a resolução de questões daquele género.
    Em suma, estamos perante uma composição satírica que denuncia uma mulher por causa de não pagar uma dívida contraída junto do sujeito poético, mesmo depois de várias promessas repetidas. A mulher é, portanto, alguém que não é confiável nem séria, pois não cumpre o seu compromisso. Por outro lado, tratar-se-á de uma figura que tem problemas financeiros, ou, em alternativa, que sobrevive graças ao dinheiro que obtém em razão de favores sexuais que presta.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Questionário sobre o conto "A chama obstinada da sorte" - 4.ª parte

4.ª parte (de “Passados dois meses, o velho e Cachupín III…” até “… porque a vida é assim.”)

 
1. O início deste excerto refere ainda acontecimentos da aventura passada do velho.

 
1.1. Justifica a afirmação.

 
2. O velho reencontrou a rapariga no mesmo lugar.

 
2.1. Reescreve os parágrafos 2 a 6, transformando o discurso direto em discurso indireto.

 
3. Comenta a atitude do velho relativamente ao valor das moedas e à forma como queria a sua parte na sociedade.

 
4. Apesar dos indícios anteriores, apenas neste momento da narrativa se percebe cabalmente o papel do cão. Refere-o.

 
5. Indica os atos ilocutórios presentes nas frases seguintes:

a) “– Não me diga que tem as moedas aqui?

– Eu não as tenho. (…)

– Agora, Cachupín. Agora. Faz caquinha.”

 
6. Transcreve a frase que marca o regresso à história mais recente do velho.

 
7. Tendo em conta o cruzamento das histórias, explica o décimo primeiro parágrafo do excerto.

 
8. Atenta no último parágrafo do texto.

 
8.1. Explica a repetição da oração subordinada adverbial causal.

 
8.2. Interpreta o valor do condicional.

 
8.3. Destaca o valor expressivo da metáfora «candeeiro da fortuna».


9. Procura, agora, ter presente todo o conto.


9.1. Classifica os narradores do texto quanto à sua presença na ação e justifica.

 
9.2. Sintetiza a história do velho numa perspetiva cronológica sequencial.

 
9.3. Explica o título do conto.


Motivos de Hamlet


1. Incesto
 
    O motivo do incesto percorre toda a peça e vem à baila sobretudo através de Hamlet e do fantasma, nomeadamente em conversas sobre Cláudio e Gertrudes, o antigo cunhado e a antiga cunhada, que são agora um casal. Outro motivo subtil de desejo incestuoso pode observar-se no relacionamento entre Laertes e Ofélia, pois dirige-se à irmã em termos sugestivamente sexuais e, no seu funeral, salta para o seu tumulo para a segurar nos braços. No entanto, as tintas do incesto são carregadas na fixação de Hamlet na vida sexual de Gertrudes e Cláudio e a sua preocupação genérica com ela.

2. Misoginia

Destruído psicologicamente pela decisão da mãe de se casar com Cláudio quase imediatamente após a morte do marido, Hamlet torna-se cínico sobre as mulheres em geral, mostrando-se obcecado acerca de uma possível relação entre a sexualidade feminina e a corrupção moral. Essa misoginia é um fator inibidor decisivo no caso do relacionamento de Hamlet com Ofélia e Gertrudes. Por exemplo, em determinado momento, aconselha a filha de Polónio a ir para um convento, em vez de experimentar a corrupção da sexualidade.

Género literário de Hamlet

    Hamlet é uma tragédia, por isso exibe algumas características desse género de peça de teatro. Se atentarmos no final da peça, deparamos com a catástrofe, claramente traduzida pela morte sucessiva de todas as personagens centrais da obra: Polónio, Ofélia, Laertes,, Gertrudes, Cláudio e Hamlet. Por outro lado, o jovem príncipe comporta alguns dos traços característicos do protagonista trágico: é de estirpe nobre, elevada; as suas ações impactam toda a Dinamarca; é uma personagem rica interiormente (é pautado pelo cumprimento do desejo de vingança do pai, pelas hesitações e questionamentos morais acerca da execução da vingança, finge e age como um louco); desafia as leis da sociedade, que esperava que agisse em nome da honra familiar. Enquanto herói trágico, mostra a sua tristeza e melancolia pela morte prematura do pai; é um jovem inteligente e de enorme potencial, que acaba por não realizar por razões óbvias; ao longo da peça, vai-se isolando progressivamente.
    Não obstante, e peça foge ocasionalmente às convenções da tragédia. Em muitas das obras de índole trágica, o herói escolhe perseguir algo que não deveria – no caso de uma peça cujo foco é a vingança, ele sucumbe a um desejo de vingança assassina. Concretamente, com Hamlet, estanos na presença de uma personagem que possui todas as razões para se vingar de outrem, pois o tio, Cláudio, assassinou o seu pai e usurpou o seu lugar no trono, porém hesita e protela a sua concretização, pois, antes de tudo, pretende conhecer a verdade e certificar-se que o fantasma é mesmo quem diz ser e que o rei matou efetivamente o rei Hamlet. Além disso, ele escolhe isolar-se das restantes personagens, comportar-se de forma errática e finge estar louco, o que acarreta várias consequências trágicas, como, por exemplo, o enlouquecimento e a morte de Ofélia.
    Outro traço ambíguo prende-se com a falha trágica de Hamlet: a sua indecisão. Essa característica leva-o a repreender-se mesmo a si próprio por não concretizar a vingança. Nesse contexto, contrasta fortemente com Laertes e Fortinbras, personagens decididas, atuantes e determinadas a agir. Esse caráter indeciso não explica a razão por que Hamlet rejeita Ofélia, manipula psicologicamente Gertrudes, se isola e mata Polónio. Na realidade, a sua indecisão é o motivo por que tende a evitar agir.
    Por último, Shakespeare parece usar Hamlet para satirizar o género trágico. Nas tragédias tradicionais, o herói é uma figura ativa e decidida que persegue obstinadamente um antagonista, um vilão, superando diversos obstáculos colocados no seu caminho, até executar a vingança. No caso de Hamlet, este luta essencialmente consigo mesmo e os seus obstáculos são a sua própria indecisão e hesitação, obstáculos esses que o levam a deixar passar várias oportunidades para se vingar, como, por exemplo, quando encontra Cláudio a rezar e decide não o matar. Além disso, Hamlet só liquida o tio quando a sua própria morte é certa, o que quer dizer que retira pouca ou nenhuma satisfação com a vingança.

Presságios em Hamlet

    Um dos poucos presságios presentes em Hamlet relaciona-se com a morte de Cláudio, que é parcialmente anunciada pelo fantasma, ou, se se preferir, causada por ele. De facto, quando aparece ao filho, exige-lhe que vingue a sua morte, o que implica assassinar Cláudio, portanto o leitor / espectador fica a «saber» que o atual monarca da Dinamarca irá encontrar a morte em breve.
    Outro passamento prenunciado é o de Polónio, quando este diz que fez parte da representação da peça Júlio César, nomeadamente que desempenhou o papel do imperador romano, que foi morto por Brutus, que o apunhalou.

Análise deHamlet

I. Introdução

    1.1. Primeira edição e representação de Hamlet.

    1.2. Fixação do texto.

    1.3. Fontes.

    1.4. Significado de Hamlet.


II. Ação

    2.1. Resumo

    2.2. Análise da ação

    2.3. Estrutura


III. Estrutura externa

    . Cena 1, ato I: resumo; análise.

    . Cena 2, ato I: resumo; análise.

    . Cena 3, ato I: resumo; análise.

    . Cena 4, ato I: resumo; análise.

    . Cena 5, ato I: resumo; análise.

    . Cena 1, ato II: resumo; análise.

    . Cena 2, ato II: resumo; análise.

    . Cena 1, ato III: resumo; análise.

    . Cena 2, ato III: resumo; análise.

    . Cena 3, ato III: resumo; análise.

    . Cena 4, ato III: resumo; análise.

    . Cena 1, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 2, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 3, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 4, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 5, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 6, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 7, ato IV: resumo; análise.

    . Cena 1, ato V: resumo; análise.

    . Cena 2, ato V: resumo; análise.


IV. Personagens

    1. Caracterização

        1.ª) Hamlet

        2.ª) Cláudio

        3.ª) Gertrudes

        4.ª) Polónio

        5.ª) Laertes

        6.ª) Ofélia

        7.ª) Fantasma

        8.ª) Horácio

        9.ª) Fortinbras

        10.ª) Rosencrantz e Guildenstern


V. Temas

    1. Vingança - ação e inação.

    2. Aparência versus realidade e verdade versus engano.

    3. Loucura.

    4. Corrupção.

    5. Honra, religião e valores sociais.

    6. Representação.

    7. Papel da mulher numa sociedade patriarcal.

    8. Morte.


VI. Simbologia

    1. Crânio de Yorick

    2. Flores de Ofélia

    3. Fantasma

    4. Vestuário de Hamlet


VII. Presságios


VIII. Ponto de vista


IX. Género literário


X. Motivos

Ponto de vista de Hamlet

    Hamlet centra-se no ponto de vista do jovem príncipe que dá nome à peça e que faz com que, enquanto protagonista, tenha muito mais falas do que qualquer outra personagem, as quais revelam os seus pensamentos, sentimentos e reflexões sobre questões como o sentido da vida, a morte, o amor, a religião, entre outras.
    Apesar das suas inúmeras falhas enquanto ser humano – como a indecisão, a crueldade, a misoginia ou a imprudência –, ele é uma personagem fascinante para o público, pois este tem acesso ao seu interior e compreende as suas motivações ao longo da peça. Além disso, o príncipe dinamarquês continua até ao fim a questionar-se e às suas ações.
    O ponto de vista da peça é tão semelhante ao do próprio protagonista que por vezes se torna quase impossível ter a certeza se algo está a suceder realmente na peça ou se o príncipe apenas pensa que está a acontecer. É o que sucede com as aparições do fantasma. Embora Marcelo, Horácio e Bernardo avistem o espectro, apenas Hamlet o ouve falar e, quando se dá o terceiro aparecimento, somente ele o consegue ver. Esta sucessão de dados permite questionar se a fala do fantasma não passa de uma alucinação.
    Não obstante tudo isto, há vários mistérios sobre o príncipe que nunca encontram solução. Por exemplo, nunca se sabe o quanto enlouquece ou simplesmente finge, tal como jamais se conclui o que o deixa tão infeliz: a morte do pai, o casamento da mãe com o cunhado, o fracasso em se tornar rei, a incapacidade de se vingar. De igual modo, o espectador nunca conhece os reais sentimentos por Ofélia. Tudo isto parece sugerir que a intenção de Shakespeare é mostrar que a essência da natureza humana é incognoscível.

Simbolismo do fantasma

    O fantasma é uma figura ambígua, desde logo porque não fica claro se ele é realmente o espírito do pai de Hamlet, um demónio que quer enganar o príncipe, ou um simples produto da imaginação do filho. A sua aparição prende-se com o desejo de obter vingança pela sua morte, por isso surge vestido com uma armadura, preparado para a batalha, porém, como é um espírito, necessita da força física de Hamlet para a executar.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Simbolismo das flores de Ofélia

    Após a morte de Polónio, o estado mental de Ofélia deteriora-se drasticamente e a jovem começa a agir como louca (ato IV, cena V). A partir daí, sem ter ninguém com quem confiar e sentindo-se atacado por aquele que amava, vagueia por Elsinore, entoando canções que oscilam entre temáticas infantis e outras de forte cariz sexual e sombrio e distribuindo flores (reais ou imaginárias) a quem encontra, nomeadamente a Cláudio, a Gertrudes e a Laertes, guardando algumas para si. Essas flores são variadas e têm um significado específico: a Gertrudes, oferece erva-doce e aquilégias, que representam o seu suposto adultério, a afeição partilhada entre os amantes; a Cláudio, dá margaridas e arruda (esta última flor é oferecida também a si mesma), que simbolizam respetivamente a inocência e o amor e o arrependimento; oferece ainda alecrim (uma flor presente frequentemente em funerais), amores-perfeitos (lembranças, pensamentos). Em determinado momento, declara que também queria oferecer violetas, porém todas tinham murchado quando pau morrera. As violetas são símbolo de fidelidade (o que indicia que a fé ou a bondade da Dinamarca foram corrompidas com o assassinato de Polónio), da humildade, da virtude e da modéstia, implicando que a morte do pai a levou a desligar-se do cumprimento das normas sociais da época.
    Esta variedade de flores e, consequentemente, dos sentimentos que simbolizam, associa-se aos seus desejos vários que possui e que foram reprimidos pela sociedade e suas normas. Esta noção é ecoada pelo afogamento de Ofélia, rodeada de grinaldas de flores que mostram que, nos seus derradeiros momentos de vida, a jovem escolheu cercar-se de símbolos de tudo o que ela era e poderia ter sido, caso não tivesse sido impedida. Ou sejam as flores são uma espécie de lembrete de tudo o que lhe foi roubado.

Questionário sobre o conto "A chama obstinada da sorte" - 3.ª parte

 
3.ª parte (de “– Pouco antes do amanhecer passou um camião…” até “Quando os seus parentes, os próximos e os não tanto (…) falava com os fantasmas dos bandidos gringos.”)

 
1. «Pouco antes de amanhecer», o velho e o cão conseguiram a boleia esperada.

 
1.1. Caracteriza o camionista.

 
1.2. Explica a atitude do velho perante as questões que lhe foram feitas até Esquel.

 
2. Já na cidade, o velho continua a contar a sua história a Cachupín VI. Indica a opção que completa corretamente as afirmações seguintes:

 
2.1. «Durante os cinco anos seguintes à descoberta do tesouro, de cada vez que tirou algumas moedas»

a. arranjou compradores e conseguiu bons negócios.

b. tinha medo que os malandros e até os militares achassem que ele estava pobre.

c. fez longas viagens que correram maravilhosamente.

 
2.2. Durante os dez anos posteriores nunca tocou nas moedas porque

a. a notícia se tinha espalhado e já não havia compradores para elas.

b. tinha medo que os malandros e até os militares achassem que ele estava pobre.

c. a notícia se tinha espalhado e havia sempre quem lhe batesse para lhas roubar.

 
3. Atenta no seguinte excerto: «Espalhara-se a notícia e cada vez que me afastava de Cholila tinha, ou os malandros ou, pior, os militares, à minha espera para me levarem até a roupa do corpo. Se soubesses a quantidade de gente que me viu em pelo. Mas, como te digo, decidi ser inteligente e ensinei ao Cachupín II as manhas que tu também sabes.»


3.1. Transcreve todos os deíticos pessoais.


4. Explica o estratagema engendrado pelo velho para não sofrer as consequências de levar consigo moedas e a evolução que se verificou nos cães que foi tendo.

 
5. Na continuação da sua conversa com o cão, o velho revela a estratégia do candeeiro.


5.1. Apresenta-a por palavras tuas.

 
5.2. Relaciona este estratagema do velho com o título do livro em que se inclui o conto.


6. Chegamos a um ponto da narrativa em que as aventuras do presente do velho e do seu passado se cruzam. Justifica a afirmação.

 
7. Num tempo de ditadura militar, em que é forçoso que tudo seja feito às escondidas, o velho encontrou a solução para o seu problema numa rapariga no meio de uma praça-

 
7.1. Reconta o que aconteceu e comenta a sua atitude em relação à rapariga.


Simbolismo do vestuário de Hamlet

    Hamlet enverga frequentemente roupas de cor preta, as quais simbolizam a sua tristeza e dor pela morte do pai. Os reis consideram que, desse modo, o jovem espalha um clima triste sobre o palácio, por isso pedem-lhe que se anime, ou, no mínimo, mudar a roupa que costumeiramente vestia, no entanto o príncipe recusa, afirmando que as suas vestes representam apenas uma parte da sua verdadeira tristeza, o que significa que elas refletem o seu estado de espírito.
    Esta não é, todavia, a única ocasião em que Hamlet usa o seu guarda-roupa para sugerir o seu estado de alma. Por exemplo, na cena I do ato 2, muda de roupa para dar nota de outra forma de sentir e, pouco depois, surge nos aposentos de Ofélia apenas parcialmente vestido e com o vestuário desalinhado, agarra-a, olha-a ferozmente e vai embora, deixando-a confusa e assustada. Esta cena segue-se à conversa entre o príncipe e Horácio, durante a qual expõe o seu plano para descobrir a verdade sobre a morte do pai, que inclui agir como se tivesse enlouquecido para disfarçar as suas verdadeiras intenções. Toda a situação deixa Ofélia com a imagem de um príncipe mentalmente desequilibrado.

Simbolismo do crânio de Yorick

    Na primeira cena do ato V, Hamlet e Horácio deparam-se com dois coveiros preparando a sepultura que irá receber o corpo de Ofélia e, no cenário, destaca-se o crânio de Yorick, o antigo bobo da corte do falecido rei Hamlet, o qual simboliza a inevitabilidade da morte e o vazio existencial que resulta dessa consciência. O jovem Hamlet relembra a sua figura e a sua forma de ser animada e divertida que agora não passa de um monte de ossos espalhados na terra. Esta observação enfatiza a ideia da inevitabilidade da morte e o fascínio de Hamlet pelas suas consequências físicas, nomeadamente a decadência / degradação do corpo, que é apenas temporário. De facto, são várias as referências do príncipe à decomposição do corpo humano, como, por exemplo, a observação de que Polónio será comido pelos vermes, o mesmo acontecendo com os próprios, exemplificados pela figura de Alexandre Magno, cujo corpo se transformou em pó que pode ser usada para tapar um buraco num barril de cerveja. Todas estas constatações levam-no a concluir que não interessa a forma como as pessoas vivem as suas vidas, o poder e a riqueza que possuem, o «status», pois, mais tarde ou mais cedo, transformar-se-ão em pó. O final da peça, como se fosse necessário, confirma essa noção.

O tema da morte em Hamlet

    A morte está presente na peça de várias formas: o fantasma do velho rei Hamlet; a contemplação de Hamlet sobre o suicídio; a performance dos atores de O Assassinato de Gonzago; a tendência de Hamlet para se vestir de preto; a morte de Ofélia; os coveiros e o túmulo de Ofélia; a contemplação do crânio de Yorick; o funeral de Ofélia; as inúmeras mortes do final da obra.
    A morte do pai desencadeia em Hamlet a obsessão pelo tema, levando-o a ponderar as suas consequências, tanto espirituais, incarnadas pelo fantasma, como físicas, suscitadas pela contemplação do crânio do antigo bobo e dos cadáveres em decomposição no cemitério, aquando dos preparativos para o funeral de Ofélia. Por outro lado, a ideia da morte está conectada com as questões da espiritualidade, da verdade e da incerteza. Além disso, a morte é tanto a causa quanto a consequência da vingança, daí que esteja intimamente ligada aos temas da vingança e da justiça. O assassinato do rei Hamlet às mãos de Cláudio desencadeia a busca de vingança, constituindo a morte do soberano o fim dessa procura.
    A sua própria morte atormenta-o igualmente, a partir do momento em que contempla o suicídio e reflete se constitui ou não uma ação moralmente legítima num mundo que lhe causa imensa dor. De facto, a dor e o sofrimento do príncipe são tão intensos que chega a contemplar a morte como solução par pôr fim a esse estado de alma, porém receia que, se se suicidar, será condenado o sofrimento eterno no inferno. Convém ter presente que este pensar é determinado pelos princípios religiosos cristãos.
    Outro momento marcante neste diálogo de Hamlet com a questão da morte é a contemplação do crânio de Yorick, um antigo bobo da corte cuja inteligência, valor e atributos físicos o príncipe recorda e constata que a morte levou para sempre. A passagem do tempo, o envelhecimento, a decadência e a morte são inevitáveis. Hamlet toma consciência disso, bem como de que se aplica a todos os seres humanos, independentemente do seu estatuto. Metaforicamente, esta obsessão pela morte mostra a impotência de Hamlet de impedir o que está a acontecer e a corromper a Dinamarca. No final, é um líder estrangeiro, Fortinbras, que assume o trono e o poder no país para o recuperar. A nação teve que se decompor completamente antes de poder renascer, à semelhança do que sucede com a carne humana, que se decompõe e nutre o solo.
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